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Estudando as obras de Manoel Philomeno de Miranda
Ano 7 - N° 325 - 18 de Agosto de 2013
THIAGO BERNARDES
thiago_imortal@yahoo.com.br
 
Curitiba, Paraná (Brasil)  
 

 

Painéis da Obsessão

Manoel Philomeno de Miranda 

(Parte 25)

Damos continuidade ao estudo metódico e sequencial do livro Painéis da Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda, obra psicografada por Divaldo P. Franco.

Questões preliminares

A. Vendo a inutilidade da pugna verbal com Felipe (Espírito), Argos orou. Sua oração foi sincera?

 

Sim. Recuando em sua presunção, entre lágrimas de sincero sofrimento, ele orou, contrito, rogando a ajuda do Pai Celeste para ele e todos os envolvidos nas lamentáveis tramas do pretérito. A rogativa, que pedia ao Criador socorro e piedade para Felipe e misericórdia para os seus próprios atos, estava ungida de arrependimento e assinalada de propósitos de justa reabilitação. (Painéis da Obsessão, cap. 28, pp. 233 a 235.)


B. Que propósito tinham os antigos hussitas?


Os hussitas preconizavam um Cristianismo novo, pelo qual se imolou João Huss, em eloquente testemunho de amor ao ideal, sem qualquer rancor por aquele que, lhe dando o salvo-conduto para ser interrogado pelo concílio de Constança, traiu-o, abandonando-o nas mãos dos seus inimigos gratuitos.
(Obra citada, cap. 28, pp. 235 e 236.)


C. Quando a gente não dispõe de forças para perdoar, que é que acontece?


Essa pergunta foi feita por Felipe (o obsessor de Argos), depois de ouvir uma longa preleção de Irmã Angélica a respeito do perdão e de seus incontáveis benefícios. “E se eu não dispuser de forças para o perdoar?” Ante essas palavras de Felipe, a benfeitora respondeu: “Deus to concederá, por ser Ele a fonte donde se origina todo o bem. O amor encontra ressonância e recebe carga de revigoramento na razão direta em que ama. Todavia, se encontras momentaneamente impedimento para luarizar-te com o amor, vê o problema pela ótica do outro que te padece o cerco feroz e desculpa-o. Observa-o: abatido e lacerado, não é o mesmo de ontem, orgulhoso e dominador. Ele se te submete e pede-te trégua. Não é melhor doar do que receber? Cessada a tua fúria, quando concluído o teu plano nefasto, não o alcançarás, além da morte, porque ele estará liberado da culpa, enquanto tu cairás no abismo da dívida. Que farás, a partir de então? Reflete agora, enquanto ainda podes recuar. Um pouco mais e será tarde demais.”
(Obra citada, cap. 28, pp. 236 a 238.)

 

