Eu tenho, você
não tem...
“O que fulano
tem que eu não
tenho?” “Por que
beltrano
merece, e eu
não?” “Faço
melhor que
sicrano”. Ou o
que é pior:
“Tomara que ele
se dê mal!”
Essas e
outras
expressões
partem sempre do
sentimento de
inveja, um dos
mais mesquinhos
da criatura
humana. Cobiçar
ou invejar,
entende-se
popularmente por
crescer o olho
grande nas
coisas dos
outros. O
invejoso carrega
o verme parasito
do orgulho e da
vaidade
alimentado por
ele, a
corroer-lhe as
entranhas.
A inveja não
passa de
lastimosa doença
da alma, um mal
moral. Olho
grande ou
olho gordo,
ou mau-olhado,
é a inveja,
objeto de escusa
de quem do
indivíduo
invejoso prefere
manter-se
distante. A
inveja é uma
energia negativa
que, segundo
pensam, pode
atingir a
pessoa, daí se
evitar os
portadores dessa
triste
enfermidade a
fim de não se
envolver com o
seu problema.
Esquivar-se ao
encontro de
alguém com esse
tipo de conflito
é um ato
instintivo.
Trata-se de um
comportamento
maquinal em face
de algo que
suscita um
prenúncio ou
indício de
alguma
ocorrência
desagradável, na
opinião de
muitos. Torna-se
impossível
alguém de bem
com a vida
solidarizar-se
com a repulsa e
a frustração
crônicas de uma
individualidade
negativa. A
inveja tem por
motivo o
desagrado de um
desejo ou duma
exigência
malsucedida.
Entre um grupo
consanguíneo, em
um escritório,
numa fábrica ou
em local de
reunião
política,
literária ou
mesmo recreativa
e também
religiosa, não
raro, haverá
alguém ou alguns
que não
conseguem conter
esse sentimento
infeliz da sua
existência. No
fundo, no fundo,
o invejoso
julga-se incapaz
por não
conseguir
atingir certo
objetivo, um
anseio, e esse
desejo frustrado
bem que pode
turvar-lhe o
juízo.
Sofre, e não
admite
Em hipótese
alguma, o
invejoso admite
ser vítima dos
desgostos que
sofre; é um
tormento mudo; o
orgulho e a
presunção dele
não o permitem.
Invejosos não
aceitam que
sofrem, e jamais
confessarão que
sentem inveja:
ora sentem
autopiedade, ora
raiva, e o seu
rancor, a dó de
si mesmo vira
desforra,
submetendo o
invejado a uma
pena que vai
desde o insulto
até um ato
execrável de
consequências
trágicas.
Todavia acontece
um fato deveras
interessante. O
desejo de
cobiçar as
coisas dos
outros ou de ser
melhor que eles
ocorre em geral
junto aos mais
próximos do
invejoso. O
invejoso, em
regra, possui
árdego desejo de
conseguir as
conquistas do
próximo, e não
sente inveja em
caráter efetivo
de quem está
fora do seu
alcance como
pessoas famosas,
as chamadas
celebridades.
Querer alguém o
que ao outro
pertence é
natural, próprio
do ser humano,
dizem
psicólogos.
Segundo eles, um
parente, um
vizinho, um
colega de
trabalho, de
ideal, de
corporação são
os que mais
sofrem os
efeitos da
inveja.
É comum existir
mesmo essa
curiosa conduta
entre aqueles do
mesmo nível, da
mesma comunidade
ou de quaisquer
grupos. É claro
que também há
esse tipo de
conflito de
seguimento
diverso e
complexo entre
membros de uma
minoria
prestigiada e
dominante,
constituída de
indivíduos mais
aptos, mais
poderosos, dando
como exemplo os
da elite
empresarial,
científica,
artística,
esportiva,
política,
militar.
Tipos de
invejosos
Consoante
pensamos, há
quatro tipos de
invejosos mais
ou menos
aproximados: O
invejoso
light, o
invejoso
complexado,
o invejoso
rancoroso e
o invejoso
tirânico.
Invejoso
light —
É aquele
cuja inveja é
moderada. Nele
há um pendor
para realizar
algo ou atingir
uma meta que
permanecia no
íntimo, só lhe
faltando coragem
de levá-la a
efeito ou nunca
presumindo que
poderia
concretizá-la. A
inveja, neste
caso, impele-o a
pôr em prática
coisas iguais ou
diversas, de
preferência
melhor que as do
invejado, embora
este seja mais
inteligente,
mais habilidoso,
mais apto que
ele. O invejoso
light parece
humilde por
reconhecer o
valor dos
outros. No
entanto, não se
tem certeza do
grau de
sinceridade, ao
enaltecer
alguém, quando
diz ter-lhe
inveja “no bom
sentido”. Tenta
surpreender,
esforça-se por
onde se igualar
ao objeto de
inveja ou por
competir com ele
em mérito ou
qualidade. Se
não tiver o
talento, a
inteligência, a
aptidão que
imagina ter,
corre o risco de
fazer-se digno
de escárnio.
Invejoso
complexado —
“Quem sou eu!”,
responde, se
alguém ressalta
nele alguma
valia. Como o do
primeiro tipo,
ele dá ares de
respeito, de
reverência, de
modéstia, mas
esses
sentimentos lhe
são postiços.
Não rivaliza
como o do tipo
anterior, pois,
acha-se
impotente,
incapaz.
