A justiça dos
homens e a
justiça de Deus
Retomar o tema
da justiça nos
parece
apropriado
especialmente
diante do
assombroso
escândalo do mensalão que,
por sinal, tem
causado enorme
perplexidade –
pelo menos nas
mentes mais
lúcidas do país.
Na verdade, tudo
que está
relacionado com
esse caso é
espantoso, ou
seja, as cifras
envolvidas (algo
em torno de 173
milhões de
reais), o número
de acusados, os
personagens
envolvidos e – o
que é mais
decepcionante –
a forma como o
sistema judicial
está lidando com
ele.
Infelizmente, o
nefasto conluio
entre corrupção
e poder vem de
longa data no
Brasil. Desde os
tempos do
Império esse
terrível mal da
humanidade já
estava ali
presente. Apesar
da profusão de
leis e
mecanismos de
controle e
governança, essa
doença ainda não
foi banida de
nossa sociedade.
De fato, ficamos
com a impressão
de que ela
continua dando
demonstrações
vigorosas e
contundentes de
resiliência(1),
haja vista a
quantidade de
escândalos que
são divulgados
quase que
diariamente.
Mas voltando ao mensalão,
no momento em
que escrevemos
estas linhas
continuam
pairando dúvidas
quanto ao seu
desfecho. Por
ora, o
sentimento
prevalecente é o
de que “A
corrupção
festeja esta
vitória
processual”,
aliás, como bem
retratou um
recente
editorial do
jornal Folha
de São Paulo. A
revista Veja
também
se pronunciou de
maneira
pertinente ao
declarar
igualmente em
editorial que
“Agora, nenhum
saber jurídico,
nenhum exercício
de retórica,
nenhuma
tecnicalidade
pode apagar a
sensação de
desamparo ou
minimizar o
sentimento de
que a Justiça
brasileira, mais
uma vez,
falhou”.
Consequentemente,
só Deus sabe
quando terminará
o processo
iniciado há oito
anos. E como
corretamente
prevê o ditado
popular:
“Justiça que
tarda é Justiça
falha”.
Para nós pobres
mortais que não
galgamos o
Olimpo do saber
jurídico e que
acompanhamos o
longuíssimo e,
muitas vezes,
confuso e
enfadonho
julgamento,
ficou a
impressão de que
suas excelências
(os juízes) são
seres humanos
notoriamente
passíveis de
erros. Afinal de
contas, vimos
praticamente de
tudo, isto é,
atitudes
incompatíveis
com o decoro
exigido pelo
cargo (brigas e
discussões
públicas),
observações e
comentários que
soavam mais
adequados a um
advogado do que
a um prelado da
suprema corte,
falas elogiosas
aos acusados, a
pura e simples
falta de
objetividade no
ato de julgar,
altíssima
dosagem de
subjetivismo no
entendimento da
lei,
divergências
quanto à
aplicabilidade
da teoria do
domínio do fato
(na qual
prevalece o
pressuposto de
que na falta de
provas materiais
robustas, a
condenação se
daria com base
em indícios e em
testemunhos,
responsabilizando-se,
por conseguinte,
quem teria o
comando e o
benefício do
crime, conforme
esclarece o
respeitável
jurista Ives
Gandra Martins), vaidades
à flor da pele,
egos inflados,
inequívoca falta
de ética de
determinado
membro – já que
ele exerceu
função
subordinada a um
dos réus
anteriormente,
entre outras
coisas.
Não vamos entrar
no mérito dos
embargos
infringentes já
que a questão per
se é
alvo de ampla
polêmica quanto
à sua validade e
efeito. Mas não
podemos nos
furtar a
expressar que,
se ela existe
para a maioria
dos membros da
corte, na
proporção
apertadíssima de
6 para 5 como
vimos, é porque,
no mínimo, a lei
não é
suficientemente
clara. A
propósito,
estamos
depreendendo que
suas excelências
estejam
absolutamente
aptas para o
exercício do
cargo – mesmo
assim cabe
ressaltar que a
escolha de
ministros da
suprema corte
não obedece a
critérios
estritamente
técnicos e
meritocráticos –
e que tenham
feito, de fato,
uma
interpretação
aceitável da sua
aplicabilidade.