Texto para leitura
 

110. Uma catarse necessária - Após a promessa de vingança, Felipe irrompeu num riso sardônico e continuou: “Também ela – referia-se a Áurea – não me escapará. Quando dois se entendem emocionalmente numa barca é porque são do mesmo estofo. Eles são iguais e não a esquecerei. No coração de uma mulher que trai, abre-se uma ferida que somente cicatriza quando o ultraje lhe corrige as carnes esfaceladas. A sua anuência é passível de correção. Ele, de hoje, é o mesmo de ontem; ela disfarça-se mas prossegue... Outro será o método de cobrança em relação à sua pessoa. Falta-me, aqui, para a arrancada final, Maurício, também já sob controle, que forma o trio escabroso que retorna, a fim de que os purifiquemos com o fogo da reparação. Cada um receberá de acordo com o grau da própria responsabilidade, mas ninguém ficará impune, prosseguindo seu reajustamento. Tudo será uma questão de oportunidade e cada qual, a seu turno, será chamado à prestação de contas”. Assim que escutou o nome de Maurício, Argos despertou, como se o identificasse no inconsciente, e passou a chamá-lo seguidas vezes. Depois identificou Felipe, embora somente os contornos, que lhe assomou da memória, estarrecendo-o e assustando-o, a ponto de gritar, asfixiado: “Sombra infernal, deixa-me”. Interessante notar que, salvo a postura vigilante de Bernardo, ninguém do grupo se movimentou. Era preciso essa fase inicial, numa catarse espontânea dos litigantes, de modo a facilitar a aplicação oportuna das medidas compatíveis. A ação transcorria, por isso, diretamente, sem o uso de médiuns. Ao ouvir o grito de Argos, Felipe replicou: “Identificas-me, infame? Desperto-te a consciência culpada? Chamas-me sombra infernal, e tu, quem és? É verdade que tenho vivido num inferno, mas foste quem acendeu as labaredas em que ardo, no longo transcorrer dos decênios. Fugiste para o corpo, não sei mediante qual artifício de que te utilizaste, e gozas a delícia do esquecimento, enquanto eu tenho-te na mente e nas dores, vendo outras vítimas tuas que não conseguiram ainda qualquer lenitivo para as misérias que carregam, como consequência das torpezas com que as atingiste. Sorris, enquanto choramos; sonhas com a felicidade e nós sofremos pesadelos e horrores; planejas o futuro e vivemos no passado por tua culpa, em razão da tua infame covardia moral aliada à tua impiedade. Temes a nós? Já vivemos essa estranha sensação em relação a ti... Agora que te chega a vez, como te atreves a chamar-me de sombra infernal?! Tu, sim, és o demônio real, escondido num corpo que destróis com as tuas próprias construções mentais terrificantes...” (Cap. 28, pp. 231 e 232.)


111. Argos chora arrependido e apela para o Pai Celeste - Argos, com voz debilitada e muito trêmulo, respondeu às acusações de Felipe: “Nunca te prejudiquei, pelo desejo de fazer-te mal. O que fiz, tinha que o fazer. Estávamos em dias de lutas religiosas e eu amava, não podendo viver sem Áurea...” Felipe retrucou: “Como podes ser tão cínico e egoísta, que somente pensas em ti. Dizes que a amavas. E eu, por acaso, não era o seu esposo, quando ma roubaste? Não podias viver sem ela e, para consegui-lo, ma tomaste, ceifando-me a vida com o apoio do teu companheiro de traição? Isto é desculpa com que alguém justifique os seus crimes? Pois bem, devolverei a escusa: já que não posso viver sem vingar-me de ti, apressarei a tua libertação, ajudando-te a sair do corpo, mediante golpes sucessivos que te destruam a existência. Não mudaste nada. Permaneces ególatra e sádico, mas não o serás por muito mais tempo, eu te prometo... Virás já para cá e acertaremos dívidas. Primeiro eu cobrarei minha parte, depois os outros a quem vilipendiaste, deixando-os arrasados, sem qualquer compaixão”. Atingido no âmago do ser, Argos, quase desfalecido, suplicou: “Tem clemência. Eu estava louco e não tinha dimensão da minha insânia. Não cometas comigo o mesmo erro que tive para contigo. Necessito do corpo...” Felipe respondeu-lhe afirmando que o perdoaria, sim, se o houvesse prejudicado apenas uma vez. Lembrou-lhe então o episódio de Arpaillargues, onde se reencontraram e de novo se detestaram. “Firmado nos mesmos falsos postulados das religiões que dividem os homens e os matam, novamente me destruíste o corpo e o lar.” “Por quê?”, indagou-lhe Felipe, dizendo que havia aquiescido com o pedido feito por Irmã Angélica, por ocasião da moratória, providência que entendia ter sido inútil, porque, de novo, ele (Argos) não soubera aproveitar a ajuda recebida. Profundamente atingido pelas recordações que não o favoreciam, Argos compreendeu a inutilidade da pugna verbal e, ante a avalanche de acusações, recuando em sua presunção, entre lágrimas de sincero sofrimento, pela primeira vez orou, contrito, rogando a ajuda do Pai Celeste para ele e todos os envolvidos nas lamentáveis tramas do pretérito. (Cap. 28, pp. 233 e 234.)

