Resposta de Kardec
a
James Randi
Sempre nos aparecem os
que não acreditam nas
manifestações dos
Espíritos, detratores e
céticos dando-se as mãos
contra tais fatos.
Alguns até apelam para o
“inconsciente” como
causa do fenômeno;
esses, certamente, nunca
leram nada a respeito,
pois, pelo que ocorre
nos milhares de
manifestações, vê-se que
há uma ação consciente,
e, até que nos provem o
contrário, afirmaremos
que o “inconsciente” não
age conscientemente.
Leiamos o que se
perguntou aos Espíritos:
P. Como provar que a
força oculta, que age
nas manifestações
espíritas, está fora do
homem? Não se poderia
pensar que ela reside
nele mesmo, quer dizer,
que age sob o impulso do
seu próprio Espírito?
R. “Quando uma coisa
ocorre contra a tua
vontade e teu desejo, é
certo que não foste tu
quem a produziu; mas,
frequentemente, és a
alavanca da qual o
Espírito se serve para
agir, e tua vontade lhe
vem em ajuda: podes ser
um instrumento mais ou
menos cômodo para ele.”
Em nota, Kardec tece
seus comentários a essa
resposta:
É, sobretudo, nas
comunicações
inteligentes que a
intervenção de uma força
estranha se torna
patente. Quando essas
comunicações são
espontâneas e fora do
nosso pensamento e do
nosso controle, quando
respondem a perguntas
cuja solução é
desconhecida dos
assistentes, é
preciso procurar-lhe a
causa fora de nós. Isso
se torna evidente para
quem observe os fatos
com atenção e
perseverança; as
nuanças de detalhes
escapam ao observador
superficial. (KARDEC,
A., Revista Espírita
1858, Araras, SP: IDE,
2001, p. 12.) (grifo
nosso).
Ora, como alguém pode
falar de algo que não
observou com atenção e
perseverança, como diz
Kardec? Pretensão em
achar-se um especialista
num assunto de que nada
conhece...
Por outro lado, não
raro, outros nos sugerem
para que ganhemos o “um
milhão de dólares”
oferecido pelo Sr. James
Randi, para quem
conseguir produzir um
fenômeno tendo os
Espíritos como fonte;
para isso, estabelece as
suas condições. Aliás,
ele vai mais além para
estender isso a qualquer
fenômeno paranormal
produzido por um
sensitivo, médium, ou
seja lá o que for. No
caso dos Espíritos é
muito provável que
jamais encontrará alguém
que os faça aparecer,
uma vez que ninguém pode
garantir a manifestação
de um Espírito.
Numa situação análoga,
Kardec analisa um
desafio ocorrido em
junho de 1857; vejamos
como explica o “desafio
proposto na América”:
Os
médiuns julgados -
Os antagonistas da
Doutrina Espírita se
apossaram, zelosamente,
de um artigo publicado
pelo Scientific
American, do dia 11
de julho último, sob o
título: Os Médiuns
julgados. Vários
jornais franceses
reproduziram-no como um
argumento sem réplica;
nós mesmos o
reproduzimos, fazendo
seguir de algumas
observações, que lhe
mostrarão o valor.
"Há algum tempo, uma
oferta de quinhentos
dólares (2,500 francos)
foi feita, por
intermédio do Boston
Courier, a toda
pessoa que, na presença
e em satisfação de um
certo número de
professores, da
Universidade de
Cambridge, reproduzisse
alguns desses fenômenos
misteriosos que os
espiritualistas dizem,
comumente, terem sido
produzidos por
intermédio de agentes
chamados médiuns.
"O desafio foi aceito
pelo doutor Gardner,
e por várias pessoas que
se vangloriavam de estar
em comunicação com os
Espíritos. Os
concorrentes se reuniram
nos edifícios Albion, em
Boston, na última semana
de junho, dispostos a
fazerem a prova da sua
força sobrenatural.
