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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 7 - N° 335 - 27 de Outubro de 2013
ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)
 

 
Nadja do Couto Valle: 

“O Espiritismo pode atender os grandes anseios do coração” 

A professora e educadora carioca fala sobre sua experiência na área de  divulgação do Espiritismo por meio de palestras,
do livro e da imprensa
 

Nadja do Couto Valle (foto), natural do Rio de Janeiro-RJ, onde reside, doutora em Filosofia, mestre em Educação, pós-graduada em Literatura inglesa e professora universitária na UFRJ, atua no Instituto de Cultura Espírita do Brasil e na Rádio Rio de Janeiro.
 

Experiência com a coordenação de uma revista, vinculação com programas de rádio, prática mediúnica e amplo trabalho de divulgação também por livros e palestras traduzem o esforço de nossa entrevistada, espírita de nascimento, como ela nos conta na presente entrevista.  


Como é a experiência de ser a Coordenadora Geral da Revista Cultura Espírita, do ICEB?

É uma oportunidade única de produzirmos uma publicação que adota a metodologia de Kardec ao abrir diálogo com todas as áreas do conhecimento, em matérias que tratam de assuntos de ponta, reafirmando o Evangelho de Jesus, no qual estão contidas toda a filosofia, toda a ciência e toda a moral. Somos uma pequeníssima equipe de voluntários, da qual participa o presidente do ICEB, Cesar Reis, que é também o diretor da Revista, em trabalho harmonioso, resguardando a transparência na gestão do processo. Contamos com a colaboração de grandes especialistas em cada área de conhecimento, o que garante a qualidade do conteúdo e o ineditismo do perfil da Revista, distribuída para todo o Brasil e alguns países. Temos conhecimento de que há grupos que se reúnem regularmente para estudo e discussão das matérias de cada edição, o que muito nos alegra. 

E a experiência das reuniões de psicofonia?

É uma das atividades que nos dão maior satisfação íntima, pela experiência direta da confirmação dos ensinamentos de Jesus, dos Espíritos Orientadores da Humanidade, de Kardec, pela gratidão a Jesus pela oportunidade de recepcionarmos nossos irmãos desencarnados, e também a estes, por abrirem seu mundo íntimo, desvelando suas dificuldades. À mesa mediúnica, sem chegar à indisciplina, mas valendo-nos de alguma flexibilidade, não temos pressa em logo dispensar o irmão comunicante: é preciso dar a ele a condição de viver seu tempo psicopedagógico, garantindo, nesse espaço, a fraternidade, o amor, a tolerância e a paciência; para isso muito pode contribuir a qualidade da relação médiuns-dirigente como irmãos, desenvolvendo, como um ser coletivo, afinidade de mentes e corações. É nosso dever não chocar o irmão comunicante com revelações que, ainda que verdadeiras, podem provocar ainda mais sofrimento em sua intimidade profunda. Trata-se, pois, de um trabalho ao mesmo tempo de razão e de sentimento, que, através da maiêutica socrática, faculta ao comunicante chegar, por si mesmo, às conclusões a respeito de seu quadro, e a partir desse momento, tão emocionado quanto emocionante, ele é ajudado a inferir quais podem/devem ser seus passos seguintes no plano espiritual. 

Quais os principais frutos colhidos como produtora e apresentadora de programas espíritas na Rádio Rio de Janeiro?

Na grade de programação da Rádio Rio de Janeiro (http://www.radioriodejaneiro.am.br/ ) integramos a equipe que estuda as obras da Codificação no programa Luz na Penumbra, que é estatutário, ou seja, é uma espécie de cláusula pétrea na programação, que não pode ser alterado. Estudamos O céu e o inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo, em encontros semanais de 30 minutos, e os ouvintes nos dão excelente retorno, acompanhando as edições e as reprises.

Participamos como debatedora do programa semanal Debate na Rio, com a coordenação de Gerson Monteiro. O programa, interativo, discute temas presentes na mídia à luz do Espiritismo, o que nos dá a oportunidade de demonstrar a atualidade, a profundidade e a extensão do conteúdo do Evangelho de Jesus e da Doutrina Espírita, que respondem a todos os questionamentos da criatura humana.  

