E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
14)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. É correto dizer que nós, criaturas comuns, carregamos ainda o
imenso fardo de desejos
deprimentes?
Segundo o Instrutor
Ribas, sim. De acordo
com sua avaliação,
somos, de modo geral,
Espíritos endividados
perante as Leis
Divinas, e estamos
situados na faixa de
expressiva transição, a
transição do amor
narcisista para o amor
desinteressado. Temos
teorias de santificação
para o sentimento, mas,
na essência, somos
simples iniciantes na
prática. Na esfera dos
pensamentos nobres,
assimilamos o influxo
dos Planos Gloriosos;
todavia, no campo dos
impulsos inferiores,
carregamos ainda o
imenso fardo de desejos
deprimentes, que se
constituem de vigorosos
apelos à retaguarda.
(E a Vida Continua, cap. 15, pp. 115 e 116.)
B. No tocante à questão sexual, encontramo-nos ainda em trânsito da
poligamia para a
monogamia?
Sim. O homem terrestre,
apesar de sua
inteligência refinada,
ainda oscila, de modo
geral, entre animalidade
e humanização, embora
existam na Terra casos
particulares de
criaturas que já se
encaminham da
humanidade para a
angelitude. "A maioria
de nós outros, os
Espíritos capitulados na
escola da Terra nos
achamos em trânsito da
poligamia para a
monogamia, com
referência à devoção
sexual”, diz o Instrutor
Ribas. Decorre daí,
segundo ele, o
impositivo de vigilância
sobre nós mesmos,
sabendo-se que o sexo é
faculdade criativa, nos
domínios do corpo e da
alma.
(Obra citada, cap. 15, pp. 117 e 118.)
C. Quem era o Espírito que teve a reencarnação frustrada em face do
aborto sofrido por
Evelina?
Como Evelina julgava que Túlio se suicidara por
culpa dela, e tinha
remorsos por causa
disso, ela atraiu para o
próprio claustro materno
o Espírito sofredor de
um irmão suicida,
sentenciado pela própria
consciência a
experimentar a provação
de um corpo frustrado,
de modo a valorizar com
mais respeito o divino
empréstimo da existência
física. A maternidade
malograda lhe
proporcionara, portanto,
ensejo a preciosas
reparações. "Somos
mecanicamente impelidos
para pessoas e
circunstâncias que se
afinem conosco ou com os
nossos problemas”,
explicou o Instrutor
Ribas. Foi por isso que
ela se converteu
automaticamente em
desventurada mãe de um
companheiro suicida, no
anseio de expiar a
própria falta.
(Obra citada, cap. 15, pp. 119 e 120.)
Texto para leitura
53. O assédio de
Túlio Mancini -
Observando o assédio e
os gestos de
desconsideração que
Túlio passou a assumir,
a senhora Serpa tentou
recuar e replicou,
valorosa: "Túlio,
contenha-se! Não sabe
você que desposei Caio,
que tenho a
responsabilidade de um
lar?" O rapaz resmungou
qualquer coisa e
prosseguiu: "Evelina,
sei que você não é
indiferente ao que
sinto! Vamos!... Diga
que me atende!..." Ato
contínuo, intentou
beijá-la, mas ela,
embora possuída de
assombro e temor, reagiu
indignada: "Túlio, que é
isto? estará você
louco?" Ele respondeu,
confessando haver
pensado nela, dia e
noite, desde que foi
ferido à bala por Caio.
Evelina se comoveu com
a declaração do moço,
mas objetou, firme:
"Compreendo a sua
estima e agradeço a
lembrança, mas julga
você justo atacar-me
assim,
desrespeitosamente,
quando já lhe falei que
tenho um marido e, por
isso mesmo, contas a
prestar?" Mancini
silenciou por momentos;
em seguida, exibiu nos
olhos esgazeados a
perturbação que lhe
passou a senhorear os
mecanismos da mente,
transfigurou o pranto
em escárnio e desfez-se
numa gargalhada
terrível. "Um
marido!... Um marido,
aquele crápula!...",
zombou. "O povo de onde
venho agora, o povo da
terra da liberdade,
tem toda a razão...
Entendo, você agora faz
parte dos santos, mas eu
não sou mascarado. Sou
o que sou, um homem com
as funções que me são
próprias... Quero você e
isso a escandaliza? Boa
piada!... Você é uma
mulher como as outras,
você não é melhor do que
todas aquelas que
conheço na terra da
liberdade, apenas
com a diferença de que
você se oculta na capa
andrajosa da
disciplina..." "Sim –
suspirou Evelina,
magoada –, não nego a
minha fragilidade
humana... Não acredita
você, porém, que a
disciplina é a melhor
maneira de educar-nos e
dignificar os nossos
sentimentos?" "Ah! Ah!
