Ganzá
Na minha
juventude, na
bela Jacarepaguá
(RJ), dentre os
meus amigos da
rua, tinha o
Daniel, que
morava na
esquina e era
filho do famoso
compositor “Zuzuca”,
autor do célebre
samba “Pega no
ganzê, pega no
ganzá”, popular
por servir de
base melódica
para
comemorações de
torcidas de
futebol,
inclusive do
famoso
Barcelona, time
espanhol.
No último
carnaval,
descansando na
aprazível
Pirenópolis-GO,
assistia ao
telejornal após
o almoço quando
vi o Zuzuca,
aquele meu
ilustre vizinho,
concedendo uma
entrevista e
falando da
imortalização de
seu maior
sucesso,
passados mais de
40 anos. O já
idoso
compositor, com
os olhos
marejados,
diante do
microfone se
disse espantado
com o sucesso de
sua composição,
que era tão
bela, que ele
imaginava se era
só dele mesmo,
atribuindo a
inspiração
divina na
construção de
tal obra.
Sim, como
concluiu o nosso
Zuzuca, a
questão da
autoria na obra
divina é sempre
uma grandeza
compartilhada.
Não fazemos nada
sozinhos!
Contamos sempre
com amigos do
lado de cá e do
lado de lá nas
nossas criações
e é aí que
reside a beleza
disso tudo. Como
dizia um antigo
dirigente de
casa espírita,
“todo trabalho é
mediúnico”, o
que nos leva a
perceber que
estamos em pleno
intercâmbio com
outras mentes em
nossos
trabalhos. Até
Deus nos deu a
dádiva de com
ele sermos
cocriadores, nas
palavras de
Emmanuel.
Essa constatação
nos faz pensar
na inutilidade
de nos acharmos
soberbos pelos
méritos de
nossas criações.
Imersos no mundo
espiritual,
mesmo na solidão
de nossos
aposentos,
recebemos dos
Espíritos amigos
a inspiração que
nos impulsiona a
criar coisas
maravilhosas.
Mais importante
que a autoria, é
o produto...
Difícil discutir
isso em uma
época de
celebridades, de
megaestrelas que
são exaltadas
pelos seus
talentos e
dotes. Criamos
com a finalidade
de presentear
nosso mundo, com
ferramentas que
contribuam para
o crescimento de
todos. Não estou
com isso
desprezando o
esforço dos
autores, mas
mostrando que
existe muito
mais do que o
orgulho na
criação de uma
obra, e sim a
relevância da
própria obra em
si.
Da mesma forma,
em relação aos
nossos
companheiros
encarnados, é
sempre valoroso
o trabalho em
equipe, ouvir as
opiniões e
agregar as
potencialidades
de outros na
construção da
excelência de um
trabalho. Isso
tudo agrega
valor, se bem
coordenado e bem
conduzido, na
soma de varias
potencialidades.
Jesus montou uma
equipe de
apóstolos para a
condução de sua
obra!
A vida é um
exercício de
desapego.
Contribuímos com
trabalhos que
recebemos em
algum grau de
adiantamento e
nele colocamos a
nossa
sementinha.
Aprendi isso na
pesquisa
científica, onde
estudamos a
partir de onde
outro
pesquisador
parou,
contribuindo
para o veio do
estudo daquele
assunto, com
muito suor e
inspiração.
Colaboramos
também quando
nos postamos de
coração aberto e
de boa vontade,
com os amigos
encarnados e
desencarnados,
atuando na seara
divina tocando o
instrumento que
nos cabe nessa
sinfonia.
Mas, o som só
tem sentido
quando ouvido!
Nosso trabalho,
nossas criações,
valem pelo que
são no mundo
real, de que
forma afetam a
vida das
pessoas.
Imortalizados
ficamos pelo
tijolo que
colocamos no
mundo, mas esse
tijolo só tem
sentido na
parede. Assim, o
que criamos de
belo e bom só é
relevante quando
em uso, no
tecido das
relações com as
pessoas, mudando
e servindo de
insumo para
outras criações.
Essa visão não
diminui a nossa
criatividade.
Faz-nos
criativos por
sabermos que
nossas ideias,
nosso esforço e
nossa visão
podem, com
outras mentes,
fazer coisas
incríveis. Às
vezes, como um
narciso, nos
pegamos
admirando o que
fizemos e
esquecemo-nos da
humildade do
nosso personagem
de abertura, de
reconhecer que
aquilo e nada
que fazemos no
mundo, fazemos
sozinhos. A vida
nos ensina a
cooperar e a
dividir
sempre.
Cada fruto do
nosso esforço,
no campo
cultural,
religioso,
profissional,
sensibiliza
amigos
encarnados e
desencarnados
que aderem a
esta causa e
colaboram com
seu
aprimoramento,
fazendo mais e
melhor. E o
mundo recebe
nossos frutos,
que se traduzem
em muitos
frutos, como na
parábola dos
talentos.
Fica, pois, aqui
a reflexão para
todos que
arregaçam as
mangas para o
trabalho, que
nunca estamos
sozinhos e isso,
sem dúvida, é
uma dádiva!