E nos programas não-espíritas?

Todos eles – espíritas e não-espíritas – nos dão excelente retorno pessoal e profissional. Temos um programa diário sobre educação, há mais de uma década, no qual tratamos de temas atuais, pois nosso conceito, amplo, de educação é o de que nenhum quadro humano pode ser estranho à educação. Esse programa já nos rendeu três livros: Pelos caminhos da educação 1, Pelos caminhos da educação 2, Bullying, cyberbullying e dependências (1). A Rádio nos permite abordar temas muitas vezes evitados pelos próprios educadores, que levamos aos livros, como abusos contra crianças, adoção, dependências com e sem substância, bullying, cyberbullying, assédio moral, masturbação infantil, estresse infantil, filho homossexual, gêmeos, pitboys etc. etc. Em todos os livros da série, incluímos a visão do Espiritismo ao final de cada capítulo. Já houve caso de ouvintes nos dizerem que mudaram sua vida e as relações em família ao acompanharem o programa.

No outro programa, Novos Rumos, de 55 minutos de duração, interativo, entrevistamos especialistas nas várias áreas do conhecimento, não-espíritas e espíritas, e os ouvintes nos dizem que aprendem muito com esses programas, que eles gravam e depois discutem com amigos e família. 

Como surgiram seus livros? Quais são?

A série Pelos Caminhos da Educação surgiu da insistência de ouvintes para que publicássemos os programas que ouviam pela Rádio – e solicitam que continuemos a fazê-lo. Está pronto o quarto volume da série, aguardando o interesse de alguma editora.

Interessante que os que acompanham nossas palestras também nos pedem o mesmo, o que nos estimulou a publicar Reflexões à luz do Espiritismo (2), com artigos/ensaios sobre temas doutrinários, atualmente em sua 2ª edição. Está pronto um próximo volume nessa mesma linha, também aguardando o interesse de alguma editora.

Somos coautora, por convite, de  Em torno de Rivail, O mundo em que viveu Kardec, em que assinamos o capítulo da área de filosofia, “Materialismo e Espiritualismo na filosofia:  culminâncias e sínteses”, homenagem que alguns professores fizemos pelo Bicentenário do Nascimento de Allan Kardec; e de O jovem espírita quer saber, no qual assinamos o capítulo “Pais Adolescentes”. 

Qual sua visão de mediunidade?

Incorporamos, naturalmente, a visão espírita de mediunidade, tão bem resumida por Emmanuel como “luz que brilha na carne”, oportunidade abençoada de trocarmos a dor pelo trabalho, fonte inesgotável de alegrias espirituais altas e nobres, que nos plenificam o ser, banhado pela alegria de servir a Jesus e a nossos irmãos. É antídoto ao orgulho e à soberba, excelente instrumento para desenvolvermos a disciplina, o amor, a tolerância, a compreensão, a abnegação, a renúncia, permitindo-nos dar uso ótimo ao tempo que destinamos à sua prática, de natureza tão delicada quanto grave, convidando-nos a precauções e cuidados, com método, paciência, humildade, sentimento desinteressado de serviço, e ternura para com todos os irmãos. 

E do movimento espírita atual?

Percebemos um saudável e fraterno esforço voltado para a divulgação da Doutrina, representando desafio importante por parte das instituições espíritas, que recebem contingente cada vez maior de irmãos com suas dificuldades, porque são chegados os tempos, como anunciado por Jesus. Sinto que precisamos, a partir de agora, direcionar boa parte de nossos esforços para “irmos aos gentios”. Além da divulgação da Doutrina nos espaços convencionais, o uso da internet tem ampliado sobremaneira as possibilidades e perspectivas nas Web radios e Web TVs. Estamos sistematizando o uso ético dos novos canais de divulgação, ampliando com isso também o escopo do processo de conscientização sobre a responsabilidade de se dispor de tais meios. Ir ao encontro das universidades tem-se revelado como de grande potencial para operacionalizar a orientação de Jesus, através principalmente do viés filosófico-científico da Doutrina Espírita, mas sem esquecer seu caráter de Consolador. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, temos desenvolvido eventos de divulgação da Doutrina, interagindo com outras religiões, e ainda este ano devemos realizar um evento durante uma semana, em horário integral. O Espiritismo pode atender os grandes anseios do coração e da mente humanas nestes tempos de grandes mudanças, oferecendo o alimento do consolo e do esclarecimento pela via da razão, ao mesmo tempo em que se insere nas correntes modernas que marcam a sociedade atual. 

