Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
29)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Por que Nemésio
expulsou o filho
Gilberto de sua casa e
da empresa da família?
O motivo foi ciúme de
Marina, visto que
Gilberto lhe declarou
que por motivo nenhum
deixaria de casar-se com
a jovem. Nemésio o
ouviu, ressentido,
revoltado, porque a
reconquista de Marina
pelo filho significava
para ele bancarrota
moral insuportável. Ele
nunca a amara tanto
quanto naquela hora em
que se lhe esvaíam as
esperanças. Marina
significava-lhe
mocidade, euforia,
entusiasmo. Por causa
disso, agrediu o filho e
o expulsou de casa,
vociferando: "Rua,
miserável!... Rua,
rua!... Suma daqui! Não
me apareça mais!..."
Atônito, Gilberto
dirigiu-se à casa de
Cláudio, onde relatou
aos amigos o doloroso
episódio.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo XI, pp.
298 e 299.)
B. Agredido por Nemésio
no banco onde
trabalhava, Cláudio teve
ímpeto de revidar, mas
se conteve. Por que isso
ocorreu?
Na hora em que ia
revidar, Cláudio sentiu
o reflexo de Marita.
Aquela mão pequena e
fria que se elevara da
morte, a fim de
abençoá-lo, estava na
dele. A menina
atropelada surgia-lhe na
memória, como a
perguntar-lhe pelos
votos de melhoria.
Prometera-lhe
renovar-se, ser outro
homem. Que diria ela, do
Além, se ele também não
perdoasse, como ela o
fez, ao carrasco que lhe
seduzira a filha e
furtara a mulher?
Cabia-lhe ver, nos
inimigos gratuitos,
enfermos exigindo
socorro e benevolência.
Não trazia, porventura,
o espírito endividado,
em meio de falhas e
tentações? Cláudio
afrouxou, então, o braço
antes reteso e,
escutando os sarcasmos
de Nemésio que se
retirava, truculento,
deixou, sob os olhares
de simpatia de todo o
auditório, que caísse de
seu rosto o pranto
amargo.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XI, pp. 302 e
303.)
C. Marina e Gilberto
acabaram casando-se?
Sim. O casamento dos
jovens ocorreu no último
dia do ano que se seguiu
à desencarnação de
Marita. A ventura do
novo casal chegou até
aos companheiros do
"Almas Irmãs", onde
pequena equipe de amigos
se reuniu em prece pela
segurança dos nubentes.
Beatriz, mãe de
Gilberto, participou do
encontro, mas Marita não
se fez presente. Félix
explicou, então, que
ela, prestes a regressar
para as lides terrenas,
demandava cautelas
especiais.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XI, pp. 304 e
305.)
Texto para leitura
141. Nemésio
agride e expulsa o filho
- Do Flamengo, André e
Félix rumaram para a
Lapa, onde encontraram
Márcia recostada num
divã, à espera de
Nemésio. Félix,
magnânimo como sempre,
acercou-se dela e
beijou-lhe a fronte,
mostrando lágrimas.
Parecia que o benfeitor
queria lhe agradecer a
inesperada abnegação em
favor da filha. Do dia
imediato em diante,
azedou-se o intercâmbio
entre pai e filho.
Nemésio estava
intrigado; o filho,
arredio. Decorridas
algumas semanas, ao
inteirar-se de que o
rapaz e a menina haviam
reatado as relações, o
negociante viajou com
Márcia para o Sul, no
intuito de situar o
filho junto de antigos
camaradas de juventude,
residentes em Porto
Alegre. O casal se
deteve por lá várias
semanas, trazendo, na
volta, expressivo
programa de serviço e de
estudo que Gilberto
recusou, cortês,
desistindo das
vantagens que lhe eram
oferecidas. André
assistiu ao diálogo
entre pai e filho e viu
a respeitosa ternura com
que o jovem se dirigiu
ao genitor,
implorando-lhe auxílio.
Queria permanecer no Rio
e aspirava ao casamento
com Marina. Como desde
cedo se acostumara a
trabalhar com o pai na
imobiliária,
aguardava-lhe agora a
proteção. Nemésio o
ouvia, ressentido,
revoltado. A reconquista
de Marina pelo filho
significava para ele
bancarrota moral
insuportável. Nunca a
amara tanto quanto
naquela hora em que se
lhe esvaíam as
esperanças. Marina
significava-lhe
mocidade, euforia,
entusiasmo. Em dado
momento, vendo que
Gilberto concluíra, ele
vibrou rude golpe na
mesa com uma régua
pesada e, cego pela
cólera que o envolvia,
esbravejou: "Nunca!...
Você nunca se casará com
essa..." E multiplicou
pejorativos e desaforos
que o rapaz aguentou,
estonteado e ferido, sem
revidar. Mesmo assim,
depois da tirada de
injúrias, Gilberto
comunicou-lhe que
saberia tolerar todas as
consequências, mas não
renunciaria ao
compromisso assumido
consigo próprio. Nemésio,
possesso, entregou-se às
vias de fato,
esmurrando-lhe o rosto.
