E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
3)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Se morresse, para
onde Evelina iria?
Essa pergunta ela mesma
se fez, já no hospital,
à véspera da cirurgia.
Quando menina, Evelina
acreditava de boa fé na
existência do céu e do
inferno. Agora, porém,
com a ciência explorando
as vastidões cósmicas,
era bastante inteligente
para perceber o tato com
que seu confessor lhe
falara das
indispensáveis
renovações que se
impunham à esfera
religiosa.
(E a Vida Continua, cap.
3 e 4, pp. 26 a 29.)
B. Evelina receava
morrer?
Sim. Ela não desejava
morrer tão cedo. Queria
a saúde, a euforia
orgânica. Ansiava
restaurar-se, viver.
Embora as dificuldades
conjugais, possuía
motivos para contar com
feliz reajuste. O que
lhe faltava era, tão-só,
o reequilíbrio físico.
Recuperando-se,
diligenciaria remover
a outra. Além disso,
reconhecia-se útil e
poderia ajudar as
criaturas menos
felizes, diminuindo a
penúria onde a penúria
existisse. A lembrança
dos necessitados
sensibilizou-a... E,
assim pensando, decidiu
recusar todo pensamento
acerca da morte,
concentrando-se com todo
o vigor no propósito de
retomar-se
organicamente.
(Obra citada, cap. 4,
pp. 29 e 30.)
C. O prognóstico médico
inspirava alguma
esperança para Evelina?
Não, nenhuma. O
cardiologista, aliás,
quase desaconselhara o
tentame e só não
insistiu quanto a isso
porque Evelina avançava
a passos largos para a
morte. No dia seguinte à
cirurgia, Caio, seu
esposo, foi convidado a
entendimento com o
cirurgião e, pálido,
colheu a sentença.
Evelina, segundo os
recursos da ciência
humana, dispunha
tão-somente de alguns
dias mais. "Ela parece –
afirmou o doutor – uma
rosa totalmente
carcomida por agentes
malignos."
(Obra citada, cap. 4,
pp. 30 a 32.)
Texto para leitura
9. No hospital
- Evelina não sorriu,
mas, sem dúvida, foi
tocada de forma profunda
pela última observação
feita pelo amigo.
Depois, após longo
intervalo, preparou-se
para a despedida,
comentando: "Bem, senhor
Fantini, se houver
outra vida, além
desta, e se for a
vontade de Deus que
venhamos a sofrer, em
breve, a grande
mudança, creio que
nos veremos de novo e
seremos lá bons
amigos..." Ernesto
concordou inteiramente.
À saída, após informarem
um ao outro que ambas as
cirurgias deveriam
realizar-se nos
próximos dias, Evelina
obtemperou: "Senhor
Fantini, somos ambos
portadores da mesma
doença insidiosa e rara.
Não será isso o bastante
para aproximar-nos um do
outro? Esperemos o
futuro sem aflição. Se
escaparmos do atoleiro,
estou convencida de que
Deus nos favorecerá com
um novo encontro aqui na
Terra mesmo... Se a
morte vier, a nossa
amizade, em outro
mundo, ficará também
subordinada aos
desígnios da
Providência". Ernesto
achou graça e ambos
regressaram ao hotel,
passo a passo, em
comovido silêncio.
Evelina somente voltou a
pensar na presença
confortadora dele,
quando seu esposo, Dr.
Caio Serpa, a deixou no
hospital, à véspera da
cirurgia. Ali, a sós,
aguardando a enfermeira,
as palavras de Fantini
lhe perpassavam o
cérebro, escaldando-lhe
a imaginação. Se
morresse, para onde
iria? Quando menina,
acreditava de boa fé na
existência do céu e do
inferno. Agora, porém,
com a ciência explorando
as vastidões cósmicas,
era bastante inteligente
para perceber o tato com
que seu confessor lhe
falara das
indispensáveis
renovações que se
impunham à esfera
religiosa. Com ele
aprendera a conservar
inalterável confiança em
Deus, no divino
apostolado de Jesus e no
ministério inefável dos
santos, mas decidira
colocar à parte, no
rumo da necessária
revisão, todas as
afirmativas da
autoridade humana sobre
as coisas e causas da
Providência Divina.
(Cap. 3 e 4, pp. 26 a
29)
10. Receio de
morrer leva a jovem ao
pranto - A ideia
da morte assomou-lhe à
cabeça com mais força,
mas Evelina repeliu-a.
Queria a saúde, a
euforia orgânica.
Ansiava restaurar-se,
viver. Embora as
dificuldades conjugais,
possuía motivos para
contar com feliz
reajuste. O que lhe
faltava era, tão-só, o
reequilíbrio físico.
Recuperando-se,
diligenciaria remover
a outra. Além disso,
reconhecia-se útil e
poderia ajudar as
criaturas menos
felizes, diminuindo a
penúria onde a penúria
existisse. A lembrança
dos necessitados
sensibilizou-a... E,
assim pensando, decidiu
recusar todo pensamento
acerca da morte,
concentrando-se com todo
o vigor no propósito de
retomar-se
organicamente. Nesse
ponto, Evelina
lembrou-se de que, além
da importância do
pensamento positivo, em
favor de seu
restabelecimento, a
oração constituiria
também recurso valioso.
Percebeu, então, a
pender de parede
próxima, a imagem de
Jesus Crucificado e,
cruzando as mãos sobre
o peito, falou mais com
a voz do coração do que
com os lábios: "Senhor,
compadece-te de mim!..."
