E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
4)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Evelina, já no plano
espiritual, compreendeu
que havia desencarnado?
Não. Ela achava que
havia sido novamente
hospitalizada, mas, sem
entender o porquê,
perguntou a uma
enfermeira, de nome Irmã
Isa, o que lhe havia
sucedido. A enfermeira,
evitando tocar no tema
desencarnação,
respondeu: "A senhora
passou por longa
cirurgia, precisa
descansar,
refazer-se..." Nada
havia de surpreendente,
para Evelina, naquelas
palavras, pois sabia-se
operada e lembrava que
estivera em casa e que
até fizera um passeio
com o marido pelas
estradas do Morumbi. Não
entendia, porém, por
que fora novamente
hospitalizada.
(E a Vida Continua, cap.
5, pp. 37 e 38.)
B. É verdade que o
médico advertiu Evelina
quanto ao cuidado com
recordações negativas?
Sim. Ele fez essa
advertência porque,
conforme explicou a ela,
em se ligando a
quaisquer agentes
suscetíveis de induzi-la
a recordações muito
ativas da moléstia que
sofreu, era provável que
todos os sintomas
reaparecessem. Esse era
um dos motivos pelos
quais não seria
conveniente, por
enquanto, contato com
seus familiares. Evelina
esqueceu-se do aviso e,
em dado momento, começou
a pensar nos familiares
e nas angústias sofridas
nos últimos tempos, por
causa da doença. Foi o
bastante para que a
mentalização na família
e nas dores fizesse com
que, decorridos alguns
minutos, a crise se
revelasse, impondo-lhe
as mesmas sensações
sentidas no corpo
físico. Desencadeados os
sintomas, Evelina quis
reagir, mas era tarde. O
sofrimento ganhou-lhe as
forças e ela passou a
contorcer-se no suplício
de que pensara haver-se
distanciado.
(Obra citada, cap. 5,
pp. 39 e 40.)
C. Evelina e Ernesto
Fantini (que também
havia desencarnado)
estavam no mesmo
hospital?
Sim. Foi por isso que,
descendo ao jardim que
circundava o hospital,
ela viu, no meio das
pessoas que ali
convalesciam de
enfermidades, seu amigo
Ernesto Fantini, que a
fitava, evidentemente
assombrado. O coração
de Evelina bateu agitado
e ela estendeu, na
direção dele, os dois
braços, dando-lhe a
certeza de que o
aguardava de alma
aberta. Fantini
ergueu-se da poltrona em
que estava e avançou
para ela, a passos
rápidos. – "Evelina!...
Dona Evelina!... Estarei
realmente vendo a
senhora?" – "Eu mesma!",
respondeu-lhe a moça,
chorando de alegria. O
recém-chegado não foi
estranho à emotividade
daquele minuto
inesquecível. Lágrimas
lhe rolaram no rosto
simpático e sisudo,
lágrimas que ele
buscava enxugar,
embaraçado, procurando
sorrir.
(Obra citada, cap. 5,
pp. 41 e 42.)
Texto para leitura
13. Evelina
desencarna e desperta
confusa – Na
verdade, Evelina sentia
sede de permuta
espiritual. Aspirava a
falar nos segredos da
vida eterna e ouvir
alguém, no mesmo tema e
no mesmo diapasão.
Evidentemente, o marido
não era a pessoa
indicada para isso. O
dia seguinte transcorreu
sereno, mas, em seguida,
ela amanheceu em crise
e, de angústia em
angústia, com
anestésicos de permeio,
a jovem senhora atingiu
a derradeira noite no
mundo, quando as
estrelas desmaiavam na
antemanhã. Ante a
tristeza do esposo e de
seus pais, Evelina
despertou num quarto
espaçoso em que duas
janelas deixavam ver o
céu. A princípio, julgou
emergir de um sono
profundo. Procurou
recordar-se dos fatos,
assentando contas da
própria situação, e não
entendia a amnésia que
lhe turvava a
consciência. A custo
desemperrou os
mecanismos da memória e
passou a lembrar-se,
vagarosamente. Sofrera,
decerto, uma síncope
inexplicável. Percebia
mover-se num mundo
exótico de imagens que a
faziam regredir na
estrada das próprias
reminiscências,
recapitulando, não sabia
como, todas as fases de
sua curta vida. Voltara
no tempo. Reconstituíra
todos os dias já
vividos, a ponto de
rever o pai chegando
morto ao lar, quando ela
possuía somente dois
anos de idade. Nesse
filme, que as energias
ocultas da mente exibiam
para ela, nos quadros
mais íntimos do ser,
ouvia, de novo, os
gritos maternos e
enxergava, à frente, os
vizinhos espantados,
sem compreender a
tragédia que se lhe
abatia sobre a casa.
