Todos sabem das lutas
financeiras que Chico sempre
travou em sua vida, e que,
mesmo nas dificuldades,
nunca aceitou para si o
fruto das edições dos livros
escritos pelos Espíritos por
seu intermédio.
Deixaremos aqui um
testemunho pessoal do
próprio médium, quando este
escrevia periodicamente para
seu grande amigo e
presidente da Federação
Espírita Brasileira, Wantuil
de Freitas. O trecho da
carta registrado abaixo foi
escrito no dia 30 de janeiro
de 1947, portanto Chico
contava apenas 36 anos. Na
missiva em questão, ele fala
da desencarnação de
Frederico Figner, que também
fora dirigente da mesma
instituição.
Vejamos o relato do próprio
médium quando ainda morava
em Pedro Leopoldo, Minas
Gerais:
“A partida de nosso
inesquecível amigo Figner
encheu-me de grandes
saudades. Ele foi um
companheiro admirável.
Convivi com ele,
epistolarmente, durante
dezessete anos consecutivos.
Dele recebi as maiores
provas de abnegação que um
amigo pode dar a outro. E a
separação dele, no plano
visível, consterna-me a
alma. Deus o fortaleça no
reino da paz e lhe restaure
as forças para que, em
breve, volte ao ministério
de auxílio à Humanidade
sofredora. Tive
conhecimento, através das
senhoras filhas dele, do
legado de cem mil cruzeiros
que ele me deixou em
Obrigações de Guerra que se
encontram à minha disposição
aí no Rio. Ele sempre cuidou
de minhas necessidades
paternalmente,
preocupando-se
excessivamente por minha
causa. Sabia ele que, nos
últimos anos, minha luta
material se intensificou
muito e, no último semestre,
escreveu-me, reiterando suas
expressões de zelo.
Entretanto, meu caro Wantuil,
a melhor homenagem que posso
prestar ao nosso inolvidável
amigo é renunciar ao
referido legado, em favor da
nova organização que a
Federação vem fazendo, com a
instalação de novas oficinas
para o livro espírita. Nesse
sentido, escrevi hoje às
senhoras filhas do nosso
venerável companheiro que
partiu, pedindo a elas
entrarem em entendimento
contigo, para que recebas,
tu mesmo, esse patrimônio,
transferindo-o para crédito
da Casa de Ismael, em face
da dívida a que a FEB se
impôs pela aquisição das
novas oficinas.
De fato, minhas lutas
materiais aumentaram muito.
Confesso-te que tem sido
difícil manter-me em PL
(Pedro Leopoldo), em face da
fileira de irmãos que me
procuram diariamente. Sou
obrigado a fornecer alimento
de 20 a 50 pessoas novas por
semana, de três anos para
cá, sem falar de grande
número de doentes, cegos e
leprosos, de passagem por
aqui, à minha procura, aos
quais preciso socorrer. Isso
me compele a gastar duas a
três vezes, por mês, a
importância do meu salário
mensal. Nosso Figner sabia
disso e preocupava-se muito.
E aqui te conto estas coisas
para comentarmos a situação.
E, para tranquilizar-te,
revelo-te também que nada me
falta e que não há
sacrifício nenhum de minha
parte, porque,
providencialmente, Jesus me
aproximou do nosso amigo Sr.
Manoel Jorge Gaio que tem me
auxiliado a sustentar a
luta. Se os deveres
aumentaram para mim,
aumentou Jesus a sua
proteção, porque o Sr. Gaio
me provê do que preciso; sua
senhora, D. Marietta Gaio,
chama-me ‘filho’,
ajudando-me também com a
ternura e abnegação. Além
disso, tenho o amor e o
cuidado de todos vocês, os
companheiros da Federação.
E, como só preciso do
necessário, creio que os cem
mil cruzeiros de nosso
querido amigo ficarão muito
bem empregados nas oficinas
novas da FEB. Perdoa-me
haver-te falado tanto de
mim, mas precisava
explicar-te a situação e
espero que me aproves.
Rogo-te para que estes
assuntos fiquem reservados
entre os nossos círculos
mais íntimos. Evitar
qualquer publicidade, em
torno do que ocorre, é uma
caridade que vocês farão.
(...)”
Fonte: "Testemunhos de Chico
Xavier", de Suely Caldas
Schubert.
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