ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 36)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. Quais são os
fenômenos considerados
por Myers como os mais
importantes que o homem
tenha tido oportunidade
de ver?
São as manifestações e
as escritas obtidas
durante o estado de
“possessão”, cuja
primeira característica,
comum a todas as
manifestações
automáticas, consiste na
independência: é o que
os médicos chamam de
fenômeno idiognomônico,
isto é, que não são
sintomas de outra
afecção nem constituem a
expressão acidental de
uma modificação mais
profunda.
(A Personalidade Humana,
capítulo VIII – O
automatismo motor.)
B. Qual é a outra
característica comum aos
fenômenos citados por
Myers?
Eles constituem
movimentos automáticos
portadores ou
transmissores de
mensagens e
advertências, o que não
quer dizer que as
mensagens das quais são
portadores procedam
todas de fontes externas
ao Espírito do sujeito.
Isso ocorre,
provavelmente, em certos
casos, mas o mais
frequente é que as
mensagens tenham sua
origem na própria
personalidade do
autômato e, neste último
caso, são mensagens que
uma camada qualquer da
personalidade transmite
a outra camada da mesma
personalidade e que,
gerados na região
profunda do ser humano,
afloram à superfície sob
a forma de atos, visões,
sonhos, palavras, sem
que exista a menor
percepção do processo
que precedeu sua
elaboração.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
C. Que comentários Myers
faz a propósito das
“mesas girantes”?
Segundo Myers, quando
uma ou várias pessoas
pertencentes a esta
categoria especial
designada pelo termo
“médium” estão com as
mãos em contato com um
objeto facilmente
movimentável e desejam
que este se movimente,
frequentemente seu
desejo é realizado.
Quando desejam, também,
que o objeto indique com
seus movimentos as
letras do alfabeto,
indo, por exemplo, na
direção do a, etc., isto
se produz com frequência
e se obtêm respostas
inesperadas. Até aqui,
nos encontramos na
presença de fatos de
fácil reprodução e que
todos podem verificar.
Mas, além desses
movimentos simples de
mesas giratórias e das
respostas inteligíveis
das mesas falantes,
movimentos e respostas
que se podem explicar, a
rigor, pela pressão
inconsciente que exercem
as mãos das pessoas
sentadas ao redor,
certas pessoas entendem
que outros fenômenos
físicos são produzidos,
que as mesas se movem
particularmente numa
direção e com uma força
que não basta para
explicar qualquer
pressão inconsciente, e
frequentemente dão
respostas que nenhuma
ação inconsciente e
nenhuma das forças que
conhecemos parecem capaz
de provocar. Os
espíritas atribuem os
movimentos e as
respostas desta última
categoria à ação de
intelectos
desencarnados.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
Texto para leitura
874. As analogias, tanto
fisiológicas como
psíquicas, nos impedem
de concluir quanto ao
caráter degenerativo de
determinada psicose,
enquanto um exame atento
de seus resultados não
tenha demonstrado que
essa psicose não
constitui, na realidade,
uma ampliação das
capacidades humanas, um
novo limiar para captar
a verdade objetiva, dito
de outro modo, um
fenômeno evolutivo.
875. No que concerne,
particularmente, aos
movimentos, não
pretendemos que os que
não dependem da vontade
consciente sejam menos
importantes e
significativos do que os
que dela dependem. Pelo
contrário, comprovamos
que em nossa região
orgânica os movimentos
independentes da vontade
consciente são os mais
importantes, ainda que
os movimentos
voluntários, com auxílio
dos quais o homem busca
alimentar-se ou
defender-se de seus
inimigos, sejam também
de grande valor prático:
é necessário, com
efeito, que o homem viva
e se multiplique, antes
de estudar e aprender.
Mas não podemos
confundir o que é
importante do ponto de
vista da vida prática
imediata, com o que o é
do ponto de vista da
ciência, da qual a
própria vida prática, em
última análise, depende.
876. Desde o momento em
que o problema da
existência material e da
multiplicação deixa de
exercer domínio sobre os
demais problemas,
começamos a modificar
nossa estimativa, no que
diz respeito aos
valores, e a considerar
que não são os fenômenos
mais imponentes e, na
aparência, mais
evidentes, senão os
menos perceptíveis e os
menores, os que são
suscetíveis de nos
revelar novas fontes de
conhecimentos. E
gostaria de persuadir
nossos leitores de que
isto ocorre também na
psicologia e na física.
