O caso que apresentaremos a
seguir, narrado pelo próprio
médium, revela não só a
pureza do caráter de Chico,
naquela época com apenas 22
anos, como também suas lutas
financeiras que o impediam
de adquirir um simples livro
espírita, além de tornar
evidente a grandeza e
fidedignidade de sua
mediunidade que se manteve
por mais de setenta anos
fiel a Jesus.
‘(...) Quando saiu o
“Parnaso de Além-Túmulo”, em
1932, eu tinha um desejo
enorme de comprar alguns
livros de Espiritismo,
entretanto, meu salário era
de 90 cruzeiros por mês e
namorava o Catálogo da
Livraria da FEB,
inutilmente. Meu único amigo
no Rio, por esse tempo, era
o Quintão, mas
envergonhava-me de pedir-lhe
publicações. Em Belo
Horizonte, não conhecia
ninguém da comunidade
doutrinária. Tempos depois
da saída do “Parnaso” (não
sei a época certa. Deve ser
de 1932 a 1935. O tempo
voa), certa noite recebi “A
Verdade”, o jornal que me
vinha de tuas mãos, quando
eu não te conhecia
pessoalmente, e, como
sempre, devorei a página
consoladora assinada por
“Vovó Virgínia”. Dormi ou me
libertei do corpo carnal
meditando nela, quando me
senti, fora do veículo
físico denso, num jardim. Lá
estavam uma senhora cercada
de luz e um cavalheiro
parecendo muito mais moço
que ela. Uma secreta ligação
me atraía para ela e
aproximei-me timidamente.
Quis abraçá-la mas receei
ser intruso. Então ela
sorriu, enlaçou-me e disse:
– Você não me conhece mais?
Eu sou Virgínia.
Associei as palavras com a
pessoa que escrevia em “A
Verdade” e entreguei-me ao
seu maternal
coração.
Ela me contemplou bondosa, e
disse:
– Que deseja você?
Ingenuamente, eu me recordei
dos livros que eu desejava
obter em vão e disse-lhe, à
maneira de criança:
– Vovó Virgínia, eu queria
alguns livros para aprender
o caminho...
Sorridente, a senhora
abraçou-me, com mais
carinho, e disse:
– Vou mandar os livros que
você deseja, e prometo mais,
que você trabalhará conosco
e receberá muitos livros...
Em seguida, a dama e o
cavalheiro me trouxeram até
a casa, numa excursão, em
que a palestra foi
inesquecível para mim, e
retomei o corpo, em lágrimas
de contentamento.
Decorrida uma semana, o
Laboratório Wantuil me
escrevia uma carta em nome
de Vovó Virgínia
(lembras-te?) – o assunto
deve constar de teu arquivo
– oferecendo-me 10 livros
espíritas, a serem
escolhidos por mim, no
Catálogo da Federação (que
eu observara ansiosamente),
em nome dela. Escolhi os dez
livros, e por sinal que eram
os mais caros e escrevi-te
acrescentando que Vovó
Virgínia, a generosa
doadora, devia ser tu mesmo,
abstendo-me, contudo, de
relatar-te o fato em si,
temendo desagradar-te.
Recebi as obras, que ainda
guardo comigo e arquivei
mentalmente o assunto.
Quando visitei, porém, o teu
lar acolhedor, em setembro
de 1939, encontro Zêus,
perto da escada de acesso ao
andar superior, e reparei
com assombro que ele, embora
criança, era perfeitamente o
cavalheiro que estava com a
luminosa entidade no jardim.
Notei tudo e calei-me.
Quando subiste à Presidência
da FEB, em 1943, recebi
algumas visitas da grande
missionária que te foi
abnegada mãe na Terra e
compreendi melhor.
Não me surpreende, pois,
tenha sido ele o teu Papai.
Entendi-lhe a ligação
sublime com a tua Mãezinha,
desde a primeira hora de meu
conhecimento pessoal. Isto é
uma grande alegria para
mim”.'
(Extraído do livro
“Testemunhos de Chico
Xavier”, escrito por Suely
Caldas Schubert, e editado
pela FEB.)
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