Para
além da
posse em
benefício
de todos
Este
artigo é
um
esforço
de
crítica
a uma
problematização
necessária
de ser
realizada
no meio
espírita.
Infelizmente
ainda
são
presentes
precárias
reflexões
sobre a
materialidade
das
condições
de vida
humana
dentro
de
muitos
centros
espíritas
que
realizam
palestras
maçantes
(atualmente
com o
auxílio
do data
show, do
qual
muitos
palestrantes
não se
largam e
praticam
uma
leitura
enfadonha
e
cansativa).
Fracos
estudos
sobre as
obras
clássicas
do
Espiritismo
e algum
assistencialismo
para os
pobres,
pensam
estar
sendo
coerentes
com a
doutrina
codificada
por
Kardec.
O
presente
leitor
que me
perdoe
se a
crítica
lhe soar
forte
demais,
entretanto,
quanto
mais
ando por
esse
país
mais
percebo
o quão
são
raros os
centros
que
realmente
se
esforçam
por
manter
vivo o
tripé:
RELIGIÃO-CIÊNCIA-FILOSOFIA.
O
materialismo
histórico-dialético
proposto
por Marx
abriu
fronteiras
e
horizontes
de
análises
ao
apontar
críticas
extremamente
pertinentes
ao modo
de
produção
capitalista
que
apresentam,
sobretudo
no
período
atual de
globalização
dominante,
potencial
para
compreendermos
o
mecanismo
e os
discursos
que
estruturam
a
exploração
de uma
classe
sobre a
outra. O
Espiritismo,
por sua
vez,
resgata
os
ensinamentos
do
grande
Mestre e
irmão
Jesus
Cristo
para
conceber
à luz da
Ciência
a fé
racional,
isto é,
a fé, a
crença
na vida
além,
embasada
na
razão,
na
comprovação
empírica
de
comunicação
e
interferência
mútua
entre a
nossa
Pátria
Espiritual
e o
plano
terrestre.
Desse
modo a
tese que
defendo
é a
união de
análise
do
materialismo
histórico-dialético
com a
continuidade
de
perspectiva
e
entendimento
dos
conflitos
e
conjunturas
presentes
à luz do
Espiritismo,
convergindo
num
espiritual
materialismo
dialético.
Não se
trata
tão-somente
no
esforço
em
cunhar
um novo
conceito,
mas sim
em
reforçar
os
ganhos
analíticos
e de
reflexão
quando
nos
propomos
a
considerar
as
condições
atuais
da
existência
humana
com a
contribuição
da
doutrina
espírita.
Isso se
dá no
intuito
de não
cairmos
na
frieza e
arrogância
acadêmica
de
muitos
intelectuais
marxistas,
tampouco
na
ingenuidade
e
superficialidade
de
considerar
somente
aquilo
que se
entende
por
espiritual.
Feitas
essas
breves
considerações,
as quais
espero
realmente
que
mobilizem
o leitor
a
criticar-me,
entrarei
no
debate
sobre a
posse.
Vivemos
em uma
era
concebida
como
“tempos
líquidos”,
como
denomina
Bauman,
ou
sociedade
pós-moderna,
de
globalização
enquanto
perversidade,
como
defendida
por
Milton
Santos...
Tantas
definições
para
demonstrar
o
caráter
individualista,
fluido,
competitivo,
acelerado,
desigual,
injusto
e
ideológico
que
marcam
as
relações
sociais
de nosso
tempo.
Contudo,
precisamos
lembrar
que
ainda
vivemos
sob a
estrutura
e
organização
do modo
de
produção
capitalista
e a
propriedade
privada
é sua
pedra
elementar.
A época
atual
consegue
muito
bem,
através
do
consumo
generalizado
e das
políticas
compensatórias,
ornamentadas
com uma
incessante
propaganda
televisiva,
jornalística
e etc.,
nos
convencer
que as
desigualdades
sociais
diminuíram
e que a
realidade
presente
é muito
melhor
que a da
1ª ou 2ª
Revolução
Industrial,
com suas
elevadas
jornadas
de
trabalho
e falta
de leis
trabalhistas.
Justamente
esse é o
ponto
chave: a
ideologia.
Marx e
Engels
em seu
livro “A
Ideologia
Alemã”
nos
ensinam
que: “Os
pensamentos
da
classe
dominante
são
também,
em todas
as
épocas,
os
pensamentos
dominantes;
em
outras
palavras,
a classe
que é o
poder
material
dominante
numa
determinada
sociedade
é também
o poder
espiritual
dominante.
A classe
que
dispõe
dos
meios da
produção
material
dispõe
também
dos
meios da
produção
intelectual,
de tal
modo que
o
pensamento
daqueles
aos
quais
são
negados
os meios
de
produção
intelectual
está
submetido
também à
classe
dominante”.
Esse
trecho
permite
compreender
como
apesar
da ainda
existência,
na
atualidade,
do
trabalho
infantil,
trabalho
escravo,
desrespeito
às leis
trabalhistas,
enfim,
como a
exploração
ainda é
escondida,
maquiada
e
mascarada
pela
ideologia
dominante
que
acaba
fazendo
com que
muitos
de nós
pensemos
ser
importante
“louvar
os
grandes
impérios
financeiros
que
distribuem
empregos”.
Somente
a título
de
curiosidade:
o
Tribunal
Regional
do
Trabalho
em Santa
Catarina
condenou
a
empresa
Sadia,
em
Chapecó
– SC, a
pagar
para
todos
seus
funcionários
o tempo
destinado
à troca
de
uniformes
e
deslocamentos
entre a
portaria
da
empresa
e o
vestuário,
entre os
anos de
2005 e
2011, já
que esse
mesmo
tempo
não era
contabilizado
como
hora de
serviço,
corroborando
numa
condenação
que
deverá
ultrapassar
R$ 20
milhões
de
reais,
aliás,
valor
esse
irrisório
se
comparado
com o
lucro
dessa
empresa
somente
no ano
de 2012,
no valor
de R$ 28
bilhões.