Sente-se um
infeliz, um
malsucedido, vê
inimigos em toda
a parte e
costuma acusar a
sociedade, a
Deus e o mundo
pelos malogros;
portanto, jamais
sentirá o menor
desejo de erguer
alguém que
mereça estímulo,
salvo se lhe
apeteça um
favor, alguma
vantagem
material. Sem
coragem de
pôr-se melhor,
reconhece-se um
coitadinho,
prefere
permanecer
invejoso. Esse
tipo, se acaso
solerte e
tortuoso, isto
é, falso e
malévolo, e
sendo um
covarde, costuma
juntar-se aos
que, como ele,
sintam inveja de
alguém; tudo
pode principiar
com o tal do
bullying no que
se refere a
espalhar um
apelido, uma
fofoca, podendo
depois,
covardemente,
causar sérios
danos, prejuízos
à vítima, igual
aos das
categorias a
seguir.
Invejoso
rancoroso —
O invejoso
rancoroso é
também um
complexado. Só
que o seu
complexo é de
superioridade.
A sua inveja
mórbida não
admite o bom
êxito, méritos e
vantagens do
invejado, e como
ninguém é
perfeito, ele se
vale da mínima
falha do seu
rival para
difundir a
suspeita e o
julgamento
irrefletido.
Oposto à
verdade, à
justiça, ele
chega a
febricitar de
tanta inveja e
vibra contra o
invejado, se
este consegue o
que ele não
conseguiu. Ele
também se sente
um coitadinho e,
ao mesmo tempo,
chega a ter ódio
de si mesmo, mas
logo, por
vingança, dirige
a energia desse
ódio contra quem
considera
inimigo. Quando
oportuno,
boicota o objeto
de inveja,
critica-o
satírica e
mordazmente,
reduze-o a nada.
Cínico e sem
escrúpulo além
de hipócrita e
sarcástico, a
sua inveja
odienta vai
desde
insinuações
maldosas e
falsas acusações
até um possível
ato deplorável.
Invejoso
tirânico —
Este tipo de
invejoso é dos
piores. Nele,
observa-se
defeitos e
respostas
inerentes aos do
tipo anterior.
Se exerce um
cargo de
autoridade ou se
desempenha
função de
liderança, é
capaz de usar de
suas
prerrogativas
para oprimir,
humilhar o
objeto de
inveja. Por
julgarem-no
importante, ele
se vê em cima de
um pedestal bem
alto e, da mesma
forma que o
invejoso
rancoroso, é
claro, não
aceita a
superioridade de
ninguém,
principalmente,
de quem inveja.
Não é inveja
Contudo, pelo
fato de a pessoa
produzir
intelectualmente
algo, fabricar
alguma coisa ou
fazer seja lá o
que for, e uma
ou mais pessoas
fazerem melhor
que ele, de modo
mais
aperfeiçoado,
não há inveja
nisso; só
depende da
consciência de
cada um. Não
podemos ver como
invejoso, por
exemplo, quem
aperfeiçoou o
telefone
inventado por
Graham Bell.
Apenas há inveja
no momento em
que o desejo de
fazer a mesma
coisa, de pô-la
em prática de um
modo ou de
outro, tenha
como causa uma
emulação que
encerra
despeito,
amor-próprio
ferido, movido
pelo ciúme,
sentimentos
contrários à Lei
de Amor e
Caridade,
oferecida por
Mestre Jesus.
Atenção! Ser
invejado não
quer dizer ser
vítima.
Lembra-se
daquele anúncio
transmitido
tempos atrás na
TV o qual
mostrava um
garotinho que
dizia cantando
para o
coleguinha: “Eu
tenho, você não
tem”? O
invejado, apesar
de legítimos os
seus atributos
qualitativos, em
substância, pode
não passar de um
vaidoso que
desmerece,
humilha o
próximo,
escarnecendo
dele com o seu
orgulho,
explícita ou
implicitamente,
e isso é falta
de amor ao
próximo e a
Deus.
Alguém me
perguntou: “Como
nos livramos dos
invejosos?”
“Livremo-nos
antes da
inveja”,
respondi. Quem
sabe, se não
estamos
incluídos num
daqueles tipos
de invejosos? Se
porventura
dissermos
publicamente:
“não sinto
inveja” —
cuidado! —
, pode ser
um indício: quem
não é invejoso,
não sabe que é;
mas, quem é
invejoso pensa
que não é...
Evitemos falar
aquilo que pode
atrair inveja.
“Não fales de
tua sorte a um
homem mais
desgraçado do
que tu”,
ressalvava o
sábio e vetusto
Pitágoras... “A
inveja é uma das
mais feias e
mais tristes
misérias do
nosso globo”, no
parecer do
Espírito São
Luiz.* Adeptos
do Espiritismo
sabem como
ninguém do
tamanho da
gravidade desse
sentimento que
nos distancia de
Deus e dos bons
Espíritos,
sobretudo,
confrades e
confreiras que
escrevem, falam,
administram a
mídia e as
instituições
espíritas. Orar
e vigiar para
não cairmos em
tentação, orar
pelos que nos
perseguem e
caluniam,
recomendou-nos o
Mestre. Neste
caso, vigiemos
sim nossos
pensamentos e
sentimentos,
orando por nós
mesmos, de
preferência,
antes de orarmos
a Deus em favor
de algum
invejoso que
porventura nos
importune, nos
atormente a
proferir
calúnias.
_____________________________________
* KARDEC, Allan.
Revista
espírita:
jornal de
estudos
psicológicos.
São Paulo:
Edicel
— Editora
Cultural
Espírita Ltda.,
s/d. Ano I,
julho de 1858,
vol. 7 p. 183.
*
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