Eles, nossos
irmãos
José Inácio
Silveira da Mota
Falemos algo com
referência a
eles, nossos
irmãos.
Até hoje,
ninguém sabe com
segurança
quantos vieram.
Humboldt,
estudando a
localização das
raças na
América, admite
que, em
princípios do
século passado,
constituíam, na
população do
Brasil, a
parcela de quase
dois milhões.
Eram arrancados
ao lar como se
furtam pássaros
ao viveiro.
Seduzidos e
caçados sem
compaixão,
reconheciam-se,
em breve,
desiludidos ou
puxados a ferro.
Dos porões de
navios, chamados
tumbeiros, em
cujo bojo
sofriam a
tristeza e a
solidão, a peste
e a morte, eram
trazidos à praça
pública e
vendidos em
leilão à maneira
de porcos.
Separados uns
dos outros,
traídos e
seviciados,
viam-se
espalhados, aqui
e ali, como
burros de carga.
No entanto,
formavam o
sustentáculo do
engenho e do
cafezal, do
moinho e da
mineração, da
cidade e do
campo.
Nenhuma
edificação do
monumento
brasílio foi
começada sem
eles, mas por
salário, ao
martírio
silencioso em
que se
sacrificavam,
obtinham somente
a senzala e o
pelourinho, o
flagelo e a
humilhação, a
algema e o
chicote.
Muitas vezes,
foram
considerados em
nível inferior
ao dos animais.
Plantavam,
criavam e
construíam como
autênticos
desbravadores do
deserto verde,
contudo, não
recolhiam dos
senhores que os
exploravam senão
a escura
retribuição do
suor e das
lágrimas.
Por mais de
trezentos anos,
na condição de
cativos,
cruzaram o
litoral e a
montanha,
chorando e
servindo...
Incorporaram-se,
desse modo, ao
tronco
genealógico da
família
brasileira.
Arrebatados ao
berço em que se
desenvolviam,
permaneceram
agora, como é
natural,
jungidos à terra
diferente em que
se fizeram
credores da
evolução e do
progresso.
Entretanto, a
redentora lei de
13 de maio de
1888, que lhes
devolveu a
liberdade, não
lhes atingiu de
todo a vida
espiritual,
porque ainda
hoje, abertas as
portas do
intercâmbio
entre os dois
mundos, ei-los
de novo,
atraídos e
engodados nas
múltiplas linhas
do fenômeno
psíquico, para
continuarem na
posição de
elemento servil.
Abusa-se-lhes da
ingenuidade,
pede-se-lhes o
concurso na
magia
deprimente,
zurze-se-lhes o
coração com
exigências
desprezíveis e
suga-se-lhes o
seio...
Espíritas do
Brasil,
pregoeiros da fé
renovadora,
quando em
contacto com os
desencarnados,
que ainda se
ligam ao mundo
africano, por
força de estágio
evolutivo,
olvidai a paixão
escravagista,
deles aprendendo
a abnegação e a
humildade e
ajudando-os, em
troca, a subir
para mais altas
formas de
educação.
Manter o
cativeiro do
corpo ou da alma
é falta grave,
pela qual
responderemos,
um dia, nos
tribunais
celestes.
Lembremo-nos de
que os escravos
de ontem são
igualmente
nossos irmãos, e
aos irmãos não
se estende a
canga opressiva
e perturbadora,
mas sim a fonte
do amor e a
bênção da luz.
A mensagem acima
foi transmitida
psicofonicamente
na noite de 18
de agosto de
1955. Seu autor,
o Espírito de
José Inácio
Silveira da
Mota, foi
senador do
Segundo Império
e valoroso
abolicionista do
cativeiro no
Brasil. Na
mensagem, ele
comenta a
situação de
muitos dos
antigos escravos
em nossa Pátria,
ainda hoje
aprisionados
pelas exigências
dos irmãos
encarnados, que
lhes exploram a
abnegação e o
carinho.
Do livro
Vozes do Grande
Além, de
Francisco
Cândido Xavier e
Espíritos
diversos.