Entre eles, notavam-se
as jovens Fox, que se
tornaram tão célebres
pela sua superioridade
nesse gênero. A
comissão, encarregada de
examinar as pretensões
dos aspirantes ao
prêmio, se compunha dos
professores Pierce,
Agassiz, Gould e
Horsford, de Cambridge,
todos os quatro, sábios
muito distintos. As
experiências
espiritualistas duraram
vários dias; jamais os
médiuns encontraram mais
bela ocasião de
colocarem em evidência
seu talento ou sua
inspiração; mas, como os
sacerdotes de Baal, ao
tempo de Elias,
invocaram em vão suas
divindades, assim como o
prova a passagem
seguinte, do relatório
da comissão:
"A comissão declara
que o doutor Gardner não
tendo se saído bem em
lhe apresentar um
agente, ou médium, que
revelasse a palavra
confiada aos Espíritos
em um quarto vizinho;
que lesse a palavra
inglesa escrita no
interior de um livro ou
sobre uma folha de papel
dobrada; que respondesse
uma questão que só as
inteligências superiores
podem responder; que
fizesse ressoar um piano
sem tocá-lo, ou avançar
uma mesa, em um pé, sem
o impulso das mãos;
mostrando-se impotente
para dar, à comissão,
testemunho de um
fenômeno que se pudesse,
mesmo usando uma
interpretação larga e
benevolente, considerar
como o equivalente das
provas propostas; de um
fenômeno exigindo, para
sua produção, a
intervenção de um
Espírito, supondo ou
implicando, pelo menos,
essa intervenção; de um
fenômeno desconhecido,
até hoje, à ciência, e
cuja causa não fosse,
imediatamente,
assinalável para a
comissão, palpável para
ela, não tem nenhum
título para exigir, do
Courier, de
Boston, a entrega da
soma proposta de 2,500
francos".
“A experiência, feita
nos Estados Unidos, a
propósito dos
médiuns, lembra
aquela que se fez, há
uma dezena de anos, para
ou contra os sonâmbulos
lúcidos, quer dizer,
magnetizados. A Academia
de ciência recebeu a
missão de conceder um
prêmio de 2,500 francos
ao sujet
magnético que lesse de
olhos fechados. Todos os
sonâmbulos fazem,
voluntariamente, esse
exercício, em seus
salões ou em público;
leem em livros fechados
e decifram uma carta
inteira, sentando-se em
cima de onde a colocam,
bem dobrada e fechada,
ou sobre seu ventre;
mas, diante da Academia,
não pôde nada ler de
todo e o prêmio não foi
ganho."
Essa experiência prova,
uma vez mais, da parte
de nossos antagonistas,
sua ignorância absoluta
dos princípios sobre os
quais repousam os
fenômenos espíritas.
Entre eles, há uma ideia
fixa de que esses
fenômenos devem obedecer
à vontade, e se
produzirem com a
precisão de uma máquina.
Esquecem, totalmente,
ou, dizendo melhor,
não sabem que a causa
desses fenômenos é
inteiramente moral, que
as inteligências, que
lhes são os primeiros
agentes, não estão ao
capricho de quem quer
que seja, nem mais de
médiuns do que de outras
pessoas. Os
Espíritos agem quando
lhes apraz, e diante de
quem lhes apraz;
frequentemente, é quando
menos se espera que a
manifestação ocorra com
maior energia, e quando
é solicitada, ela não
ocorre. Os Espíritos têm
condições de ser que nos
são desconhecidas; o que
está fora da matéria não
pode estar submetido ao
cadinho da matéria. É,
pois, equivocar-se,
julgá-los do nosso ponto
de vista. Se creem útil
se revelarem por sinais
particulares, o fazem;
mas isso jamais à nossa
vontade, nem para
satisfazer uma vã
curiosidade. É
preciso, por outro lado,
considerar uma causa bem
conhecida que afasta os
Espíritos: sua antipatia
por certas pessoas,
principalmente por
aquelas que, através de
perguntas sobre coisas
conhecidas, querem pôr a
sua perspicácia em prova.
