Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
27)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual a finalidade da
“Casa da Providência”,
localizada no centro do
instituto “Almas Irmãs”?
A "Casa da Providência"
é o local do instituto
onde os juízes atendem
aos petitórios
formulados pelos
integrantes da
comunidade, com respeito
aos irmãos reencarnados
na esfera física. Ali,
somente se organizam
processos de auxílio e
corrigenda relacionados
aos companheiros
destinados à
reencarnação e aos que
já se achem
reencarnados,
espiritualmente ligados
aos interesses do
instituto.
Renascimentos, berços
torturados, acidentes da
infância, delitos da
juventude, dramas
passionais, lares
periclitantes,
divórcios, deserções
afetivas, certas
modalidades de
suicídios, tanto quanto
moléstias e obsessões
resultantes de abusos
sexuais e uma infinidade
de temas conexos, são
ali examinados, segundo
as rogativas e as
queixas entregues aos
pronunciamentos da
justiça.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo X, pp.
279 e 280.)
B. É verdade que é
ínfimo o número dos
Espíritos que regressam
absolutamente
irrepreensíveis da
existência terrestre?
Sim. Segundo o juiz
Amantino, em quase 80
anos consecutivos, a
média de
irrepreensibilidade não
excedia de 5 em 1.000
pessoas, não obstante
surgirem fichas honrosas
de muitos que atingiam
mais de 90% na matéria
de distinção absoluta, o
que, no instituto,
representa elevado grau
de mérito.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo X, pp. 281 e
282.)
C. Como a questão do
divórcio é tratada pelos
juízes do instituto
“Almas Irmãs”?
De acordo com o juiz
Amantino, os matrimônios
terrestres, entre as
pessoas de evolução
respeitável, se efetuam
na base dos programas de
trabalho previamente
estabelecidos; por isso,
o divórcio é dificultado
nas esferas superiores,
por todos os meios
lícitos, excetuados os
casos em que ele seja o
mal menor. O responsável
pela ruptura da
confiança e da
estabilidade da união
conjugal passa à
condição de julgado; a
vítima é induzida à
generosidade e à
benevolência, através
dos recursos que a
Espiritualidade Superior
possa veicular, para que
não se frustrem planos
de serviço. Assim,
alcançam a Pátria
Espiritual, na condição
de enobrecidos filhos de
Deus, as grandes
mulheres e os grandes
homens, quando suportam
sem queixa as
infidelidades e as
violências do parceiro,
por amor às tarefas que
os desígnios do Senhor
lhes colocaram nos
corações e nas mãos,
seja no amparo moral à
família consanguínea ou
na sustentação das boas
obras.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo X, pp. 281 e
282.)
Texto para leitura
131. Beatriz
aparece remoçada
- Em aposento próximo,
Beatriz era assistida
por Sara e Priscila. A
esposa de Nemésio
remoçara e mostrava nos
olhos o clarão juvenil
da criatura que retomava
aspirações há muito
esmaecidas.
Declarando-se encantada
e agradecida a seus
hospedeiros, Beatriz
não suspeitava das
atenções que Félix lhe
dedicara antes da
desencarnação. A
conversa em seu quarto
desenvolveu-se em clima
de ternura recíproca,
mas Félix se empenhava
em distraí-la,
desentranhando-lhe o
pensamento do antigo
lar. A certa altura, ela
disse a Neves não ter
tido, ainda, notícias de
sua mãezinha que a
precedera no mundo
espiritual e rogou para
que os amigos a
favorecessem com uma
visita, na primeira
oportunidade, à casa que
deixara na Terra.
Beatriz declarou, então,
com humildade e grandeza
de alma, ter sido no
mundo imensamente feliz,
pois vivera ao lado de
um esposo que, na
apreciação dela, era um
dos companheiros mais
leais do mundo e pai do
melhor dos filhos. Neves
confortou-a e prometeu
ajudar. Em seguida,
estando a sós com Félix,
André colocou-o a par
dos últimos
acontecimentos em casa
de Cláudio Nogueira e
pediu-lhe permissão para
continuar a assistir o
pai e sua filha. O
benfeitor ouviu-o,
preocupado, e deduziu
que as dificuldades de
Cláudio e Marina
atingiam o clímax. Era
necessário, pois,
apoiá-los, socorrê-los,
sendo impossível, àquela
altura do caso, alinhar
previsões. Félix falava
sereno, mas era fácil
verificar-lhe o
suplício oculto. Mesmo
assim, o benfeitor
articulou planos e
sugeriu providências.
