ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 35)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Myers afirma que a
natureza da aparição
varia de um caso para
outro. O que determina
essa diversidade?
A natureza da aparição
varia de acordo com seu
grau de clareza e sua
individualidade. Os
fantasmas, de aparições
incoerentes e
ininteligíveis, podem
parecer inquietantes e
de mau augúrio, mas à
medida que aumentam sua
claridade, sua
inteligência e sua
individualidade,
tornam-se fonte de amor
e alegria.
(A Personalidade Humana,
capítulo VII – Os
fantasmas dos mortos.)
B. O estudo científico
das aparições põe por
terra as concepções
tradicionalmente
defendidas pelos
satanistas?
Sim. A antiga suposição
de que existem Espíritos
malignos dotados de
poderes maléficos, que
forma a base do estudo
dos satanistas e da
maioria dos terrores
sobrenaturais,
desaparece
insensivelmente do
espírito, à medida que
estudamos os fatos que
se nos apresentam,
examinados nesta obra.
(Obra citada. Capítulo
VII – Os fantasmas dos
mortos.)
C. Pode-se considerar a
telepatia um passo
adiante na vida da
evolução?
Segundo Myers, essa
ideia é, sim,
incontestável. O fato de
poder ler os pensamentos
gerados em outros
Espíritos, sem o auxílio
de sentidos especiais,
indica, evidentemente, a
possibilidade de uma
extensão muito ampla de
forças psíquicas. E todo
conhecimento novo,
relativo às condições
nas quais a ação
telepática é suscetível
de se produzir, nos
servirá como ponto de
partida de inestimável
valor para determinar o
caráter evolutivo ou
dissolutivo dos estados
psíquicos pouco comuns.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
Texto para leitura
845. Afastando todos
esses casos cuja
principal característica
consiste na produção de
sons não articulados,
achamo-nos diante de
casos em que diversas
pessoas viram espectros,
e casos que, com
frequência, se
assemelhavam. Sobre esse
tema foram formuladas
diversas hipóteses; a
meu ver, considero que
quando o mesmo fantasma
é visto por mais de uma
pessoa ao mesmo tempo,
trata-se de uma
transposição da parte do
espaço em que o fantasma
foi percebido, sem que a
matéria em si, que ocupa
esse espaço, tenha
sofrido qualquer
transformação.
846. Quanto à questão do
papel desempenhado por
certas casas na produção
de aparições, faz parte
da questão mais ampla do
conhecimento póstumo;
não se trata aqui de
propriedades especiais
destas casas, mas de um
ramo do grande problema
das relações existentes
entre os fenômenos
supranormais e o tempo.
847. As manifestações
que se produzem nas
casas assombradas
dependem de um antigo
acontecimento. Essas
manifestações são uma
consequência ou mero
resíduo? Qual é o gênero
de dependência, nesse
caso? Trata-se de
operação atual ou apenas
de percepção atual de
acontecimentos já
realizados? Podemos,
nestes casos,
estabelecer uma
distinção real entre uma
ação contínua e uma
percepção contínua de
uma ação passada?
848. Parece-me existir
estreita analogia, ainda
que não evidente à
primeira vista, entre
esses fenômenos, esses
sons e visões
persistentes, e certos
fenômenos de
cristaloscopia e de
escrita automática que
também dependem de
acontecimentos
realizados há tempos,
dos quais são
consequência ou resíduo.
849. Existem casos em
que a relação entre a
aparição e uma pessoa
morta há muito tempo
parece verdadeira, e
outros em que se torna
cada vez menos evidente,
até que a gente se
encontra apenas na
presença de cenas
fantasmagóricas, que é
impossível atribuir à
atividade real de um
Espírito humano. Uma
visão, por exemplo, como
a de um animal
fantasmagórico
atravessando um vale, se
foi vista, no mesmo
lugar, por diversos
espectadores, pode ser
considerada como algo
além de mera ilusão
subjetiva. A
significação real dessa
imagem leva-nos às
teorias sobre a
permanência ou
simultaneidade dos
fenômenos que se
desenvolvem no seio da
alma universal, situada
fora do tempo.
