E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
18)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Ao sair da casa que
fora de Evelina, Ernesto
Fantini teve a primeira
decepção. Que fato
ocorreu ali?
Fantini consolava
Evelina, que sofria
muito por haver
encontrado o ex-esposo
junto de sua antiga
amante. De repente,
deu-se o que ele jamais
imaginaria. Caio saía da
garagem de sua casa,
conduzindo a namorada.
Quando Ernesto viu de
perto a parceira do
rapaz, fez-se lívido e,
profundamente chocado,
gaguejou, arrasado de
angústia: "Evelina,
Evelina, escute!... Esta
moça... esta moça é Vera
Celina, minha filha!..."
(E a Vida Continua, cap.
18, pp. 145 a 147.)
B. Por que, segundo
Caio, ele se
desinteressou por
Evelina, com quem se
casara por amor?
Conversando com a
namorada, Caio admitiu
ter-se casado com
Evelina por amor, amor
esse que se transformou
com os anos em
desinteresse. Vera quis
saber o motivo pelo qual
ele se desencantara com
a esposa, e Caio
explicou que guardava a
ambição de ser pai, mas
Evelina era doente.
"Creio – disse ele – que
carregava taras de
família. Enquanto não
abortou, não lhe vi os
defeitos... Entretanto,
depois que se revelou
enferma e incapaz, o
laço do casamento se fez
para mim pesado
demais... Nos últimos
tempos da vida, era
mulher rezadeira e
chorona..." Próxima
deles, Evelina assistiu,
com grande tristeza, a
esse diálogo.
(Obra citada, cap. 19,
pp. 148 e 149.)
C. É verdade que, de
volta à sua antiga casa,
Ernesto Fantini sofreu
outra decepção, muito
mais terrível que a
primeira?
Sim. Ao entrar no quarto
onde Elisa (sua
ex-esposa) descansava,
Fantini viu junto dela
um homem desencarnado.
Era Dedé, aquele mesmo
em quem Fantini atirara,
tantos anos antes, ao
desvairar-se pelo ciúme.
Ele estacou, aterrado,
e, num átimo, recordou a
última caçada em que
morreu Dedé, ou melhor,
Desidério dos Santos,
cuja sombra supunha
haver removido para
sempre de sua casa.
(Obra citada, cap. 19,
pp. 152 e 153.)
Texto para leitura
69. Ernesto tem um
choque ao ver a filha
- Ernesto esforçou-se
por asserená-la,
expondo, conselheiral:
"Justo que assim seja,
Evelina. Caio é jovem.
Você e ele não formavam
um casal de velhos, qual
me acontece com Elisa.
Admito que ele terá um
lugar no coração,
particularmente
reservado para você, mas
decerto experimenta as
necessidades do homem
comum..." Evelina
lembrou, no entanto, que
a moça que estava com
ele era a mesma Vera que
lhe escrevia bilhetes
antes do seu passamento,
o que mostra que ele era
infiel antes da
separação e prosseguia
infiel até agora.
Ernesto afagou-lhe a
cabeça num gesto
paternal, dizendo:
"Tenho pensado...
pensado... Não acredita
você que a morte nos
entregou a nós mesmos e
que Deus nos concedeu
benfeitores abnegados
que nos ampararam e
esclareceram para que
enfrentássemos as
verdades que hoje
estamos vivendo? que
teremos feito da
existência no mundo? um
curso de egoísmo ou um
aprendizado de
abnegação?" Ernesto
dizia isso em pranto,
mas prosseguiu: "Teria
você um esposo para amar
ou para converter num
objeto de enfeite?
falamos tanto em
devotamento, quando
jungidos ao corpo
terrestre!... Não será
depois da morte o tempo
mais propício à
demonstração de nossas
juras? não haverá
chegado o instante em
que Serpa mais necessita
de consideração e
carinho?" Essas
palavras, pelo tom em
que foram ditas,
ajudaram muito Evelina,
que se viu inclinada à
piedade e passou a
julgar o marido sob novo
prisma. Caio era jovem e
continuava vinculado ao
envoltório físico. De
que modo reclamar-lhe um
roteiro de austeridade
afetiva para o qual se
achava ainda tão longe?
