E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
5)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. A mesma perplexidade
que Evelina sentia
manifestava-se também em
Ernesto Fantini?
Sim. Tudo quanto Evelina
lhe contou havia
acontecido também com
Fantini, inclusive o
fenômeno de
retrospecção, com
lembrança de fatos
ocorridos na existência
ora finda. Ele também,
tal como ela, não
conseguira o mínimo
contacto com seus
familiares. E a
perplexidade de ambos
foi ainda maior ao
constatarem que o
hospital em que se
encontravam não era o
mesmo onde se internaram
para as cirurgias.
(E a Vida Continua, cap.
6, pp. 43 a 45.)
B. A hidroterapia é
usada também no plano
espiritual?
De acordo com o relato
de Fantini, sim. Ele já
tinha ido às termas;
Evelina, não. Fantini
lhe disse que, segundo
soube, a hidroterapia
era ali obrigatória. A
respeito disso, ele
comentou: "Evelina, você
verá que aparelhos
engraçados com que nos
aplicam raios à cabeça,
antes do banho
medicinal. E creia que
todos os doentes acusam
melhoras gradativas.
Desde anteontem, quando
fui à imersão pela
primeira vez, sinto-me
mais lúcido e mais leve,
sempre mais leve..."
(Obra citada, cap. 6,
pp. 45 e 46.)
C. Alguém já tinha dito
a Evelina que ela havia
desencarnado?
Até aquele momento, não.
Foi quando Evelina
abeirou-se de uma
senhora simpática,
presente no pátio do
hospital, e
perguntou-lhe que lugar
era aquele. A matrona
achegou-se perto dela e
de Fantini e, ante o
assombro indisfarçável
de Evelina, informou
que alguém lhe havia
dito que todos ali
estavam mortos, que já
não eram mais habitantes
da Terra. Ao ouvir isto,
Fantini sacou o lenço do
bolso para enxugar o
suor que passou a
escorrer abundantemente
da testa, enquanto
Evelina cambaleou,
prestes a desfalecer...
(Obra citada, cap. 6,
pp. 49 e 50.)
Texto para leitura
17. Dois amigos
perplexos -
Ernesto, denotando fome
de conversação, disse à
Evelina não saber
quantos dias ali estava.
E completou: "Tenho
matutado bastante
naquele nosso
entendimento de Poços de
Caldas, acalentando
sempre a esperança de
revê-la..." Evelina
confidenciou-lhe a
perplexidade em que
vivia e declarou não
lembrar como fora parar
naquela instituição,
porquanto o único fato
de que se recordava com
clareza era o desmaio em
que descambara no tope
de uma crise das piores
que havia atravessado.
Ignorava, pois, quanto
tempo permaneceu
desacordada e andava
intrigada com o
mistério que a
administração fazia em
torno dela, de vez que
não obtivera permissão
para telefonar ao
marido. Fantini a
escutava, atencioso,
sem articular palavra,
e, mostrando estranho
brilho no olhar, admitiu
experimentar idêntica
perplexidade. Revelou,
então, haver sofrido
esquisita fuga de si
mesmo, com a diferença
de que isso lhe
ocorrera, logo após a
cirurgia, quando voltava
para o leito. E
registrara aquele mesmo
fenômeno de
retrospecção, a que
Evelina se reportou em
sua conversa, no qual
se vira repentinamente
devolvido ao passado,
até os dias primeiros da
infância... Depois,
dormira pesadamente e
havia apenas dez dias
que se dera conta de
estar naquele nosocômio.
Sua estupefação era, por
isso, qual a que ela
descrevera, porque não
conseguira também o
mínimo contacto com a
esposa ou a filha, das
quais se despedira na
cela hospitalar, horas
antes da cirurgia a que
se submetera. Os dois
amigos estavam,
efetivamente, perplexos,
sobretudo porque o
hospital em que se
encontravam não era o
mesmo onde se internaram
para as cirurgias.
Fantini pensava até que
estivesse fora de São
Paulo, porque o
firmamento parecia-lhe
um tanto diverso à noite
e a piscina de que se
servira continha água
tenuíssima, embora fosse
compreensível tivesse
aquela casa filtros e
engenhos especiais para
a medicação da água
comum. (Cap. 6, pp. 43 a
45)
18. As dúvidas de
Fantini - Findo
seu relato, perguntou se
Evelina já tinha ido às
termas. Como a resposta
fosse negativa, ele
acrescentou: "Verificará
minha surpresa quando
for até lá",
informando-a de que
soubera que a
hidroterapia era ali
obrigatória. Depois,
sorrindo de modo
significativo, falou:
"Sabe da hipótese mais
razoável? Desconfio de
que nos achamos, com
autorização de nossos
familiares, numa
organização
psiquiátrica. Nada sei
de medicina; no entanto,
estou supondo que os
problemas da
suprarrenal nos
transtornaram a cabeça.
Teremos talvez
enlouquecido, entrando
pelas raias da absoluta
alienação mental e, com
certeza, a segregação
terá sido a providência
aconselhável..." Evelina
quis saber por que ele
pensava assim. Ernesto
explicou: "Evelina, você
verá que aparelhos
engraçados com que nos
aplicam raios à cabeça,
antes do banho
medicinal. E creia que
todos os doentes acusam
melhoras gradativas.
Desde anteontem, quando
fui à imersão pela
primeira vez, sinto-me
mais lúcido e mais leve,
sempre mais leve..."
