ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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O problema da
inflação: uma
abordagem
espírita
É com extremo
pesar que
constatamos o
retorno da
inflação no
Brasil – se é
que algum dia
tal fenômeno
econômico tenha
sido, de fato,
superado.
Dizemos isso
porque é notório
que, desde a
implantação do
real como moeda
oficial nos idos
dos anos 1990, a
economia
brasileira vem
passando por
solavancos mais
ou menos graves
que afetam a
estabilidade dos
preços. Além
disso, cumpre
lembrar também o
emprego de uma
sórdida
manipulação no
peso e na
metragem de
inúmeras
categorias de
produtos – ou
seja, a pura e
simples redução
deles – por
parte da
indústria,
quebrando, em
decorrência, com
os padrões até
então
existentes,
obviamente sem a
correspondente
diminuição dos
preços. Por
conta disso,
acabou-se
criando o hábito
singular de se
calcular – pelo
menos assim tem
feito o
consumidor mais
atento – o valor
do grama ou
metro,
dependendo do
caso, de cada
item para que a
comparação entre
as ofertas
disponíveis seja
correta e a
compra
otimizada.
É claro que os
entendidos da
matéria
apresentam quase
sempre válidos
argumentos ou
explicações para
justificar a
resistência
desse dragão
devorador da
renda das
pessoas, tais
como a variação
do câmbio que
aumenta os
insumos e
matérias-primas,
os impostos
elevados,
recomposição das
margens,
problemas
climáticos,
quebra de safra,
demanda
aquecida,
deficiência na
infraestrutura e
logística,
aumento de
custos
(especialmente
mão-de-obra),
baixa
produtividade,
falta de
concorrência,
entre outros.
Outro dia
assistimos a
entrevista de um
importante
economista
explicando que o
aumento dos
serviços, por
exemplo, era
mais difícil de
controlar porque
as pessoas não
iriam tomar um
avião para
jantar ou cortar
o cabelo em
Buenos Aires.
Seja como for,
as distorções
produzidas nessa
dimensão têm
sido tão
bizarras que se
chegou ao
despautério de
ser bem mais
barato viajar de
férias para a
Europa do que ao
nordeste do
nosso país. Mais
ainda, a revista
Veja SP trazia
há algum tempo
atrás uma
reportagem na
qual se fazia
uma comparação
mundial do preço
da pizza de
marguerita.
Lamentavelmente,
o Brasil se
destacava na
“triste
liderança” do
preço praticado
do referido
comestível. Ao
que se nota, o
mesmo
desequilíbrio
tem acontecido
com outras
categorias de
produtos e
serviços – até
mesmo os preços
dos livros da
Doutrina
Espírita estão
ficando caros –,
o que torna, no
final, a vida da
maioria das
pessoas muito
mais dura.
Outro aspecto
altamente
preocupante, que
os economistas
salientam – vez
ou outra –, e
que um dia terá
de ser
enfrentado, é o
da generalizada
indexação dos
preços que, por
sinal, alimenta
a espiral
inflacionária.
De fato, desde a
implantação do
plano real, as
instituições
atrelaram o
reajuste dos
seus contratos
ao Índice Geral
de Preços do
Mercado (IGPM) –
que é, digamos,
o índice mais
sensível às
variações, e
exibindo, não
raro, maior
percentual do
que os outros –
a fim de
salvaguardar os
seus interesses
financeiros.
Vale ressaltar
que o IGPM tem
na sua
composição,
aliás, um peso
de 60% derivado
da medição da
variação de
itens (produtos)
do atacado (o
chamado índice
de preços ao
produtor amplo).
Grosso modo, as
alterações de
preços captadas
nesse segmento
impactam toda a
economia,
inclusive
influenciando
reajustes de
contratos e
valores de
serviços –
pasmem – que
nada têm a ver
com a realidade
monitorada (isto
é, o atacado).
Assim sendo,
temos a
prevalência de
um quadro
altamente
obscuro no qual
“quem pode mais
chora menos”.
Por essas e
outras razões, o
Brasil tornou-se
um país
extremamente
caro para se
viver, não
obstante
tratar-se de uma
nação atrasada,
repleta de
carências e de
problemas
básicos.
Posto isto, a
essa altura o
leitor poderá
estar se
perguntado com
razão o que tem
a ver inflação
com
Espiritismo? A
resposta é
simples: o
cenário acima
descrito em nada
contribui para a
existência de
uma nação
sólida, de
espírito
fraternal e de
comportamento
justo e
equilibrado dos
seus agentes
econômicos
(nós). Não é por
outra razão, a
propósito, que a
percepção
coletiva de
dificuldades
materiais volta
a dominar os
noticiários e as
conversas dos
cidadãos. De
modo geral, o
valor dos preços
dos bens e
serviços caminha
perigosamente
para a
irracionalidade
e cupidez
econômica. Por
conseguinte,
como nação, nós
continuamos
perdendo enormes
oportunidades de
estabilidade
econômica porque
“muitos querem
se dar bem” ou
simplesmente
“levar
vantagem”, não
importando
como.