850. Esses conceitos
pertencem aos mais
elevados de nosso
espírito. Se pudéssemos
nos aproximar mais
deles, seriam de
natureza a influenciar
profundamente a ideia
que temos de nosso
destino longínquo.
Talvez um dia isso
aconteça. Por enquanto
devemos contentar-nos
com um simples golpe de
vista sobre o véu
impenetrável que até
agora permanece ante a
nossa visão.
851. Não nos parece
necessário, nem
prudente, terminar este
capítulo sem acrescentar
algumas palavras sobre o
lado moral e estético do
problema. Quem se propõe
a trabalhar de acordo
com a sua opinião e
fazê-la avançar pelo
caminho da verdade deve
dar-se conta do seu
estado real. Mas o que
este livro encerra de
novo está destinado a
agir sobre preconceitos
de caráter tanto moral
quanto intelectual.
852. Seria dar prova de
pedantismo não querer
mencionar as questões de
ordem moral quando se
tocam matérias que a
maioria dos que pensam
consideram antes do
ponto de vista moral do
que do ponto de vista
científico. Quando fatos
novos, de uma
importância tão
considerável, são
chamados a penetrar
profundamente na
consciência de nossa
raça, devem ser
coerentes e aceitáveis
tanto moral como
intelectualmente.
853. Discutiremos a
maioria das questões
relacionadas a este tema
no capítulo final. Mas
há um ponto que se acha,
desde já, acima de
qualquer discussão, e
sua importância é
enorme, merecendo nossa
atenção: de todos os
fatos aqui citados
tiramos uma conclusão
que, aplicada às
superstições e aos
terrores humanos,
constitui um poderoso
remédio, mais poderoso
do que o encontrado por
Lucrécio.
854. Nesta imensa série
de relatos, por mais
complexos e raros que
sejam seus detalhes,
comprovamos que a
natureza da aparição
varia de acordo com seu
grau de clareza e sua
individualidade. Os
fantasmas, de aparições
incoerentes e
ininteligíveis, podem
parecer inquietantes e
de mau augúrio, mas à
medida que aumentam sua
claridade, sua
inteligência e sua
individualidade,
tornam-se fonte de amor
e alegria. Nunca vi um
só caso de combinação
póstuma de inteligência
e maldade.
855. Ao examinar a
escrita automática,
perguntar-nos-emos qual
a origem das piadas
vulgares e das
mistificações absurdas
que se encontram
associadas aos fenômenos
desse gênero. Teremos
que estudar a questão
para saber se se trata
de uma espécie de sonho
do próprio autômato,
porquanto essas
mistificações de piadas
indicam a existência de
inteligências
desencarnadas ao nível
do cão e do macaco.
856. Por outro lado, a
antiga concepção de
Espíritos malignos, de
poderes maléficos que
formam a base do estudo
dos satanistas, e da
maioria dos terrores
sobrenaturais,
desaparece
insensivelmente do
espírito, à medida que
estudamos os fatos que
se nos apresentam.
857. Nossos relatos nos
foram transmitidos por
homens e mulheres que
representam as diversas
variedades da opinião
média, e todos esses
relatos convergem para
um só objetivo que é o
de estabelecer uma
diferença marcante entre
o ponto de vista
científico e o ponto de
vista supersticioso,
aplicados aos fenômenos
espirituais.
858. O terror que
constitui a base das
teologias primitivas se
manifesta entre os
povos, sempre que se faz
alusão à possibilidade
de comunicação com almas
descorporificadas. Mas a
transformação do terror
selvagem em curiosidade
científica constitui a
essência da civilização.
Todos esses fatos tendem
incontestavelmente a
apressar essa
transformação.
