ANGÉLICA
REIS
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Londrina, Paraná
(Brasil) |
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A
Personalidade Humana
Fredrich
Myers
(Parte 37)
Damos
sequência ao estudo
metódico e sequencial do
livro A Personalidade
Humana, de Fredrich
W. H. Myers, cujo título
no original inglês é Human
Personality and
Its Survival of Bodily
Death.
Questões preliminares
A. A explicação dada por
Faraday relativamente
aos movimentos das mesas
giratórias resolve todos
os casos observados?
Não. Segundo Faraday, os
movimentos das mesas
giratórias seriam o
resultado de uma soma de
diversos movimentos
inconscientes. A
explicação, correta para
os casos mais simples,
deixa em aberto a
questão mais difícil,
concernente à origem
dessas mensagens
inteligíveis
transmitidas pelos
movimentos
diversificados e
repetidos de objetos
facilmente movíveis.
(A Personalidade Humana,
capítulo VIII – O
automatismo motor.)
B. Existem percepções
causadoras de inibição
motora que têm natureza
telestésica, mais
parecidas com a
intervenção de um anjo
da guarda?
Sim. Parece ser esse o
caso do Dr. Parsons,
que, no momento de
entrar num dos cômodos
de sua casa, sentiu uma
sensação de estupor que
o deixou estático no
lugar, obrigando-o, em
seguida, a virar-se. Nem
bem dera alguns passos
para afastar-se da porta
que dava àquele cômodo,
quando ouviu um disparo
e uma bala que entrou
nesse cômodo pela janela
que dava para a rua;
soube, mais tarde, que a
bala fora disparada por
um indivíduo que se
acreditava, há muito,
ter ressentimentos
contra Parsons, mas que
este não acreditava ser
capaz de semelhante ato.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
C. Outras percepções
podem levar o indivíduo
a adotar um impulso
motor?
Sim. Há um grupo de
casos caracterizados por
impulso motor maciço,
completamente
independente de um
elemento sensorial
qualquer. Exemplo disso
é o caso de Thomas
Garrison, que,
assistindo com sua
mulher a um ofício
religioso, levantou-se,
de repente, durante o
sermão, saiu do templo
e, como que impulsionado
irresistivelmente,
percorreu dezoito milhas
a pé para ver sua mãe, e
ao chegar encontrou-a
morta. Ora, sua mãe era
relativamente jovem (58
anos) e não revelava
nenhum indício que
permitisse suspeitar sua
morte iminente.
(Obra citada. Capítulo
VIII – O automatismo
motor.)
Texto para leitura
899. A explicação
bastante conhecida de
Faraday, segundo a qual
os movimentos das mesas
giratórias seriam o
resultado de uma soma de
diversos movimentos
inconscientes, correta
para os casos mais
simples, deixa em aberto
a questão mais difícil
concernente à origem
dessas mensagens
inteligíveis
transmitidas pelos
movimentos
diversificados e
repetidos de objetos
facilmente movíveis.
900. Quando dizemos que
os movimentos possuem a
forma da palavra
desejada e aguardada, só
levamos em consideração
a minoria dos casos,
porque com maior
frequência, as respostas
que as mesas propiciam
são muito caprichosas e
nunca relacionadas com o
que delas se espera. A
explicação mais
verossímil, a meu ver, é
a que admite que essas
respostas são ditadas
não pelo eu consciente,
antes pela região
profunda e oculta onde
se elaboram os sonhos
fragmentados e
incoerentes.
901. Mas os movimentos
das mesas constituem,
numa determinada medida,
a forma mais simples, a
menos diferenciada, da
resposta motriz. São
simplesmente um gênero
de gesto, ainda que o
gesto implique o
conhecimento do
alfabeto, e como o
gesto, o movimento de
resposta é suscetível de
desenvolver-se em duas
direções: o desenho
automático e a palavra.
Ocupamo-nos já, em
parte, do primeiro, no
capítulo III, e no
capítulo IX trataremos,
em especial, da palavra
automática. Neste ponto,
indicaremos brevemente o
lugar que ocupa cada uma
dessas formas de
movimento, relacionada a
outras manifestações
análogas de automatismo.
