E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
17)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Após dois anos de
ausência, Evelina e
Ernesto visitaram o lar
terreno. Como eles
vieram até à crosta?
Eles viajaram com uma
equipe de companheiros,
transportados por um
veículo, que os deixou
rente à Via Anchieta, a
rodovia que liga Santos
a São Paulo. Ali o grupo
se dispersou e cada
excursionista era um
anseio itinerante, um
mundo vivo de saudades.
O regresso fora marcado
para o dia seguinte,
vinte horas depois.
(E a Vida Continua, cap.
18, pp. 137 e 138.)
B. Que sentimentos
experimentou Evelina ao
reencontrar seu esposo?
Ao ver Caio acariciando
outra mulher, Evelina
ensaiou um movimento de
recuo. Sentindo revolta
e pesar, terríveis
calafrios lhe agitaram
as fibras da alma e ela
desejou afastar-se, para
esconder a imensa dor no
peito do amigo Ernesto
Fantini, que se
encontrava próximo da
casa, mas não pôde. Sem
ser percebida pelos dois
namorados, não teve
outro remédio senão se
acomodar em cadeira
próxima, intentando
refazer-se, enquanto mil
perguntas lhe
martelavam, então, a
mente.
(Obra citada, cap. 18,
pp. 140 a 142.)
C. Depois de compreender
que havia perdido para
outra o amor de Caio,
que atitude teve
Evelina?
A jovem arrastou-se para
fora de sua antiga
residência, buscando a
companhia de Ernesto
Fantini, porque lhe era
impossível demorar-se no
lar que reconhecia haver
perdido para sempre.
Assim que se viu na rua,
clamou pelo amigo em voz
estentórica e, quando
Fantini repontou à
frente, atirou-se em
seus braços, qual
criança desarvorada:
"Ah! Ernesto,
Ernesto!... Não suporto
mais!..." O companheiro
conduziu-a discretamente
para um banco próximo e
escutou pacientemente a
narração que ela lhe
fez, entre soluços,
procurando olvidar as
próprias apreensões.
(Obra citada, cap. 18,
pp. 142 a 144.)
Texto para leitura
65. O retorno à
Crosta terrestre
- Evelina e Fantini
pareciam crianças, de
tão contentes, pois
chegara o dia em que
visitariam o lar
terreno, após dois anos
de ausência. Por isso,
às despedidas, o
Instrutor Ribas
recomendou: "Vocês
representam nossa
cidade, nossos costumes
e princípios, portem-se
na base do novo
entendimento. Se
precisarem de auxílio,
comuniquem-se conosco
pelo fio mental". Ambos
viajaram com uma equipe
de companheiros,
transportados por um
veículo que pousou rente
à Via Anchieta, rodovia
que liga Santos a São
Paulo. Ali o grupo se
dispersou e cada
excursionista era um
anseio itinerante, um
mundo vivo de saudades.
O regresso fora marcado
para o dia seguinte,
vinte horas depois.
Nossos amigos
respiraram,
maravilhados, o vento
brando que os saudava.
Felizes, surpresos,
custava-lhes crer
estivessem na entrada de
São Paulo. Era maio, bem
à tardinha, e rajadas de
frio traziam recordações
de tempos idos. Evelina,
que trazia a mente e o
coração absorvidos pela
imagem do esposo, em
certo trecho do caminho
perfilou-se diante de
Fantini, como se
buscasse nele um grande
espelho, e perguntou
como ela se achava.
Evidentemente, sabia
que Caio não lhe
identificaria a
presença, mas queria
apresentar-se bem, com
as mesmas
características de
simplicidade e bom gosto
com que o marido
estimava encontrá-la
quando retornava a casa.