No cerne de toda
essa
problemática
existem aspectos
éticos e morais
que devem ser
cuidadosamente
analisados, e o
Espiritismo –
como condutor de
mentes que
anseiam alcançar
níveis mais
elevados de
atitudes,
comportamentos e
valores – nos
oferece
conselhos
essenciais, bem
como saudável
material para
reflexão. Assim
sendo, o
Espírito
Emmanuel, na
obra Caminho,
Verdade e Vida (psicografia
de Francisco
Cândido Xavier),
observa com
acerto que “As
criaturas
terrestres, de
modo geral,
ainda não
aprenderam a
ganhar [...]. É
indispensável
alcançar valores
de
aperfeiçoamento
para a vida
eterna”. O
sábio mentor nos
esclarece que
aqui nos
encontramos para
“[...] ganhar na
luta
enobrecedora”.
Afinal de
contas, já nos
orientava o
inolvidável
Jesus: “Pois
que aproveitaria
ao homem ganhar
todo o mundo e
perder a sua
alma?” (Marcos,
8: 36).
Infelizmente, a
criatura humana
procura meios e
mais meios de
acumular
riquezas e
patrimônios que,
às vezes, são
obtidos de forma
ilícita ou
comprometedora à
sua evolução
espiritual.
Simplesmente se
esquece – ou não
quer pensar – de
que não levará
um centavo do
que tem para o
além-túmulo,
mas, mesmo
assim, gasta boa
parte da vida na
busca de haveres
monetários
granjeados
através da
exploração,
impiedade e
falta de
compaixão. Não é
nada incomum nos
assustarmos na
atualidade com o
preço cobrado
por simples
produtos ou
serviços. Sem
querer ser
saudosista, o
fato é que há
uma sensação de
que se perdeu a
noção do
razoável no
valor cobrado
pelas coisas em
geral. Reina o
sentimento, por
assim dizer, de
que o que
importa é
“faturar bem”,
sendo isso justo
ou não. E no
bojo de tal
comportamento
sobressaem a
malícia e a
ganância
insofreável.
Voltando ao
pensamento
iluminado de
Emmanuel: “O
homem está
sempre decidido
a conquistar o
mundo, mas nunca
disposto a
conquistar-se
para uma esfera
mais elevada.
Nesse falso
conceito,
subverte a
ordem, nas
oportunidades de
cada dia. Se
Deus lhe concede
bastante saúde
física, costuma
usá-la na
aquisição da
doença
destruidora; se
consegue
amealhar
possibilidades
financeiras,
tenta açambarcar
os interesses
alheios”. Em
decorrência
dessa visão
conturbada, não
é incomum que a
criatura se
perca, menoscabe
oportunidades de
elevação adrede
preparadas pela
espiritualidade
em seu favor.
A questão
fundamental –
embora muitos
tenham
dificuldade de
entender – é que
o dinheiro não é
um fim em si
mesmo, apenas um
meio, um caminho
para conquistas
mais
proeminentes da
alma humana.
Como outrora
afirmou com
propriedade o
apóstolo Paulo;
“Porque o
amor do dinheiro
é a raiz de toda
espécie de
males; e, nessa
cobiça, alguns
se desviaram da
fé e se
traspassaram a
si mesmos com
muitas dores” (1ª
Epístola a
Timóteo, 6: 10).
Explicando o
significado do
dinheiro em
nossas vidas,
Emmanuel
esclarece que
não se trata de
um “flagelo para
a humanidade”.
Todavia, devido
à forma
inadequada como
não poucos o
empregam, a sua
finalidade acaba
sendo
desvirtuada.
Como embaixador
dos céus,
Emmanuel deixa
claro que “O
dinheiro não
significa um
mal. [...]. O
homem não pode
ser condenado
pelas suas
expressões
financeiras,
mas, sim, pelo
mau uso de
semelhantes
recursos
materiais,
porquanto é pela
obsessão da
posse que o
orgulho e a
ociosidade, dois
fantasmas do
infortúnio
humano, se
instalam nas
almas,
compelindo-as a
desvios da luz
eterna”.
Ademais, adverte
também ele, “O
dinheiro que te
vem às mãos,
pelos caminhos
retos, que só a
tua consciência
pode analisar a
claridade
divina, é um
amigo que te
busca a
orientação sadia
e o conselho
humanitário.
Responderás a
Deus pelas
diretrizes que
lhe deres e ai
de ti se
materializares
essa força
benéfica no
sombrio edifício
da iniquidade!”.
Desse modo,
portanto, muitos
podem estar
passando na
atualidade pelo
desafio de
enfrentar os
perigos
inerentes à
posse do
dinheiro. Os
argumentos
apresentados
nesse modesto
texto, bem como
os avisos
coligidos do
mais alto que
lhe servem de
base, devem ser
interpretados
apenas como um
alerta contra
arrependimentos
perfeitamente
evitáveis.