Lembrou-lhe, então, que,
desde que despertou,
voltara a acusar agudas
crises nos momentos em
que lembrava a mulher e
a filha,
concomitantemente com a
cirurgia, ocasião em que
se via sob asfixia
terrível, a desfalecer
de sofrimento. Evelina
recordou-se de sua
própria experiência, mas
calou-se, porquanto se
sentia cada vez mais
inquieta, ao passo que
Fantini insistia em que
deveriam ter passado por
algum trauma psíquico,
razão de sua
hospitalização e do tipo
de tratamento recebido,
com vistas à reconquista
do próprio equilíbrio. E
relatou que, no dia
anterior, reclamara com
a enfermeira notícias da
família, ao que ela
respondeu: "Irmão
Fantini, esteja
tranquilo. Seus
familiares estão
informados de sua
ausência", acrescentando
que esposa e filha
sabiam que não poderiam
aguardar tão cedo sua
presença em casa. (Cap.
6, pp. 45 e 46)
19. Acesso de
histeria -
"Concluo, salvo melhor
juízo – asseverou
Ernesto Fantini –, que
estivemos, claramente
sem o sabermos, na
condição de alienados
mentais, e decerto
emergimos, agora, com
muito vagar das trevas
psíquicas para o estado
normal de consciência.
Os médicos e
enfermeiros que nos
rodeiam estão plenamente
justificados, quanto ao
propósito de
resguardar-nos contra
quaisquer tipos de
preocupação com a vida
exterior. O menor vinco
de aflição na tela
mental de nossas
impressões do momento,
assim penso, nos traria
talvez grande prejuízo
às emoções e ideias,
qual ocorre a pequena
distorção que desfigura
a simetria das ondas
elétricas." Dito isto,
Fantini, cujos olhos
entremostravam
indisfarçável
mal-estar, lembrou à
amiga que, enquanto ela
possuía religião, ele
era um homem sem fé, e
na conjuntura perigosa
que atravessavam toda a
assistência era
pouca... Ernesto não
terminara a última
frase, quando uma jovem,
num grupo de três que
caminhavam a curta
distância, se rojou ao
chão, como quem fora
subitamente acometida
por violento acesso de
histeria, gritando em
meio de manifesta agonia
mental: "Não!... Não
posso mais!... quero
minha casa, quero os
meus!... Minha mãe?!...
onde está minha mãe?
Abram as portas!...
Bandoleiros! Quem é
bastante corajoso aqui
para derrubar comigo
estes muros? A
polícia!... Chamem a
polícia!..." Uma
senhora, irradiando
paciência e bondade, com
as insígnias de
enfermeira da casa,
surgiu de chofre e,
abraçando,
maternalmente, a menina
revoltada, falou-lhe:
"Filha, quem lhe disse
que não voltará a sua
casa? que não reverá sua
mãe? Nossas portas jazem
abertas... Venha
comigo!..." A jovem,
repentinamente
asserenada pelas mãos
fortes e boas que a
enlaçavam, disse-lhe:
"Ah! irmã, perdoe-me!...
Perdoe-me! Não tenho
razão de queixa, mas
estou com saudades de
minha mãe, sinto falta
de casa! Há quanto tempo
estou aqui, sem qualquer
dos meus? Sei que sou
doente, recebendo o
benefício da cura, mas
por que não tenho
notícias?!..." A
assistente ouviu-a,
calma, e prometeu: "Você
as terá", e,
passando-lhe o braço
carinhoso acima dos
ombros, ajuntou: "Por
agora, vamos ao
repouso!..." A menina,
encostando a loura
cabeça ao peito que lhe
era ofertado,
retirou-se, soluçando,
diante dos olhos de
Evelina e Ernesto, que
contemplaram o quadro,
entre aflitos e
magoados. (Cap. 6, pp.
46 a 48)
20. A
notícia da morte abala
Evelina
- Que ilação recolher da
súplica chorosa da moça
atribulada pela ausência
do ninho doméstico? que
hospital era aquele? um
pronto-socorro para
alienados mentais? um
nosocômio destinado à
recuperação de
desmemoriados? Evelina,
sem sopitar a
curiosidade, abeirou-se
de uma senhora simpática
que acompanhara a cena,
denotando aguda atenção,
e perguntou-lhe:
"Desculpe-me, senhora.
Não nos conhecemos, mas
a aflição em comum nos
torna familiares uns aos
outros. A senhora pode
dar alguma informação,
acerca da pobre menina
perturbada?" A mulher
disse não conhecê-la e
que não sabia nada da
vida de ninguém ali.
Evelina perguntou-lhe,
então, que lugar era
aquele. A matrona
achegou-se perto dela e
de Fantini e, ante o
assombro indisfarçável
de Evelina, informou
que alguém lhe havia
dito que todos ali
estavam mortos, que já
não eram mais habitantes
da Terra. Ao ouvir isto,
Fantini sacou o lenço do
bolso para enxugar o
suor que passou a
escorrer abundantemente
da testa, enquanto
Evelina cambaleou,
prestes a desfalecer...
A desconhecida estendeu
os braços à nova
companheira e
recomendou, preocupada:
"Minha filha,
contenha-se. Temos aqui
dura disciplina. Se
mostrar qualquer sinal
de fraqueza ou rebeldia,
não sei quando voltará a
este pátio..." Ernesto
propôs-lhes, então, que
repousassem, rumando os
três para largo assento
próximo, onde passaram a
descansar. (Cap. 6, pp.
49 e 50)
(Continua na próxima
semana.)