 

112. Jesus, o Herói da Fraternidade, é o fomentador da paz - A rogativa de Argos – que pedia ao Criador socorro e piedade para Felipe e misericórdia para os seus próprios atos – estava ungida de arrependimento e assinalada de propósitos de justa reabilitação. Nesse clima, ante o apelo superior da vítima, Irmã Angélica fez-se notar por ambos e, com doçura, falou, intentando acalmar os ânimos exaltados: “Filhos da Grande Luz! Por que a permanência na treva, se tendes em gérmen a divina potência que vos pode arrancar da perturbação e da noite que agasalhais? Não será justo que silencieis argumentações absurdas, a fim de meditardes nos profundos ensinamentos do amor? Viveis por um ato de amor do Excelso Pai, que vos programou para a plenitude, para a felicidade total. Apegai-vos a nugas indignas de examinadas sob o ponto de vista do bem e aferrai-vos em polêmicas apaixonadas, nas quais o predomínio dos instintos primevos se manifesta, imperioso, dominador. Libertai-vos da inferioridade, antes que seja tarde demais. Arrebentai as algemas do ódio, antes que ele vos despedace. Para que a vossa noite pavorosa se modifique, é necessário aumentar a divina fagulha que jaz latente em vós, com os santos combustíveis do amor, dando-vos oportunidade um ao outro, sem cogitar de quem dará o primeiro passo. Este que o faça, certamente será o mais ditoso. A fornalha do ódio combure sem cessar e não tem controle de temperatura. Só a interferência da mão do amor consegue girar ao contrário a chave que apaga o calor que consome... Movimentai-vos já, não ressumando recordações que mais aumentam a intensidade do vosso sofrimento. Ouvi-me!” Fez-se uma pausa oportuna. Argos estava trêmulo e chorava muito. Felipe não conseguia dominar o próprio desequilíbrio. Os demais oravam com amor e interesse de paz. A Benfeitora, qual mãe afetuosa que reunisse dois filhos doentes, num mesmo amplexo, prosseguiu: “Viveste, no passado, o clima de religiões cristãs que, embora diferentes na interpretação, proclamam a excelência do ‘amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo’. Desencadeastes combates, uns contra os outros, erguendo o estandarte da fé que ocultava os vossos interesses vulgares e egoístas, longe do amor a Deus, do respeito ao irmão, enceguecidos pela volúpia dos desejos infrenes. Os antigos hussitas preconizavam um Cristianismo novo, pelo qual se imolou João Huss, em eloquente testemunho de amor ao ideal, sem qualquer rancor por aquele que, lhe dando o salvo-conduto para ser interrogado pelo concílio de Constança, traiu-o, abandonando-o nas mãos dos seus inimigos gratuitos... Por sua vez, os sigismundistas, dizendo-se fiéis à velha Igreja, que se apresentava erigida sobre o exemplo de Jesus e dos Seus primeiros Discípulos, negavam, pelos atos, a sua filiação à verdade. Estalada a guerra dos interesses subalternos, as paixões religiosas encobriam-nas, causas reais dos torpes conflitos que se arrastaram por largos anos de destruição de parte a parte. Jesus, no entanto, foi e prossegue sendo o Herói da Fraternidade, o grande fomentador da paz. Já os que se dizem seus discípulos, promovem matanças, asselvajam-se nos combates por eles mesmos urdidos, escravizam-se em largos períodos de dor, que têm de recuperar...”(Cap. 28, pp. 235 e 236.)


