Em face da resposta que aqui foi dada à pergunta da leitora
Niedja Krislady, a respeito
da melhor maneira de se
aplicar o passe magnético(1), recebemos da leitora Beatriz Indrusiak, de Porto
Alegre-RS, a seguinte carta:
Boa noite, Sr. Editor.
Meu nome é Beatriz. Li a
resposta dada à leitora
Niedja Krislady a respeito
de como melhor aplicar o
passe.
Gostaria de lhe perguntar
mais algumas coisas que me
deixam dúvidas:
1) Se a ação fluídica é
mista
(desencarnado/encarnado)
para a aplicação do passe, e
este fluido é direcionado
pelo Espírito desencarnado
conhecedor da tarefa,
obviamente que este usa a
ação do pensamento para
dirigir o fluido,
considerando que está
desencarnado. Então se cabe
só ao médium encarnado a
doação de seu magnetismo, e
este é dirigido pelo
pensamento do Espírito
desencarnado em direção ao
paciente necessitado, por
que há necessidade da
imposição das mãos? Afinal,
a imposição das mãos também
não seria uma bengala
psicológica para "se ter
certeza" de que o médium
está ministrando o passe?
2) Uma vez que entendemos
que não há necessidade das
mãos (inclusive Jesus curou
com as mãos, mas também
curou com sua saliva, com
sua voz, com o toque dos
doentes em suas vestes,
enfim, as mãos foram só "um
jeito" de curar entre
tantos), por que ainda
estamos propagando isso como
algo correto dentro dos
Centros Espíritas? E se
Jesus curou de tantas outras
formas, não só com a
imposição das mãos, porque a
gesticulação seria "menos
correta" do que só a
imposição das mãos?
Agradecendo sua atenção e no
aguardo de sua resposta,
Beatriz.
A imposição das mãos é, como dissemos, a forma sugerida por
Allan Kardec e por autores
espíritas diversos, a
exemplo de J. Herculano
Pires.
Allan Kardec diz que "a faculdade de curar pela imposição
das mãos deriva
evidentemente de uma força
excepcional de expansão, mas
diversas causas concorrem
para aumentá-la, entre as
quais são de colocar-se, na
primeira linha: a pureza dos
sentimentos, o desinteresse,
a benevolência, o desejo
ardente de proporcionar
alívio, a prece fervorosa e
a confiança em Deus; numa
palavra: todas as qualidades
morais" ("Obras Póstumas",
Manifestações dos Espíritos,
itens 52 e 53). "Uma grande
força fluídica, aliada à
maior soma possível de
qualidades morais, pode
operar, em matéria de curas,
verdadeiros prodígios",
afirma Kardec. E ele
completa: "A ação fluídica,
ao demais, é poderosamente
secundada pela confiança do
doente, e Deus quase sempre
lhe recompensa a fé,
concedendo-lhe o bom êxito".
Em setembro de 1865, em um artigo publicado na "Revista
Espírita" (Edicel, ano 1865,
pág. 254), o Codificador
explicou: "Se a mediunidade
curadora pura é privilégio
das almas de escol, a
possibilidade de suavizar
certos sofrimentos, mesmo de
curar, ainda que não
instantaneamente, umas
tantas moléstias, a todos é
dada, sem que haja
necessidade de ser
magnetizador. O conhecimento
dos processos magnéticos é
útil em casos complicados,
mas não indispensável. Como
a todos é dado apelar aos
bons Espíritos, orar e
querer o bem, muitas vezes
basta impor as mãos
sobre a dor para a acalmar;
é o que pode fazer qualquer
um, se trouxer a fé, o
fervor, a vontade e a
confiança em Deus. É de
notar que a maior parte dos
médiuns curadores
inconscientes, os que não se
dão conta de sua faculdade,
e que por vezes são
encontrados nas mais
humildes posições e em gente
privada de qualquer
instrução, recomendam a
prece e se entreajudam
orando. Apenas sua
ignorância lhes faz crer na
influência desta ou daquela
fórmula".
