ANGÉLICA
REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
|
A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 33)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Há casos de aparições
em que o Espírito diz
ter conhecimento do que
ocorre com seus amigos
encarnados?
Sim, mas são em número
muito pequeno. Os
testemunhos desse gênero
são naturalmente
proporcionados na
maioria dos casos pela
escrita ou pela palavra
automática. Contudo, o
caso de Palladia,
relatado por Mamtchiteh,
publicado no Relatório
da Comissão de
Alucinações e anotado no
Proceedings of the S. P.
R., X, pág. 387-391,
trata de um Espírito de
aparições repetidas, que
representa um papel de
anjo da guarda que se
interessa
particularmente pelo
futuro casamento de seu
amigo. (A Personalidade Humana, capítulo VII – Os fantasmas dos
mortos.)
B. Que circunstância
especial torna digno de
nota o caso de M. B., um
viajante que viu uma de
suas irmãs falecida nove
anos atrás?
Quando M. B. relatou o
fato a seus familiares,
as pessoas o escutaram
com incredulidade e
ceticismo. Contudo, ao
descrever a visão, ele
mencionou a existência,
no lado direito do rosto
da irmã, de um arranhão
vermelho, como se
tivesse sido feito há
pouco tempo. O relato
desse detalhe
impressionou muito sua
mãe, que desmaiou.
Quando voltou a si, a
mãe disse que ela
própria fizera,
inadvertidamente, aquele
arranhão ao colocar a
filha no ataúde,
acrescentando que
encobrira a mancha,
cobrindo-a de
pó-de-arroz, de forma
que ninguém no mundo
sabia disso. O fato de
ter seu filho visto o
arranhão era, pois, uma
prova incontestável da
veracidade da visão.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. Os moribundos que se
desprendem do corpo e
visitam os encarnados
podem ver também os
Espíritos desencarnados?
Sim. Da mesma forma que
a separação iminente do
Espírito e do corpo
permite que o Espírito
projete seu fantasma
entre os Espíritos
encarnados que se
encontrem a certa
distância na Terra, a
separação iminente
permite à pessoa
moribunda enxergar os
Espíritos que habitam o
outro mundo. Não é
difícil ouvir os
moribundos dizerem ou
mostrarem que veem
Espíritos amigos,
próximos a eles.
(Obra citada. Capítulo VII – Os fantasmas dos mortos.)
Texto para leitura
789. O que chamamos “um
espírito” constitui
provavelmente um dos
fenômenos mais complexos
da natureza. Constitui a
função de dois fatores
variáveis e
desconhecidos: a
sensibilidade de o
Espírito encarnado e a
capacidade de o Espírito
desencarnado para
manifestar-se. Nossa
tentativa de estudar
essa ação recíproca
deve, pois, iniciar por
um outro destes dois
fatores, pelo sujeito ou
pelo agente.
790. Devemos perguntar:
a) como recebe a
mensagem o Espírito
encarnado? b) como a
produz e a transmite o
Espírito desencarnado?
791. Ao aprofundar a
primeira dessas
perguntas, possuímos
maiores probabilidades
de obter uma certa
claridade. Sempre que
consideremos os
Espíritos encarnados,
encontramo-nos, numa
certa medida, num
terreno conhecido; e
podemos esperar
encontrar em outras
operações do Espírito
analogias que nos
permitam entender essas
operações, talvez as
mais complexas, que
consistem em ter
conhecimento das
mensagens procedentes
dos Espíritos
desencarnados e de um
mundo invisível.
792. Acredito que o meio
mais seguro, se bem que
mais distanciado, como
diria Bacon, de
compreender esses
fenômenos súbitos e
assombrosos, consiste no
estudo de fenômenos
mentais menos raros, que
se podem observar mais
comodamente, da mesma
forma que o meio “mais
seguro, embora mais
afastado” de estudar os
astros inacessíveis
consistiu no estudo dos
espectros incandescentes
de substâncias
terrestres que se acham
sob nossos pés.
793. Espero que o estudo
das diversas formas de
consciência subliminar,
das capacidades
subliminares, da
percepção subliminar,
nos tenha permitido
obter finalmente, no que
concerne ao nosso ser e
ao nosso modo de
funcionamento, um
conceito que provará que
a percepção pelos
Espíritos encarnados de
mensagens originadas nos
Espíritos desencarnados,
longe de constituir uma
anomalia isolada, é,
talvez, o resultado do
exercício de capacidades
comuns e inatas.