Como expositora espírita, como tem sentido a reação do público ante as abordagens doutrinárias?

São muito expressivos a receptividade, a atenção e o carinho do público. São muitas as necessidades, perplexidades, curiosidades e anseios de irmãos que buscam respostas para seus dilemas e/ou questionamentos. Pelo rádio ou presencialmente, tem aumentado bastante o contingente de simpatizantes das ideias espíritas e de irmãos tangidos por grandes provas que vêm até nós. A abordagem precisa acompanhar os tempos novos, associando os fundamentos filosófico-científicos à ternura da palavra que consola e estimula. Razão e sentimento são o binômio indispensável para que o destinatário da mensagem seja envolvido, esclarecido e consolado. Há irmãos que fortalecem sua fé espírita, outros que a descobrem e a seguem, muitos nos dão depoimentos de transformação de suas vidas.  

Algo marcante de suas bagagens nas atividades espíritas que gostaria de partilhar com os leitores?

O carinho e o estímulo de nossos irmãos têm-nos acompanhado em nossas tarefas, e a todos dirigimos nossa gratidão. Destacamos duas situações. Certa vez, ao final de uma palestra, dirigiu-se a mim um jovem homem que me agradeceu pela companhia que lhe fiz ao longo de vários anos pela Rádio Rio de Janeiro. Entre os comentários recíprocos, ele acabou dizendo que me ouvia em sua cela na prisão, e que essa companhia o tinha alentado muito para suportar os dias difíceis da dura prova, e ele, ao sair, passou a frequentar a casa espírita. Uma outra situação também emocionante ocorreu durante uma reunião mediúnica de psicofonia, que dirijo em nossa casa de trabalho, o Grupo Espírita André Luiz, no Rio de Janeiro-RJ. O espírito comunicante revelou que era admiradora de nosso humilde trabalho, que nos acompanhava nas palestras e pelos programas na Rádio Rio de Janeiro, mas que, por extrema timidez, tinha sempre refreado seu desejo de falar comigo e abraçar-me (comportamento que mantenho sempre conversando e abraçando os companheiros que a mim se dirigem). E emocionadamente agradeceu a oportunidade de fazê-lo, naquela oportunidade, à mesa mediúnica. 

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Agradeço o convite para esta conversa, parabenizando a equipe pela iniciativa que por certo redunda em grande benefício para a divulgação da Doutrina Espírita e também para o esclarecimento e consolo de tantos irmãos, rogando bênçãos de Paz e Luz para todos. 

 

Referências: 

(1) COUTO VALLE, Nadja do. Pelos caminhos da educação 1. Rio de Janeiro: Edilar, 2007.

 ____. Pelos caminhos da educação 2. Rio de Janeiro: ICEB Edições, 2009.  

____. Bullying, cyberbullying e dependências. Rio de Janeiro: Novo Ser, 2011. Série Pelos Caminhos da Educação. 

(2) COUTO VALLE, Nadja do. Reflexões à luz do Espiritismo. 2.ed. revista. Rio de Janeiro: ICEB Edições, 2010.

____. Materialismo e Espiritualismo na filosofia: culminâncias e sínteses. In: Em torno de Rivail: o mundo em que viveu Kardec. Bragança Paulista, SP, Lachâtre, 2004. p. 193-231. Homenagem pelo Bicentenário do Nascimento de Allan Kardec.

____. Pais Adolescentes. In: O jovem espírita quer saber; questionamentos de inúmeras mocidades que 25 escritores espíritas respondem. Rio de Janeiro: F. V. Lorenz; Grupo de Esperanto Pac-horo, 2011. p. 135-155.   



 


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