Estivera reclusa no
Mundo Espiritual por
dois anos, sem revê-lo
sequer. Como
criticar-lhe a conduta?
E por que hostilizar a
menina que o seguia?
Afinal, não lhe vira as
lágrimas de sofrimento,
em registando os
sarcasmos do esposo
volúvel? Ernesto quebrou
o silêncio que se
fizera, justificando,
sensato: "Evocando as
lições de Ribas,
concluo de mim para
comigo que os nossos
instrutores impeliram
você à excursão
corrente, para que você
aprenda a perdoar e...
quem sabe? Talvez que
essa moça seja a pessoa
a quem você deva
implorar a graça de ser
a nova mãe para Túlio".
"Não admite você que
Caio deve restituir-lhe
a experiência terrena
com a devoção e a
ternura de um pai? e que
melhor ocasião
encontrará você, além da
de agora, para exercitar
os ensinamentos de
Jesus, amando aquela que
considera inimiga e
transformando-a em
instrumento de auxílio,
a benefício do homem
endividado que você
ama?" Evelina
compreendeu o alcance de
semelhantes ponderações
e caiu nos braços do
amigo, em copioso
pranto. Pouco depois um
carro despontou da
garagem, conduzindo
Caio e a namorada.
Ernesto, vendo de perto
a parceira do rapaz,
fez-se lívido e,
profundamente chocado,
gaguejou, arrasado de
angústia: "Evelina,
Evelina, escute!... Esta
moça... esta moça é Vera
Celina, minha
filha!..." (Cap. 18, pp.
145 a 147)
70. Novas
decepções sofre Evelina
- Os dois amigos
desencarnados não podiam
definir a estupefação
que os empolgara. Ainda
assim, resolveram seguir
o jovem casal,
acomodando-se na
poltrona traseira do
carro. Lágrimas grossas
molhavam a face de
Ernesto e era agora
Evelina quem procurava
consolá-lo. "Acalme-se –
sussurrou a jovem –,
somos agora mais
irmãos." Não demorou
muito e os namorados
assinalaram mentalmente
a influência dos
acompanhantes
invisíveis.
Lembrando-se, de inopino,
de Evelina, Vera
arriscou um palpite:
"Caio, às vezes cismo
indagando de mim mesma
se você não é um
apaixonado pela memória
de sua esposa...". "Eu?,
era o que faltava...",
respondeu o rapaz. "Você
sabe que Evelina estava
morta para mim, muito
antes que o médico lhe
atestasse o óbito."
Prosseguindo, Caio
admitiu ter casado por
amor, amor esse que se
transformou com os anos
em desinteresse. Vera
quis saber o motivo pelo
qual ele se desencantara
com a esposa, e Caio
explicou que guardava a
ambição de ser pai, mas
Evelina era doente.
"Creio – disse ele – que
carregava taras de
família. Enquanto não
abortou, não lhe vi os
defeitos... Entretanto,
depois que se revelou
enferma e incapaz, o
laço do casamento se fez
para mim pesado
demais... Nos últimos
tempos da vida, era
mulher rezadeira e
chorona..." E, após uma
risada franca,
acrescentou: "O remédio
era inventar viagens
para estar com você..."
(Cap. 19, pp. 148 e
149)
71. Ernesto também
se decepciona -
Evelina, que a tudo
ouvia, apoiava-se
fortemente em Ernesto,
buscando escora para
suportar com denodo
semelhantes revelações,
enquanto Vera, desviando
o rumo da conversação,
perguntou: "Caio, não
poderemos, por nossa
vez, sonhar com uma casa
enriquecida de filhos?"
