E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
10)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Por que Fantini não
enfrentou o estado de
perturbação e de
tormentos que dizem ser
comum aos que voltam ao
além-túmulo?
O Instrutor Ribas,
respondendo a semelhante
pergunta, disse: "O
estado de tribulação a
que se refere é
pertinente ao espírito e
não ao lugar. Muitos de
nós, os desencarnados,
suportamos tempos
difíceis, em paisagens
determinadas que nos
refletem as próprias
perturbações íntimas.
Essa anomalia pode
perdurar por muito
tempo, de conformidade
com as nossas
inclinações e esforço
indispensável para que
nos aceitemos,
imperfeitos como ainda
somos, conquanto não
ignoremos a necessidade
de burilamento que as
leis da vida nos
estabelecem." Nosso
dever, ante a Vida
Maior, é podar os nossos
defeitos em trabalho
digno e incessante.
"Enquanto estejamos em
desequilíbrio, após a
desencarnação,
desequilíbrio que é
sempre agravado pela
nossa inconformidade ou
rebeldia, orgulho ou
desespero, ameaçando a
segurança dos outros,
permaneceremos
compreensivelmente
internados ou segregados
em faixas de espaço,
junto de quantos
evidenciem perturbações
ou conflitos semelhantes
aos nossos, à maneira de
doentes mentais,
afastados do convívio
doméstico para
tratamento justo."
(E a Vida Continua, cap.
11, pp. 82 a 84.)
B. A fé demonstrada
pelos Espíritos
assistidos pelo
Instituto tinha alguma
influência sobre o
socorro que eles ali
recebiam?
Sim. O socorro prestado
pela Casa fazia-se mais
eficaz quanto mais força
de fé mostrasse a
criatura na
possibilidade de
superação de suas
fraquezas. Foi o que
ocorria com Fantini,
cuja estrutura
psicológica o imunizara
contra os delírios que
acometem muita gente boa
e digna que, às vezes,
se abriga por muito
tempo nas aflições
purgativas dos grande
manicômios, sanando os
desequilíbrios a que se
despenha, por haver
dado, em muitos casos,
orientação falsa ao amor
de que se nutria.
(Obra citada, cap. 11,
pp. 84 e 85.)
C. Que atividades e
entretenimentos Evelina
e Fantini encontraram em
seus passeios pela
cidade em que o
Instituto se localizava?
Sempre que podiam, eles
frequentavam
bibliotecas, jardins,
instituições e
entretenimentos
diversos, como se
estivessem em tranquila
colônia de férias. E
Evelina pôde também
realizar ali um de seus
maiores anelos:
participar de um culto
religioso, que foi
realizado em um templo
muito simples, em que no
interior tudo era
espontaneidade e
harmonia.
(Obra citada, cap. 12,
pp. 88 a 90.)
Texto para leitura
37. Cada um de nós
pune a si mesmo
- Fantini compreendia,
finalmente, que ali, na
cidade espiritual, era
ele examinado pelo que
fora, nas ações
praticadas, no tempo de
retaguarda mais próximo.
Permaneceria, pois, como
identificado na ficha
individual, até que as
circunstâncias lhe
indicassem nova imersão
no corpo carnal, como
recurso inevitável aos
objetivos de burilamento
a que todos visamos, nas
lides da vida eterna. O
que ele não entendia era
o motivo por que não lhe
acontecera o estado de
perturbação e de
tormentos que lhe
disseram ser comum aos
que voltam ao
além-túmulo. "O estado
de tribulação a que se
refere – informou Ribas
– é pertinente ao
espírito e não ao lugar.
Muitos de nós, os
desencarnados,
suportamos tempos
difíceis, em paisagens
determinadas que nos
refletem as próprias
perturbações íntimas.
Essa anomalia pode
perdurar por muito
tempo, de conformidade
com as nossas
inclinações e esforço
indispensável para que
nos aceitemos,
imperfeitos como ainda
somos, conquanto não
ignoremos a necessidade
de burilamento que as
leis da vida nos
estabelecem." Nosso
dever, ante a Vida
Maior, é podar os nossos
defeitos em trabalho
digno e incessante.
"Enquanto estejamos em
desequilíbrio, após a
desencarnação,
desequilíbrio que é
sempre agravado pela
nossa inconformidade ou
rebeldia, orgulho ou
desespero, ameaçando a
segurança dos outros,
permaneceremos
compreensivelmente
internados ou segregados
em faixas de espaço,
junto de quantos
evidenciem perturbações
ou conflitos semelhantes
aos nossos, à maneira de
doentes mentais,
afastados do convívio
doméstico para
tratamento justo." A
Divina Providência nos
governa através de leis
sábias e imparciais.
Cada um de nós pune a si
mesmo, nos artigos dos
Estatutos Excelsos que
haja infringido. A
Justiça Eterna funciona
no foro íntimo de cada
pessoa, determinando que
a responsabilidade seja
graduada ao tamanho do
conhecimento.
Como definir, desse
modo, o inferno criado
pelas religiões do
planeta? "Reportemo-nos
a isso – informou o
Instrutor – com o
respeito que o assunto
nos reclama, porque para
milhões de almas o
desconforto mental a que
se entregam, ao lado de
outras nas mesmas
condições, é
perfeitamente comparável
ao sofrimento do inferno
teológico, imaginado
pelas crenças humanas."
(Cap. 11, pp. 82 a 84)
38. Fantini
confessa ter matado um
amigo - O
inferno – prosseguiu
Ribas – deve ser
interpretado com um
hospício, onde amargamos
as consequências de
faltas cometidas, no
fundo, contra nós
mesmos. É fácil
perceber, então, que a
área de espaço em que
nos demoramos nessa
desoladora situação
venha a retratar os
quadros mentais
infelizes que criamos e
projetamos ao redor de
nós. Ao ouvir isto,
Fantini confessou não
merecer a generosidade
com que o acolhiam.
