No rio das lágrimas
Cornélio Pires
No casarão do sítio da
Mutuca,
O velho pede pouso e
alguém chasqueia:
- “Saia, tratante, e
durma na cadeia!
Ponha a cabeça tonta na
cumbuca!”
O mendigo cansado não
retruca,
Enfrenta a noite e a
chuva... Cambaleia...
Mais além rola o rio
entregue à cheia...
E, exposto à sombra,
afoga-se Nhô Juca...
Ante a morte, o passado
se desvenda...
Sente-se outro... É o
dono da fazenda...
Nhô Juca, leve e moço,
chora e fala...
Mas, súbito, no chão
molhado e frio,
Repara o rio e vê que é
o mesmo rio
Onde afogava os velhos
da senzala...
Soneto constante do
livro O Espírito de
Cornélio Pires, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.
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