Moreira mostrara-se um
cooperador diligente,
mas era muito complexo o
trabalho de manter a
doente livre dos
vampirizadores, cujo
número aumentava com as
atitudes inesperadas de
Márcia, estimulando
Nemésio a uma aventura
que raiava pela
demência. André deveria,
pois, juntar-se ao
ex-vampirizador de
Cláudio na proteção a
Marina, prosseguindo a
ajuda a seu pai e,
quanto possível, à
Márcia e aos Torres.
(Cap. IX e X, pp. 276 a
278)
132. A
Casa da Providência
- No dia seguinte, antes
de retornar à Crosta,
André foi conduzido pelo
irmão Félix a pequeno
palácio, localizado no
centro da instituição,
chamado "Casa da
Providência".
Tratava-se de curioso
foro do "Almas Irmãs",
onde dois juízes
atendiam aos petitórios
formulados pelos
integrantes da
comunidade, com
respeito aos irmãos
reencarnados na esfera
física. Ali, segundo
explicou Félix, somente
se organizam processos
de auxílio e corrigenda,
relacionados aos
companheiros destinados
à reencarnação e aos que
já se achem
reencarnados,
espiritualmente ligados
aos interesses do
instituto.
Renascimentos, berços
torturados, acidentes da
infância, delitos da
juventude, dramas
passionais, lares
periclitantes,
divórcios, deserções
afetivas, certas
modalidades de
suicídios, tanto quanto
moléstias e obsessões
resultantes de abusos
sexuais e uma infinidade
de temas conexos, são
ali examinados, segundo
as rogativas e as
queixas entregues aos
pronunciamentos da
justiça. A Casa da
Providência apenas
delibera em definitivo
nos problemas que se
limitem ao "Almas
Irmãs"; contudo, os
casos, em sua maioria,
revelam derivações para
outros setores. Nessa
hipótese, as questões
são aí discutidas,
seguindo depois para
instâncias superiores.
Ainda assim, os dois
magistrados e Félix,
obrigado pela força do
cargo a estudar e
informar todas as peças,
não decidem só por si.
Um conselho formado por
dez orientadores, seis
companheiros e quatro
irmãs, com méritos
suficientes perante a
Governadoria da cidade,
opina, por meio de
assembleias semanais, em
todas as recomendações
e diligências,
aprovando-as ou
contrariando-as, para
que as decisões não se
comprometam em
arbitrariedades. Félix
acentuou, por fim, que
mais da metade dos autos
tramitam na direção das
autoridades dos
Ministérios da
Regeneração e do
Auxílio, que, aliás,
primam pela rapidez nos
despachos e provimentos.
No corpo do edifício,
André e Félix seguiram
no rumo do gabinete
central, onde o
benfeitor o apresentou
ao juiz Amantino, que
estava em serviço,
acompanhado de cinco
auxiliares. (2a
parte, cap. X, pp. 279 e
280)
133. Como o
divórcio é tratado
- O diálogo com o juiz
Amantino foi muito
interessante. André
perguntou-lhe, de
início, qual a
percentagem dos
companheiros que
regressam absolutamente
irrepreensíveis da
existência terrestre.
