Damos prosseguimento ao estudo metódico de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, terceira das obras que compõem o Pentateuco Kardequiano, cuja primeira edição foi publicada em abril de 1864. As respostas às questões sugeridas para debate encontram-se no final do texto abaixo.
Questões para debate
A. Como o Espiritismo interpreta a recomendação de Jesus: "Procurai primeiramente o reino de Deus e sua justiça"?
B. Chegará um dia em que a Terra não produzirá o suficiente para todos?
C. Qual a tarefa do Espiritismo no tocante à disseminação da caridade?
D. Que sentido tem este ensinamento: "Não vos inquieteis pela posse de ouro ou de prata"?
Texto para leitura
324. Jesus se acercava, principalmente, dos pobres e dos deserdados, porque são os que mais necessitam de consolações; dos cegos dóceis e de boa-fé, porque pedem se lhes dê a vista, e não dos orgulhosos que julgam possuir toda a luz e de nada precisar. (Cap. XXIV, item 12.)
325. Essas palavras, como tantas outras, encontram no Espiritismo a aplicação que lhes cabe, pois há quem se admire de que, por vezes, a mediunidade seja concedida a pessoas indignas, capazes de a usarem mal. Parece (dizem eles) que tão preciosa faculdade deveria ser atributo exclusivo dos de maior merecimento. (Cap. XXIV, item 12.)
326. Digamos, antes de tudo, que a mediunidade é inerente a uma disposição orgânica, de que qualquer homem pode ser dotado, como da faculdade de ver, de ouvir, de falar. Ora, nenhuma há de que o homem, por efeito do seu livre-arbítrio, não possa abusar. (Cap. XXIV, item 12.)
327. Se só aos mais dignos fosse concedida a faculdade de se comunicar com os Espíritos, quem ousaria pretendê-la? Onde, ao demais, o limite entre a dignidade e a indignidade? A mediunidade é concedida sem distinção a todos, para que os Espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes sociais, ao pobre como ao rico, aos retos e aos viciosos. Não são estes últimos os doentes que necessitam de médico? Por que Deus os privaria do socorro que os pode arrancar do lameiro? (Cap. XXIV, item 12.)
328. A mediunidade não implica necessariamente relações habituais com os Espíritos superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos dúctil aos Espíritos em geral. O bom médium, pois, não é aquele que se comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos e somente deles tem assistência. Unicamente neste sentido é que a excelência das qualidades morais se torna onipotente sobre a mediunidade. (Cap. XXIV, item 12.)
329. "Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e ela se vos abrirá; porquanto quem pede recebe e quem procura acha, e àquele que bate à porta, ela se abrirá. Qual o homem, dentre vós, que dá uma pedra ao filho que lhe pede pão? Ou, se pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Ora, se, sendo maus como sois, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, não é lógico que, com mais forte razão, vosso Pai que está nos céus dê os bens verdadeiros aos que lhos pedirem?" (Mateus, VII, 7 a 11.) (Cap. XXV, item 1.)
330. Do ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da inteligência. (Cap. XXV, item 2.)
331. Bem pouca coisa é, imperceptível mesmo, em grande número dos indivíduos, o progresso que cada um realiza individualmente no curso da vida. Como poderia então progredir a Humanidade, sem a preexistência e a sobrevivência da alma? (Cap. XXV, item 2.)
332. Se as almas se fossem todos os dias, para não mais voltarem, a Humanidade se renovaria incessantemente com os elementos primitivos, tendo de fazer tudo, de aprender tudo. Não haveria, nesse caso, razão para o homem se achar hoje mais adiantado do que nas primeiras idades do mundo, uma vez que a cada nascimento todo o trabalho intelectual teria de recomeçar. (Cap. XXV, item 2.)
333. Ao contrário disso, voltando com o progresso que já realizou e adquirindo de cada vez alguma coisa a mais, a alma passa gradualmente da barbárie à civilização material e desta à civilização moral. (Cap. XXV, item 2.)
Respostas às questões propostas
A. Como o Espiritismo interpreta a recomendação de Jesus: "Procurai primeiramente o reino de Deus e sua justiça"?
Deve-se ver nessas palavras de Jesus uma referência alegórica à Providência, que nunca deixa ao abandono os que nela confiam, querendo, no entanto, que esses façam a parte que lhes cabe. De fato, o Pai sempre nos acode, por meio dos benfeitores espirituais, quando nos encontramos em dificuldade, inspirando-nos ideias para que por nós mesmos superemos as agruras e as vicissitudes que se apresentam à nossa frente ao longo da jornada. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXV, itens 6 a 8.)
B. Chegará um dia em que a Terra não produzirá o suficiente para todos?
Não. A Terra sempre produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, desde que os homens saibam administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela nos dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência do outro, e cada um terá o necessário. (Obra citada, cap. XXV, item 8.)
C. Qual a tarefa do Espiritismo no tocante à disseminação da caridade?
A caridade e a fraternidade não se decretam por meio de leis. Se uma e outra não estiverem no coração da pessoa, o egoísmo aí sempre imperará. Cabe ao Espiritismo fazê-las penetrar nele, revelando qual é o verdadeiro sentido da caridade e mostrando os benefícios que sua prática traz às pessoas, à sociedade e ao planeta em que vivemos. (Obra citada, cap. XXV, item 8.)
D. Que sentido tem este ensinamento: "Não vos inquieteis pela posse de ouro ou de prata"?
A par do sentido próprio, essas palavras guardam um sentido moral muito profundo. Ao proferi-las, Jesus quis mostrar-nos que há coisas mais importantes na vida, bens que o ladrão não rouba e a traça não consome, que são os valores espirituais, que conservaremos para sempre, ao passo que o ouro e a prata, assim como tudo que é material, constituem valores transitórios que não nos pertencem de fato e que, portanto, teremos de deixar quando retornarmos à verdadeira vida. (Obra citada, cap. XXV, itens 9 a 11.)