As regras do bom viver
Na Parábola dos
Talentos, Jesus compara
o Reino dos Céus a um
homem que, ausentando-se
do país, entrega a um de
seus servos cinco
talentos; a outro, dois
talentos e a outro, um
talento. Quando voltou,
o que havia recebido
cinco talentos
devolveu-lhe dez; o que
recebeu dois talentos
devolveu-lhe quatro; e o
que recebeu um talento
nada pôde devolver além
do talento recebido, que
ele havia enterrado, com
medo de perdê-lo.
À primeira vista, pode
parecer que um talento
não valia muita coisa.
Engano. No livro As
Parábolas (Edições
FEESP), José de Souza e
Almeida registra que
“nos tempos da pregação
de Jesus, um talento de
prata equivalia a 6.000
dracmas (moeda grega) ou
a 6.000 denários (moeda
romana), ambas também de
prata. Conforme se lê em
Mateus 20:2, um denário
correspondia ao salário
de um dia de trabalho.
Com uma dracma podia-se
comprar uma ovelha; e
com cinco dracmas, um
boi. Consequentemente,
vê-se que as quantias
entregues aos servos não
eram pequenas; o que
menos recebeu (o servo
que recebeu apenas um
talento) poderia ter
adquirido um rebanho de 6.000
ovelhas, ou de 1.200
bois.
Nessa parábola, Jesus
mostra que, por menos
que sejam nossas
aptidões, elas são
importantes dentro da
sociedade, onde o homem,
que não nasceu para
viver isolado, sempre
tem o que passar para o
semelhante: o mais forte
ampara o mais fraco; o
que sabe mais ensina ao
que sabe menos e assim
por diante. Todos somos
importantes, como o
Mestre nos dá a
entender, quando nos
disse, no Sermão do
Monte (sábios
ensinamentos registrados
nos capítulos 5, 6 e 7
do Evangelho de Mateus),
que nós somos o sal da
terra e a luz do mundo.
O sal é importante, pois
sem ele nossa comida não
teria gosto. E tem uma
característica
interessante: é
incorruptível. Se o
misturarmos a outra
substância, o seu gosto
é o que sobressai. Assim
também deve ser a nossa
maneira de proceder. O
verdadeiro cristão não
deve corromper-se por
nada. Em todas as suas
ações devem sobressair a
honestidade, a lisura, a
sinceridade, a firmeza
de bons propósitos.
Somos a luz do mundo,
porque temos uma luz
dentro de nós: a luz dos
conhecimentos espíritas,
que devemos levar aos
nossos semelhantes e não
guardá-la somente para
nós. Uma atitude simples
é seguirmos o conselho
de Irmã Rosália
(Espírito), na
comunicação registrada
no item 9 do capítulo
XIII – Que a mão
esquerda não saiba o que
faz a direita – de O
Evangelho segundo o
Espiritismo,
sobre a caridade
moral, que consiste em
suportarmo-nos uns aos
outros, que é o que
menos se faz neste mundo
inferior, onde estamos
momentaneamente
encarnados.
Esse é
o maior desafio que
temos, no nosso dia a
dia. Suportarem-se uns
aos outros é, para
alguns, um exercício
difícil, pois as pessoas
são diferentes umas das
outras, uma vez
que cada uma delas é um
Espírito com vivências
diferentes.
A reencarnação nos
fornece a chave para
compreendermos essas
diferenças. Como nos
diz Léon Denis, no
capítulo XXIV – A
disciplina do pensamento
e a reforma do caráter –
da obra O
problema do ser, do
destino e da dor (FEB),
“em todas as nossas
relações sociais, em
nossas relações com os
nossos semelhantes, é
preciso nos lembremos
constantemente disto: os
homens são viajantes em
marcha, ocupando pontos
diversos na escala da
evolução pela qual
subimos. Por
conseguinte, nada
devemos esperar deles,
que não esteja em
relação com seu grau de
adiantamento”.
E no capítulo seguinte –
O amor – Denis
nos conclama: “Amemos,
pois, com todo o poder
do nosso coração; amemos
até ao sacrifício, como
Joana D’Arc amou a
França, como o Cristo
amou a Humanidade, e
todos aqueles que nos
rodeiam receberão nossa
influência, sentir-se-ão
nascer para nova vida”.
Amemo-nos, pois.
Espalhemos a nossa luz,
como o advogado espírita
que, quando é procurado
para fazer uma
separação, pede ao casal
para sentar-se à sua
frente, no seu
escritório, e faz uma
preleção de
aproximadamente dez
minutos sobre a
importância da união
perante os filhos, a
família, a sociedade,
etc. Enfim, ele dá uma
verdadeira aula,
utilizando o que
aprendeu dos
ensinamentos espíritas.
Quando termina a
preleção, pergunta ao
casal: “Vocês querem
realmente se separar?”,
ao que a esposa
pergunta: “O que você
acha, bem?” E o esposo:
“Vamos colocar em
prática, durante uma
semana, tudo o que o
doutor nos recomendou.
Se não der certo, a
gente se separa. Se der
certo, a gente continua
junto”. Segundo o
profissional, os casais
não retornam, o que
mostra que os
conhecimentos espíritas
que ele transmite surtem
efeito.
Ainda no Sermão do
Monte, Jesus nos fala
sobre aquele que,
colocando em prática os
seus ensinamentos, é
semelhante ao homem
prudente, que construiu
a sua casa sobre a
rocha; e desceu a chuva,
e correram rios, e
assopraram ventos, e
combateram aquela casa,
e esta não caiu, porque
estava edificada sobre a
rocha, ao contrário
daquele que, sendo surdo
aos ensinamentos, é
semelhante ao homem
insensato, que construiu
a sua casa sobre a
areia; e desceu a chuva,
e correram rios, e
assopraram ventos, e
combateram aquela casa,
e ela caiu, e foi grande
a sua queda.
O Evangelho segundo o
Espiritismo nos
mostra no capítulo XVII
– Sede perfeitos – o
exemplo do homem de bem,
que coloca em prática,
no seu verdadeiro
sentido, a lei de amor,
justiça e caridade. “Se
interroga a sua
consciência sobre os
próprios atos, pergunta
se não violou essa lei,
se não cometeu o mal, se
fez todo o bem que
podia, se não deixou
escapar voluntariamente
uma ocasião de ser útil,
se ninguém tem do que se
queixar dele, enfim, se
fez aos outros tudo
aquilo que queria que os
outros fizessem por
ele”.