877. Devo dizer que
alguns dos movimentos
automáticos de que nos
ocuparemos, certas
manifestações e escritas
obtidas durante o estado
de “possessão”
pertencem, a meu ver,
aos fenômenos mais
importantes que o homem
tenha tido oportunidade
de ver. Passemo-los em
revista, sucessivamente,
mostrando os laços que
os unem aos demais, e a
deduzir, paralelamente à
sua significação, o grau
de certeza que podemos
considerar como
adquirido no que
concerne aos fenômenos
em questão.
878. Uma primeira
característica comum a
todas as manifestações
automáticas, não
obstante as diferenças
que as separam em outros
aspectos, consiste na
independência: é o que
os médicos chamam de
fenômeno idiognomônico,
isto é, que não são
sintomas de outra
afecção nem constituem a
expressão acidental de
uma modificação mais
profunda. O simples
fato, por exemplo, de
que um homem escreva uma
mensagem da qual não é o
autor consciente nada
prova, em si mesmo,
quanto ao estado do que
escreve; este último
pode estar perfeitamente
sadio e não apresentar,
afora o fenômeno da
escrita inconsciente,
qualquer outro fenômeno
anormal passível de
observação.
879. Esta
característica, que
confirma a observação e
a experiência,
diferencia o automatismo
de todos os demais
fenômenos, aparentemente
análogos. Podemos, dessa
forma, classificar nessa
categoria as emissões
automáticas de palavras
e de frases; enquanto
que a contínua
vociferação da mania
aguda, que é um fenômeno
meramente sintomático,
se acha fora desta
categoria, da mesma
forma que o grito
hidrocefálico, que
também, longe de ser um
fenômeno independente, é
determinado por uma
lesão definida.
880. Compreenderemos
também, nessa categoria,
certos movimentos
simples das mãos,
coordenados, tendo em
vista o ato da escrita,
mas permanecerão
excluídos, por
definição, os movimentos
coreicos
(2),
sintomáticos de certo
estado mórbido do
sistema nervoso, ou os
movimentos que podemos
chamar idiopáticos
(1),
visto constituírem uma
enfermidade
independente. Mas os
movimentos automáticos
de que nos ocupamos não
são idiopáticos mas
idiognomônicos; podem
estar associados a
certos estados do
organismo ou por eles
favorecidos, mas não são
o sintoma de outra
doença, nem constituem,
por si sós, uma doença.
881. Outra
característica comum a
todos esses fenômenos é
que constituem
movimentos automáticos
portadores ou
transmissores de
mensagens e
advertências; o que não
quer dizer que as
mensagens das quais são
portadores procedam
todas de fontes externas
ao espírito do sujeito;
isso ocorre,
provavelmente, em certos
casos, mas o mais
frequente é que as
mensagens tenham sua
origem na própria
personalidade do
autômato e, neste último
caso, são mensagens que
uma camada qualquer da
personalidade transmite
a outra camada da mesma
personalidade e que,
gerados na região
profunda do ser humano,
afloram à superfície sob
a forma de atos, visões,
sonhos, palavras, sem
que exista a menor
percepção do processo
que precedeu sua
elaboração.
882. Consideremos, por
exemplo, uma dessas
experiências de leitura
de movimentos
musculares,
indevidamente chamada
leitura de pensamentos,
sem dúvida mais
familiares aos nossos
leitores, e suponhamos
que eu esconda um
alfinete que um leitor
treinado em movimentos
musculares deve
descobrir segurando
minha mão e
concentrando-se em meus
movimentos musculares.
Inicialmente, escondi o
alfinete na almofada;
mudando de ideia,
coloquei-o numa estante
da biblioteca. Fixo meu
espírito neste último
lugar, após resolver
ficar estático. O outro
segura minha mão,
leva-me antes à
almofada, depois à
estante da biblioteca e
encontra o alfinete. O
que acontece nesse caso?
Quais os movimentos que
fiz?
883. Não fiz nenhum
movimento voluntário ou
involuntário consciente,
antes um movimento
inconsciente
involuntário que se
encontra sob a estrita
dependência de uma
idealização consciente.
Pensei fixamente numa
estante da biblioteca e
ao caminhar pelo quarto
chegamos a esse lugar,
fiz um movimento, ou
melhor, produziu-se uma
contração muscular do
braço, movimento
inconsciente, mas
suficiente para
proporcionar à delicada
sensibilidade de meu
guia, as indicações que
necessitava.