Ernesto riu-se ao
ouvi-la e elogiou-lhe a
perspicácia. Fitou-lhe o
penteado e o rosto,
pediu reajuste nas
dobras do vestido e
aprovou os sapatos, à
feição de um pai,
encorajando a filha para
a exibição num baile de
debutantes. (Cap. 18,
pp. 137 e 138)
66. As apreensões
de Fantini e Evelina
- Ambos já pisavam o
bairro do Ipiranga, onde
Evelina esperava rever o
seu esposo, quando a
alegria deu lugar à
inquietação. À medida
que se avizinhava do
antigo lar,
oprimia-se-lhe o peito.
E se Caio não estivesse
na altura em que ela o
situava, amoroso e fiel?
A dúvida cravou-se em
seu espírito, como
estilete envenenado que
lhe varasse as
entranhas. "Ernesto –
disse a jovem –, você
tem alguma intuição,
quanto ao que nos
espera? Imagine você
que, justamente agora,
estou amedrontada, tenho
as pernas bambas..."
Fantini lembrou-lhe as
lições que ambos haviam
transmitido a Túlio
Mancini, dizendo:
"Meditemos. Por meses e
meses, temos falado a
Túlio, você de modo
especial, relativamente
às coisas da alma...
Abnegação, compreensão,
serenidade,
paciência...
Ensinamentos dados e
recapitulados, ilações e
repetições..." E
perguntou-lhe: "Você não
admite que o Instrutor
Ribas, com tantas
explicações sobre amor e
casamento, serviço e
espiritualidade, para
nós dois, não terá feito
o mesmo, a nosso
benefício? não acredita
que ele, o dedicado
amigo, conversando, às
vezes de maneira
exaustiva, não estaria
sendo para nós um
professor, enxergando
longe?" – "E'... é...",
gaguejou Evelina. Era
preciso, pois, concluiu
Fantini, estarem
preparados para
mudanças... Evelina
mudou de assunto e
alegou a necessidade de
breve descanso, antes de
rever Caio. Eles
rumaram, então, para o
Museu do Ipiranga, onde
se acolheram ao pé de
fonte amiga, cujas águas
pareciam guardar o poder
de serenar-lhes os
pensamentos. Mas Fantini,
como que contagiado
pelos temores da
companheira, acusou-se,
de repente, amuado,
receoso igualmente do
reencontro que lhe
despertava agora maus
presságios. Minutos
depois, levantaram-se e
rumaram para a casa de
Caio Serpa. Fantini,
sempre atencioso,
prometeu assisti-la em
seu primeiro contacto
com o lar. Se tudo
correspondesse à
expectativa otimista,
viesse até ele, que
ficaria aguardando seu
aviso nos arredores da
casa e, então, a
deixaria com Caio até o
dia imediato, enquanto
se dirigiria para a Vila
Mariana, onde contava
rever a família. Evelina
aceitou de pronto a
sugestão, porque não
lhe aprazia ficar a sós,
nem lhe prescindia do
apoio. (Cap. 18, pp. 139
e 140)
67. Evelina revê,
finalmente, seu esposo
- Eram seis horas da
tarde quando Evelina,
coração aos pulos,
aproximou-se do lar.
Atravessou o pátio de
acesso e tateou a porta
de entrada que lhe
facilitou a passagem. A
sala era a mesma, com
pequenas alterações no
mobiliário do seu tempo.
No escritório de Caio,
os livros estavam em
ordem, mas havia ali uma
foto de mulher, o que
lhe produziu impressões
negativas e turvou-lhe o
raciocínio. Fora
substituída, por certo,
e sentia a cólera
prestes a explodir em
crise violenta, quando
se recordou das palavras
de Ribas: "portem-se na
base do novo
entendimento". Caminhou,
então, até o pequeno
jardim de inverno, onde
assistiu a uma cena com
que não contava: Caio
acariciava a jovem da
fotografia, num gesto de
ternura que ela,
Evelina, conhecia muito
bem. Entre revolta e
pesar, ensaiou movimento
de recuo. Terríveis
calafrios lhe agitavam
as fibras da alma, qual
se estranha lipotimia a
subjugasse de todo,
anunciando-lhe nova
morte.(1)
Evelina desejou correr e
denunciar-se, gritar e
afastar-se, para
esconder a imensa dor no
peito de Fantini, mas
não pôde. Sem ser
percebida pelos dois
namorados, não teve
outro remédio senão se
acomodar em cadeira
próxima, intentando
refazer-se. Mil
perguntas lhe
martelavam, então, a
mente. Quem era a
desconhecida? por que
Caio, que lhe jurara
amor eterno nos últimos
dias de sua permanência
no lar, rompera os
votos? estaria ele
casado, ou brincava com
os sentimentos alheios?