Amantino informou que,
em quase 80 anos
consecutivos, a média
de irrepreensibilidade
não excedia de 5 em mil,
não obstante surgirem
fichas honrosas de
muitos que atingiam mais
de 90% na matéria de
distinção absoluta, o
que, no instituto,
representa elevado grau
de mérito. O juiz
esclareceu que, apesar
da equidade nos
julgamentos, prevalecia
ali o rigor no registro
de todas as culpas e
defecções dos
reencarnados, para que
não se afrouxe a
disciplina. Os limites
da tolerância na
Espiritualidade Superior
são, contudo, mais
amplos, porque os
árbitros e mentores não
se valem apenas dos
textos, mas também dos
princípios de
compreensão humana que
lhes palpitam nas
consciências, cientes
das dificuldades que as
criaturas enfrentam para
se conduzirem em medidas
de correção integral, no
dédalo dos próprios
sentimentos. Indagado
sobre o divórcio,
Amantino asseverou que
todos os matrimônios
terrestres, entre as
pessoas de evolução
respeitável, se efetuam
na base dos programas de
trabalho previamente
estabelecidos; por
isso, o divórcio é
dificultado, nas esferas
superiores, por todos os
meios lícitos,
excetuados os casos em
que ele seja o mal
menor. O responsável
pela ruptura da
confiança e da
estabilidade da união
conjugal passa à
condição de julgado; a
vítima é induzida à
generosidade e à
benevolência, através
dos recursos que a
Espiritualidade Superior
possa veicular, para que
não se frustrem planos
de serviço. Assim,
alcançam a Pátria
Espiritual, na condição
de enobrecidos filhos de
Deus, as grandes
mulheres e os grandes
homens, quando suportam
sem queixa as
infidelidades e as
violências do parceiro,
por amor às tarefas que
os desígnios do Senhor
lhes colocaram nos
corações e nas mãos,
seja no amparo moral à
família consanguínea ou
na sustentação das boas
obras. No entanto, os
que patenteiem
incapacidade de perdoar
as afrontas, conquanto
se lhes lastime a
ausência de grandeza
interior, são também
amparados, no desejo de
separação que revelem,
adiando-se-lhes os
débitos para resgates
futuros e
concedendo-se-lhes as
modificações que
requeiram. (2a
parte, cap. X, pp. 281 e
282)
134. Em tudo vige
a lei do merecimento
- Prosseguindo, o juiz
Amantino acentuou que a
Divina Providência manda
exaltar as virtudes dos
que amam sem egoísmo,
sem desconsiderar o
acatamento que se deve
às criaturas de vida
reta espoliadas no
patrimônio afetivo. Os
executores das Leis
Universais, agindo em
nome de Deus, não
aprovam a escravidão de
ninguém e apoiam as
consciências livres e
responsáveis que se
elevem para a Suprema
Sabedoria e para o Amor
Supremo, ainda que para
isso escolham
multimilenárias
experiências de ilusão e
de dor. Aludindo, em
seguida, ao instituto da
poligamia, que é
legalizada em certos
países, o magistrado
afirmou que a poligamia
constitui uma herança
animal que desaparecerá
da face do mundo e que,
achando-se numa estância
inspirada pelos
ensinamentos do Cristo,
não lhes cabia olvidar
que, perante o
Evangelho, basta um
homem para uma mulher e
basta uma mulher para um
homem. Advertiu, no
entanto, que há
provações e
circunstâncias difíceis
em que o homem ou a
mulher são chamados à
abstenção sexual, no
interesse da
tranquilidade e da
elevação daqueles que os
cercam, situação essa
que não modificam sem
alterar ou agravar os
próprios compromissos.
André perguntou-lhe se a
Casa providenciava
auxílio conforme a
extensão dos erros. Ele
redarguiu, bem-humorado,
que o auxílio se
verifica justamente pela
extensão dos acertos.
Quanto mais exato o
Espírito reencarnado, na
prática dos deveres que
lhe competem, mais
amparo recolhe nos dias
obscuros em que resvale
no desatino. Qualquer
pedido de ajuda ali
formulado, antes de
tramitar, é analisado à
luz de contabilidade
segura, pelo
documentário pertencente
ao candidato para quem
se pede favor. Somados
haveres e débitos,
verifica-se até que
ponto será possível ou
aconselhável o
atendimento,
determinando-se a média
do auxílio atribuível a
cada pedido individual.
Nessa clara aplicação do
direito, muitos
requerimentos de
socorro, nas diligências
empreendidas, acabam se
transformando,
automaticamente, em
provisões de corrigenda,
porque, se escasseassem
créditos aos
interessados, sobejando
dívidas, o resguardo
assumia a forma de
emenda, o que, às vezes,
irritava os
solicitantes. Assim, as
preces ou mesmo apenas
as vibrações de alegria
e reconhecimento de
todas as criaturas,
encarnadas ou
desencarnadas, funcionam
à guisa de abonos e
cauções de significado
muito importante para
cada um. Creia ou não na
imortalidade, qualquer
pessoa é alma eterna.