Depois registara a
impressão de tremendo
choque. Algo como que se
lhe desabotoara no
cérebro e vira-se
flutuar sobre o próprio
corpo adormecido. Logo
após, o sono invencível.
De nada mais se
apercebera. Quantas
horas gastara no torpor
imprevisto? Não sabia
dizê-lo. (Cap. 4 e 5,
pp. 35 e 36)
14. Evelina ignora
a morte de seu corpo
– Pensando ter voltado a
si, vencido o colapso
momentâneo, Evelina não
compreendia por que não
via, ali, junto do
leito, algum familiar
que lhe desse as
necessárias explicações.
Tentou sentar-se e o fez
sem dificuldade.
Inspecionou o ambiente e
notou que o quarto era
diferente. Deduziu que,
tombada em desmaio,
havia sido reconduzida
ao hospital, ocupando
agora larga dependência,
que o verde-claro
tornava repousante. Em
mesa próxima, algumas
rosas chamavam-lhe a
atenção pelo perfume.
Cortinas tênues
bailavam, de manso, aos
ritmos do vento que
penetrava as venezianas
diferentes, talhadas em
substância semelhante
ao cristal revestido de
essência esmeraldina. As
dores haviam
desaparecido, mas ela
sentia fome. Onde estava
Caio? onde estavam seus
pais? Desejava gritar
de felicidade,
comunicando-lhes que
sarara e que os
sacrifícios feitos por
ela não haviam sido
inúteis. Buscou, então,
a campainha rente à cama
e apertou o botão de
chamada. Uma senhora de
semblante doce e
atraente apareceu,
saudando-a com palavras
de irradiante carinho.
"Enfermeira – disse para
a recém-chegada –, posso
rogar-lhe o favor de
chamar meu marido?" A
serviçal respondeu-lhe
dizendo ter recebido
instruções para, antes
de tudo, informar o
médico sobre suas
melhoras. Evelina
concordou, afirmando,
porém, que sentia
necessidade de
reencontrar seus
familiares, para
repartir com eles o
próprio júbilo. "Tenho
sede de entender-me com
alguém – acrescentou a
convalescente, animada
–, como se chama a
senhora?" A enfermeira
informou chamar-se Irmã
Isa e Evelina
indagou-lhe: "Irmã Isa,
que me sucedeu? Estou
bem, mas num estado
estranho que não sei
definir..." A nova
amiga, evitando tocar no
tema desencarnação,
respondeu: "A senhora
passou por longa
cirurgia, precisa
descansar,
refazer-se..." Nada
havia de surpreendente,
para Evelina, naquelas
palavras, pois sabia-se
operada e lembrava que
estivera em casa e que
até fizera um passeio
com o marido pelas
estradas do Morumbi. Não
entendia, porém, por
que fora novamente
hospitalizada. Foi
quando, chamado por Irmã
Isa, o médico de plantão
entrou no quarto. (Cap.
5, pp. 37 e 38)
15. Mentalização
inconveniente –
Após cumprimentá-la, o
médico a examinou e
sorriu satisfeito.
Evelina pediu-lhe
informes. Desejava saber
como e quando veria o
esposo e os pais. O
doutor ouviu-a,
paciente, e rogou-lhe
conformidade. Ela
retornaria aos parentes,
mas precisava
reajustar-se. "A
senhora está melhor,
muito melhor – aclarou o
médico –; entretanto,
ainda sob rigorosa
assistência de ordem
mental. Em se ligando a
quaisquer agentes
suscetíveis de induzi-la
a recordações muito
ativas da moléstia que
sofreu, é provável que
todos os sintomas
reapareçam. Pense nisso.
Não lhe convém, por
agora, recolocar-se
entre os seus." E, com
um olhar compreensivo,
ajuntou: "Coopere..."
Evelina ouviu a
observação, de olhos
lacrimosos, mas
resignou-se. Afinal,
concluiu, devia ser
reconhecida aos que lhe
haviam granjeado a
bênção da nova situação
e não lhe cabia
interferir em
providências cujo
significado era incapaz
de apreender.
Retirando-se o médico, a
jovem passou a folhear
um exemplar do Novo
Testamento, que lhe foi
trazido pela atendente.