902. Alguns leitores
viram, sem dúvida, esses
desenhos, às vezes em
cores, cujos autores
afirmam tê-los desenhado
sem qualquer plano, sem
ter consciência do que
sua mão realizava. Essa
afirmação podia ser
perfeitamente válida e
as pessoas que a
formulavam totalmente
sãs.
903. Os desenhos feitos
dessa forma estão de
acordo com o que a
opinião formulada nos
autoriza a esperar;
porque apresentam uma
mistura de arabescos e
ideografias, isto é,
parecem-se, em parte, a
essas formas de
ornamentação que traça a
mão do artista quando
rabisca o papel sem um
plano definido e, por
outro lado, lembram as
primeiras tentativas de
expressão simbólica que
se observam entre os
selvagens que, todavia,
não possuem o alfabeto.
Como a escrita do
selvagem, apresentam
mudanças insensíveis do
simbolismo pictórico
direto, a uma ideografia
abreviada.
904. Antes de abordar o
estudo da escrita
automática propriamente
dita, seria interessante
ilustrar com alguns
exemplos essa influência
que exerce o eu
subliminar sobre o
organismo inteiro que
consideramos como o
principal fator das
manifestações
automáticas. Os exemplos
mais notáveis e
conhecidos são os de
Sócrates e Joana d’Arc:
o demônio do primeiro
atuava principalmente no
sentido da inibição,
enquanto que na segunda
as vozes que dizia ouvir
determinavam um impulso
a trabalhar de acordo
com as ordens que
formulavam.
905. Tanto num caso como
noutro, tratava-se, em
última análise, de
manifestações motrizes
automáticas, ainda que à
primeira vista o
elemento sensorial,
consistente em
alucinações auditivas,
parece desempenhar o
principal papel. Na
maioria dos outros casos
desse gênero, o elemento
motor e o elemento
sensorial se encontram
reunidos de um modo
deveras íntimo e sua
separação é
frequentemente muito
difícil, se não de todo
impossível.
906. Seja lá como for, a
inibição, que consiste
na separação brusca da
ação ou numa
incapacidade repentina
de agir, constitui a
forma mais simples e
rudimentar de
automatismo motor;
constitui o caminho
natural pelo qual uma
impressão forte, mas
obscura, se manifesta ao
exterior. Assim, por
exemplo, a impressão de
alarme sugerida por
algum som ou algum
cheiro percebidos só
pelo eu subliminar; o
automatismo motor se
apresenta então como
determinado por uma
lembrança subliminar,
por um estado de
hiperestesia subliminar.
907. Uma ação realizada
de maneira vacilante e
incerta, por motivo de
certas objeções que
despertara em outros
tempos e que
desapareceram totalmente
da memória supraliminar:
os empregados de estrada
de ferro que,
bruscamente, freiam um
trem, porque foram
avisados por alguma
coisa que desconhecem, e
que nada mais, talvez,
que a percepção
subliminar de um som ou
de um cheiro, que outro
trem se dirige a toda
velocidade em sentido
contrário e que a
catástrofe é inevitável;
as pessoas que evitam os
obstáculos e os perigos
em meio à escuridão,
graças, talvez, à
percepção subliminar de
uma diferença na pressão
atmosférica, na
resistência do ar,
percepção que, em alguns
casos, pode atingir um
elevado grau de
acuidade; estas são as
principais formas de
inibição motora,
determinada pela
lembrança subliminar ou
a hiperestesia
subliminar.
908. Paralelamente a
essas formas, existem
outras em que é
impossível descobrir a
menor sensação
hiperestésica, e onde o
aviso recebido pelo
sujeito é de natureza
telestésica, como se
fosse devido à
intervenção de um
verdadeiro anjo da
guarda. Este é o caso do
Dr. Parsons, que, no
momento de entrar num
dos cômodos de sua casa,
sentiu uma sensação de
estupor que o deixou
estático no lugar,
obrigando-o, em seguida,
a virar-se; nem bem dera
alguns passos para
afastar-se da porta que
dava àquele cômodo,
quando ouviu um disparo
e uma bala que entrou
nesse cômodo pela janela
que dava para a rua;
soube, mais tarde, que a
bala fora disparada por
um indivíduo que se
acreditava, há muito,
ter ressentimentos
contra Parsons, mas que
este não acreditava ser
capaz de semelhante ato
(Proceedings of the S.