Evelina ficou surpresa
com a indiferença que
ambos revelavam diante
dela e pôde verificar,
pela primeira vez após
sua desencarnação, que
os sentidos físicos se
enquadram a limites
rigidamente
determinados, porquanto
Caio e a namorada
pousavam nela o olhar,
mas não a viam. Evelina
agoniava-se e era com o
coração lacerado que via
o marido dirigir à outra
os mesmos olhares de
carinho que lhe haviam
pertencido. E não só
isso, pois reconheceu o
fio de pérolas que lhe
fora presente de
noivado, oferecido por
ele à rival. Chorou,
pois, irritada, mas,
embora trouxesse os
pensamentos
conflagrados, não
conseguia desfazer-se da
sutil vinculação com os
ensinamentos da cidade
espiritual onde agora
residia, percebendo-se
analisada quanto ao
aproveitamento das
lições aprendidas com
Ribas e os instrutores
da Vida Maior. (Cap. 18,
pp. 140 a 142)
68. Evelina
reconforta-se com a
prece - A
lembrança de Túlio, a
quem tão repetidamente
ensinara o desapego
afetivo, foi inevitável
e Evelina admitiu-se em
condições de egoísmo e
inconformidade talvez
muito piores que as
dele. Recorreu, assim, à
prece, diligenciou
humilhar-se, lutou
contra si própria, e
concluiu que Caio
desfrutava o direito de
ser feliz como
desejasse. A calma que
se seguiu foi uma
consequência dessa nova
postura e ela pôde,
então, escutar o diálogo
que se desdobrava,
ativo, rente a ela. A
namorada que Caio
designava por Vera, após
uma cena de ciúme, caiu
em pranto, por sentir-se
traída por ele com outra
mulher. Caio atraiu-a de
encontro ao peito e
sussurrou-lhe aos
ouvidos, depois de
beijá-la várias vezes:
"Tolinha! A felicidade
não é flor que se adube
com lágrimas. Anime-se!
sou seu e você é
minha..." Ela replicou:
"Se ao menos
estivéssemos casados,
se ao menos pudesse usar
seu nome, saberia como
proceder com essas
mulheres que infernizam
a nossa vida..." Caio
pediu-lhe que
esperasse, porque não
apreciava a ideia de
possuir uma sogra louca.
"Já falei", reiterou
Caio. "Meta essa velha
no hospício, que ela já
aproveitou a vida dela,
agora temos de viver a
nossa... Hoje, iremos ao
Guarujá, quero ver o
negócio por mim mesmo".
Vera chorava
copiosamente e, enquanto
Serpa lhe acarinhava os
cabelos para consolá-la,
Evelina arrastou-se para
fora. Tinha sede da
presença de Ernesto
Fantini, ansiava
retomar-lhe a companhia.
Impossível demorar-se no
lar que reconhecia
haver perdido para
sempre. Logo que se viu
na rua, clamou pelo
amigo em voz estentórica
e, quando Fantini
repontou à frente,
atirou-se em seus
braços, qual criança
desarvorada: "Ah!
Ernesto, Ernesto!... Não
suporto mais!..." O
companheiro conduziu-a
discretamente para um
banco próximo e escutou
pacientemente a
narração que ela lhe
fez, entre soluços,
procurando olvidar as
próprias apreensões.
(Cap. 18, pp. 142 a 144)
(Continua na próxima
semana.)
(1)
Lipotimia: o mesmo que
síncope, delíquio,
desmaio.