Sozinha no quarto,
Evelina começou a ler o
Sermão da Montanha; no
entanto, a advertência
clínica se lhe
intrometia na
imaginação, com
insistência. Se estava
restaurada, qual se via,
por que simples
lembranças lhe imporiam
retorno aos padecimentos
de antes? Por quê?
Percebia-se na posse de
inenarrável euforia, e
deliciosa sensação de
leveza lhe mantinha a
disposição para a
alegria, como nunca
sentira em toda a
existência. Tais
recursos de equilíbrio
seriam assim tão fáceis
de perder? Pensou,
então, nos familiares e
nas angústias sofridas
nos últimos tempos, por
causa da doença. Foi o
bastante para que a
mentalização na família
e nas dores fizesse com
que, decorridos alguns
minutos, a crise se
revelasse, impondo-lhe
as mesmas sensações
sentidas no corpo
físico. Desencadeados os
sintomas, Evelina quis
reagir, mas era tarde. O
sofrimento ganhou-lhe as
forças e ela passou a
contorcer-se no suplício
de que pensara haver-se
distanciado. Avisados,
a enfermeira a socorreu
e o médico administrou
sedativos. Nem ele nem
Irmã Isa lhe
endereçaram o mínimo
reproche, mas Evelina
pôde ver em seus olhos a
certeza de que haviam
compreendido tudo,
cientes de que ela, não
se acomodando aos avisos
recebidos, quisera
experimentar por si
mesma o que se
constituíra numa
mentalização
inconveniente. (Cap. 5,
pp. 39 e 40)
16. O reencontro
– Após a aplicação de
uma injeção calmante em
determinada região da
cabeça de Evelina, o
doutor recomendou
medidas especiais para
que ela dormisse. Era
indispensável que
repousasse mais tempo,
controlada por
anestésicos. A doente
não podia nem devia
entregar-se a ideias
fixas, sob pena de
voltar a sofrer sem
necessidade. Evelina
ouviu as observações em
franca modorra. Em
seguida, abismou-se em
pesado sono, do qual
despertou muitas horas
depois, consciente de
que lhe competia
cuidar-se, evitando novo
pânico. Mostrando o
desejo de alimentar-se,
foi imediatamente
atendida com um caldo
quente e reconfortante,
que lhe calhou
gostosamente ao
paladar, à feição de
néctar. Refez-se,
vigilante. Reconhecia-se
sob uma espécie de
assistência cuja
eficácia e poder não lhe
cabia agora subestimar.
Passada uma semana em
descanso absoluto, com
entretenimentos de
leitura escolhida pelas
autoridades que a
cercavam, passou a
caminhar no recinto do
quarto. Assinalava,
então, inequívocas
diferenças em si mesmo.
Os pés se lhe
patenteavam leves, como
se o corpo houvesse
diminuído de peso, e,
no cérebro, as ideias
lhe nasciam em
torrente, vigorosas e
belas, quase a se lhe
materializarem diante
dos olhos. Numa tarde em
que se via mais
amplamente estimulada a
reaver os movimentos
normais, abeirou-se da
janela que dava para um
pátio enorme e, do alto
do terceiro andar que a
hospedava, contemplou
dezenas de pessoas a
conversar alegremente,
muitas delas sentadas em
torno de irisada fonte
que se erigia em centro
de florido e extenso
jardim. Aquela sociedade
serena atraiu-a. Com
permissão da enfermeira,
que a escorou nos braços
para a descida, Evelina
dirigiu-se ao grupo de
pessoas que a rodeavam,
parecendo encontrar-se
no meio de vasta família
de criaturas afins pelo
coração, embora
desconhecidas entre si,
qual acontece num
balneário. Todos
convalesciam de
enfermidades, cujos
vestígios eram
facilmente
identificados. Foi
então que percebeu um
homem, não longe de onde
estava, que a fitava,
evidentemente
assombrado. Era Ernesto
Fantini, o improvisado
amigo das termas de
Minas. O coração
bateu-lhe agitado e ela
estendeu, na direção
dele, os dois braços,
dando-lhe a certeza de
que o aguardava, de alma
aberta. Fantini
ergueu-se da poltrona em
que estava e avançou
para ela, a passos
rápidos. – "Evelina!...
Dona Evelina!... Estarei
realmente vendo a
senhora?" – "Eu mesma!",
respondeu-lhe a moça,
chorando de alegria. O
recém-chegado não foi
estranho à emotividade
daquele minuto
inesquecível. Lágrimas
lhe rolaram no rosto
simpático e sisudo,
lágrimas que ele
buscava enxugar,
embaraçado, procurando
sorrir. (Cap. 5, pp. 41
e 42)
(Continua na próxima
semana.)