884. Tudo isso está
devidamente reconhecido
e explicado até um certo
ponto; definimos o
fenômeno dizendo que
minha idealização
consciente comportava um
elemento motor; este,
todavia, liberto de uma
manifestação consciente,
encontrava-se, sem
dúvida, exteriorizado
sob a forma de uma
contração periférica.
Houve, no entanto, algo
mais. Antes que meu guia
parasse diante da
biblioteca, deteve-se
diante da almofada. Eu
não possuía qualquer
ideia consciente desta
última; mas a ideia de
alfinete na almofada
deve ter-se refugiado em
meu subconsciente; e
essa recordação
inconsciente se revelou
através de uma contração
periférica tão diversa
como a que correspondia
à ideia consciente de
alfinete colocado sobre
a estante da biblioteca.
885. A contração era,
pois, em certo sentido,
um movimento automático
transmissor de uma
mensagem; a
exteriorização de uma
ideia que, consciente
noutra oportunidade, se
tornava inconsciente num
grau muito ligeiro, já
que bastaria um esforço
mínimo para trazê-la ao
campo de consciência.
886. Existem, contudo,
casos em que a
demarcação entre zonas
da personalidade é muito
marcante, até o ponto em
que a comunicação entre
uma e outra é totalmente
impossível. Assim, na
sugestão hipnótica,
quando se ordena, por
exemplo, ao sujeito que
escreva, ao despertar,
as palavras que lhe
foram sugeridas durante
o sono hipnótico,
assistimos a movimentos
automáticos, dos quais o
sujeito, uma vez
acordado, não tem a
menor consciência.
887. Há mais. Adiante
temos numerosos exemplos
de transformações de
comoções psíquicas em
energia muscular de um
gênero raro na
aparência. Essas
transformações, por
assim dizer, de força
psíquica em força física
se operam em nós de uma
maneira contínua. Mas
sua natureza permanece,
em geral, obscurecida
pelo problema
concernente à verdadeira
eficácia da vontade e
será interessante citar
um ou dois exemplos
dessas transformações em
que se trata de um
processo automático e
onde nos encontramos na
presença do equivalente
motor de uma emoção ou
de uma sensação que não
parece encerrar qualquer
elemento motor.
888. Um meio simples,
embora grosseiro, de
comprovar as
transformações desse
gênero nos é
proporcionada pelo
dinamômetro. É
necessário, primeiro,
determinar o grau de
pressão que o sujeito é
capaz de exercer sobre o
dinamômetro, apertando-o
com todas as forças de
que dispõe no estado
normal. Ao fim de algum
exercício, o máximo de
força de pressão se
torna mais ou menos
constante, sendo
possível submetê-lo a
diferentes influências e
medir o grau de reação,
isto é, o grau de
compressão em maior ou
menor escala, de acordo
com a influência que
sofre.
889. Acompanho uma
criança ao circo;
senta-se ela junto a
mim, segurando-me a mão;
tiros ecoam e sua
pressão torna-se mais
forte; suponhamos que ao
invés de me segurar a
mão, tenta apertar com
todas as forças um
dinamômetro e que a
excitação brusca,
capacita-a a comprimir
com mais força do que a
empregada antes daquela
excitação: devemos
considerar essa exceção
de contração muscular
como automática ou
voluntária?
890. Fere e outros
demonstraram que as
excitações de qualquer
gênero, bruscas ou
prolongadas, agradáveis
ou desagradáveis, tendem
a aumentar a força
dinamométrica do
sujeito. Em primeiro
lugar, e o fato assume
grande importância, a
força média com a qual
se exerce a pressão é
mais elevada no homem
intelectual que no
operário, o qual
demonstra não se tratar
tanto de musculatura bem
desenvolvida, como de um
cérebro mais ou menos
ativo, que torna
possível a concentração
brusca da força
muscular.
891. Feré comprovou,
consigo próprio, e com
alguns amigos, que só o
fato de ouvir uma
conferência
interessante, ou de
empregar a
livre-associação de
pensamentos num lugar
isolado, que o simples
fato de falar ou
escrever, produzem um
indiscutível aumento de
pressão, especialmente
da mão direita.
892. Da mesma forma,
obtêm-se idênticos
efeitos de dinamogenia
entre os sujeitos
hipnotizados, com
auxílio de notas
musicais, de luzes de
cor, a luz vermelha em
particular, e inclusive
pela mera sugestão
alucinatória da luz
vermelha. “Todas as
nossas sensações –
conclui Feré – são
acompanhadas de um
desenvolvimento de
energia potencial que
passa ao estado
quinético e se
exterioriza em
manifestações motrizes,
que um aparelho tão
grosseiro como o
dinamômetro é capaz de
observar e registrar.”