859. Nesse mundo do
espírito, que se abre
diante de nós, creio
distinguir, mais do que
uma intensificação, uma
desintegração do
egoísmo, da malquerença
e do orgulho. E não é
este o resultado natural
da evolução moral do
mundo? Se o homem
egoísta é, segundo a
expressão de Marco
Antônio, “um cancro, uma
úlcera do Universo”,
esses impulsos egoístas
não devem, num mundo
melhor, sofrer uma queda
definitiva, se bem que
penosa, ao não encontrar
qualquer apoio entre as
forças permanentes que
mantêm o curso das
coisas?
860. Cap. VIII - O
automatismo motor. O
leitor que me acompanhou
até este ponto não pôde
deixar de ter percebido
que existe um extenso
grupo de fenômenos, de
enorme importância, dos
quais ainda não me
ocupei. O automatismo
motor, ainda que menos
familiar ao grande
público do que os
fantasmas classificados
sob o nome de
automatismo sensorial,
compreende um conjunto
de fenômenos, na
realidade mais
frequentes e
importantes.
861. Deparamo-nos já com
mais de um exemplo de
automatismo motor,
durante o curso desta
obra, primeiramente, e
sob uma forma muito
desenvolvida, no
capítulo II, ao
tratarmos da
personalidade múltipla.
Citamos ali numerosos
exemplos de efeitos
motores produzidos pelo
eu secundário sem a
intervenção do eu
primitivo,
frequentemente incluído,
não obstante a sua
resistência. Toda ação
motriz do eu secundário
é uma ação automática,
com relação ao eu
primitivo. E podemos,
por analogia, ampliar o
uso desta palavra e
qualificar de
automáticos não só os
atos pós-epiléticos, mas
também as manias, sempre
que esses atos se
realizem à margem da
iniciativa da
personalidade primitiva
que se presume normal.
862. Não nos ocuparemos,
neste capítulo, desses
fenômenos degenerativos.
O automatismo, que
constitui o tema, é um
fenômeno evolutivo, do
qual darei uma definição
mais exata ao definir,
ao mesmo tempo, as
relações que tem com os
fenômenos motores
desagregantes que ocupam
um lugar saliente na
tradição popular.
863. Antes de
prosseguir, creio,
porém, dever formular,
de maneira mais clara,
uma tese que foi
sugerida, mais de uma
vez, enquanto nos
ocupávamos dos grupos
especiais de nossos
fenômenos: pode-se
esperar que os fenômenos
vitais supranormais se
manifestam pelos mesmos
caminhos que os dos
fenômenos vitais
anormais ou mórbidos,
quando os mesmos centros
e as mesmas sinergias
entram em ação.
864. Para ilustrar o
sentido desta tese,
usarei de uma
observação, há muito
formulada por Gurney e
por mim, a respeito dos
“fantasmas dos vivos” ou
das alucinações
verídicas produzidas
(como sustentamos) não
por um estado particular
do cérebro do sujeito,
mas pela ação telepática
de um agente distante.
Observamos que, quando
uma alucinação ou uma
imagem subjetiva deve
ser provocada por essa
energia distante,
provavelmente será
provocada com maior
facilidade, do mesmo
modo que as alucinações
mórbidas derivadas de
uma lesão cerebral.
Demonstramos com
numerosos argumentos que
isso ocorria assim,
efetivamente, tanto no
que concerne ao modo da
evolução do fantasma no
cérebro do sujeito, como
no modo pelo qual se
apresenta aos seus
sentidos.
865. Proponho-me a
generalizar esse
princípio mostrando que,
se existe em nós um eu
secundário que tende a
se manifestar com o
auxílio de meios
fisiológicos, é provável
que sua via de
exteriorização mais
curta, o caminho mais
cômodo, do ponto de
vista de sua
manifestação em ação
visível, se encontrara,
frequentemente, ao longo
de um trajeto que os
processos mórbidos de
desintegração
apresentaram como o
caminho de menor
resistência, ou seja,
podemos supor que a
separação entre o eu
primário e o secundário
se fará ao longo de uma
superfície que as
dissociações mórbidas de
nossas sinergias
psíquicas mostraram
tendência a seguir.
