MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
Sexo e Destino
André Luiz
(Parte
32)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Sexo e Destino,
de André Luiz,
psicografada pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1963 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que ocorrência levou
Nemésio a tornar-se
hemiplégico?
Foi Amaro, o fiel amigo
espiritual que velara
por dona Beatriz, quem
resumiu para André, em
breves palavras, a
tragédia em que se
envolvera Nemésio.
Cedendo à paixão que lhe
empolgava os sentidos e
excitado pelos
obsessores, Nemésio
decidira exterminar
Marina e suicidar-se em
seguida. Ao praticar o
crime, verificou, porém,
que atropelara Cláudio e
não a filha, entrando em
desespero, e esse
desespero lhe cresceu
tanto no espírito que o
corpo doente não
resistiu. Sobreveio o
derrame. Avisado por
amigos, Amaro o
encontrou,
semiparalítico e sem
fala, no automóvel,
longe do local em que se
desenrolara o delito.
Ele parecia prestes a
desencarnar, mas Félix
aparecera de improviso e
requisitara o apoio de
todos os órgãos
espirituais de
assistência, situados
nas imediações,
acumulando fatores de
intervenção em favor
dele. Félix orou,
suplicando aos Poderes
Divinos não lhe
permitissem a saída do
plano físico sem
aproveitar o benefício
da enfermidade. Félix
advogara para ele as
vantagens da dor, que
reputava santas, e o
processo desencarnatório
foi imediatamente
sustado. Desde então, o
velho Torres era aquilo
que André via: um
farrapo de gente,
largado à cama.
(Sexo e Destino, 2ª
parte, capítulo XIII,
pp. 330 a 332.)
B. Que reação teve
Nemésio ao ver Gilberto
e Marina?
Ao vê-los, Nemésio
intentou soerguer a
carcaça dorida, sem
conseguir articular
qualquer palavra, embora
o tentasse. André e seus
amigos registraram-lhe,
porém, os pensamentos e
viram que ele implorava
aos filhos benevolência,
compaixão...
Contemplando a nora pelo
véu de pranto, lastimou
na linguagem
inarticulada do cérebro:
"Marina!... Marina!...
sou um infeliz... Perdão
pelo amor de Deus!...
Perdão pelas cartas
afrontosas, perdão pelo
meu crime!... Eu estava
louco, no momento em que
arrojei o automóvel no
corpo de seu pai!...
Diga, diga se ele
morreu... Perdão,
perdão!..."
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XIII, pp. 332 e
333.)
C. Beatriz se
surpreendeu ao ver o
ex-esposo naquelas
condições?
Sim. Beatriz,
entusiasmada pela volta
ao Rio, suspirava, além
de rever esposo e filho,
reavistar também a
antiga moradia. No
Flamengo, porém, o
encontro com Nemésio
constituiu para ela um
choque. Ao vê-lo
desfigurado, na postura
dos paralíticos, ela
empalideceu. Enleando-se
a ele, passou então a
crivá-lo de perguntas
lastimosas. Por que
mudara tanto em dois
anos apenas? que lhe
acontecera para se
relegar a semelhante
ruína física? que
fizera? por quê? por
quê? Nemésio não
assinalava as carícias e
as perguntas da esposa,
mas quedou-se tocado de
fundas reminiscências.
Passou a pensar em
Beatriz e
reconstituía-lhe a
imagem no imo do ser.
Ah! – refletia o
enfermo – se os mortos
pudessem amparar os
vivos, segundo a crença
de tantos, certamente
Beatriz se compadeceria
dele, estendendo-lhe as
mãos!... Ignorando que
respondia às perguntas
da esposa, ali colada a
ele, revisou então todos
os acontecimentos
posteriores à morte
dela, como que a lhe
prestar severas contas,
exibindo para a
companheira e para os
demais, qual num filme
pujante, a verdade toda,
até o instante em que se
precipitara no crime.
(Obra citada, 2ª parte,
capítulo XIII, pp. 333 a
335.)
Texto para leitura
156. Cláudio volta
ao lar -
Acrescentou Cláudio que,
se atendido, obedeceria
lealmente aos programas
de ação que lhe fossem
traçados. Não cobiçava
outra coisa senão
instruir-se,
melhorar-se, compreender
e ser útil... A petição
enterneceu André, que
não detinha, porém,
competência para
decidir. Autoridades do
estabelecimento que os
albergava acolheram o
assunto com simpatia e
ofereceram medida básica
à solução do impasse.