113. A lógica da Lei de Deus é convincente - Irmã Angélica silenciou e, em seguida, acrescentou: “Nada que justifique a insânia de Argos, naquela ocasião e menos, depois. Todavia, o ódio não se encontra inscrito em página alguma do Livro da Vida. É de origem humana, na faixa limítrofe com a linha animal, em que predomina o instinto... A inteligência mal conduzida transforma a agressividade primitiva em programa de vingança e a racionaliza mediante sistemática compulsão sinistra, que transforma o impulso primevo em ódio que aguarda a presa e pensa devorá-la. Os animais, todavia, atacam, quando atacados ou com fome e, mui raramente, pela preservação da vida. O homem, não. Elabora o plano, enlouquece, a pouco e pouco, até o momento do desforço em que se diz comprazer. E depois? A sensação de vazio que lhe toma a mente, antes repleta de ideias lúgubres, constitui-lhe uma forma também de reparação que o leva ao desvario completo, até quando a reencarnação o traz de volta à bênção do esquecimento. Sabemos que os crimes praticados por Argos clamam aos Céus e os mesmos não estão esquecidos pela Divina Providência. No entanto, os recursos reparadores far-se-ão presentes por intermédio de outros métodos, os que não geram novas calamidades, nem desarmonizam os códigos de amor, que vigem em toda parte. Ninguém tem o direito de erguer a clava da justiça, fazendo-se regularizador de débitos, porque quase todos temos compromissos na retaguarda esperando por nós. Não vos consideramos vítima e algoz, respectivamente, senão vitimados em vós próprios pela incúria, pela precipitação, já que renteais nas graves conjunturas de reincidentes no erro... Argos agrediu Felipe e o vilipendiou, é certo. Todavia, não estavas sem culpa. Tua consciência, filho, encontrava-se acorrentada a escabrosidades do passado, muito mais cruéis do que as sofridas. Ele não poderia ter-te afligido. Ao fazê-lo, porém, libertava-te do mal, caso o houvesse perdoado. Que fizeste, por tua vez? Censuras-lhe a conduta e programas vingança. No entanto, sem que o amor apague esse círculo vicioso de chamas atiçadas pelo ódio, prosseguirás, sendo, mais tarde, a tua vez de lhe voltares a sofrer investidas. Não se extinguindo jamais a vida, todo o empenho deve ser feito de modo a fruí-la em paz quanto antes. Por que adiar indefinidamente a hora da felicidade que poderia ser experimentada desde já? Ouve-me: não percas a oportunidade de ser aquele que perdoa, que inicia novo programa de fraternidade que mais a ti beneficiará do que a outrem qualquer. Ante Jesus crucificado, quem era o vencedor? Ele ou aqueles que O conduziram ao supremo sacrifício? A História, no primeiro, encontra emulação para a luta de sublimação e, nos outros, defronta o exemplo da covardia moral, da mesquinhez... Todos passaram, menos o Justo imolado sem culpa”. Concluída a exortação de Irmã Angélica, Felipe, em pranto de revolta, perguntou: “E se eu não dispuser de forças para o perdoar?” “Deus to concederá – respondeu a Benfeitora –, por ser Ele a fonte donde se origina todo o bem. O amor encontra ressonância e recebe carga de revigoramento na razão direta em que ama. Todavia, se encontras momentaneamente impedimento para luarizar-te com o amor, vê o problema pela ótica do outro que te padece o cerco feroz e desculpa-o. Observa-o: abatido e lacerado, não é o mesmo de ontem, orgulhoso e dominador. Ele se te submete e pede-te trégua. Não é melhor doar do que receber? Cessada a tua fúria, quando concluído o teu plano nefasto, não o alcançarás, além da morte, porque ele estará liberado da culpa, enquanto tu cairás no abismo da dívida. Que farás, a partir de então? Reflete agora, enquanto ainda podes recuar. Um pouco mais e será tarde demais.” Desconcertado emocionalmente, Felipe insistiu: “Não poderei ficar a vê-lo ditoso, enquanto eu prosseguirei a verter pranto e triturar-me na revolta”. “Confia, filho, e espera!” – retrucou-lhe a Mensageira da paz. “Providenciaremos para que tornes ao corpo e, no cadinho purificador da convivência fraternal, sejam superadas as restantes dificuldades.” Foi aí que, trazido por conhecida enfermeira alemã, chegou ao recinto o Espírito de Áurea, que, com relativa lucidez, deu-se conta do que estava ocorrendo e abraçou o esposo muito aflito. (Cap. 28, pp. 236 a 238.)
(Continua no próximo número.) 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita