E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
12)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Por que Deus permite
que se formem no plano
espiritual quistos de
perturbação e desordem?
A esta pergunta
formulada por Fantini,
Irmão Cláudio disse que
a Divina Providência não
interfere no campo da
inteligência corrompida
no mal, porque o
Criador quer que as
criaturas sejam deixadas
livres para escolherem o
caminho de evolução que
melhor lhes pareça. Deus
quer que todos os seus
filhos tenham a própria
individualidade, creiam
nele como possam,
conservem as inclinações
e gostos mais
consentâneos com o seu
modo de ser, trabalhem
como e quanto desejem e
habitem onde quiserem.
"Somente exige – e exige
com rigor – que a
justiça seja cumprida e
respeitada", acentuou
Cláudio. "A cada um será
dado segundo as suas
obras. Todos
receberemos, nas Leis da
Vida, o que fizermos,
pelo que fizermos,
quanto fizermos e como
fizermos."
(E a Vida Continua, cap.
13, pp. 98 e 99.)
B. Na região onde a
perturbação era a
tônica, quase todos
exibiam roupas
estranhas. Por quê?
Cláudio esclareceu: "De
modo geral, os milhares
de irmãos que se abrigam
nestas paragens não se
aceitam como são.
Habituaram-se de tal
maneira às simulações –
aliás, muitas vezes,
necessárias – da
experiência física, que
se declaram ofendidos
pela verdade. Viveram,
anos e anos, na esfera
carnal, desfrutando essa
ou aquela consideração
pelos valores de
superfície que exibiam,
enfatuados, e não se
conformam com a
supressão dos enganos e
privilégios imaginários
de que se alimentavam...
Narcisos fixados à
própria imagem na
retaguarda...”. Segundo
o instrutor, muitos se
transferiram diretamente
da vida física para
aquela região nebulosa,
onde expunham sua
própria natureza, uns
diante dos outros,
asilando-se no vale de
sombras geradas por eles
mesmos.
(Obra citada, cap. 13,
pp. 99 a 101.)
C. Naqueles sítios
existiam cidades?
Sim. Existiam cidades,
vilarejos, povoações e
aldeamentos vários, em
cujo seio Espíritos de
inteligência vigorosa,
porém pervertida,
dominavam enormes
comunidades de Espíritos
menos hábeis no comando
das situações, mas tão
pervertidos, via de
regra, quanto eles
mesmos. Eram, na
verdade, criaturas
enfermas, tanto quanto
os alienados mentais de
qualquer hospício
situado na Crosta.
(Obra citada, cap. 13,
pp. 99 a 101.)
Texto para leitura
45. O Umbral
- Cláudio informou que
aquelas máquinas eram
aparelhos volantes, em
que viajavam comissões
de trabalho, em tarefas
de identificação e
assistência. A
necessidade de tais
aparelhos decorria da
extensão da região a ser
atendida. Ernesto
perguntou se os
viajantes,
desencarnados como são,
não poderiam seguir
adiante, sem esses
aparelhos, usando o
poder de volitação que
lhes era próprio. O
chefe da expedição
respondeu: "Tudo na vida
se rege por leis. Um
pássaro terrestre possui
asas e foge do campo
incendiado, por não
suportar-lhe a cortina
de fumo. Um bombeiro, a
fim de penetrar numa
casa invadida de fogo,
veste roupa defensiva.
Achamo-nos à frente de
perigosa extensão de
espaço, habitada por
milhares de criaturas
rebeldes que constroem,
à custa dos próprios
pensamentos em desvario,
o ambiente desolado que
se nos impõe à vista.
Aí, nesse mundo
diferente, somos
defrontados pelas mais
estranhas edificações,
todas elas caricaturas
dos abrigos domésticos
de que os donos abusaram
na experiência física,
uma verdadeira floresta
de fluidos condensados,
retratando as ideias e
manias, ambições e
caprichos, remorsos e
penitências dos
moradores. Temos aí,
nessa faixa umbralina,
todo um estado
anárquico, em que o
individualismo se
desborda na hipertrofia
da liberdade, sem os
constrangimentos
benéficos da disciplina,
que nos faz realmente
livres pela voluntária
sujeição de nossa parte
aos dispositivos das
Leis de Deus". Por que
Deus permite a formação
desses quistos de
perturbação e desordem?
A esta pergunta de
Fantini, Irmão Cláudio
disse que a Divina
Providência não
interfere no campo da
inteligência corrompida
no mal, porque o
Criador quer que as
criaturas sejam deixadas
livres para escolherem o
caminho de evolução que
melhor lhes pareça. Deus
quer que todos os seus
filhos tenham a própria
individualidade, creiam
nele como possam,
conservem as inclinações
e gostos mais
consentâneos com o seu
modo de ser, trabalhem
como e quanto desejem e
habitem onde quiserem.