794. Gostaria de iniciar
o estudo de todos esses
casos pelo lado humano e
terrestre. Se pudéssemos
não só compartilhar, mas
também interpretar os
sentimentos subjetivos
dos sujeitos, se
pudéssemos compará-los a
outros sentimentos
provocados pelas visões
comuns, pela telepatia
entre os vivos,
obteríamos um
conhecimento mais
próximo do que sucede,
do que o que nos pode
proporcionar a
observação externa dos
detalhes de uma
aparição.
795. Um estudo
sistemático desse teor
não é, porém, possível
no momento, enquanto que
é relativamente fácil
colocar todo o conjunto
de casos em várias
séries, segundo as
características e
detalhes externos,
iniciando pelos que
exprimem o conhecimento
mais profundo e um
objetivo definido, para
terminar pelos que
possuem indícios de uma
inteligência qualquer,
cada vez mais raros e
débeis, até
consubstanciar-se em
sons e visões, sem
significado marcante.
796. Possuímos poucos
casos de aparições que
testemunham que o
Espírito possui um
conhecimento contínuo do
que ocorre a seus amigos
sobreviventes. Os
testemunhos desse gênero
são naturalmente
proporcionados na
maioria dos casos pela
escrita ou palavra
automáticas. Mas, no
caso de Palladia,
relatado por Mamtchiteh,
publicado no Relatório
da Comissão de
Alucinações e anotado no
Proceedings of the S. P.
R., X, pág. 387-391,
trata-se de um Espírito
de aparições repetidas,
que representa um papel
de anjo da guarda que se
interessa
particularmente pelo
futuro casamento do
sobrevivente.
797. Mais frequentes são
os casos em que uma
única aparição, não
repetida, indica um
acontecimento contínuo
dos assuntos terrestres.
Esse conhecimento se
manifesta principalmente
em duas direções.
Apoia-se, com
frequência, em alguma
circunstância
relacionada com a morte
da pessoa falecida, com
a aparência de seu corpo
após a desintegração, ou
com o lugar de seu
sepultamento temporal ou
de sua inumação
definitiva; e, por outro
lado, baseia-se na morte
iminente ou real de um
amigo da pessoa
falecida.
798. Considero,
particularmente, que uma
certa parte da
consciência póstuma pode
estar, durante algum
tempo, tomada por cenas
terrestres. E, por outro
lado, quando um amigo
que sobrevive
aproxima-se, aos poucos,
do mesmo estado de
dissolução, esse fato
pode ser percebido no
mundo espiritual. Quando
esse amigo está
realmente morto, o
conhecimento que seu
antecessor pôde ter
dessa transmutação é um
conhecimento dos fatos
do outro mundo, como
deste.
799. Ao lado dessas
informações adquiridas,
talvez, no limite entre
os dois estados, existem
aparições que implicam
uma percepção de
acontecimentos
terrestres mais
definidos, como as
crises morais
(matrimônios, discussões
graves, ameaças de
crime) que acontecem aos
amigos sobreviventes.
800. Em alguns desses
casos, em que o Espírito
parece ter conhecimento
da morte iminente de um
amigo, esse conhecimento
antecipado em nada se
assemelha à nossa
previsão da morte.
Ocupar-me-ei desses
casos num outro capítulo
onde será discutido o
problema da precognição
espiritual. Mas, em
outros casos, o grau de
precognição não parece
superior ao dos
espectadores comuns, e
neste é onde resumirei
em primeiro lugar a
morte, que ainda não
sendo prevista pela
família, o foi por um
médico que examinara o
paciente.
801. M. B., viajante,
pessoa decidida, teve
uma manhã a visão de uma
de suas irmãs, falecida
há nove anos. Quando
relatou o fato à
família, escutaram-no
com incredulidade e
ceticismo. Mas, ao
descrever a visão,
mencionou a existência,
no lado direito do
rosto, de um arranhão
vermelho, como se
tivesse sido feito há
pouco. Esse detalhe
impressionou muito sua
mãe, que desmaiou.
802. Quando voltou a si,
a mãe contou que ela
própria fizera aquele
arranhão,
inadvertidamente, ao
colocar a filha no
ataúde e que encobrira a
mancha, cobrindo-a de
pó-de-arroz, de forma
que ninguém no mundo
sabia disso. O fato de
que seu filho visse o
arranhão era, pois, uma
prova incontestável da
veracidade da visão e
viu também nisto o
prenúncio da própria
morte, o que de fato
aconteceu, poucas
semanas depois. Só é
possível interpretar
este caso como sendo a
percepção, pelo
Espírito, da morte
iminente da mãe.