893. Quais são os
caminhos seguidos pelas
mensagens para passar de
uma camada a outra da
personalidade? Para
responder a essa
pergunta teríamos que
considerar,
primeiramente, algo mais
do que as mensagens
expressadas através da
palavra ou da escrita,
isto é, por meios
bastante complicados, os
que envolvem uma forma
mais rudimentar. Mas o
gesto constitui o meio
de comunicação mais
elementar, comum aos
animais e aos homens; e
o som, por si só,
constitui uma forma
especializada do gesto.
894. Os animais
superiores diferenciam
seus gritos; o homem
desenvolve a palavra; e
os impulsos que
ocasionam a transmissão
de mensagens se resolvem
todos em movimentos:
movimentos da garganta,
movimentos da mão. Os
gestos manuais se
desenvolvem até poder
produzir o grosseiro
traçado dos objetos e
esse impulso gráfico, ao
se aperfeiçoar,
espraia-se em duas
direções: de um lado,
converte-se em arte
plástica e pictórica que
transmite as mensagens
com o auxílio de um
simbolismo direto,
oposto ao simbolismo
arbitrário, e por outro
lado, adapta-se às leis
da palavra e torna-se
ideográfico, para
terminar, pouco a pouco,
no simbolismo arbitrário
que se expressa na
escrita alfabética, na
aritmética, na álgebra e
na telegrafia.
895. Existem entre os
meios de comunicação de
que dispõe o eu
subliminar
comportamentos análogos
aos que acabamos de
enumerar? É possível; e
como o eu subliminar
inicia seu esforço, como
o telegrafista, com
total conhecimento do
alfabeto, é certo, mas
dispondo unicamente de
uma forma de ação débil
e grosseira, sobre o
mecanismo muscular,
parece provável, a
priori, que o meio de
comunicação mais fácil
consistia numa repetição
de movimentos simples,
dispostos de forma a que
correspondam às letras
do alfabeto.
896. Todos ouviram
falar, ainda que de
forma ridícula, do
misterioso fenômeno das
“mesas giratórias”, dos
“espíritos que batem”
etc. Vejamos se as
considerações anteriores
podem proporcionar uma
explicação suficiente,
baseada sobre fatos mais
ou menos sólidos. Quando
uma ou várias pessoas
pertencentes a esta
categoria especial que
se designa através do
termo pouco explícito e
bárbaro de “médium”
estão com as mãos em
contato com um objeto
facilmente movimentável
e desejam que este se
movimente,
frequentemente seu
desejo é realizado.
Quando desejam, também,
que o objeto indique com
seus movimentos as
letras do alfabeto,
indo, por exemplo, na
direção do a, etc., isto
se produz com frequência
e se obtêm respostas
inesperadas.
897. Até aqui, e
qualquer que seja nossa
interpretação, nos
encontramos na presença
de fatos de fácil
reprodução e que todos
podem verificar. Mas,
além desses movimentos
simples de mesas
giratórias e das
respostas inteligíveis
das mesas falantes,
movimentos e respostas
que se podem explicar, a
rigor, pela pressão
inconsciente que exercem
as mãos das pessoas
sentadas ao redor, e sem
ter necessidade de
postular a intervenção
de alguma força física
desconhecida, certas
pessoas entendem que
outros fenômenos físicos
são produzidos, que as
mesas se movem
particularmente numa
direção e com uma força
que não basta para
explicar qualquer
pressão inconsciente, e
frequentemente dão
respostas que nenhuma
ação inconsciente e
nenhuma das forças que
conhecemos parecem capaz
de provocar.
898. Os espíritas
atribuem os movimentos e
as respostas desta
última categoria à ação
de intelectos
desencarnados; mas se
uma mesa produz
movimentos sem que uma
pessoa a toque, não
existe razão para
atribuir esses
movimentos à intervenção
de meu falecido avô,
mais do que à minha,
porque se não se vê a
maneira pela qual eu
mesmo podia tê-la posto
em movimento, tampouco
se vê o modo pelo qual o
teria feito o meu avô.
(Continua no próximo
número.)
(1)
Idiopático: referente a
idiopatia: doença de
origem desconhecida.
(2)
Coreico: diz respeito a
coreia:
distúrbio encefálico
caracterizado por
movimentos musculares
anormais e espontâneos,
sem propósito,
irregulares, rápidos e
transitórios, sugerindo
uma dança.