"Somente exige – e exige
com rigor – que a
justiça seja cumprida e
respeitada", acentuou
Cláudio. "A cada um será
dado segundo as suas
obras." "Todos
receberemos, nas Leis da
Vida, o que fizermos,
pelo que fizermos,
quanto fizermos e como
fizermos." (Cap. 13,
pp. 98 e 99)
46. Uma comunidade
sofrida -
Atingindo a orla escura
da esquisita povoação,
que começava, surgiam
aqui e ali criaturas
andrajosas e alheadas.
De par com esse gênero
de transeuntes, outros
apareciam
entremostrando ironia e
desprezo na mímica
escarnecedora com que
apontavam os viajantes
ou a estes se dirigiam.
Quase todos exibiam
roupas estranhas, cada
qual obedecendo às
condições e dignidades a
que supunham pertencer.
Cláudio esclareceu: "De
modo geral, os milhares
de irmãos que se abrigam
nestas paragens não se
aceitam como são.
Habituaram-se de tal
maneira às simulações –
aliás, muitas vezes,
necessárias – da
experiência física, que
se declaram ofendidos
pela verdade. Viveram,
anos e anos, na esfera
carnal, desfrutando essa
ou aquela consideração
pelos valores de
superfície que exibiam,
enfatuados, e não se
conformam com a
supressão dos enganos e
privilégios imaginários
de que se alimentavam...
Narcisos fixados à
própria imagem na
retaguarda... Muitos se
transferiram diretamente
da vida física para a
região nebulosa sob
nossa vista, e outros
muitos habitaram, logo
após a desencarnação,
cidades de recuperação e
adestramento,
semelhantes à nossa;
entretanto, à medida que
se evidenciavam, tais
quais ainda são na
realidade, absolutamente
sem quaisquer simulacros
dos muitos de que se
valiam na estância
terrestre para
encobrirem o eu
verdadeiro, rebelaram-se
contra a luz do Mundo
Espiritual que nos expõe
à mostra a natureza
autêntica, uns diante
dos outros, e fugiram de
nossas coletividades,
asilando-se no vale de
sombras geradas por eles
mesmos". "Aí, na
penumbra criada pela
força mental que lhes é
própria, com o objetivo
de se esconderem, dão
pasto, em maior ou menor
grau, às manifestações
de paranoia a que todos
se afeiçoam,
entregando-se
igualmente, em muitos
casos, a lastimáveis
paixões que procuram
debalde saciar, até as
raias da loucura."
Naqueles sítios,
informou Cláudio,
existiam cidades,
vilarejos, povoações e
aldeamentos vários, em
cujo seio Espíritos de
inteligência vigorosa,
porém pervertida,
dominavam enormes
comunidades de Espíritos
menos hábeis no comando
das situações, todavia
tão pervertidos, via de
regra, quanto eles
mesmos. Eram, na
verdade, criaturas
enfermas, tanto quanto
os alienados mentais de
qualquer hospício
situado na Crosta.
Curiosamente, numerosos
pais e mães, esposos e
esposas, filhos e
pessoas amadas de muitos
deles aí residiam, por
mero devotamento, na
situação de heróis
obscuros, em admiráveis
apostolados de amor e
renúncia, a benefício
dos que se enrijeciam no
erro, de modo a
conduzi-los ao
reequilíbrio necessário,
preparando-se para as
novas encarnações que os
esperavam. (Cap. 13, pp.
99 a 101)
47. As frustrações
da vida terrestre
- Esses paladinos da
bondade e da paciência
pareciam escravizados
aos infelizes que
amavam; no entanto, pela
cátedra do sacrifício da
humildade que esposavam,
acabavam conseguindo
prodígios pela força
irresistível do exemplo.
