Desenvolvendo a
capacidade de
apreciação
É sempre
importante
frisar que,
quando alguém
opta pela
religião
espírita, está
deliberadamente
se comprometendo
a enfrentar um
seriíssimo
desafio
diuturno, isto
é, o de ser um
indivíduo melhor
em todas as
latitudes e
contextos.
Parece pouco
quando tal repto
é declarado de
forma simples e
objetiva. Mas
não é. Trata-se
de um esforço
que abarcará
toda uma vida e
com claros
desdobramentos
às outras.
Tomada tal
decisão – que,
aliás, assusta a
muitos, levando
grande número de
simpatizantes do
Espiritismo a
debandar logo
aos primeiros
contatos com o
conteúdo da
doutrina –, cabe
ao profitente
encetar a
jornada rumo à
perfeição que
Jesus claramente
explicitou em
sua mensagem
libertadora.
Posto isto,
gostaríamos de
tecer algumas
rápidas
considerações a
respeito da
qualidade e/ou
virtude da
apreciação.
Os dicionários
normalmente
estendem o
significado
dessa palavra
para além do seu
sentido
corriqueiro
(isto é,
avaliação,
julgamento e
análise)
apresentando
também uma
acepção voltada
ao ato de
qualificar
alguém de
maneira
positiva, de
demonstração de
estima e assim
por diante.
Portanto, é
nessa segunda
categoria que
pretendemos nos
concentrar. A
propósito,
apreciação é
outro tema que
vem recebendo
crescente
interesse por
parte da
ciência. Nesse
sentido,
destacados
pesquisadores
têm argumentado
que se trata de
uma disposição
que representa
um importante
papel no
bem-estar
psicológico, bem
como na
construção e
manutenção de
laços sociais.1 Além
disso,
acredita-se que
o sentimento de
apreciação
promove, por
extensão, um
descanso melhor
e encoraja a
ajudar e
construir
confiança nas
relações
humanas.
De modo geral,
apreciação é
definida como “reconhecer
o valor e
significado de
alguma coisa –
um evento, uma
pessoa, um
comportamento,
um objeto – e um
sentimento de
emoção positiva
com isto”.2 As
descobertas
apontam sobre a
existência de
diferenças
individuais – às
vezes, gritantes
– em termos de
capacidade de
demonstração de
apreciação. De
fato, não é
difícil
constatar que
existem pessoas
que apresentam
enorme
dificuldade de
tecer um elogio,
palavra de
incentivo,
apoio,
reconhecimento,
enfim, a outra.
Talvez
absorvidas pelos
pensamentos de
autopreservação
de espaço e
poder, pouco ou
nada proferem no
terreno da
apreciação aos
seus
semelhantes.
Especulamos que
tais pessoas se
encastelam de
tal maneira na
esfera do
egoísmo que,
para elas,
elogiar alguém
soa como algo
perigoso e
ameaçador ao seu status
quo. Dotadas
de um ego sem
limites,
simplesmente não
aceitam que
outros também
possam desfrutar
de um apreço
natural como
decorrência do
seu esforço e
trabalho. Os
cientistas
argumentam ainda
que apreciação é
um fator-chave
envolvendo
desempenho e
bem-estar numa
série de
domínios da vida
(especialmente,
trabalho,
família e
comunidade).2
Com efeito, a
maioria das
pessoas passa a
maior parte das
suas vidas num
ambiente de
trabalho. Assim
sendo, “[...]
Quando as
pessoas e as
equipes de
trabalho
sentem-se
apreciadas e
apoiadas, elas
provavelmente se
sentirão mais
profundamente
conectadas à
organização como
um todo, levando
a uma maior
conexão
espiritual com
algo além delas
próprias. Além
disso, há alguma
evidência de que
comportamentos
altruísticos
espalham-se para
outros além
daqueles
inicialmente
envolvidos
[...]”.2
O que é
extremamente
relevante é a
conclusão da
ciência de que
“Apreciação pode
ser uma
expressão da
vida espiritual
[...]”.2 Circunscrevendo
a nossa análise
em torno das
relações
humanas,
nota-se,
portanto, que
saber apreciar o
esforço,
trabalho e
realizações de
um companheiro,
parente ou
conhecido, por
exemplo, é
demonstração de
progresso
espiritual. Quem
consegue a
proeza de
elogiar alguém
imbuído de
sinceridade e
respeito
sinaliza
maturidade
psicológica e
elevação
interior. Tal
conquista
torna-se digna
de nota
particularmente
quando se
considera que
vivemos num
planeta onde a
competição por
espaços é
duríssima e, às
vezes,
destituída de
ética, sem falar
na obsessão de
buscar
monopolizar as
atenções, não
raro, diminuindo
os feitos dos
outros.
Analisando essa
problemática,
pesquisadores
brasileiros
recentemente
declaram que:
“[...] Ser
competente
significa ter
capacidade de
competir,
concorrer,
rivalizar-se,
entrar em
confronto com
alguém. [...]”.3
Por outro lado,
o Centro
Espírita, na
condição de
lócus gerador de
amparo e
elucidação de
pessoas que
normalmente
buscam algo mais
na vida além dos
interesses
materiais,
propicia
consideráveis
oportunidades de
se externar o
potencial de
apreciação. Na
verdade, a sua
própria
configuração,
missão esposada
e valores
albergados
facultam aos
trabalhadores –
Espíritos
geralmente
buscando
consciente
processo
evolutivo –
inúmeras
ocasiões à
apreciação, tais
como: ao
dirigente que
demonstra pulso
e equilíbrio nas
decisões, ao
colega que
profere palestra
sobre tema
edificante, ao
socorrista que
orienta
frequentadores
em desespero, à
atendente que
distribui
sorrisos e
olhares
encorajadores, e
assim por
diante.
Pode-se mostrar
apreciação aos
que persistem no
tratamento, aos
que buscam a
leitura
iniciadora, aos
que comparecem
aos trabalhos
com assiduidade,
aos que se
empenham em
fazer a reforma
íntima etc.
Assim sendo, ter
a capacidade de
externar
apreciação pelos
outros é
manifestação de
grandeza d’alma.
É entender e
respeitar o
valor do outro.
É sinal, enfim,
de quem já
atingiu a
sabedoria de
compartilhar
sentimentos
positivos e
alentadores sem
segundas
intenções. E sem
a conquista de
tal predicado,
certamente não
se chegará à
perfeição.
Bibliografia:
1. Adler,
M.G. and Fagley,
N.S. (2005).
Appreciation:
individual
differences in
finding value
and meaning as a
unique predictor
of subjective
well-eing. Journal
of Personality, 73(1),
79-114.
2. Fagley,
N.S. & Mitchel
G. Adler, M.G.
(2012):
Appreciation: a
spiritual path
to finding value
and meaning in
the workplace, Journal
of Management,
Spirituality &
Religion,
9(2), 167-187.
3. Oliveira,
L.C.V., Kilimnik,
Z.M. e Oliveira,
R.P. (2013). Da
gerência para a
docência:
metáforas do
discurso de
transição. REAd
– Revista
Eletrônica de
Administração,
75(2), 301-329.