Desde que se munisse de
aprovação, Cláudio
residiria ali mesmo,
apesar de se manter em
atividade na proteção
aos parentes. Percília
partiu, então, com
atribuições de
mensageira, para advogar
a causa no "Almas
Irmãs", convicta de que
Félix a aprovaria. Foi o
que aconteceu.
Permitiu-se a Cláudio o
período de dez anos de
serviço ao pé dos
familiares, antes de se
elevar aos círculos
imediatos da
Espiritualidade para
julgamento da existência
transcorrida,
reservando-se à Casa da
Providência o direito de
corrigir a concessão,
dilatando o tempo, se
ele mostrasse aplicação
no cumprimento das
promessas feitas, ou
cassando a licença, na
hipótese de se revelar
indigno dela. Cláudio,
satisfeito, exultou e
pediu colaboração para
voltar ao Flamengo.
Estava fraco, vacilante,
mas queria trabalhar,
sair de si mesmo...
Ajustaram-se
providências. Moreira,
que se mantinha ao lado
de Marina, ajudá-lo-ia.
O mecanismo de amor da
Bondade Divina é
extraordinário! Aquele
que lhe fora comparsa no
desequilíbrio ser-lhe-ia
o arrimo nas tarefas do
reajuste. Seis dias
depois do acidente,
Cláudio foi reconduzido
ao antigo lar, no
Flamengo. Apoiando-se em
Percília, penetrou em
casa, acolhido por
Moreira, e procurou o
quarto que até então
ocupara, sentando-se no
próprio leito, a
refletir. O relógio
marcava seis horas
quando Marina se ergueu.
Daí a instantes, a jovem
penetrou no recinto onde
os amigos se achavam e,
em pensamento,
dirigiu-se a Jesus,
rogando-lhe abençoasse o
genitor, onde estivesse.
Enlevados, André e os
demais ouviram-na,
palavra a palavra, no
clima dos pensamentos
harmônicos em que todos
se entrelaçavam, embora
Marina orasse em
silêncio. Cláudio
levantou-se e abeirou-se
da filha, mas, ao
tocá-la, fremente de
júbilo, percebeu que a
filha trazia no corpo e
na alma a doce presença
de Marita nascitura.
Receoso, deu um passo à
retaguarda. Temia
conspurcar a excelsitude
do quadro sublime que o
defrontava. Marina
figurou-se-lhe uma
planta luminosa,
modelada na carne,
encerrando uma flor
quase a desabrochar. A
ideia de Cláudio
relampeou na oração.
Suplicava a Deus não lhe
permitisse alçar
caprichos acima de
obrigações.
Aproximou-se, então,
dela, abraçou-a
brandamente e apelou:
"Minha filha!... Minha
filha!... que é feito de
Nemésio? Procuremos
Nemésio! É preciso
ampará-lo!...
Ampará-lo!..." (Cap.
XIII, pp. 328 a 329)
157. A
ruína de Nemésio
- Marina não assinalou o
pedido com os sentidos
físicos, mas, sem saber
por quê, rememorou a
solicitação paterna de
última hora. Ela e
Gilberto haviam recebido
notícias de Nemésio. As
informações eram
alarmantes; entretanto,
hesitavam... O sogro
jazia enfermo, em estado
grave. Lembrando a
rogativa de Cláudio,
Marina decidiu-se em
espírito. Esqueceria o
passado e ajudaria o
doente no que lhe fosse
possível, inclinando
Gilberto à
reconciliação. Não
adiariam por mais tempo
a visita. Ao café, a
jovem sugeriu ao esposo
as primeiras medidas
atinentes ao caso.
Cláudio, que observava a
cena, entrou direto em
serviço, alimentando as
disposições favoráveis
do casal. Que não
recuassem. Atendessem.
Nemésio era também pai.
Marina propunha,
Gilberto ponderava. Por
fim, ele concordou.
Telefonaria ao médico e
se a doença fosse mesmo
grave iriam vê-lo à
noite. André, deixando
os amigos no Flamengo,
buscou a casa dos
Torres, para ver
Nemésio. A casa estava
em silêncio e, junto
dele, hemiplégico e
afásico no leito,
encontrava-se apenas
Amaro, o fiel amigo
espiritual que velara
por dona Beatriz. O
enfermeiro resumiu para
André, em breves
palavras, a tragédia em
que se envolvera aquele
homem, antes tão
bajulado e tão rico.
