Acorda!...
Tempos agitados!
Entrei numa fase
eletrizante, na
qual
um imenso pacote
de prioridades e
preocupações
cotidianas com
as quais não
contava minaram,
ou amenizaram,
inesperada e
lamentavelmente,
o meu
"fio-terra"
dimensional, com
o pessoal de lá,
da morada
verdadeira para
a qual mais cedo
ou mais todos
acabaremos
voltando.
Somaram-se dois
meses de mudança
abrupta no
contexto
profissional a
uma pequena
cirurgia de
pele, cujo exame
de praxe,
solicitado por
todo médico
nestes
procedimentos,
lançou-me em
estado de
ansiedade quase
impossível de
conter sem dar
mostra para os
que me cercavam
- afinal, o dia
a dia deve
prosseguir, e
ninguém nada tem
a ver com os
meus desafios
pessoais,
assoberbados que
já são com os
seus próprios!
Então, livros
psicografados em
andamento
ficaram para lá,
estanques, por
causa da tomada
fora do plugue!
Quando aos
mentores me
dirigia, era
somente para
lhes testemunhar
desorientação e
perplexidade! De
acréscimo,
chegou o
primeiro
aniversário do
meu filho mais
velho - logo o
dos seus vinte e
um anos! - no
qual não poderia
estar presente
para comemorar,
em decorrência
de ele estudar
em outro estado
do Brasil! E
alguns
contratempos do
cotidiano, em
conjunção com o
quadro incômodo,
contribuíram
para fechar meu
tempo de vez, ao
ponto
preocupante em
que,
voluntariamente,
decidi "dar um
tempo" para mim
mesma - para
recobrar o
prumo, e a ordem
dos pensamentos
e da serenidade
de espírito!
Talvez
intuitivamente,
em favor disso,
ouvi o conselho
sempre oportuno
do meu professor
de violino, e
agendei com uma
amiga um
concerto para
ontem,
acontecendo em
igreja da zona
sul do Rio de
Janeiro, cujo
repertório
barroco, com
peças de Bach,
Haendel e
Vivaldi, me
compeliu a me
recusar
decididamente a
perder o evento,
a revelia de
qualquer estado
de ânimo
enfezado que já
de há tempos
viesse me
acometendo!
O dia de ontem,
portanto,
principiou
misterioso.
Havia dito a mim
mesma,
peremptória,
dado o grau de
canseira da
última semana,
que me recusaria
a acordar cedo
demais, a menos
que nalguma
circunstância
extrema.
Destravei,
assim, o bendito
despertador do
celular na
sexta-feira; me
atirei sobre o
travesseiro fofo
e... desmaiei!
Na manhã de
ontem, cedo,
umas batidas
gentis e
esquisitas na
porta do meu
quarto me
fizeram abrir os
olhos, zonza.
Teimei durante
um momento em
mantê-los
fechados, mas as
batidas eram
insistentes.
Despertei
definitivamente,
por julgar que
era minha filha,
a chamar por mim
por alguma
necessidade.
Ergui-me com
dificuldade na
cama, e olhei,
prestando
atenção. As
batidas pararam.
Levantei-me,
intrigada, e
abri a porta...
nada havia do
lado de fora!
Minha filha
ainda dormia
tranquilamente,
e a casa estava
mergulhada no
mais rigoroso
silêncio. Olhei
o celular: sete
e quarenta da
manhã!...
Meio irritada,
mas já por conta
surpresa do que
acontecia, e
adivinhando o
que se escondia
por detrás
daquilo, por
conta de outros
fatos
semelhantes já
vividos, voltei,
teimosa, para a
cama, e fechei
os olhos. Mas,
quem disse que
dormi de novo?
Inegavelmente,
alguma voz
martelava na
cabeça, talvez
meio irônica: "vamos,
acorde! Levante!
É uma boa hora
de despertar e
um ótimo dia lhe
espera! Perca
este medo de
viver, já lhe
garanti que esta
fase vai passar!"
Iohan!