803. Segue-se um pequeno
grupo de casos cujo
interesse principal
consiste em servirem,
por assim dizer, de nexo
entre os casos relatados
acima, em que os
Espíritos têm o
conhecimento antecipado
da morte de um amigo, e
os casos, de que nos
ocuparemos, em que o
Espírito parece saudar
um amigo que partiu da
terra.
804. Este grupo forma,
ao mesmo tempo, uma
extensão natural da
clarividência dos
mortos, ilustrada por
alguns casos de
“reciprocidade”, como
por exemplo no caso da
Sra. W., em que uma tia
moribunda tem a visão de
sua sobrinha, que no
mesmo momento tem a
visão de sua tia (vide
Phantasms of the Living,
II, pág. 253).
805. Da mesma forma que
a separação iminente do
Espírito e do corpo
permite que o Espírito
projete seu fantasma
entre os Espíritos
encarnados que se
encontrem a certa
distância na Terra, aqui
também a separação
iminente permite à
pessoa moribunda
enxergar os Espíritos
que habitam o outro
mundo. Não é difícil
ouvir os moribundos
dizerem ou mostrarem que
veem Espíritos amigos,
próximos a eles. Mas as
visões desse gênero
carecem de valor, desde
que a pessoa moribunda
saiba que o amigo, cujo
Espírito vê, deixou a
Terra ou está prestes a
deixá-la.
806. Passamos
insensivelmente deste ao
grupo de casos em que os
Espíritos desencarnados
manifestam o
conhecimento que possuem
da morte de um de seus
parentes ou amigos.
Essas manifestações se
produzem raramente neste
mundo, possuindo
diversas formas, desde
as manifestações de
simpatia à simples
presença silenciosa.
807. Certa noite, entre
11 e 12 horas, enquanto
se achava totalmente
desperta, a Sra. Lucy
Dadson ouviu chamarem
por seu nome, três
vezes, e viu a seguir o
vulto de sua mãe, morta
fazia 16 anos, que
carregava duas crianças
nos braços e as estendia
na sua direção, dizendo:
“Cuide deles, porque
acabam de perder a mãe”.
No dia seguinte, a
senhora Dadson soube que
sua cunhada morrera de
parto, três semanas
depois do nascimento de
seu segundo filho.
Note-se que as duas
crianças que vira nos
braços de sua mãe
pareceram-lhe
efetivamente da idade
dos dois filhos de sua
cunhada, cujo parto e
nascimento do segundo
filho ignorava. (Proceedings
of the S. P. R., pág.
380-382.)
808. Neste ponto,
deparamo-nos com um
grupo considerável de
casos em que o Espírito
desencarnado manifesta
um preciso conhecimento
de alguns fatos
relacionados com sua
vida terrestre, com sua
morte, ou de
conhecimentos ulteriores
relacionados com a
morte. O conhecimento
desses fatos ulteriores,
como a propagação da
notícia da sua morte, ou
o lugar de sua inumação,
é de um caráter mais
completo do que a
simples recordação dos
fatos que conhecera
durante a vida. Mas
todos esses graus de
conhecimento se
completam e sua conexão
é mais bem apreciada se
iniciamos pelo grau mais
elementar, pelo da
simples memória
terrestre.
809. No caso seguinte, a
informação transmitida
por uma visão
verificou-se ser
precisa, exata e muito
importante para os
sobreviventes.
Encontrou-se um homem
morto num lugar deveras
distante de seu
domicílio. Suas roupas,
que estavam sujas de
barro, foram
substituídas por outras
limpas e lançadas no
fundo de um pátio.
Quando a notícia de sua
morte chegou à sua casa,
uma de suas filhas
desmaiou e, ao recobrar
os sentidos, disse que
acabara de ver seu pai
vestindo umas roupas que
não eram suas e das
quais deu exata
descrição, acrescentando
que seu pai lhe revelara
ao mesmo tempo ter
costurado, depois de
haver saído da casa,
certa soma em dinheiro
num dos bolsos, e que
esta roupa fora jogada
com as outras.
810. Ao verificarem o
fato viu-se que a
descrição que deu da
roupa nova de seu pai
era exata e encontraram
o dinheiro costurado na
roupa que apontou. O
fantasma revelou, pois,
dois fatos, um dos quais
só era do conhecimento
de alguns e o outro só
dele. No caso, parece
que a filha estava em
estado de êxtase e não
de sonho, o que seria
ideal ter verificado.
