Filho
que não nasceu
José Guedes
Fui trazido ao teu colo
e sussurro, baixinho:
– “Mãe, eu serei na
carne o sonho de teu
sonho!...”
Depois, em prece
ardente, em ti meus
olhos ponho,
Pássaro fatigado ante a
úsnea do ninho.(1)
Abraço-te. És comigo a
esperança e o caminho...
Em seguida – oh!
irrisão! –, eis que, num
caos medonho,
Expulsas-me a veneno, e,
bruto, me empeçonho,
Serpe oculta a ferir-te
em silêncio escarninho.
Já me dispunha a dar o
golpe extremo, quando
Surge alguém que me
obriga a deixar-te
dançando
Em formoso salão onde o
prazer fulgura.
Passa o tempo. Hoje
volto... É o amor que em
mim arde.
Mas encontro-te, oh!
mãe, a gemer, triste e
tarde,
Sombra que foi mulher,
enjaulada à loucura...
(1)
Úsnea: gênero de liquens
da família das usneáceas,
dotadas de talos
livremente ramificados;
qualquer espécie desse
gênero, como, p. ex., a
Usnea barbata,
popularmente denominada
barba-de-velho, que
cresce em árvores.
Do livro Antologia
dos Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Waldo Vieira e
Francisco Cândido
Xavier.
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