Gilberto rodou nos
calcanhares e tombou no
piso, para reerguer-se e
cair de novo sob
pancadaria grossa, até
que o genitor,
semelhando fera solta,
infligiu-lhe tremendo
chute, vociferando:
"Rua, miserável!... Rua,
rua!... Suma daqui! Não
me apareça mais!..."
Atônito, e tentando
estancar com o lenço um
filete de sangue que lhe
escorria num dos cantos
da boca, Gilberto
dirigiu-se à casa de
Cláudio, onde relatou
aos amigos o doloroso
episódio. Todos
entenderam perfeitamente
a gravidade da situação,
mas Cláudio prometeu-lhe
ajuda. (Cap. XI, pp. 298
e 299)
142. Nemésio
agride também o pai de
Marina - Cláudio
pediu ao rapaz que
esquecesse os agravos e
aceitasse no pai um
enfermo da alma. Marina
também o exortou à
concórdia e ao
esquecimento e, após
fazer o curativo nos
lábios de Gilberto,
procurou alegrar o
ambiente com
apontamentos de bom
humor. Cláudio
intercedeu junto ao
diretor do banco,
buscando a colocação do
rapaz. O diretor
informou que não se
admitiam aspirantes ao
serviço sem provas de
habilitação, mas
prometeu entender-se
com os chefes. Gilberto
agradeceu e, a sós com
Cláudio, referiu-se com
humildade ao problema da
moradia, já que fora
expulso de sua casa.
Julgando não ser
aconselhável hospedá-lo
em seu apartamento, para
evitar novo ataque de
fúria por parte de
Nemésio, Cláudio
sugeriu-lhe procurar
conhecida pensão de
estudantes, cujos
pagamentos ficariam,
inicialmente, a seu
cargo. Acertada a
hospedagem, Gilberto
buscou em casa os
pertences que julgou
indispensáveis, dizendo
à governanta que se
ausentaria por algum
tempo, com o pai de
Marina, a fim de tentar
a sorte. O aviso surtiu
efeitos imediatos. No
dia seguinte, Nemésio
entrou no banco, às duas
da tarde, a
esbaforir-se. O diálogo
com Cláudio foi tenso.
Nemésio começou dizendo
que lhe exigia contas do
filho, acentuando que
não lhe permitiria
influenciá-lo. Cláudio,
mobilizando todas as
reservas de humildade,
informou-o de que o
rapaz tão-somente o
tratava por amigo, sem,
no entanto, abdicar do
livre-arbítrio, e que
não se via autorizado a
responder por ele...
Nemésio interceptou-lhe
a palavra e rugiu:
"Cale-se, besta!...
joão-ninguém! paspalhão!
Tome lá, seu espírita de
meia-tigela!...", e
bateu seguidamente no
rosto de Cláudio,
arremessando-lhe
pescoções violentos,
enquanto a vítima
procurava defender-se,
debalde, escondendo a
cabeça entre as mãos.
(Cap. XI, pp. 300 a
302)
143. Gilberto é
admitido no banco
- A agressão fora
rápida. Cláudio caiu e
somente a cooperação de
intercessores anônimos
impediu que o agressor
lhe pisasse o corpo em
decúbito. Contido à
força, este berrava
insultos, assessorado
por Espíritos infelizes.
O bancário ergueu-se
disposto a revidar. Num
átimo, contudo, ao
levantar a destra para o
revide, sentiu o
reflexo de Marita.
Aquela mão pequena e
fria que se elevara da
morte, a fim de
abençoá-lo, estava na
dele. A menina
atropelada surgia-lhe
na memória, como a
perguntar-lhe pelos
votos de melhoria.
Prometera-lhe
renovar-se, ser outro
homem. Que diria ela, do
Além, se ele também não
perdoasse, como ela o
fez, ao carrasco que lhe
seduzira a filha e
furtara a mulher?
Cabia-lhe ver, nos
inimigos gratuitos,
enfermos exigindo
socorro e benevolência.
Não trazia, porventura,
o espírito endividado,
em meio de falhas e
tentações? Cláudio
afrouxou, então, o braço
antes reteso e,
escutando os sarcasmos
de Nemésio que se
retirava, truculento,
deixou, sob os olhares
de simpatia de todo o
auditório, que caísse de
seu rosto o pranto
amargo. O gerente do
estabelecimento assomou
à cena, quando Nemésio
já ganhava o meio-fio, e
indagou pela causa do
tumulto. Um funcionário,
emocionado, apontou para
o colega, falou no
espancamento e aduziu:
"Decerto, não reagiu
porque ele hoje é
religioso, é
espírita..." O chefe
comoveu-se. Depois,
abraçando Cláudio,
conduziu-o a saleta
distante, onde ouviu do
subordinado a história
da filha e de Gilberto,
que lhe fora
apresentado na véspera.
Como resultado, Gilberto
foi admitido, de
imediato, no serviço. Na
reta final para o
casamento, o genro
conseguiu empregar-se,
estimado de todos. (Cap.
XI, pp. 302 e 303)
144. Marina e
Gilberto se casam
- Nemésio, acabrunhado e
desgostoso, convidou
Márcia para uma excursão
de seis meses em países
da Europa.