P. R., XI, pág. 459).
909. Paralelamente a
esse caso de inibição
motora, de natureza
talvez telestésica,
temos um grupo de casos
caracterizados por
impulso motor maciço,
completamente
independente de um
elemento sensorial
qualquer. Mencionaremos,
sucintamente, entre
numerosos, o caso de
Thomas Garrison, que,
assistindo com sua
mulher a um ofício
religioso, levanta-se,
de repente, durante o
sermão, sai do templo e,
como que impulsionado
irresistivelmente,
percorre dezoito milhas
a pé para ver sua mãe, e
ao chegar encontra-a
morta. Ora, sua mãe era
relativamente jovem (58
anos) e não só não
possuía qualquer indício
que permitisse suspeitar
sua morte iminente, como
também sequer sabia
estar doente (Journal of
the S. P. R., VIII, pág.
125).
910. Essa sensibilidade
particular do elemento
motor de um impulso
lembra as especiais
suscetibilidades às
diversas formas de
alucinações ou de
sugestões manifestadas
por diferentes
indivíduos hipnotizados.
Podem alguns ser capazes
de ver, outros de ouvir,
outros ainda de
trabalhar de acordo com
os conceitos que se lhes
sugerir.
911. O Dr. Berillon
demonstrou que
determinados indivíduos
que, à primeira vista,
pareciam totalmente
refratários ao
hipnotismo, não eram
capazes de obedecer,
durante a vigília, a uma
sugestão motora. Exemplo
disso são os casos de um
homem robusto, de homens
e mulheres débeis e de
um homem portador de
ataxia locomotora. Dessa
forma, a volição do
controle supraliminar
sobre certas combinações
musculares não exclui a
sugestibilidade motora,
com relação a essas
combinações; da mesma
forma que a volição da
sensibilidade
supraliminar numa camada
de anestesia não exclui
a sensibilidade
subliminar ao nível da
mesma camada.
912. Por outro lado, um
controle supraliminar,
especialmente bem
desenvolvido, favorece a
sugestibilidade motora;
por exemplo, os
indivíduos que sabem
cantar obedecem com
maior facilidade às
sugestões relacionadas
ao canto. Portanto,
devemos esperar novas
observações antes de
poder dizer
antecipadamente se, no
caso de um sujeito
determinado, a mensagem
afetará a forma motora
ou a forma sensorial. E
menos ainda podemos
explicar a predisposição
especial desse indivíduo
a uma ou várias dessas
formas comuns de
automatismo motor:
palavra automática,
escrita automática,
movimentos de mesas,
etc.
913. Essas formas de
mensagens podem
apresentar as mais
diversas combinações; e
o conteúdo de qualquer
dessas mensagens pode
ser fantástico ou
caprichoso, ou verídico
de alguma forma.
914. Vamos enumerar as
diferentes formas de
mensagens motoras
subliminares, de
conformidade, o mais
possível, com sua
crescente
especialização:
1) Temos,
primeiramente, os
impulsos motores maciços
(o caso de Garrison)
intermediários das
afecções cinestésicas e
dos impulsos motores
propriamente ditos. Nos
casos deste gênero não
existe um impulso
especial para o
movimento de um membro,
senão o de atingir um
certo lugar pelos meios
comuns.
2) Vêm, a seguir,
por ordem de
especialização, os
impulsos musculares
subliminares simples,
que originam os
movimentos de mesas e os
fenômenos semelhantes.
3) Pode-se citar,
em terceiro lugar, a
execução musical
iniciada
subliminarmente; os
casos desta categoria
apresentam uma
dificuldade especial,
pois o umbral da
consciência dos
intérpretes musicais é
muito vago e indefinido
(“Na dúvida, deve-se
tocar com os dedos, não
com a cabeça”).
4) O quarto grupo
está formado pelos casos
de desenho e pintura
automáticos. Este
curioso grupo de
mensagens raras vezes
possui um conteúdo
telepático e se aproxima
mais dos casos de gênio
e outras formas não
telepáticas de
capacidade subliminar.
5) A escrita
automática, à qual
dedicaremos o restante
deste capítulo,
constitui o quinto
grupo.
