Em carta publicada na edição
passada, uma leitora de
Campo Grande-MS pergunta-nos
qual é o entendimento da
Doutrina Espírita sobre o
motivo da morte de Jesus nas
condições em que ela se deu,
pregado em uma cruz. Por que
Jesus se deixou morrer
assim?
Pelo que lemos até hoje, não
existe nas obras de Allan
Kardec nenhum texto que nos
permita responder
objetivamente a tal
indagação. Assim, o que ora
escrevemos baseia-se em
deduções fundamentadas nos
variados textos que lemos
acerca da missão que Jesus
veio desempenhar no planeta
Terra, um orbe que já se
encontrava sob sua direção
desde a sua criação. Pelo
menos é isso que está dito
no livro “A Caminho da Luz”,
de Emmanuel, psicografado em
1939 pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
Com efeito, diz Emmanuel no
capítulo inicial da
mencionada obra:
“Rezam as tradições do mundo
espiritual que na direção de
todos os fenômenos, do nosso
sistema, existe uma
Comunidade de Espíritos
Puros e Eleitos pelo Senhor
Supremo do Universo, em
cujas mãos se conservam as
rédeas diretoras da vida de
todas as coletividades
planetárias. Essa Comunidade
de seres angélicos e
perfeitos, da qual é Jesus
um dos membros divinos, ao
que nos foi dado saber,
apenas já se reuniu, nas
proximidades da Terra, para
a solução de problemas
decisivos da organização e
da direção do nosso planeta,
por duas vezes no curso dos
milênios conhecidos. A
primeira, verificou-se
quando o orbe terrestre se
desprendia da nebulosa
solar, a fim de que se
lançassem, no Tempo e no
Espaço, as balizas do nosso
sistema cosmogônico e os
pródromos da vida na matéria
em ignição, do planeta, e a
segunda, quando se
decidiu a vinda do Senhor
à face da Terra, trazendo à
família humana a lição
imortal do seu Evangelho de
amor e redenção.”
(Grifamos.)
O caráter missionário do
advento do Cristo ressalta
com toda a clareza no texto
acima. É de admitir,
portanto, que todas as
condições dessa missão, tal
como ocorre na chamada
programação reencarnatória
dos Espíritos de evolução
mediana, hajam sido
previamente fixadas, não só
no tocante ao seu
nascimento, mas igualmente
com relação à época e à
forma da morte do seu corpo
físico.
Os textos dos evangelistas
são muito claros quando
informam que Jesus sabia que
Judas iria traí-lo, que ele
pereceria em razão dessa
traição e logo em seguida
voltaria ao seio dos seus
discípulos. Aliás, no Antigo
Testamento, muito antes do
advento do Cristo, profetas
referiram-se a esses
episódios, sendo de
ressaltar ainda a visita que
Jesus recebeu, na véspera de
sua prisão, dos Espíritos de
Elias e Moisés, como é
narrado pelos evangelistas.
É senso comum, pois, no meio
espírita, que a tragédia do
Gólgota foi planejada com
bastante antecedência, antes
mesmo de Jesus surgir em
terras da Judeia.
Ciente do que ocorrera com
os grandes profetas do
passado, quase todos
vitimados pela intolerância
de seus contemporâneos, não
era difícil para Jesus
prever que algo parecido
ocorreria com ele em sua
passagem pela Terra.
Um pormenor que não deve
passar despercebido foi o
que ocorreu dias antes da
Páscoa, no episódio da
chamada ressurreição de
Lázaro, descrita por João
Evangelista. Naquela
oportunidade, Jesus demorou
muito além do normal para
acudir ao chamado da família
de Lázaro. Ele sabia,
obviamente, que Lázaro não
estava morto. “Lázaro
dorme”, disse aos seus
companheiros. A demora foi
claramente premeditada,
porque, quando Jesus chegou
a Betânia, uma multidão de
pessoas e figuras
importantes do clero se
encontravam a postos e
puderam assistir ao fenômeno
do despertamento de seu
amigo.
Eis o que João Evangelista
relatou:
“Muitos, pois, dentre os
judeus que tinham vindo a
Maria, e que tinham visto o
que Jesus fizera, creram
nele. Mas alguns deles foram
ter com os fariseus, e
disseram-lhes o que Jesus
tinha feito. Depois os
principais dos sacerdotes e
os fariseus formaram
conselho, e diziam: Que
faremos? porquanto este
homem faz muitos sinais. Se
o deixamos assim, todos
crerão nele, e virão os
romanos, e tirar-nos-ão o
nosso lugar e a nação. E
Caifás, um deles que era
sumo sacerdote naquele ano,
lhes disse: Vós nada sabeis,
Nem considerais que nos
convém que um homem morra
pelo povo, e que não pereça
toda a nação. Ora ele não
disse isto de si mesmo, mas,
sendo o sumo sacerdote
naquele ano, profetizou que
Jesus devia morrer pela
nação. E não somente pela
nação, mas também para
reunir em um corpo os filhos
de Deus que andavam
dispersos. Desde aquele dia,
pois, consultavam-se para o
matarem.” (João, 11:45-53.)
O que ocorreu em Betânia
determinou o destino de
Jesus, o que nos leva a
deduzir que o Mestre
escolheu o cenário ideal – o
período da Páscoa judaica –
para que fosse preso,
acusado, julgado, condenado
e morto, para, apenas dois
dias depois, ressurgir vivo,
fato que para todas as
pessoas, amigos e inimigos,
constituiria uma prova
incontestável da
imortalidade e de sua alta
estirpe.
Digamos que a ressurreição
de Lázaro constituiu a
penúltima cena de uma
história que se encerraria
no Gólgota, mas recomeçaria
no domingo imediato, o mesmo
domingo que os cristãos
comemoram como a Páscoa da
ressurreição, um fato
inegavelmente tão importante
que muitos estudiosos
afirmam, com razão, que caso
não houvesse a ressurreição
não existiria Cristianismo.
Comprovava-se ali de modo
incontestável, não somente
em teoria, que a vida
persiste além da morte, que
as pessoas são, em verdade,
imortais, que Jesus venceu a
morte e que nós, obviamente,
poderemos também vencê-la.
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