As origens do bem
Charles Darwin
considerava o problema
do altruísmo – o ato de
ajudar alguém – como um
desafio potencialmente
fatal para sua teoria da
seleção natural. Se a
vida fosse uma cruel
“luta pela existência”,
como um indivíduo
altruísta poderia viver
o tempo suficiente para
se reproduzir? Por que a
seleção natural iria
favorecer um
comportamento que reduz
nossas chances de
sobreviver? Em A
Origem do Homem,
Darwin escreveu: “Os
indivíduos que preferiam
se sacrificar a trair
seus companheiros – como
muitos selvagens faziam
– frequentemente não
deixavam descendentes
que pudessem herdar sua
natureza nobre”. E, no
entanto, como Darwin
sabia, o altruísmo está
por toda parte.
Os morcegos alimentam
seus companheiros
famintos; as abelhas
cometem suicídio dando
ferroadas para defender
a colmeia; os pássaros
criam filhotes que não
são seus; o ser humano
pula nos trilhos do
metrô para salvar gente
estranha. A onipresença
desses comportamentos
sugere que a bondade não
é uma estratégia
derrotista para a vida
e, no entanto, sob o
aspecto da biologia
evolutiva, o bem é uma
estupidez, pois dá força
e recurso ao
outro na
luta pela vida,
reduzindo nossa
possibilidade de
sobrevivência.
Como entender isso? Uma
hipótese elegante foi
apresentada recentemente
(2012) pelo
biólogo de Harvard,
Edward Wilson, no livro “A
Conquista Social da
Terra”. O
autor indaga: as
pessoas são
inerentemente boas, mas
corruptíveis pelas
forças do mal? Ou, pelo
contrário, são
intrinsecamente
malvadas, só podendo ser
redimidas pelas forças
do bem?
Ele mesmo responde: as
pessoas são ambas as
coisas. O dilema humano,
segundo ele, foi
preordenado pela forma
como nossa espécie
evoluiu, sendo,
portanto, uma parte da
natureza humana.
Explica o autor citado
acima que o dilema do
bem e do mal foi criado
por aquilo que ele
denomina de
seleção multinível,
ou seja, a seleção
natural que se dá em
duas dimensões:
individual e de grupo. A
seleção individual e a
seleção de grupo agem
conjuntamente sobre o
mesmo indivíduo, mas em
grande parte em oposição
uma à outra. A seleção
individual é o resultado
da competição por
sobrevivência e
reprodução entre membros
do mesmo grupo. Ela
molda instintos em cada
membro que é
fundamentalmente egoísta
em referência aos demais
membros. Em contraste, a
seleção de grupo
consiste na competição
entre sociedades, por
meio do conflito direto
e da competência
diferencial na
exploração do meio
ambiente. A seleção de
grupo molda instintos
que tendem a tornar os
indivíduos altruístas
entre si. A seleção
individual é responsável
por grande parte do que
chamamos de pecado,
acrescenta Wilson,
enquanto a seleção de
grupo é responsável pela
maior parte da virtude.
Juntas criaram o
conflito entre o anjo e
o demônio de nossa
natureza.
Existe, segundo ele, uma
regra férrea na evolução
social humana: grupos
altruístas derrotam
grupos egoístas. Os
seres humanos foram
obrigados a buscar a
moralidade – a fazer a
coisa certa, se refrear,
ajudar os outros, às
vezes correndo risco
pessoal – porque a
seleção natural
favoreceu essas
interações dos membros
do grupo que beneficiam
o grupo como um todo.
A seleção de grupo pode
ser invocada para
explicar a cooperação,
um traço importante da
natureza humana. O
altruísmo aumenta a
força e a
competitividade dos
grupos e tem sido
favorecido durante a
evolução humana. O
altruísmo autêntico se
baseia num instinto
biológico pelo bem comum
da tribo.
Tendo como base O LIVRO
DOS ESPÍRITOS, podemos
sugerir as ideias
seguintes:
Durante suas vivências
reencarnatórias, o
princípio espiritual foi
incorporando instintos,
que passaram a fazer
parte de sua
individualidade.
Conviveu com o mal, mas
também necessitou
conhecer o bem para
sobreviver; dependeu do
egoísmo como elemento
indispensável à
sobrevivência no reino
animal e nos períodos
que precederam a
conquista da razão, mas
se identificou
igualmente com instintos
relacionados com a
cooperação, a renúncia e
a generosidade,
adquirindo experiências
e escrevendo em sua
consciência as leis de
Deus (LE,
item 621).
Essas leis deveriam
oportunamente lhe ser
lembradas, pois as tinha
esquecido e desprezado
(LE,
item 621-a). Os
maus instintos fazem
frequentemente que ele
esqueça a lei de Deus (LE,
item 620). Deus,
no entanto, tem confiado
a muitos homens a missão
de revelar sua lei. (LE,
item 622).
Ao perguntar aos
Espíritos Superiores por
que Deus não criou a
Humanidade em melhores
condições, Kardec
recebeu deles a seguinte
resposta:
Os Espíritos foram
criados simples e
ignorantes. Deus deixa
ao homem a escolha do
caminho. Tanto pior para
ele, se toma o mau
caminho: sua
peregrinação será mais
longa. Se não existissem
montanhas, o homem não
compreenderia que se
pode subir e descer; e
se não existissem
rochas, não
compreenderia que há
corpos duros. É preciso
que o Espírito adquira
experiência e, para
isso, é necessário que
conheça o bem e o mal (LE,
item 634).