Todos os dias, informou
Cláudio, chegavam às
casas de reajuste
pequenos ou grandes
magotes dos que
aspiravam a renovar-se,
graças à dedicação
afetiva desses heróis da
fraternidade. Dali, em
pouco tempo, regressavam
aos disfarces da carne,
sem os quais não
conseguiriam seguir à
frente, nas veredas da
regeneração. Entre o
cansaço da erraticidade
nas sombras da mente e o
terror da luz
espiritual que
confessavam não suportar
sem longa preparação,
suplicavam o socorro da
Providência Divina e
esta lhes permitia a
nova internação na
carne, na qual se
reocultavam, lutando
pela própria corrigenda
e pelo burilamento
próprio. "Obtido o
empréstimo do novo
corpo, via de regra
junto daqueles que se
lhes fizeram cúmplices
nos desvarios do
pretérito ou que se lhes
afinam com o tipo de
débitos e resgates
consequentes – informou
Cláudio –, esses
candidatos à
recapitulação
expiatória do passado
imploram medidas contra
eles mesmos, seja na
escolha de ambiente
doméstico em desacordo
com os seus ideais ou na
formação do futuro
corpo de que farão uso,
corpo esse que, muitas
vezes, desejam seja
bloqueado em
determinadas funções,
prevenindo-se
prudentemente contra as
tendências inferiores
que, em outro tempo,
lhes facilitaram a
queda." É por isso –
lembrou o chefe da
expedição – que vemos na
Terra, a cada passo,
grandes talentos
frustrados para a
direção que desejariam
imprimir aos próprios
destinos; inteligências
vigorosas barradas,
desde cedo, na obtenção
de quaisquer louros
acadêmicos; artistas
contrariados nas mais
altas aspirações,
arrastando defeitos
físicos e inibições que
lhes obstam as
manifestações; mulheres
de profunda capacidade
afetiva jungidas a
corpos que lhes
deprimem a apresentação;
homens hábeis e
enérgicos carregando
frustrações insidiosas e
ocultas que lhes proíbem
a euforia orgânica, no
estágio físico, de modo
a edificarem o espírito
de entendimento e
caridade, no âmago de si
próprios... (Cap. 13,
pp. 101 a 103)
48. Evelina
reencontra Túlio Mancini
- A palestra foi
repentinamente
interrompida pelo abraço
de Ambrósio e Priscila,
que aguardavam os
peregrinos fora das
portas. Após as
saudações, teve início o
serviço religioso, que
se revestiu das
características do
Evangelho em casa,
realizado nos
domicílios cristãos da
Terra. Vinte e duas
entidades, das quais
vinte mulheres e dois
homens, tinham vindo do
grande nevoeiro
próximo, para ouvirem a
palavra do Irmão
Cláudio, entremostrando
anseios de
tranquilidade e
transformação. As
tarefas desdobraram-se
nos moldes das reuniões
evangélicas do mundo,
suplementadas pela
conhecida orientação
espírita cristã,
portadora da
interpretação
respeitosa, porém livre,
dos ensinamentos do
Senhor. Na fase
terminal, passes de
reconforto e mensagens
de esclarecimento,
advertência e ternura.
Toda a equipe se
dedicava à conversação
edificante, às
despedidas, quando,
emergindo da névoa,
compacto grupo de
Espíritos zombeteiros e
dementados apareceu.
Explodiram impropérios,
entremeados de vaias e
ditos chulos. Prevenindo
especialmente os dois
recrutas, Cláudio
avisou: "Não se aflijam.
A ocorrência é
normal..." "Patifes!
Sumam, sumam daqui! –
rugiu um dos atacantes
de vozeirão descomunal
– não queremos sermões,
nem encomendamos
conselhos." Amainando a
saraivada de insultos,
Cláudio falou-lhes:
"Irmãos!... Para aqueles
de vós que desejais vida
nova com Jesus, somos
companheiros mais
íntimos desde agora!...
Vinde à verdadeira
libertação! Unamo-nos em
Cristo!..." A turba
tornou aos impropérios
e, dizendo nada ter com
Jesus, avançou sobre o
grupo fraterno. Cláudio,
evidentemente em oração,
ergueu a destra e um fio
de luz cortou o pequeno
espaço que isolava os
agressores. A chusma
estacou, aterrada.
Alguns deles caíram no
solo, como que
traumatizados por força
incoercível, outros
resistiram vomitando
injúrias, ao passo que
outros fugiram em
disparada... Contudo,
dentre aqueles que se
mantinham de pé, um
deles, muito jovem,
bradou com acento
inesquecível:
"Evelina!... Evelina!...
É você aqui?... Oh!
Estou vivo, estamos
vivos!... Quero Jesus!
Jesus!... Socorro!
Socorro!... Quero
Jesus!..." Compadecido,
Cláudio aquiesceu:
"Vinde!... Vinde!..." O
rapaz arrancou-se da
quadrilha e seguiu na
direção que Cláudio lhe
indicava e, em poucos
momentos, a senhora
Serpa, trêmula e
consternada, tinha
diante de si Túlio
Mancini, o mesmo rapaz a
quem amara noutro tempo
e que, segundo ela
pensava, havia
descambado nas trevas do
suicídio por sua causa.
(Cap. 13, pp. 103 a 105)
(Continua na próxima
semana.)