Cedendo à paixão que lhe
empolgava os sentidos e
excitado pelos
obsessores, que o
abandonaram logo que lhe
viram o corpo arruinado
e inútil, Nemésio
decidira exterminar
Marina e suicidar-se em
seguida. Ao praticar o
crime, verificou, porém,
que atropelara Cláudio e
não a filha, entrando em
desespero, e esse
desespero lhe cresceu
tanto no espírito que o
corpo doente não
resistiu. Sobreviera o
derrame. Avisado por
amigos, Amaro o
encontrou,
semiparalítico e sem
fala, no automóvel,
longe do local em que se
desenrolara o delito.
Parecia prestes a
desencarnar, mas Félix
aparecera de improviso e
requisitara o apoio de
todos os órgãos
espirituais de
assistência, situados
nas imediações,
acumulando fatores de
intervenção em favor
dele. Orara, suplicando
aos Poderes Divinos não
lhe permitissem a saída
do plano físico sem
aproveitar o benefício
da enfermidade. Félix
advogara para ele as
vantagens da dor, que
reputava santas, e o
processo
desencarnatório foi
imediatamente sustado.
Desde então, o velho
Torres era aquilo que
André via: um farrapo de
gente, largado à cama. A
casa fora devassada
pelos credores, e
empregados desonestos
haviam fugido
carregando copioso
fruto de saque:
baixelas, cristais,
roupas, telas, joias e
até o piano. Apenas
Olímpia, antiga
companheira, vinha até
ali duas vezes por dia,
para prestar ligeira
assistência ao enfermo,
que, embora lúcido, não
conseguia articular
palavra. (Cap. XIII, pp.
330 a 332)
158. Nemésio passa
a morar com Marina
- Condoído, André ali
aguardou a noite e viu
quando Gilberto e Marina
atravessaram o
vestíbulo, seguidos de
Percília, Cláudio e
Moreira, tomados de
surpresa dolorosa.
Gilberto e a esposa não
conseguiram dominar as
exclamações de assombro
e prosternaram-se em
lágrimas à frente do
leito. Nemésio
reconheceu-os e debalde
intentou soerguer a
carcaça dorida, sem
conseguir articular
qualquer palavra, embora
o tentasse. André e seus
amigos registraram-lhe,
porém, os pensamentos e
viram que Torres-pai
implorava aos filhos
benevolência,
compaixão...
Contemplando a nora pelo
véu de pranto, lastimou
na linguagem
inarticulada do cérebro:
"Marina!... Marina!...
sou um infeliz... Perdão
pelo amor de Deus!...
Perdão pelas cartas
afrontosas, perdão pelo
meu crime!... Eu estava
louco, no momento em que
arrojei o automóvel no
corpo de seu pai!...
Diga, diga se ele
morreu... Perdão,
perdão!..." Cláudio,
somente naquele momento
ficou sabendo quem fora
o autor do atentado que
lhe impusera a morte.
Recordando, porém,
outra noite, em que
ultrajou a própria
filha, caiu também
genuflexo, abraçando-se
a Marina ajoelhada, e,
como se ocupasse o
íntimo da jovem senhora,
fê-la buscar a destra de
Nemésio para beijá-la
com a reverência que os
filhos devem aos pais.
Tocado no coração por
semelhante gesto de
ternura, Nemésio
articulava sons
ininteligíveis,
implorando mentalmente:
"Perdão!... perdão!..."
Cláudio ergueu-se, de
súbito, e, erguendo os
olhos para o alto,
clamou em pranto: "Deus
de Imensa Bondade,
perdão para mim
também!..." Naquela
mesma noite, uma
ambulância conduziu
Nemésio ao hospital e,
após alguns dias de
tratamento, sempre
custodiado pelos filhos,
ele subiu em cadeira de
rodas ao apartamento do
Flamengo, onde passou a
habitar, mudo e inerme,
sob os desvelos da nora
e amparado por Cláudio,
no mesmo aposento que
pertencera àquele que
perseguira por rival e
que se lhe erigia agora
por denodado guardião.
(Cap. XIII, pp. 332 e
333)
159. Beatriz
insiste para ver Nemésio
- Os êxitos morais de
Cláudio, comentados
com admiração por alguns
amigos no "Almas Irmãs",
criaram para o irmão
Félix um problema grave.