Seja como for, o
resultado
previsto não é
nada animador
para uma parte
da imprensa.
Mais
especificamente,
como destacado
pelos
jornalistas da Veja na
edição de 25 de
setembro:
“Portanto, o
cenário que se
desenha é a
manutenção da
prisão dos
banqueiros,
empresários e
publicitários
envolvidos no
esquema e o
alívio para os
políticos do PT
[...]”.
Previsões e
conjecturas à
parte, o tema
também comporta
uma análise sob
lentes
transcendentais.
Nesse sentido, o
Espiritismo nos
municia com
importantes
revelações
perfeitamente
aplicáveis no
caso sob apreço.
Afinal de
contas, a
Justiça
brasileira pode
estar eivada de
lentidão,
insolência e
camaradagem aos
infratores
endinheirados,
mas a Justiça
divina obedece a
outros
princípios. Os
bandidos e
criminosos da
Terra podem até
se “sair bem”
momentaneamente.
De fato, para
eles constitui
um projeto de
vida o desejo de
vencer e se
“arrumar” a
qualquer custo –
as suas atitudes
não exprimem
outros desejos
mais nobres.
Eles pouco ou
quase nada
divisam adiante
ou, como bem
sintetiza Allan
Kardec na obra O
Evangelho
segundo o
Espiritismo:
“Pelo simples
fato de duvidar
da vida futura,
o homem dirige
todos os seus
pensamentos para
a vida
terrestre. Sem
nenhuma certeza
quanto ao
porvir, dá tudo
ao presente”.
Como também
observou o
Espírito São
Luís na referida
obra: “A
passagem dos
Espíritos pela
vida corporal é
necessária para
que eles possam
cumprir, por
meio de uma ação
material, os
desígnios cuja
execução Deus
lhes confia
[...]. Sendo
soberanamente
justo, Deus tem
de distribuir
tudo igualmente
por todos os
seus filhos;
assim é que
estabeleceu para
todos o mesmo
ponto de
partida, a mesma
aptidão, as
mesmas
obrigações a
cumprir e a
mesma liberdade
de proceder.
Qualquer
privilégio seria
uma preferência,
uma injustiça.
[...]”.
Contudo, não
poucos se perdem
ao longo do
caminho redentor
e abusam
clamorosamente
da sua
liberdade. Mas
chega a hora na
qual os
criminosos e
delinquentes
devem colher o
mal que fizeram.
Afinal de
contas, “[...] A
justiça de Deus
é como o Sol:
existe para
todos, para o
pobre como para
o rico [...]”.
Por conseguinte,
conforme nos
elucida Kardec
na obra O
Céu e o Inferno:
“Toda falta
cometida, todo
mal realizado é
uma dívida
contraída que
deverá ser paga;
se o não for em
uma existência,
sê-lo-á na
seguinte ou
seguintes,
porque todas as
existências são
solidárias entre
si [...]”. E
muitos não se
dão conta de tal
impositivo
porque se
debruçam
exclusivamente
sobre os ganhos
e vitórias
fugidias da vida
material.
Portanto, o caso
do mensalão talvez
esteja
despertando
grande decepção
para os
Espíritos aqui
encarnados com
inclinação ao
bem e sequiosos
de justiça,
diante do rumo
que as coisas
estão tomando.
No entanto,
cumpre lembrar
que “... a
misericórdia de
Deus é infinita,
mas não é cega.
O culpado que
ela atinge não
fica exonerado,
e, enquanto não
houver
satisfeito à
justiça, sofre a
consequência dos
seus erros”.
Desse modo,
“[...] A cada um
segundo as suas
obras, no Céu
como na Terra: —
tal é a lei da
Justiça Divina”.
Conclui-se,
assim, que
diante da
perfeita e
inexorável
Justiça divina –
na qual nem
advogados
vultosamente
remunerados, nem
magistrados mal
intencionados ou
improficientes
podem influir –
nenhum dos
culpados
escapará.
(1)
Resiliência, em
sentido
figurado,
significa:
resistência ao
choque.