Ah!... – ironizou Túlio
– obediência é a
camisa-de-força em que
os hipócritas metem os
simples, mas você mudará
de ideia..." (Evelina
agoniada confiou-se à
prece muda, implorando
socorro aos poderes da
Vida Maior, enquanto
Túlio avançava,
zombando.) "Olhe para
dentro de si mesma –
disse ele – e verificará
seu disfarce... Você é
um anjo de pé de chumbo,
igual aos outros macacos
fantasiados que andam
por aí. Largue mão
disso... Todos somos
livres!... Livres filhos
da Natureza para fazer o
que quisermos!...
Proclame a sua
independência se não
deseja acabar na senzala
dos Tartufos da
sujeição!..." Dito
isto, Mancini investiu
para ela e estava
prestes a agarrá-la,
quando alguém bateu à
porta. Era um mensageiro
enviado pelo Instrutor
Ribas, que reclamava a
presença da jovem.
Evelina respirou
aliviada e saiu,
enquanto Túlio voltou à
casa de reajuste, onde
foi recolhido à cela
especial, destinada a
serviço de segregação e
tratamento. (Cap. 14,
pp. 112 a 114)
54. Carregamos
ainda o fardo de desejos
deprimentes -
Atendendo à solicitação
de Ernesto e Evelina,
que ansiavam por
esclarecimentos, no
embaraço que a presença
de Túlio lhes impunha à
mente, o Instrutor Ribas
ouviu-os, pacientemente.
Que significava a
perturbação do rapaz?
como poderiam,
notadamente Evelina,
auxiliá-lo corretamente?
seria lícito rogar ao
Instituto alguma
informação quanto às
acusações de Túlio
contra Caio Serpa? O
Instrutor esclareceu:
"Vocês já reiteraram
diversos pedidos de
acesso ao trabalho
espiritual, não
estranhem se chegou a
hora de começar. Túlio
Mancini é o marco de
início da obra redentora
que abraçam.
Investiguem os próprios
corações, especialmente
nossa irmã Evelina, e
verifiquem a pena que as
dificuldades dele lhes
causam. Onde o amor
respira equilíbrio, não
há dor de consciência e
não existe dor de
consciência sem culpa".
Como Evelina lhe pedisse
orientação segura para
agir, o Instrutor
indagou-lhe: "Irmã
Evelina, que sensações
foram as suas, em se
vendo a sós com o amigo
recém-visto?" A jovem
admitiu ter voltado às
lembranças do passado,
ao revê-lo, e sentiu-se
transportada à
juventude, mas se
conteve ao recordar
seus compromissos
conjugais. "Fez muito
bem – asseverou Ribas –,
ainda assim, o seu
coração falou sem
palavras, provocando
novas sequências do
desajuste emocional de
que Mancini foi vítima,
na experiência
terrestre, em grande
parte motivado por suas
promessas não
cumpridas." "Oh! meu
Deus!...", balbuciou
Evelina, mas o Instrutor
prosseguiu: "Não se
aflija. Somos Espíritos
endividados, perante as
Leis Divinas, e estamos
situados na faixa de
expressiva transição, a
transição do amor
narcisista para o amor
desinteressado. Temos
teorias de santificação
para o sentimento, mas,
na essência, somos
simples iniciantes na
prática. Na esfera dos
pensamentos nobres,
assimilamos o influxo
dos Planos Gloriosos;
todavia, no campo dos
impulsos inferiores,
carregamos ainda o
imenso fardo de desejos
deprimentes, que se
constituem de vigorosos
apelos à retaguarda".
(Cap. 15, pp. 115 e
116)
55. Oscilamos
ainda entre animalidade
e humanização -
Ribas estava querendo
dizer que o homem
terrestre, apesar de sua
inteligência refinada,
ainda oscila, de modo
geral, entre animalidade
e humanização, embora
existam casos
particulares de
criaturas que já se
encaminham da
humanidade para a
angelitude. "A maioria
de nós outros, os
Espíritos capitulados
na escola da Terra –
informou o Instrutor –,
nos achamos em trânsito
da poligamia para a
monogamia, com
referência à devoção
sexual. Decorre daí o
impositivo de vigilância
sobre nós mesmos,
sabendo-se que o sexo é
faculdade criativa, nos
domínios do corpo e da
alma." Dirigindo-se,
especialmente, a
Evelina, Ribas comentou:
"Compreensível, minha
irmã, que você houvesse
registado o fenômeno da
atração de que dá
notícia e muitíssimo
justa a continência a
que se determinou,
exortando o raciocínio
claro e responsável a
frenar o coração
imaturo. Ninguém
atingirá o porto da
dignidade espontânea,
sem viajar, por longo
tempo, nas correntes da
vida, aprendendo a
manejar o leme da
disciplina. Embora isso,
porém, saibamos debitar
a nós próprios os erros
que perpetramos, no
tocante aos valores
afetivos, a fim de
saná-los ou resgatá-los
em momento oportuno."