Por isso, as leis da
Criação marcam no
caminho de todo Espírito
os bens ou os males que
pratique, devolvendo
frutos na base da
sementeira. Efetuando-se
o aperfeiçoamento moral
de etapa em etapa e
compreendendo-se a
existência física por
aprendizado da alma,
entretecido de acertos e
desacertos, com raras
exceções a
individualidade é
apreciada e sustentada
pelo rendimento de
utilidade com que se
caracterize no bem
comum. "Isso – destacou
o juiz – é princípio
geral da Natureza.
Árvore benfeitora atrai
a defesa imediata do
pomicultor. Animal
prestimoso recebe do
dono cuidados
especiais." É lícito,
pois, que a pessoa,
quanto mais valor
demonstre para a
coletividade na Terra,
mais devotamento receba
das Esferas Superiores.
(Cap. X, pp. 283 a 285)
135. O caso Iria
Veletri - André
foi autorizado a
assistir, então, a uma
audiência. Descerrada a
passagem, uma senhora
triste compareceu e,
vendo Félix,
precipitou-se na direção
do instrutor,
prosternando-se de
joelhos. Félix acenou
para os guardas e
recomendou que a
levantassem, rejeitando
assim qualquer
manifestação de
idolatria e fugindo à
lisonja, que ele
usualmente não
suportava. "Instrutor,
tenha compaixão de nós!
– chorou a mulher,
entregando-lhe os autos
que trazia – roguei
proteção para minha
filha e veja o
resultado... Manicômio,
manicômio... Coração de
mãe concorda com isso?
Impossível,
impossível..." Félix leu
a peça e respondeu: "Jovelina,
sejamos fortes e
razoáveis. O despacho é
justo". A mulher
replicou: "Justo! pois o
senhor não conhece
minha filha?" Félix, com
indefinível tristeza a
lhe velar o semblante,
falou-lhe: "Ah! sim.
Iria Veletri...
Lembro-me de quando se
ausentou, há trinta e
seis anos... Casou-se
aos dezoito e se
desligou do marido,
homem digno, aos vinte e
seis, unicamente porque
não pudesse o
companheiro
sustentar-lhe a vocação
para o luxo desmesurado.
Em oito anos de ligação
conjugal, nunca se
portou à altura dos
compromissos e praticou
seis abortos...
Abandonando o lar e
afundando-se em
prostituição, foi
convidada,
indiretamente, e por
várias vezes, sob a
inspiração de amigos
daqui, para que se
afastasse dos hábitos
dissolutos, fazendo-se
mãe respeitável de
filhos que, embora
nascidos do sofrimento,
se lhe transformariam,
com o tempo, em tutores
e companheiros
abnegados... Diversos
tentames foram
empreendidos... Iria, no
entanto, expulsou todos
os filhinhos,
arrancando-lhes do seio
o corpo em formação...
Seis abortos até agora
e, até agora, nada fez
que lhe recomende a
permanência no mundo...
Não lhe consta da ficha
o mínimo gesto de
bondade à frente dos
semelhantes... Ela
própria se entregou de
bom grado aos
vampirizadores que lhe
desgastam as energias...
E a nossa Casa não lhe
opôs contradita à
vontade de viver assim
obsidiada, para que não
continue convertendo o
claustro materno em
antro da morte..." Félix
rematou, então,
enlaçando a pobre mulher
com paterna solicitude:
"Ah! Jovelina, Jovelina!...
Quantos de nós aqui
teremos filhos amados,
nos hospícios da
Terra... O manicômio é
também refúgio levantado
pela Divina Providência
para expurgar nossas
culpas... Volte aos
afazeres e honre a
filha, trabalhando e
servindo mais... Seu
amor de mãe será junto
de nossa Iria assim como
a luz que remove as
trevas!..." A
requerente fitou os
olhos do instrutor e
agradeceu, engasgada de
angústia, beijando-lhe a
destra com humildade. (2a
parte, cap. X, pp. 285 a
287)
(Continua no próximo
número.)