No ano anterior, em janeiro de 1864, na mesma "Revista
Espírita" (Edicel, ano de
1864, pág. 7), Kardec
transcreveu uma mensagem
transmitida por Mesmer
(Espírito), recebida na
Sociedade Espírita de Paris
em 18-12-1863, na qual o
“Pai do Magnetismo moderno”
analisa a questão das curas
por meio do magnetismo
animal. Diz Mesmer em sua
mensagem que Deus sempre
recompensa o humilde sincero
que pede a ajuda espiritual,
enviando-lhe o socorro para
que ele possa auxiliar o
enfermo. "Esse socorro que
envia são os bons Espíritos
que vêm penetrar o médium de
seu fluido benéfico, que é
transmitido ao doente",
afirma Mesmer, que diz
mais: "Também é por isto
que o magnetismo empregado
pelos médiuns curadores é
tão potente e produz essas
curas qualificadas de
miraculosas, e que são
devidas simplesmente à
natureza do fluido derramado
sobre o médium; ao passo que
o magnetizador ordinário se
esgota, por vezes em vão, a
fazer passes, o médium
curador infiltra um fluido
regenerador pela simples
imposição das mãos,
graças ao concurso dos bons
Espíritos".
Foi com base nessas e em outras referências semelhantes que
J. Herculano Pires, em seu
livro "Obsessão, o passe, a
doutrinação", editora
Paideia, págs. 35 a 37,
escreveu: "O passe espírita
é simplesmente a
imposição das mãos,
usada e ensinada por Jesus,
como se vê nos Evangelhos.
Origina-se das práticas de
cura do Cristianismo
Primitivo. Sua fonte humana
e divina são as mãos de
Jesus. O passe espírita
não comporta as encenações e
gesticulações em que hoje o
envolveram alguns teóricos
improvisados, geralmente
ligados a antigas correntes
espiritualistas de origem
mágica ou feiticista. Todo o
poder e toda a eficácia do
passe espírita dependem do
espírito e não da matéria,
da assistência espiritual do
médium passista e não dele
mesmo. Os passes
padronizados e classificados
derivam de teorias e
práticas mesméricas,
magnéticas e hipnóticas de
um passado há muito
superado. Os Espíritos
realmente elevados não
aprovam nem ensinam essas
coisas, mas apenas a prece e
a imposição das mãos.
Toda a beleza espiritual do
passe espírita, que provém
da fé racional no poder
espiritual, desaparece ante
as ginásticas pretensiosas e
ridículas gesticulações”.
(Os grifos são nossos.)
Além dos textos acima reproduzidos, sabemos que o uso das
mãos na ministração do passe
magnético vem desde os
tempos apostólicos e é
observado igualmente pelas
entidades encarnadas ou
desencarnadas, como podemos
comprovar pelos textos
seguintes:
1) “Os médiuns passistas pareciam duas pilhas humanas
deitando raios de espécie
múltipla, a lhes fluírem das
mãos, depois de lhes
percorrerem a cabeça, ao
contacto do irmão Conrado e
de seus colaboradores.”
(Nos Domínios da
Mediunidade, cap. 17, pp.
164 a 166.)
2) “Existe fluidificação eminentemente magnética, que são as
energias do próprio
sensitivo, nesse caso, tido
como magnetizador. Ele se
desgasta porque doa do seu
próprio plasma, e a partir
dessa doação sente-se
cansado, esgotado. Um outro
nível é o das energias
espirituais-materiais ou
psicofísicas, quando se dá a
conjugação dos recursos do
mundo espiritual com os
elementos do médium; o
indivíduo se coloca na
posição de um vaso de cujos
recursos os Benfeitores se
utilizam. Eis quando
caracterizamos o médium
aplicador de passes ou
passista: aquele em quem,
segundo a instrução do
Espírito André Luiz, as
energias circulam em torno
da cabeça, como que
assimilando os valores da
sua mentalização,
escoando-se através das
mãos, para beneficiar o
assistido.” (J. Raul
Teixeira, em Diretrizes de
Segurança, questão 83.)
3) “Qual criança medrosa, procurando refúgio, ele queria
retomar o corpo físico, mas
Alexandre, aproximando-se,
estendeu-lhe as mãos, das
quais saíram grandes chispas
de luz. Contido pelos raios
magnéticos, Adelino pôs-se a
tremer, notando-se que ele
começava a ver alguma coisa
além da figura de
Segismundo.”
(Missionários da Luz, cap.
13, págs. 191 a 193.)