Quando uma coisa existe,
diz-se, eles devem
sabê-la; ora, é
precisamente porque a
coisa nos é conhecida,
ou tendes os meios de
verificá-la por vós
mesmos, que eles não se
dão ao trabalho de
responder; essa
suspeição os irrita e
deles não se obtém nada
de satisfatório; ela
afasta, sempre, os
Espíritos sérios que não
falam, voluntariamente,
senão às pessoas que a
eles se dirigem com
confiança e sem
dissimulação. Disso não
temos, todos os dias,
exemplos entre nós?
Homens superiores, e que
têm consciência de seu
valor, se alegrariam em
responder a todas as
tolas perguntas que
tenderiam a lhes
submeter a um exame,
como escolares? Que
diriam se se lhes
dissessem: "Mas, se não
respondeis, é porque não
sabeis?" Eles vos
voltariam as costas: é o
que fazem os Espíritos.
Se assim é, direis, de
qual meio dispomos para
nos convencer? No
próprio interesse da
Doutrina dos Espíritos,
não devem desejar fazer
prosélitos?
Responderemos que é ter
bastante orgulho em
crer-se alguém
indispensável ao sucesso
de uma causa; ora, os
Espíritos não amam os
orgulhosos. Eles
convencem aqueles que o
desejam; quanto aos que
creem na sua importância
pessoal, provam o pouco
caso que deles fazem,
não os escutando. Eis,
de resto, sua resposta a
duas perguntas sobre
esse assunto:
Podem pedir-se, aos
Espíritos, sinais
materiais como prova da
sua existência e da sua
força? Resp.:
"Pode-se, sem dúvida,
provocar certas
manifestações, mas nem
todo o mundo está apto
para isso, e,
frequentemente, o que
perguntais não o
obtendes; eles não estão
ao capricho dos homens".
Mas quando uma pessoa
pede esses sinais para
se convencer, não
haveria utilidade em
satisfazê-la, uma vez
que seria um adepto a
mais? Resp.: "Os
Espíritos não fazem
senão aquilo que querem,
e o que lhes é
permitido. Falando-vos e
respondendo as vossas
perguntas, atestam a sua
presença: isso deve
bastar ao homem sério
que procura a verdade na
palavra".
Escribas e fariseus
disseram a Jesus:
Mestre, muito
gostaríamos que nos
fizésseis ver algum
prodígio. Jesus
respondeu: "Esta raça má
e adúltera pede um
prodígio, e não se lhe
dará outro senão aquele
de Jonas (São Mateus)".
Acrescentaremos, ainda,
que é conhecer bem pouco
a natureza e a causa das
manifestações para crer
estimulá-las com um
prêmio qualquer.
Os Espíritos desprezam
a cupidez, do
mesmo modo que o orgulho
e o egoísmo. E só essa
condição pode ser, para
eles, um motivo para se
absterem de se
comunicarem. Sabei,
pois, que obtereis cem
vezes mais de um médium
desinteressado do que
daquele que é movido
pela atração do ganho, e
que um milhão não faria
ocorrer o que não deve
ser. Se nós nos
espantamos com uma
coisa, é que se tenha
procurado médiuns
capazes de se submeterem
a uma prova que tinha
por aposta uma soma de
dinheiro. (KARDEC,
A. Revista Espírita
1858, Araras, SP: IDE,
2001, p. 21-24.) (grifo
nosso).
Portanto, não tendo como
se exigir a presença dos
Espíritos, já que eles
se manifestam segundo a
vontade deles, e não da
nossa, a produção do
fenômeno com dia e hora
marcados fica apenas na
intenção dos que não
conhecem absolutamente
nada dele.
Outro fator importante,
falado por Kardec e
percebido por alguns
estudiosos, é que é
preciso unidade de
pensamento para
produzi-lo; pensamentos
contrários de
antagonistas e
descrentes minam a
energia pela qual os
Espíritos produzem o
fenômeno, embora ainda
não se saiba a causa
disso.
Diante disso, a
ignorância faz com que
as pessoas achem o Sr.
Randi como o tal que
consegue fazer “calar”
os espíritas; deixamos a
estes, as últimas
palavras de Kardec no
texto acima: “Se nós nos
espantamos com uma
coisa, é que se tenha
procurado médiuns
capazes de se submeterem
a uma prova que tinha
por aposta uma soma de
dinheiro”.