Ao contemplar a cabeça
do Senhor coroada de
espinhos e os braços
pregados na cruz,
Evelina imaginou que o
Cristo estimava surgir
na memória das criaturas
daquela forma para
lembrar-lhes a
fatalidade da morte, e
fundo abalo moral
convulsionou-lhe os
nervos. Ela não sabia
mais se lhe era lícito
optar entre viver e
morrer e, escondendo o
rosto entre as mãos,
ajoelhou-se, humilde, à
frente da escultura
delicada, junto da qual
chorou copiosamente. A
enfermeira, ao chegar
para as providências
pré-operatórias,
encontrou-a nesse
estado. Evelina
ergueu-se, enxugou as
lágrimas e pediu-lhe
desculpas. Momentos
depois, já preparada
para a cirurgia,
retornou ao quarto, onde
o esposo a esperava
folheando os jornais do
dia. (Cap. 4, pp. 29 e
30)
11. A
cirurgia confirma o
pessimismo dos médicos
- Caio Serpa
dirigiu-lhe palavras de
brandura. Advogado
jovem, mas experimentado
em relações públicas,
exibia maneiras
estudadas, conquanto
simpáticas. Sua estampa
física não era igual ao
que mostrava por dentro
de sua alma, que
patenteava, aos olhos de
André Luiz, sombrias
inquietações. Depois das
primeiras palavras,
quentes de ternura, ele
abeirou-se da esposa e
osculou-lhe os cabelos.
Ela não dissimulou a
própria alegria e
conversaram em suave
transbordamento
afetivo. Evelina
reafirmou a certeza de
sua recuperação e ele
deu notícias acerca dos
familiares dela e sobre
os prognósticos
médicos, que eram
otimistas. Evelina não
percebia que o marido
disfarçava. Serpa
emitia comunicações
imaginárias. O médico da
família, tanto quanto o
cirurgião, nada
garantiam além de uma
operação exploratória,
com reduzidas
esperanças de êxito. O
cardiologista, aliás,
quase desaconselhara o
tentame e só não
insistiu quanto a isso
porque Evelina avançava
a passos largos para a
morte. No dia seguinte à
cirurgia, Caio foi
convidado a entendimento
com o cirurgião e,
pálido, colheu a
sentença. Evelina,
segundo os recursos da
ciência humana, dispunha
tão-somente de alguns
dias mais. "Ela parece –
afirmou o doutor – uma
rosa totalmente
carcomida por agentes
malignos." Caio, embora
quisesse, nada mais
ouviu das doutas
observações feitas
sobre a doença pelo
especialista. Sentia-se
petrificado e lágrimas
compridas perlaram-lhe
a face. Concluída a
conversa com o cirurgião
amigo, correu para
junto da esposa
prostrada. E durante
dias e noites de
paciência e ansiedade
foi-lhe o irmão, pai,
tutor e amigo. (Cap. 4,
pp. 30 a 32)
12. Evelina vive
dias de conforto
- Atendendo aos apelos
do genro, dona Brígida,
mãe de Evelina, e o Sr.
Amâncio Terra, o
padrasto, compareceram
desolados, buscando, no
entanto, selecionar
palavras de otimismo e
sustando o choro, na
presença de Evelina.
Embalada na rede do
devotamento familiar, a
enferma, aparentemente
melhorada, voltou ao
ninho doméstico,
recolhendo mimos que
desde muito não recebia,
concomitantemente com as
crises periódicas de
sufocação que a deixavam
inerme. Apesar disso,
ela acreditava nas
opiniões lisonjeiras dos
familiares. Aquilo
passaria. Que ela
confiasse, orasse com
fé. Seguiram-se, então,
após duas semanas de
calmaria e repiquetes,
seis dias de contínuo
bem-estar. Ela
transferiu-se do leito
para a espreguiçadeira e
alimentava-se quase
normalmente,
mantendo-se em paz e
recebendo o conforto da
religião através de um
sacerdote abnegado. No
quinto dia de esperança,
formulou ao esposo uma
solicitação inesperada.
Não poderia ele levá-la
ao passeio predileto dos
tempos de noivado?
"Morumbi à noite?",
indagou a mãezinha,
intrigada. Ela
justificou-se. Queria
ver a cidade faiscante
de luzes ao longe; seus
olhos tinham saudade do
céu estrelado. Caio
pediu permissão ao
médico e levou-a.
Evelina seguiu,
encantada. Ao rever as
ruas repletas e a
paisagem do Morumbi e
arredores, ela passou a
falar entusiasmada e o
marido enterneceu-se.
Como que a reencontrava
na moldura de noiva
querida, da noiva a quem
amara desvairadamente,
anos antes... O marido
experimentou remorsos ao
recordar a infidelidade
conjugal em que se
mantinha, e quis
suplicar-lhe perdão,
reconhecendo, porém, que
aquele não era o momento
adequado. De repente,
após frear o carro,
tomou-a nos braços e,
num transporte
irresistível de carinho,
beijou-a e beijou-a, até
que lhe sentiu o rosto
frio molhado de lágrimas
ardentes... A esposa
chorava de ventura.
Depois, após contemplar
o firmamento, buscou a
destra do companheiro,
apertou-a demoradamente
e indagou: "Caio, você
acredita que nos
encontraremos, depois
da morte?" O esposo não
respondeu e exortou-a a
trocar de assunto,
proibindo-a, em tom
afetuoso, de reportar-se
às coisas tristes.
Em seguida,
regressaram. No caminho
de volta, Evelina
lembrou-se do
entendimento fácil com
Ernesto Fantini, o
improvisado amigo da
estância mineira e, de
modo inexplicável, teve
saudades daquela
presença que lhe fora
tão suave e grata. (Cap.
4, pp. 33 e 34)
(Continua na próxima
semana.)