4) “Sob o sábio comando de Clementino, Raul falou com
afetividade ardente: Libório,
meu irmão! Essas três
palavras foram ditas com
tamanha inflexão de
generosidade fraternal que o
Espírito não pôde sopitar o
pranto. Raul aproximou-se
dele, impondo-lhe as mãos,
das quais jorrava luminoso
fluxo magnético, e convidou:
Vamos orar! Findo um minuto
de silêncio, necessário a
uma perfeita concentração
mental, a voz do diretor da
casa, sob a inspiração de
Clementino, suplicou o
socorro do Divino Mestre.”
(Nos Domínios da
Mediunidade, cap. 7, págs.
63 e 64.)
5) “Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium,
comunicou-lhe radiosa
corrente de forças e
inspirou-a a movimentar as
mãos sobre a doente, desde a
cabeça até o fígado
enfermo.” (Nos Domínios
da Mediunidade, cap. 17,
págs. 168 a 170.)
6) “O semblante do enfermo transformava-se gradualmente, à
medida que Alexandre
movimentava as mãos sobre o
seu cérebro. André percebeu
que a forma perispiritual de
Antônio reunia-se
devagarinho à forma física,
integrando-se
harmoniosamente uma com a
outra, como se estivessem,
de novo, em processo de
reajustamento, célula por
célula.” (Missionários da
Luz, cap. 7, págs. 72 a 75.)
7) “Verônica, uma entidade muita querida ao instrutor
Alexandre, que fora exímia
enfermeira na Crosta,
integrava a equipe de
colaboradores. Começaria
agora o auxílio magnético à
médium. Era preciso
incentivar os processos
digestivos para que o
aparelho mediúnico
funcionasse sem obstáculos.
Alexandre, Verônica e mais
três entidades colocaram as
mãos, em forma de coroa,
sobre a fronte da jovem e
essas energias reunidas
formaram vigoroso fluxo
magnético que foi projetado
sobre o estômago e o fígado
da médium, órgãos esses que
acusaram, de imediato, novo
ritmo de vibrações.”
(Missionários da Luz, cap.
10, págs. 113 a 115.)
8) “Anacleto atuou por imposição de mãos. Sua destra emitia
sublimes jatos de luz que se
dirigiam ao coração da
senhora: os raios de
luminosa vitalidade eram
impulsionados pela força
inteligente e consciente do
emissor. Assediada pelos
princípios magnéticos, a
reduzida porção de matéria
negra, que envolvia a
válvula mitral, deslocou-se
vagarosamente e, como se
fora atraída pela vigorosa
vontade de Anacleto, veio
aos tecidos da superfície,
espraiando-se sob a mão
irradiante, ao longo da
epiderme. Em poucos
instantes, o organismo da
enferma voltou à
normalidade.”
(Missionários da Luz, cap.
19, pp. 325 a 327.)
*
O passe pode ser ministrado a distância, sem auxílio das
mãos?
É evidente que sim, mas é preciso considerar que se trata de
outro recurso, diferente da
singela “imposição das
mãos”, a que nos reportamos
nas citações acima.
Se no atendimento pela imposição das mãos é indispensável o
estado de confiança, como
Aulus explica no cap. 17,
pp. 166 a 168, do livro “Nos
Domínios da Mediunidade”, no
passe ministrado a distância
– portanto, sem uso das mãos
– é necessário algo mais: é
preciso que haja sintonia
entre aquele que o
administra e a pessoa que o
recebe.
Essa informação foi-nos revelada igualmente por Aulus, na
mesma obra a que nos
referimos. “Nesse caso – diz
Aulus –, diversos
companheiros espirituais se
ajustam no trabalho do
auxílio, favorecendo a
realização, e a prece
silenciosa será o melhor
veículo da força curadora.”
(Nos Domínios da
Mediunidade, cap. 17, pp.
168 a 170.)
Sobre o assunto, J. Herculano Pires lembra-nos, também, que
não devemos desprezar o
efeito psicológico da
presença do enfermo no
ambiente da Casa Espírita
(cf. “Obsessão, o passe, a
doutrinação”, pág. 45).
(1) A
resposta dada à leitora
Niedja Krislady foi
publicada na seção O
Espiritismo responde da
edição 326, de 25/8/2013.
Eis o link:
http://www.oconsolador.com.br/ano7/326/oespiritismoresponde.html
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