811. Este caso é
semelhante ao do barão
Von Driesen, que, nove
dias depois da morte do
sogro, com quem
discutira, viu a
aparição deste, que
viera lhe pedir perdão
pelas ofensas que lhe
causara. A mesma
aparição foi vista, no
mesmo momento, pelo cura
do povoado em que
moravam o barão e o
sogro, e o objetivo
dessa aparição era
solicitar do padre que
procurasse reconciliação
entre o genro e o sogro.
Vemos, nestes dois
casos, os Espíritos
ocupados após a morte
com deveres e
compromissos, grandes ou
pequenos, que assumiram
durante a vida.
812. Os laços desse
gênero parecem favorecer
ou facilitar a ação dos
Espíritos sobre os
vivos. Podemos criar
condições de modo a
permitir que as almas
que desejem aparecer se
manifestem? Parece-me
que isso é, até certo
ponto, possível. Quando
iniciamos a compilação,
Edmund Gurney
surpreendeu-se com o
número enorme de casos
em que o sujeito nos
informava que se
produzira entre ele e a
pessoa falecida um
compromisso, em virtude
do qual o que falecesse
apareceria ao outro.
“Considerando –
acrescenta – o pequeno
número de pessoas que
assumem esse
compromisso, é difícil
deixar de concluir que o
fato de ter assumido um
compromisso desse gênero
possui certa eficácia.”
813. Nos doze casos
desta categoria, citados
no Phantasms, possuímos
três nos quais o
fantasma aparecera num
momento em que o agente
ainda estava vivo; na
maioria dos outros, a
determinação exata do
tempo não pôde ser feita
e sobre alguns só se
sabe que o fantasma
apareceu muito após a
morte do agente.
Resulta, pois, que a
existência de uma
promessa ou de um
compromisso pode atuar
com eficácia, quer sobre
o eu subliminar, antes
da morte, quer sobre o
espírito, o que é mais
provável, após a morte.
814. Esta conclusão é
confirmada por outros
casos, dos quais só
citaremos dois. O
primeiro trata-se do
cumprimento pela pessoa
falecida de um
compromisso imediato. É
o caso de Edwin Russell,
baixo do coro da igreja
de São Lucas, em São
Francisco, que caiu,
numa sexta-feira, na
rua, vítima de um ataque
apoplético.
815. Três horas após a
morte, o senhor Reeves,
diretor do coro, que
desconhecia o fato
ocorrido sob sua janela
e que se preparava para
escolher um Te Deum para
o domingo seguinte, viu
o fantasma de Russell,
que lhe apareceu com uma
das mãos sobre a fronte
e estendendo a outra com
um maço de músicas. A
aparição durou uns
segundos, deixando
Reeves assustado e
comovido. Mais tarde,
tomou conhecimento da
morte de Russell. Este
deveria comparecer, no
dia seguinte, na casa do
maestro do coro,
conforme prometera-lhe
dias antes. Homem
formal, seu último
pensamento deve ter sido
de que não poderia
comparecer ao encontro e
provavelmente com o
desejo de apresentar sua
demissão como membro do
coro é que se dirigira à
casa de Reeves. (Proceedings
of the S. P. R., VIII,
pág. 214.)
816. Em outro caso, mais
notável ainda, um
indivíduo tuberculoso
trocara com uma jovem,
que acabara de conhecer
numa estação invernal, a
promessa de que quem
morresse primeiro
apareceria ao outro, “de
uma maneira que não
fosse desagradável ou
assustadora”.
817. Mais de um ano
depois ele apareceu, com
efeito, não à moça em
questão, mas à sua irmã,
e no momento em que se
dispunha a subir num
carro; a moça, que
também se encontrava no
carro, não tinha visto
nada. As investigações
deram como resultado que
a aparição se produziu
dois dias antes da morte
do sujeito, quando este
se achava em agonia. (Proceedings
of the S. P. R., X, pág.
284 – caso da condessa
Kapnist.) Este caso nos
leva à seguinte
reflexão: quando é feita
a promessa de aparecer
após a morte, a aparição
não tem que ser vista,
necessariamente, pela
pessoa a quem se
prometeu, senão pela
pessoa mais fácil de ser
impressionada que a
rodeia.
(Continua no próximo
número.)