– Concluí,
ainda dividida
entre o
aborrecimento e
a satisfação, a
se me insinuar
no estado de
espírito
ultimamente
sempre
desanimado. É
inconfundível o
seu estilo de
sempre dar o ar
da graça de modo
contundente, e,
geralmente,
quando já me
cansei de pedir
socorro e apelar
para ele, para
Caio e demais
mentores com uma
saraivada de
questionamentos
sem nexo! Eles
me ignoram
solenemente,
para meu quase
desespero, como
se a me dizer
que nada se
resolve assim.
Mas, passado o
tempo devido,
Iohan, cujo
estilo de
interagir sempre
foi permeado de
efeitos físicos
e ironia
irresistível,
infalivelmente
aparece e me
arranca da
letargia!
Auxilia-me a
resgatar o
equilíbrio
espiritual, e eu
consigo retomar
o fio da meada
como se deve,
prosseguindo no
aprendizado
atual na
materialidade!
Enfim
compreendendo a
mensagem nítida,
indiscutível,
após enrolar um
pouco me
levantei, mais
bem disposta, e
me entreguei às
primeiras
atividades do
dia. Olhei pela
janela, e vi um
maravilhoso dia
ensolarado,
antecipando o
começo da
primavera. "É,
está mesmo com
cara de que vai
ser bom!" -
Refletia,
tomando meu
café. Voltei,
involuntariamente,
o pensamento
para o resultado
do exame pelo
qual vinha me
consumindo em
temores
ultimamente
quando, de
repente, me cai
uma mensagem no
celular. O
resultado do
exame! Corri
imediatamente ao
computador, e
julguei
entreouvir a voz
inconfundível de
minutos antes me
reforçando,
ainda em tom
divertido: "Eu
já te disse para
relaxar, é
apenas uma
ceratose na
pele"!
Todavia, agitada
demais para me
deter naquilo,
abri às pressas
a internet para
conferir o
resultado que a
secretária do
laboratório me
avisara ter
enviado para o
meu e-mail.
Diagnóstico
benigno,
confirmado pelo
meu médico pouco
depois! E,
era uma ceratose!
Desta hora em
diante foi uma
festa só! À
tarde, fui ao
belíssimo
concerto da
Orquestra
Sinfônica da
Petrobrás, na
Igreja de São
Paulo Apóstolo,
e lá encontrei,
na melhor
atmosfera
espiritual
imaginável , a
amiga do
trabalho, com
quem combinei o
comparecimento
ao evento, e o
meu professor de
violino! Durante
cerca de duas
horas, nos
deliciamos, e me
transportei por
antecipação às
dimensões do
invisível com o
concerto para
dois violinos em
ré menor,
imbatível dentre
as composições
mais etéreas,
idílicas, de
Bach! Findo o
evento,
reencontrei em
cafeteria
próxima, do
nada, duas
amigas que não
via há um ano,
uma das quais
também estudante
de violino! Nova
celebração,
durante a qual
trocamos
impressões
convictas de que
nada daquilo
acontecia por
acaso,
combinando,
dali, novos
planos para
reencontros e
estudos de
música
conjuntos!
Para arremate, e
da forma mais
surpreendente,
relato que,
dentre outros
mistérios
havidos neste
dia de luz, mas
para cuja
descrição o
espaço deste
artigo é pouco,
entrevi a certa
altura, no
ambiente do
espetáculo,
alguém que
identifiquei
como uma
materialização
risonha, súbita,
inconfundível,
de Caio Quinto,
meu mentor
desencarnado!
Ele sumiu tão
rápido quanto
apareceu! Mas
hoje de manhã me
saudava, ao meu
despertar, com o
mesmo sorriso
cristalino com
que me
cumprimentou
ontem: Enfim
acordada? Seja
bem-vinda de
volta ao seu lar
verdadeiro,
então, querida!
E aprenda, de
uma vez por
todas, que não
há como lhe
respondermos a
contento quando
você mesma nos
volta as costas.
Lembre-se
sempre: em
matéria de
contato entre
dimensões,
revolta e
pessimismo
sempre serão a
porta fechada ao
reencarnado,
cuja chave,
porém, somente
você mesma
possuí!...