Beatriz (a esposa
desencarnada de Nemésio),
ciente desse fato, quis
rever o esposo e o
filho. Peça viva na
engrenagem doméstica,
ela pensava que não
podia alhear-se. Félix,
porém, negou-se a
atender o pedido. Neves,
que não se curara de
todo da impulsividade
característica, achou
que o pedido era
razoável e colocou
tantas relações e tantos
empenhos no assunto, que
Félix não teve outra
alternativa senão
aderir. Neves iria
acompanhar a filha e
André foi designado por
Félix para cooperar na
solução de qualquer
emergência. Muito
preocupado com a visita,
o dirigente pressentia
obstáculos, receava
riscos. Beatriz,
entusiasmada na
contemplação do Rio,
suspirava, além de rever
esposo e filho,
reavistar também a
antiga moradia. No
Flamengo, o encontro com
Nemésio constituiu para
ela um choque. Ao vê-lo
desfigurado, na postura
dos paralíticos,
empalideceu.
Enleando-se a ele,
passou a crivá-lo de
perguntas lastimosas.
Por que mudara tanto em
dois anos apenas? que
lhe acontecera para se
relegar a semelhante
ruína física? que
fizera? por quê? por
quê? Nemésio não
assinalava as carícias e
as perguntas da esposa,
mas quedou-se tocado de
fundas reminiscências.
Passou a pensar em
Beatriz e
reconstituía-lhe a
imagem no imo do ser.
Ah! – refletia o
enfermo – se os mortos
pudessem amparar os
vivos, segundo a crença
de tantos, certamente
Beatriz se compadeceria
dele, estendendo-lhe as
mãos!... Ignorando que
respondia às perguntas
da esposa, ali colada a
ele, revisou então todos
os acontecimentos
posteriores à morte
dela, como que a lhe
prestar severas contas,
exibindo para a
companheira e para os
demais, qual num filme
pujante, a verdade toda,
até o instante em que se
precipitara no crime.
(Cap. XIII, pp. 333 a
335)
160. Beatriz sofre
ao ver o estado do
marido - Se
Beatriz estivesse no
mundo – concluía
Nemésio, em suas
reflexões – estaria
isento de aflições e
tentações. Junto dela,
teria recolhido defesa,
orientação. Profundas
saudades lhe acicatavam
a alma e recompunha na
imaginação os sonhos da
juventude, o casamento,
os projetos de ventura
concentrados em Gilberto
pequenino. Movimentou,
então, com dificuldade a
mão esquerda para
enxugar o pranto que lhe
encharcava o rosto, sem
saber que a esposa o
auxiliava, soluçando.
Apreensivo, Neves tentou
soerguer a filha que se
estirara no chão, à
maneira de mãe torturada
incapaz de alijar do
peito um filho
semimorto. Tudo em vão.
Beatriz respondeu-lhe
dizendo que amava
Nemésio e preferia ser
amarrada num catre, ao
lado dele, a separar-se
de novo. Agradecia o
devotamento que recebera
no "Almas Irmãs", mas
pedia vênia para
considerar que o esposo
sofria. Como descansar,
lembrando-lhe os
suplícios? A doutrina
cristã lhe ensinara que
Deus é um pai
compassivo, e um pai
compassivo não aprovaria
ingratidão e abandono.
Neves julgava que
Nemésio nada fizera para
merecer semelhante
abnegação e inclinava-se
ao estouro, mas André
sugeriu-lhe calma.
Censuras de nada
adiantariam; só
agravariam a situação. A
seguir, André mostrou
para Beatriz que
Gilberto se preparava
para dar-lhe uma neta e
que a conformidade da
parte dela, no tocante
às provações do marido,
ser-lhes-ia uma bênção.
Acatando a solicitação,
a mulher ergueu-se,
contrafeita, e se
aproximou de Marina,
cuja história real
passara a conhecer pelas
lembranças do marido.
Generosa e vendo
Cláudio, que perdoara a
Nemésio tantas injúrias,
beijou Marina, com
enternecimento de mãe.
Depois, compartilhou a
oração e o socorro
magnético prestado ao
marido e pareceu
reconfortar-se,
sobretudo quando
Gilberto chegou para o
jantar, encantando-se ao
notar que o filho
buscara o doente para a
refeição, após
afagar-lhe a testa com
carinho. O retorno foi,
porém, muito difícil,
porque Beatriz
agarrou-se ao marido e,
desligada dele quase à
força, revelava sinais
de alienação começante,
descendo do prédio,
abatida, muda. Neves a
convidou, então, para
visitar sua antiga
moradia, que se reduzira
a um casarão às escuras
e, condenado a leilão,
transformara-se em
valhacouto de
malfeitores
desencarnados, não
havendo ali senão poeira
e sombra do oásis
familiar que Beatriz um
dia construíra. (Cap.
XIII, pp. 335 a 337)
(Continua no próximo
número.)