6) A palavra
automática que não
apresenta em si uma
forma mais desenvolvida
de mensagem motora que a
escrita automática, e
frequentemente
acompanhada de
modificações profundas
da memória ou da
personalidade, que se
aproximam à “inspiração”
e à “possessão”, que
significam, apesar da
diferença de seu sentido
teológico, o mesmo do
ponto de vista da
psicologia experimental.
7) Posso encerrar
esta enumeração com o
grupo de fenômenos
motores que só
mencionarei de passagem,
sem almejar explicá-los:
trata-se destes
movimentos telecinésicos
cuja existência real
está, ainda, sujeita a
discussões.
915. Comparando essa
lista das manifestações
automáticas motoras com
a das manifestações
automáticas sensoriais
que apresentei no
capítulo VI,
encontraremos na base de
cada uma delas uma certa
tendência geral.
916. Os automatismos
sensoriais se iniciam
por sensações vagas, não
especializadas, que a
seguir se tornam mais
definidas e se
especializam segundo a
ordem dos sentidos
conhecidos, para,
finalmente, superar as
formas de especialização
comuns e abranger num
ato de percepção, na
aparência não
analisável, uma verdade
mais ampla do que todas
as que nossas formas
especializadas de
percepção são capazes de
nos proporcionar.
917. As mensagens
motoras mais elementares
apresentam, por sua vez,
um caráter dos mais
vagos; igualmente,
nascem das modificações
do estado orgânico geral
do sujeito ou
cinestésico, e os
primeiros impulsos
telepáticos vagos,
vacilam aparentemente
entre diversas formas de
expressão. A seguir,
atravessam uma fase de
especialização definida,
para terminar, como na
escrita automática, num
ato de percepção não
analisável, no qual
desapareceu todo
elemento motor.
918. Abordaremos agora o
estudo da escrita
automática. Com suas
experiências sobre a
escrita, obtidas durante
as diferentes fases do
sono hipnótico, Gurney
iniciou esta larga série
de investigações que,
realizadas
independentemente na
França pelo Dr. Pierre
Janet, adquiriram, a
seguir, enorme
importância psicológica
e médica.
919. O interesse
principal consiste no
fato indiscutível da
possibilidade de criar
artificialmente novas
personalidades temporais
que escrevem coisas
totalmente estranhas ao
caráter da personalidade
primitiva e que esta
jamais conhecera.
Note-se, além disto, que
essas personalidades
artificiais prendem-se
obstinadamente a seus
nomes fictícios e
negam-se a reconhecer
que só constituem
aspectos e porções do
sujeito tomado em seu
todo.
920. Deve-se recordar
este fato quando a
pretensão insistente de
alguma identidade
espiritual, por exemplo,
como Napoleão,
oferece-se como
argumento para atribuir
uma série de mensagens a
esta fonte especial. O
estudo desses
automatismos
autossugestionados é
rico em ensinamentos
interessantes e as
discussões que encerram
meus capítulos
anteriores se relacionam
com um vasto número de
pontos que deveriam ser
familiares a todos os
que almejam compreender
os fenômenos motores
mais avançados e
difíceis.
921. Para que o estudo
desses casos avançados
dê resultados
concludentes, devemos
nos esforçar, sem
cessar, em aumentar seu
número, em enriquecer
nossas coleções. Animado
pelos escritos de Moses,
investiguei durante 25
anos os casos desse
gênero e creio
encontrar-me,
atualmente, de posse de
50 observações pessoais
de escrita automática
idiognomônica. Ainda que
a maior parte dessas
observações não tragam
grande interesse e sejam
pouco prováveis, porém,
me parecem suficientes
para reconhecer que os
efeitos observados nas
pessoas sadias se
prestam a conclusões
mais adequadas que as
inferidas através da
observação dos doentes,
ou as que tantos autores
formulam de orelhada.
922. Em dois casos, o
costume da escrita
automática, desenvolvida
não obstante minha
proibição, por pessoas
sobre as quais não
possuía qualquer
influência, demonstrou
que, até certo ponto,
inspirava aos sujeitos a
convicção obstinada de
que as bobagens que
escreviam eram tão
verídicas como
importantes. Em outros
casos não ocorreu nada
semelhante e não só os
sujeitos referidos não
apresentavam qualquer
enfermidade nem
perturbação que se
pudesse considerar como
a causa do automatismo,
senão que diversos deles
apresentavam uma saúde
física e intelectual
acima da média. (Continua no próximo
número.)