Informações do Além
Cornélio Pires
Recebi o seu bilhete,
Meu amigo João da Graça,
Você deseja do Além
Notícias sobre a
cachaça.
O assunto não é difícil.
Cachaça, meu caro João,
Recorda simples tomada
Que liga na obsessão.
Você sabe. Aí na Terra,
Nas mais diversas
estradas,
Todos temos inimigos
Das existências
passadas.
Muitos deles se
aproximam
E usando a ideia sem voz
Propõem cousas malucas
Escarnecendo de nós.
Nas tentações manejamos
Nossa fé por luz acesa,
Mas se tornamos cachaça
Lá se vai nossa firmeza.
Olhe o caso de
Antoninha.
Não queria desertar,
Encafuou-se na pinga,
Hoje é mulher sem lar.
Titino, homem honesto,
Servidor de tempo curto,
Passou a viver no copo,
Agora vive de furto.
Rapaz de brio e saúde
Era Juca de João Dório,
Enveredou na garrafa,
Passou para o sanatório.
Era amigo dos mais
sérios
Silorico da Água Rasa,
Começou de pinga em
pinga,
Acabou largando a casa.
Companheiro certo e bom
Era Neco de Tião,
Afundou-se na garrafa,
Aleijou o próprio irmão.
Cachaça será remédio,
É o que tanta gente
ensina...
Mas álcool, para ajudar,
É cousa de Medicina.
Eis no Além o que se vê.
Seja a pinga como for,
Enfeitada ou caipira,
É laço de obsessor.
Nas velhas perturbações,
Das que vejo e que já
vi,
Fuja sempre da cachaça,
Que cachaça é isso aí.
Do cap. 1 do livro
Diálogo dos Vivos,
de autoria de Chico
Xavier, J. Herculano
Pires e Espíritos
diversos.
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