Sobre as
Mocidades Espíritas
E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e
na comunhão e no
partir
do pão e nas orações. (Atos,
2:42.)
Pelo nosso país afora,
há inúmeros grupos de
mocidades espíritas,
construídos em formatos
diferentes, com formas
diversas de trabalhar o
conteúdo e com propostas
distintas de programação
e mediação de estudo. O
que, então, subsume
todos esses grupos sob
um mesmo nome? Qual a
característica central
da mocidade espírita? O
que é mocidade, afinal
de contas?
Primeiramente, a
mocidade é um grupo de
jovens. A definição de
jovens, porém, não
apresenta consenso.
Órgãos como a ONU
(Organização das Nações
Unidas) ou o Banco
Mundial estipulam a
idade de 15 a 24 anos; a
definição da OMS
(Organização Mundial da
Saúde) engloba meninos e
meninas a partir de 10
anos, e o congresso
brasileiro, desde 2010,
considera que a faixa da
juventude é compreendida
entre 16 e 29 anos. Para
trabalhadores espíritas
que conheceram a
doutrina espírita na
mocidade, como o caso de
Raul Teixeira, a
juventude vai até os 25
anos de idade. Seja como
for, é o período em que
paulatinamente deixa-se
o estágio infantil, e
boa parte do aprendizado
e das interações sociais
deixa de ser feita em
ambientes doméstico e da
escola; os níveis de
interação social
tornam-se maiores e a
independência do reduto
familiar cresce
gradativamente. Pode-se
considerar, em espectro
amplo, que a idade para
a mocidade é de 13 a 30
anos, sem excluir
especificidades e
variações possíveis em
diferentes contextos.
O grupo de mocidade é,
então, um grupo de
jovens que se reúnem na
Casa Espírita para
estudar o Espiritismo.
Herculano Pires
considera que a função
primordial do centro
espírita é divulgar a
doutrina espírita,
consistindo essa missão
em uma tarefa de
educação. Assim,
definiremos Mocidade
Espírita como lugar
privilegiado de
interações entre jovens
no qual se busca a
construção de uma
compreensão global da
doutrina espírita e das
consequências práticas
desta para a vida.
Entretanto, para que
esse espaço seja, de
fato, privilegiado, é
necessário que se
compreenda como é o
trabalho com a
juventude.
Contando com apenas um
encontro por semana, a
mocidade não dispõe da regularidade
que tem a escola.
Lidando diretamente com
sujeitos que querem ser
desafiados, que gostam
de compreender e
discutir os temas, que
possuem uma série de
anseios e curiosidades
próprios da
adolescência, diferem-se
das crianças, com quem,
na maioria das vezes,
não gostam mais de ser
comparados. Com um tempo
de atenção voluntária
reduzido, desejo
excessivo de interação e
vontade de conhecer o
outro, não se adaptam
facilmente ao modelo
eminentemente
expositivo, típico das
palestras públicas.
Para buscar o melhor
trabalho com essa faixa
etária, é necessário
atentar para fatores
como o conhecimento do
público específico, a
seleção adequada dos
conteúdos e as formas de
mediar os estudos. Essas
facetas do grupo de
mocidade estão
inexoravelmente
interligadas, e devem
ser consonantes com os
objetivos propostos para
o trabalho. Diante de
tudo isso, a todo
momento o coordenador
deve se questionar,
avaliar sua atuação, a
resposta dos jovens e as
possibilidades de ir
além do trabalho feito.
Na nossa opinião, além
das especificidades de
cada grupo, há um
elemento importante para
todos os grupos de
juventude espírita: a
afetividade. Nosso Raul
Teixeira ressalta a
necessidade de o
coordenador saber
fazer-se amigo dos
jovens. Não basta ser um
excelente conhecedor da
doutrina ou um exímio
palestrante: o coração
do jovem se abre quando
nos abrimos, por nossa
vez, para ouvi-los e
compreendê-los. A
tendência da juventude
para formar grupos e
“tribos” tende a
encontrar na mocidade
espírita, quando vivida
dentro dos ditames da
fraternidade cristã e do
carinho ao próximo, um
espaço de vivência
diferenciado e rico, em
que as amizades formadas
compartilham a crença em
um espírito que
sobrevive à carne, na
justiça divina da
reencarnação e no
imperativo do amor e da
transformação moral.
A convivência fraternal
é importante em todos os
ambientes e trabalhos de
uma casa, mas encontra
necessidade especial
dentro do grupo de
jovens, repleto de
sujeitos em busca de
fundamentos, de
alicerces e de caminhos
seguros por tomar. É
preciso fazer do abraço
e da palavra amiga
elementos primordiais
dentro do grupo de
mocidade espírita, não
pela cordialidade
flácida e insincera que
minora os verdadeiros
esforços pela
regeneração, mas sim
pela verdadeira comunhão
de almas e criação de
vínculos fortes de amor
fraterno, que
possibilitarão uma troca
potencializada de
conhecimentos,
experiências e emoções.
Por isso perseveravam os
apóstolos em suas
abençoadas atividades;
por isso serão
conhecidos os discípulos
do Cristo.