"Tenho desfrutado aqui –
informou Fantini – uma
tranquilidade que não
esperava, porquanto
transporto comigo
doloroso problema de
consciência..." Ribas
lhe disse que uma das
funções do Instituto era
precisamente apoiar os
irmãos desencarnados que
ali surgiam, carreando
consigo complexos de
culpa, suscetíveis de
arrojá-los em alterações
de maior vulto. O
socorro prestado pela
Casa fazia-se mais
eficaz quanto mais força
de fé mostrasse a
criatura na
possibilidade de
superação de suas
fraquezas. A estrutura
psicológica de Fantini o
imunizara contra os
delírios de muita gente
boa e digna que, às
vezes, se abriga por
muito tempo nas aflições
purgativas dos grande
manicômios, sanando os
desequilíbrios a que se
despenha, por haver
dado, em muitos casos,
orientação falsa ao amor
de que se nutria. Mas
ele precisava
revestir-se de calma
para comparecer diante
daqueles que deixara no
mundo, de modo a
compreender-se e
compreendê-los... Os
olhos de Ernesto
fizeram-se esbugalhados
ao ouvir essa
advertência e,
ajoelhando-se à frente
do benfeitor, ele
gritou: "Instrutor,
segundo creio, meu
delito é um só;
entretanto, é
suficiente para criar
muitos infernos em meu
espírito. Matei um
amigo, há mais de vinte
anos, e nunca mais tive
paz... Sabia-o no
encalço de minha esposa
com intenções menos
dignas, a espreitar-lhe
os passos e atitudes...
Via-o sondar minha casa,
em minha ausência...
Algumas vezes, registei
frases inconvenientes da
parte dele para com
aquela que me partilhava
o nome... Um dia, tive a
impressão de surpreender
nos olhos da companheira
certa inclinação afetiva
para com o inimigo de
minha tranquilidade e,
muito antes que minhas
suposições se
confirmassem,
aproveitei o momento
que se me figurou
oportuno e alvejei-o
durante uma caçada a
codornas..." (Cap. 11,
pp. 84 e 85)
39. Fantini nunca
mais teve paz na própria
casa -
Satisfeito seu intento,
Fantini ocultou-se na
folhagem, até que o
outro companheiro de
caçada – pois eram três
no entretenimento – deu
alarme ao esbarrar com o
cadáver. A vítima caíra,
no entanto, em condições
tais que a versão de
acidente convenceu a
todos. Jamais, porém,
Fantini recuperou o
sossego íntimo. O homem
que ele eliminara era
casado, e sua família,
que jamais visitara,
abandonou a região logo
depois, sequiosa de
esquecimento. A morte
trouxera, contudo, para
dentro de sua casa o
temido desafeto e, desde
a ocorrência dolorosa,
passou a sentir-lhe a
presença no lar, como
sombra invariável que o
insultava e ironizava
sem que ninguém
percebesse. Rara foi a
noite em que não lutara
com ele em sonho, antes
da cirurgia que motivou
sua vinda para o
Instituto. "Oh!
Instrutor Ribas!
Instrutor Ribas!...
Diga-me, por Deus, se há
remédio para mim!...",
exclamou Fantini. E,
assim dizendo,
abraçou-se ao mentor,
soluçando qual menino
desamparado, a suplicar
refúgio. Ribas acolheu-o
no regaço paternal e
consolou-o:
"Asserena-te, meu
filho!... Somos
espíritos eternos e
Deus, nosso Pai, não nos
deixará sem arrimo".
Depois, afagando-lhe a
cabeça fatigada,
rematou simplesmente: "A
justiça de Deus não vem
sem apoio na
misericórdia.
Confiemos!..." (Cap. 11,
pp. 85 a 87)
40. No templo
- Passadas algumas
semanas, Ernesto e
Evelina achavam-se mais
adaptados ao ambiente e
sentiam-se cada vez mais
vinculados um ao outro.
Sensivelmente
melhorados, desfrutavam
a permissão de se
movimentarem na cidade,
como quisessem,
sendo-lhes lícito
visitar os arredores,
onde se encontravam
milhares de Espíritos
infelizes, apenas com
assistência adequada.
Ambos desejavam muito
rever o antigo lar
terrestre, mas as
autoridades entendiam
que, para isso, era
imprescindível maior
preparação.
Frequentavam, pois,
bibliotecas, jardins,
instituições e
entretenimentos
diversos, como se
estivessem em tranquila
colônia de férias, até
que chegou o dia em que
Evelina pôde realizar um
dos seus maiores anelos
naquela cidade: um culto
religioso em que alguém
faria uma pregação sobre
o tema "Julgamento e
Amor". O templo primava
pela simplicidade,
figurando-se enorme
pombal edificado com
franjas de neve
translúcida, defendido,
aqui e ali, por densas
faixas de arvoredo. No
interior, tudo era
espontaneidade e
harmonia. A fila extensa
de bancos deixava ver o
púlpito à frente, que
assumia a feição de
enorme liliácea,
esculpida em mármore
alvíssimo. Na parede
muito branca, diante da
assistência, sob as
legendas "Templo da Nova
Revelação", "Casa
Consagrada ao Culto de
Nosso Senhor
Jesus-Cristo", ao invés
de quaisquer símbolos ou
esculturas, jazia apenas
uma tela, recordando o
semblante presumível do
Divino Mestre, cujos
olhos na excelsa pintura
pareciam falar de vida e
onipresença. (Cap. 12,
pp. 88 a 90)
(Continua na próxima
semana.)