Declarando-se
infelicitado pelo
destino, anelava
mudança, refazimento.
Márcia, que jamais
mantivera contato com a
família, desde
Petrópolis, comunicou a
viagem a Marina, através
de um cartão. Dizia-se
esperançosa, encantada,
e aludia a Nemésio como
seu futuro esposo,
prometendo enviar
notícias de cada cidade
que visitassem. A
ausência do par trouxe
para todos no Flamengo
um período de paz e
alegria. Moreira
resguardava Marina com
fidelidade incondicional
e André aproveitou esse
período de relativa
calma para retomar
estudos e experiências
junto de Félix. O
casamento de Gilberto e
Marina aconteceu no
último dia do ano que se
seguiu à desencarnação
de Marita. A ventura do
novo casal chegou até
aos companheiros do
"Almas Irmãs", onde
pequena equipe de amigos
se reuniu em prece pela
segurança dos nubentes.
Beatriz participou do
encontro, mas Marita não
se fez presente. Félix
explicou, então, que
ela, prestes a regressar
para as lides terrenas,
demandava cautelas
especiais. O processo
regenerador do conjunto
Nogueira-Torres havia
sido remodelado. Já que
Marita não lograra
desposar Gilberto, por
influência da irmã,
voltaria a viver entre
os dois, na condição de
filha.
Indiscutivelmente, não
se tratava de
reencarnação organizada
a rigor e nem
compulsória, por motivos
judiciais. Constituía,
no entanto, medida de
caráter premente que ela
seria impelida a
aceitar, em favor de si
mesma. Para esse fim,
Marita reveria o Rio,
oportunamente, pela
primeira vez, depois de
quase onze meses de
internação em parque de
repouso. Era preciso, no
entanto, que nessa
visita ao Rio
encontrasse Gilberto a
sós, ignorando-lhe o
matrimônio, porquanto
os ressentimentos
hauridos da convivência
com Marina ainda lhe
doíam na memória. E,
sabendo-se que ambas se
reencontrariam mais
tarde, por mãe e filha,
em conflito vibratório,
visando ao expurgo dos
erros e aversões
recíprocas que traziam
de remoto passado, era
de todo indispensável
que a reencarnante
dormisse para o
renascimento físico, sob
a impressão de euforia
perfeita. (Cap. XI, pp.
304 e 305)
145. Marita revê
Gilberto e seu pai
- Chegou, enfim, o dia
da visita de Marita ao
Rio de Janeiro. A hora e
o local foram planejados
com cuidado. Marita
desceu com Félix sobre a
Guanabara feérica. De
longe, os contrastes de
luz, entre o morro do
Leme e o casario da
Urca, a praia de
Botafogo, a Avenida
Beira Mar. Tocando o
chão do Flamengo, a moça
multiplicava
interjeições de alegria,
revendo a cidade que
lhe senhoreava a
ternura. Parados, diante
das águas remansosas,
André foi informado
pelos batedores amigos
de que Gilberto descera
de carro particular em
esquina adjacente.
Conduzida, sem delonga,
ao ponto indicado,
Marita o identificou e,
embriagada de ventura,
chamou, ansiosa:
"Gilberto!...
Gilberto!..." O rapaz
não ouviu a sua voz; no
entanto, assinalou-lhe a
presença em forma de
lembrança. Recordando a
antiga namorada, tomou
direção oposta à que
seguiria, parando, além,
a fim de refletir e
contemplar a baía
prateada de lua. Sim,
ali, naquelas areias,
jurara-lhe amor eterno,
planeara o futuro...
"Meu Deus! – pensou
Gilberto – como a vida
mudara!..." Enlaçado
pela jovem
desencarnada,
desentranhava-lhe a
imagem do pensamento,
enxugando os olhos.
Félix apartou-a, então,
brandamente, e
perguntou-lhe o que mais
desejava. Marita
respondeu: "Viver com
ele e para ele!..." O
benfeitor dirigiu-se,
pois, a ela de modo
paternal, ponderando a
conveniência de
tornarem ao domicílio,
pois se empenharia por
assegurar-lhe o
regresso. Que se
acalmasse. Retomaria a
convivência e a
dedicação de Gilberto.
Não aconselhava, porém,
se lhe dilatasse o
arrebatamento, nocivo a
ambos, mesmo porque,
muito em breve, estariam
juntos. A menina
obedeceu e inquiriu se
poderia rever Cláudio,
acentuando que o pai lhe
fora o derradeiro amigo,
nas angústias do adeus.
Em instantes, chegaram
ao apartamento,
acolhidos à entrada por
Moreira, que reconheceu
Marita, sob forte
emoção, mas eclipsou-se
a um aceno de Félix.
Atormentada, tremente, a
moça, assistida por
Félix e André, penetrou
no aposento paterno e –
com surpresa – viu
Cláudio, em espírito,
rente ao corpo que
dormia, como a lhe
aguardar a visita, pois
ele, sob forte emoção,
estendeu-lhe os braços e
gritou: "Minha
filha!... minha
filha!..." (Cap. XI, pp.
306 a 308)
(Continua no próximo
número.)