866. Se a epilepsia e a
loucura, por exemplo,
tendem a dissociar
nossas capacidades de
forma determinada, o
automatismo deve ser
capaz de dissociá-las,
por sua vez, de um modo
mais ou menos
semelhante. Os selvagens
encaram a epilepsia como
inspiração. Têm razão
quanto ao fato de que a
epilepsia é uma
destruição temporária da
personalidade, em
consequência de sua
própria instabilidade,
enquanto que a
inspiração se considera
como uma submissão
temporária da
personalidade, tomada
por um poder externo.
867. No primeiro caso,
valendo-me de uma
metáfora, existe uma
combustão espontânea; no
segundo, trata-se da
ação de um fogo celeste.
Falando menos
metaforicamente, a
explosão e o esgotamento
dos centros nervosos
devem possuir algo em
comum, qualquer que seja
a natureza do estímulo
que quebrou sua
estabilidade.
868. Como, porém,
distinguir o que é
supranormal do que é
anormal? O que nos faz
dizer que nesses estados
de aberração existe algo
além da histeria, da
epilepsia, da loucura?
869. Nos capítulos
anteriores já
respondemos, em parte,
estas perguntas. O
leitor deve estar
familiarizado com o
ponto de vista que
considera todas as
atividades psíquicas e
fisiológicas como
tendentes,
necessariamente, ou à
evolução ou à
dissolução. Nossa
pergunta “supranormal ou
anormal?” recebe, então,
a seguinte modificação:
“evolutivo ou
dissolutivo?”. Ademais,
ao estudar
sucessivamente todos os
fenômenos psíquicos, nos
perguntamos se cada um
deles constitui o
indício de mera
degeneração de forças já
conquistadas ou “a
promessa e a
possibilidade”, uma vez
que não a posse real, de
poderes desconhecidos ou
não reconhecidos.
870. Dessa forma, por
exemplo, a telepatia
constitui, com certeza,
um passo adiante na vida
da evolução. O fato de
poder ler os pensamentos
gerados em outros
Espíritos, sem o auxílio
de sentidos especiais,
indica, evidentemente, a
possibilidade de uma
extensão muito ampla de
forças psíquicas. E todo
conhecimento novo,
relativo às condições
nas quais a ação
telepática é suscetível
de se produzir, nos
servirá como ponto de
partida de inestimável
valor para determinar o
caráter evolutivo ou
dissolutivo dos estados
psíquicos pouco comuns.
871. Resulta de nossos
conhecimentos,
relacionados à
telepatia, que o aspecto
superficial de certas
fases da evolução
psíquica pode, da mesma
forma que o aspecto
superficial de certas
fases da evolução
fisiológica, tomar a
forma quer de uma
inibição, quer de uma
perturbação, a primeira
indicativa de uma
dinamogenia latente e a
segunda vedando a
evolução.
872. O sujeito
hipnotizado atravessa
uma fase de letargia,
antes de entrar na fase
em que se encontra numa
comunhão de sensações
com o operador, e a mão
do autômato passa por
uma fase de movimentos
desordenados que se
assemelham aos
movimentos da coreia
(1)
antes de adquirir a
capacidade da escrita
ágil e inteligente.
873. Da mesma forma, o
surgir de um dente pode
ser precedido por uma
dor indefinida, cuja
natureza faria crer na
formação de um abcesso,
se o dente não tivesse,
mais tarde, surgido.
Exemplos mais notáveis
da perturbação que
oculta a evolução
poderiam ser tirados da
história do organismo
humano que progride em
direção à maturidade ou
preparando o
aparecimento de um novo
organismo destinado a
sucedê-lo.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Coreia: (Neur.)
distúrbio encefálico
caracterizado por
movimentos musculares
anormais e espontâneos,
sem propósito,
irregulares, rápidos e
transitórios, sugerindo
uma dança.