"Depende...", respondeu
Serpa. "Negócio de criar
filhos não é
brincadeira. A saúde de
sua mãe não me encoraja,
aquelas manias, aquelas
crises..." Como se fora
sacudido pelos
pensamentos do sogro
desencarnado a se lhe
projetarem na mente,
Serpa contrapôs: "Que me
diz de seu pai?" A jovem
lembrou-se imediatamente
de que o pai morrera em
condições idênticas às
de Evelina, mas, temendo
falar nisso, respondeu:
"Meu pai era homem
robusto, de saúde
impecável, sempre moço,
passava, para muita
gente, como sendo meu
irmão..." Ato contínuo,
após mentir sobre a
causa da morte de
Ernesto, Vera informou
que o pai era um homem
muito inteligente e, às
vezes, folgazão, embora
tomasse a vida muito a
sério... "Meu pai
decerto que me estimava
– prosseguiu Vera Celina
–, mas era corretor de
muitas atividades,
ocupadíssimo, quase sem
tempo para a casa... A
não ser a criatura
providencial, do ponto
de vista econômico, que
se esmerava para que o
dinheiro não nos
faltasse, como pai não
me lembro de algum dia
em que se sentasse ao
meu lado para ouvir-me
ou aconselhar-me em
assuntos do coração... E
nos meus casos de
menina, bem que
necessitei, mas..."
Ernesto escutava,
humilhado, abatido, a
confessar para si
próprio que daria quanto
lhe fosse possível a fim
de voltar atrás, de modo
a ser para a filha o pai
afetuoso e vigilante que
não buscara ser.
Dizendo não haver
contado também com o
carinho materno, Vera
prosseguiu: "Desde cedo,
percebi que minha mãe é
irritadiça, desanimada.
Gosta de estar só e,
conquanto não me negue
atenção, até hoje manda
que eu me decida, em
tudo, por mim mesma".
Por fim, Vera falou
sobre as relações de
seus pais, que não foram
boas. "Minha mãe, aos
meus olhos – informou
ela –, sempre pareceu
tolerar meu pai sem
amá-lo, embora se
esforçasse diante dele,
para mostrar o
contrário." (Cap. 19,
pp. 150 e 151)
72. Uma surpresa
terrível aguardava
Fantini - Assim
que seu pai morreu –
contou Vera –, sua mãe
foi tomada de terrível
transformação, como se o
odiasse às ocultas.
"Queimou-lhe os objetos
de estima, quebrou-lhe o
relógio de bolso,
rasgou-lhe os
retratos... Imagine!...
Nem orações quis por
ele... E foi piorando,
piorando... Agora, é
como sabemos, recusa
tratamento, isola-se,
fala sozinha, ri, chora,
lamenta-se e ameaça o
silêncio e a sombra,
julgando ver e ouvir os
mortos..." Ernesto,
embora reconfortado por
Evelina, dava curso às
lágrimas. Nem de leve
supunha fosse detestado
no lar. Teria a filha
razão? por que se teriam
alterado as faculdades
mentais de Elisa? que
teria acontecido naquele
longo pedaço de
ausência? Pouco depois,
o carro fez parada no
ponto terminal: a casa
singela, docemente
iluminada dentro da
noite, que Elisa
mantinha no Guarujá,
litoral paulista.
Cauteloso, Fantini pediu
que Evelina, instalada
em sítio vizinho, o
aguardasse, tal como ele
fizera com ela, momentos
antes. Emocionado, o
amigo penetrou o reduto
que lhe falava tão alto
à memória. Tudo na casa
estava, aparentemente,
como ele deixara. O
relógio marcava alguns
minutos além das 9 da
noite, quando Ernesto se
postou à frente do
quarto onde tantas vezes
repousara ao lado da
esposa. Que encontraria
por trás da porta
fechada? Elisa doente?
Desanimada? Após
rememorar as lições
recolhidas na cidade
espiritual, ele orou,
pedindo forças à Divina
Providência, porque
queria rever a esposa
com distinção e
dignidade, e, com essa
disposição, transpôs o
limiar, penetrando a
câmara que conhecia em
todos os escaninhos.
Ernesto não poderia,
porém, imaginar o quadro
que se lhe abriu, de
imediato, à visão: Elisa
descansava, mostrando o
corpo magro, o rosto
mais profusamente
vincado de rugas e os
cabelos mais grisalhos,
mas, junto dela,
estirava-se um homem
desencarnado... Era
Dedé, aquele mesmo em
que Fantini atirara,
tantos anos antes, ao
desvairar-se pelo ciúme.
O esposo de Elisa
estacou, aterrado, e,
num átimo, recordou a
última caçada em que
morreu Dedé, ou melhor,
Desidério dos Santos,
cuja sombra supunha
haver removido para
sempre da própria casa.
(Cap. 19, pp. 152 e 153)
(Continua na próxima
semana.)