Fagulhas de esperança
“Contemplai, pois,
durante a noite, na hora
do repouso e da prece,
essa abóbada azulada, e
entre as inumeráveis
esferas que brilham
sobre as vossas cabeças,
procurai as que levam a
Deus, e pedi que um
mundo regenerador vos
abra o seu seio, após a
expiação na Terra.” –
Santo Agostinho (O
Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. III,
item 18.)
Nosso olhar há muito
pousa sobre as crianças
reencarnadas, na
expectativa de vermos um
comportamento que nos
evidencie a proximidade
da tão falada
regeneração do nosso
planeta Terra. Temos
visto, sim,
inteligências enormes,
mas como sabemos que o
amor segue à frente, são
comportamentos amorosos
que procuramos. O
comportamento revela o
Espírito desde a mais
tenra idade e é trabalho
para os pais a educação
dos sentimentos. Alguns
já nascem com bons
sentimentos, outros
revelam profundo
aprendizado a ser
conquistado.
Allan Kardec comenta, no
capítulo VIII do
Evangelho supracitado,
no item 3, que o
Espírito da criança pode
ser muito antigo, e que
ele traz ao renascer na
vida corpórea as
imperfeições de que não
se livrou nas
existências precedentes.
Diz ele que somente um
Espírito que chegou à
perfeição poderia
dar-nos o modelo da
verdadeira pureza. Nesse
caso, aqui na Terra,
somente nosso amado
mestre Jesus.
Na questão 379 de O
Livro dos Espíritos,
ele pergunta se o
Espírito que anima o
corpo de uma criança é
tão desenvolvido como o
de um adulto e os
Espíritos respondem que
pode ser mais, se mais
progrediu; não são senão
os órgãos imperfeitos
que o impedem de se
manifestar. Ele age de
acordo com o
instrumento, com a ajuda
do qual pode se
manifestar.
Na questão 385 do mesmo
livro, com referência às
mudanças de caráter,
observadas
principalmente ao sair
da adolescência, os
Espíritos dizem a
Kardec:
- não conheceis os
segredos que escondem as
crianças em sua
inocência, não sabeis o
que são, o que foram e o
que serão.
- mesmo para uma criança
naturalmente má,
cobrem-se-lhe as faltas
com a não consciência de
seus atos.
- os Espíritos entram na
vida corporal para se
aperfeiçoar, se
melhorar; a fraqueza da
pouca idade os torna
flexíveis, acessíveis
aos conselhos da
experiência e daqueles
que os devem fazer
progredir. É quando se
pode reformar seu
caráter e reprimir-lhes
as más inclinações; tal
é o dever que Deus
confiou aos pais, missão
sagrada pela qual
deverão responder.
Sabemos que há pais que
exercem bem sua missão,
educam seus filhos, e há
pais que promovem um
verdadeiro abandono da
educação. Há aqueles que
muito amam e outros que
promovem maus tratos,
ignorância do amor.
Somente teremos um mundo
melhor amanhã se nos
melhorarmos e se nossas
crianças aprenderem a
amar e ter educação
para, por sua vez,
saberem educar a
outros.Um dia a lei do
Cristo regerá os homens
e todos se tratarão com
a bondade e o amor que
gostam de receber. Há
Espíritos que brilham na
Terra, já sabendo viver
o amor e serem exemplos
para muitos, e outros
que ainda não o
conseguem, mas um dia
conseguirão. Repetimos
que o comportamento
revela o Espírito. As
atitudes corretas e o
amor indicam em que grau
da escala espírita,
contida em O Livro
dos Espíritos se
encontra determinado
ser. Não basta
inteligência apenas;
essa é uma asa de
liberdade para ascensão
para a luz, mas é a asa
do amor a que segue à
frente, conforme comenta
Emmanuel, através da
psicografia de Chico
Xavier.
Uma mãe esclarecida, que
educa bem seus filhos,
tendo um com 20 anos e
outro com seis anos,
ambos excelentes, nos
contou toda feliz a
“lição”que seu filho
mais jovem lhe deu.
Esse menino, a quem
chamaremos Vicente, tem
sido alvo de nossa
observação há algum
tempo. Ele é cativante,
comunicativo, amoroso,
alegre, envolve a todos
com sua presença. Já
chegamos a pensar que
ele é um dos que vão
fazer a diferença, para
um mundo melhor amanhã.
A mãe, num grupo que
comentava sobre as
dificuldades de educação
e mau comportamento das
crianças, devido ao
descaso dos pais, disse,
alegre: - O Vicente me
aprontou uma, vejam que
menino! Eu quis me
afundar no chão com a
colocação dele!
Ao se perguntar o que
ele fez, ela relatou a
história:
- Ele estava na minha
cama, pediu para dormir
comigo e eu deixei, pois
o pai teria turno de
trabalho à noite e não
viria dormir em casa.
Depois da prece, que
fizemos juntos, antes de
dormir, ele soltou um
profundo suspiro e
disse: eu só queria
poder brincar em paz, na
hora do recreio! Aí eu
perguntei: o que está
havendo, Vicente? Algum
problema na escola? Ele
respondeu: sabe o que é,
mãe? Eu estudo numa
sala onde somos cinco
meninos e nove meninas.
No recreio, o nosso
grupo de cinco, nos
reunimos para brincar e
as meninas não deixam.
Quando elas veem que
vamos brincar, elas se
juntam em grupos de duas
ou três e correm atrás
de todos nós, nos
prendem, pois elas são
maiores do que nós e
mais fortes, nos levam
para o portão e nos
prendem lá, não deixam a
gente sair. Ficamos
presos até a hora do
recreio acabar.
- Digam a elas que vocês
não estão gostando disso
e peçam para elas
pararem, disse eu.
- Não adianta mãe, ele
continuou, já pedimos e
pedimos e elas não
atendem.
- Então, meu filho,
disse eu, o remédio é
vocês também fazerem
isso com elas. Peguem
uma de cada vez, uma por
dia em três de vocês,
imprensem no portão e
não deixem sair. Aí elas
verão que isso incomoda
e vão deixar vocês em
paz.
Foi aí que eu quis me
afundar no chão, de
vergonha do que falei,
com a resposta dele:
- Mas, mãe, você acha
que se combate violência
com violência? Não dá
certo. Violência não se
vence com violência. Tem
que ser de outro jeito.
E o que você sugere? -
perguntei.
- Primeiro, nós vamos, o
nosso grupo, falar com a
diretora da escola. Se
ela não resolver, aí nós
vamos convidar as
meninas para fazerem
parte do nosso grupo!
Grande lição de uma
criança para alguns
adultos que ainda teimam
em ser violentos!
Maturidade espiritual
numa criança de seis
anos, que nessa ocasião
foi o mestre da própria
mãe!
Essa história nos faz
pensar que realmente
estamos com muitos
Espíritos melhores
reencarnados na Terra e
nos dá esperanças para
um futuro mais amoroso e
manso, sem agressões.
“Bem aventurados os
mansos, pois eles
possuirão a Terra”,
disse Jesus. Tenhamos
esperanças e continuemos
a plantar sementes de
amor onde passarmos. Um
dia, elas frutificarão.
Um dia seremos felizes e
olharemos as estrelas da
abóbada azulada pensando
num planeta de
regeneração e estaremos,
enfim, num deles!