Além
disso,
relatório
elaborado
para
congresso
mundial
sobre
saúde e
segurança
no
trabalho,
na
Turquia,
mostra
que as
enfermidades
mortais
vinculadas
ao
trabalho
cresceram
de 1,95
milhão,
em 2003,
para
2,02
milhões,
em 2008,
ou seja,
esses
são
exemplos
que
explicitam
(e
poderíamos
ainda
lembrar
muitos
outros)
que
ainda
lidamos
diariamente
com
condições
exploratórias
marcantes
no conflito
entre a
classe
dominante
e a
classe
trabalhadora.
Recusar-se
a
entender
os
interesses
de
classes
não só
economicamente
opostas,
mas
também
com
projetos
antagônicos,
inclusive
negando-as,
não é só
uma
opinião,
é algo
perigoso.
Negar a
perspectiva
de
classe
na
atualidade,
entendendo
isso
como
coisa
somente
aplicável
ao
século
XIX, é
explicitamente
rejeitar
do
debate
os
embates
em todos
os
campos
da
questão
social
(já que
quando
analisados
esses
conflitos,
nitidamente
percebemos
intencionalidades
projetivas
opostas)
e
assumir
uma
postura
muito
bem
definida,
do ponto
de vista
de
classe...
Não é
somente
a posse
dos
meios de
produção
e a
venda da
força de
trabalho
que
definem
cada
qual.
Mais do
que
nunca
estão em
jogo
aqueles
que se
opõem
efetivamente
à
exploração,
possuindo
um
projeto
alternativo
de
produção,
e os que
historicamente
camuflam
o mesmo
aspecto
explorador,
preconizando
o
princípio
de que
"basta
trabalhar
muito e
todos
enriquecerão",
defendendo
o
princípio
de
"liberdade
individual",
mas não
tendo a
coragem
de
analisar
de modo
mais
amplo o
preço
que tal
"liberdade"
custa a
milhões
de
trabalhadores...
É essa
perspectiva
de
conflito,
numa
análise
mais
ampla,
tendo
como
eixos de
compreensão
a
exploração
e os
projetos
de
sociedade
divergentes
entre as
classes
sociais,
que
permite
não nos
rendermos
a uma
opinião
midiática
que
apregoa
a classe
dominante
como
“aqueles
que com
enormes
esforços
juntaram
grandes
fortunas”.
É para
essa
realidade
que
devemos
estar
atentos
nos
centros
espíritas,
a fim de
não
reproduzirmos
um
discurso
coerente
com
interesses
da
classe
que
domina,
enquanto
que
aqueles
que
frequentam
nossas
reuniões
e
espaços
conformam
a classe
trabalhadora.
Claro
que
estou
sendo
muito
radical
e breve
em
minhas
considerações,
porém,
não dá
mais pra
disseminar
um
discurso
preocupado
num
moralismo
fatalista,
conformista
e banal
como os
apresentados
pelos
espíritas
em sua
maioria.
O
merecimento
de cada
um, as
provações,
dívidas,
tudo
isso
interfere
e está
presente
nessa
dinâmica
de
exploração
e não
deve ser
menosprezado.
O povo
tem
educação
e
necessita
de
garantia
dos
direitos
sociais
e
políticas
públicas,
já que
ninguém
educa
ninguém,
nós que
nos
educamos
na
relação
de uns
com os
outros e
o mundo,
como já
nos
ensinava
Paulo
Freire.
Uma das
tarefas
nos
centros
é
discutir
e
palestrar
junto
com
seus
frequentadores
e não
para
eles,
de modo
que o
cotidiano
possa
ser
debatido
com a
contribuição
dos
conceitos
espíritas.
Este
educador
dizia
que a
educação
não
transforma
o mundo,
mas sim
os
homens,
e estes
transformam
o
mundo...
Freire
também
defendia
um ponto
de vista
que
comungasse
com a
classe
trabalhadora,
partisse
de sua
visão de
mundo,
para
juntos a
problematizarmos
e nela
nos
inserirmos
novamente
a fim de
transformá-la.
Essa
ideia de
ação-reflexão-ação
é a que
defendo
a partir
do
espiritual
materialismo
dialético
como
prática
constante
em
centros
espíritas.
Precisamos
conhecer
nossos
frequentadores
que na
sua
maior
parte
conformam
a classe
trabalhadora,
assim,
necessitamos
ouvi-los,
discutir
coletivamente
os temas
espíritas
e de
nosso
cotidiano,
para
juntos
caminharmos
numa
reforma
íntima
forte o
suficiente
para
romper
com os
vícios,
preconceitos
e
maldades
presentes
em
nossos
corações.
Somente
um
trabalho
de
estudo e
auxílio
conjunto,
sem
hierarquias,
sem
preferencialismos
baratos,
conseguirá
fornecer
as bases
para que
possamos
nos
compreender
mais à
luz das
problemáticas
do
dia-a-dia,
esclarecidas
pelos
ensinamentos
espíritas,
e, dessa
maneira,
dar mais
um passo
na longa
caminhada
do
progresso
espiritual.
Por
isso,
devemos
ter o
cuidado
com
nossas
falas e
escritos
se
estivermos
nos
propondo
a usar o
método
espírita
de
análise,
já que
imperioso
é acabar
com
impérios,
assim
como há
na
realidade
muito
mais
impérios
financeiros
erguidos
à custa
da morte
literalmente
alheia
do que
“preguiçosos”
como
muitos
apontam...