"Túlio terá cometido
muitos disparates, até
agora; no entanto, a sua
consciência de mulher
não se eximirá, com
certeza, aos
compromissos que lhe
cabem no assunto."
Evelina ouviu essas
considerações e
perguntou como poderia
apagar seu débito para
com o ex-namorado.
"Auxiliando-o a limpar
as próprias emoções,
como se purificam as
águas de um poço
barrento", respondeu-lhe
o Instrutor, que,
retirando de curioso
arquivo uma ficha,
informou que Mancini
efetivamente perdera o
corpo físico pela ação
delituosa de Caio
Serpa. Vítima da
desencarnação prematura,
o rapaz perambulara,
algum tempo, à feição de
sonâmbulo na paisagem
terrena que lhe servira
de fundo à tragédia,
sendo, mais tarde,
recolhido, ali mesmo, na
cidade em que lhe
pesquisavam agora a
situação. Ficara neste
sítio alguns meses; no
entanto, a paixão que
Evelina lhe insuflara
levianamente na alma
fixara nela e em torno
dela os pensamentos.
Tornara-se, à vista
disso, arredio ao
próprio reerguimento,
acabando por fugir no
rumo do tenebroso
distrito da inteligência
desenfreada, onde se
entregara, nos últimos
anos, a desvarios
diversos. (Cap. 15, pp.
117 e 118)
56. A justiça divina funciona em nós mesmos
- Na terra da
liberdade, vinculado
à lembrança de Evelina,
que lhe acalentara
tantos sonhos de
ventura, ele se viciara,
desconsiderando a
própria
respeitabilidade.
Retornando, porém,
àquele pouso de
consolação e
reequilíbrio, por efeito
do reencontro com sua
eleita, fora agraciado
com novo ensejo de
reeducação. A exposição
feita pelo Instrutor
impressionou vivamente a
Fantini e sua amiga,
devido à sua lógica
irretorquível. Ribas, no
entanto, prosseguiu:
"Podemos dizer-lhe,
minha irmã, que, por
seus méritos
indiscutíveis,
benfeitores e amigos de
que dispõe na
Espiritualidade Maior
rogaram aos agentes da
Divina Justiça não lhe
permitissem a
desencarnação sem
começar o processo de
sua reabilitação
espiritual na Terra
mesmo... Assim é que,
através da onda mental
dos remorsos que lhe
ficaram, à face do
suposto suicídio de
Mancini, você atraiu
para o próprio claustro
materno o Espírito
sofredor de um irmão
suicida, sentenciado
pela própria consciência
a experimentar a
provação de um corpo
frustrado, de modo a
valorizar com mais
respeito o divino
empréstimo da existência
física". "Como é fácil
de ver, as angústias da
maternidade malograda
lhe foram extremamente
úteis na Terra, por lhe
haverem proporcionado
ensejo a preciosas
reparações." Quanto a
Mancini, seu sofrimento
decorria do fato de
haver antes intentado o
suicídio, o que deu a
Caio Serpa o molde do
crime. "Estamos
examinando, entre
amigos – aclarou o
Instrutor –, a lei de
causa e efeito.
Compreendamos que a
justiça funciona em nós
mesmos..." "Somos
mecanicamente impelidos
para pessoas e
circunstâncias que se
afinem conosco ou com os
nossos problemas.
Suscitando ideias de
autodestruição na mente
de um homem cujas
atenções granjeara,
Evelina transportou-se
da irreflexão para o
arrependimento, depois
de verificar-lhe a
derrocada moral numa
empresa gorada de
suicídio, procurada
conscientemente. Apenas
aí, coagida pela
compunção, nossa irmã
percebeu que agira em
prejuízo do rapaz de
quem obtivera integral
confiança, lesando, em
consequência, a si
própria. Lastimando
Mancini, deplorava a si
mesma e, nesse estado de
emoções negativas,
fez-se vaso de uma
entidade nas condições
em que supunha haver
precipitado o moço menos
feliz. À vista disso,
converteu-se
automaticamente em
desventurada mãe de um
companheiro suicida, no
anseio de expiar a
própria falta."
Endereçando afetuoso
olhar para Evelina,
Ribas concluiu:
"Enunciando
inconscientemente o
desejo de exculpar-se, o
seu propósito alcançou
o coração de amigos e
benfeitores no Mundo
Espiritual que lhe
advogaram a concessão da
bênção a que já nos
referimos. Você padeceu,
pois, antes da
desencarnação, a pena de
que se julgava
merecedora, sequiosa
que se achava de
propiciar a Mancini a
supressão do mal que lhe
havia causado". (Cap.
15, pp. 119 e 120)
(Continua na próxima
semana.)