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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 335 - 27 de Outubro de 2013

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniapickina@gmail.com
Campinas, SP (Brasil)

 
 



O medo e um solilóquio emocional


Iniciarei com um aviso de Carrol Izard e Brian Ackerman, que explicam: A única função do medo é motivar a fuga de situações perigosas (2000, p. 260).

Já este início ressalta a fuga em nós, quando nossos instintos animais sentem perigo. Em razão disso, para Aristóteles, o medo é a emoção mais universal de todas as analisadas em sua lista na Retórica. Além disso, baseando-se nos estudos sobre evolução, não podemos ignorar a presença do medo como emoção que auxiliou a sobrevivência do ser humano, estando arraigado na sua estrutura biológica e psíquica, participando da vida atual – no seu campo subjetivo e relacional.

Muitos entendem o medo como parte das respostas estereotipadas de curto prazo, que abarcam expressões faciais, alterações no sistema nervoso autônomo e outros elementos, e que se diferencia, por sua natureza, das emoções cognitivas mais elaboradas como a inveja, a culpa, o ciúme, o amor - dito em outros termos: há uma diferença entre o medo, uma emoção primordial no ser humano, e o amor, uma emoção de um nível mais evoluído.

Neste contexto, transcrevo a definição de medo de Aristóteles: “Medo [phobos] é uma espécie de padecimento ou perturbação derivada de uma impressão [phantasia] de um mau futuro, destrutivo e doloroso”(Retórica, 1382 a).

Aristóteles elucida então que o medo surge de uma impressão (phantasia). Entretanto deixa claro que não é a impressão de um sofrimento presente, mas num futuro que parece iminente. O catalisador do medo pode ser, dessa maneira, o desconhecido (exterior) e/ou, segundo a linguagem junguiana, aquilo que pertence à sombra (interior).

Além disso, para aclarar sua definição, Aristóteles explica que todas as pessoas sabem que vão morrer, porém, quando a morte é vista como algo distante, não a tememos muito. Na idade adulta e na velhice, contudo, o medo da morte se faz mais presente do que antes. Mas a meu ver me parece que o surgimento da morte provoca um estado de consciência que prepara o aparato psíquico para recebê-la de forma natural, mesmo que tenha visto e ajudado terapeuticamente pessoas em idade avançada com um medo terrível da morte.

Em qualquer caso, reconhecer o medo é sempre um fator positivo e anuncia uma consciência, pois os verdadeiros corajosos são aqueles que sabem fazer uso adequado de coisas daninhas e perigosas, no prudente conselho de Sócrates.

Ainda, como as palavras de Aristóteles nos educam para atribuir às emoções seu papel como mobilizadoras da psique, um exemplo clássico do medo está relatado na Ilíada quando Aquiles, um dos guerreiros protagonistas da obra de Homero, sente medo quando é pego pela inundação do Rio Escarmandro, personificado neste episódio como um deus (Aquiles diz: “No geral, os mortais não podem prevenir a ira de um deus”).

Podemos neste ponto evidenciar o registro cognitivo do medo, de acordo com o qual o medo gera uma impressão de perigo iminente, o que torna a pessoa deliberativa, porque não sentir medo em circunstâncias em que somos confrontados com a possibilidade de aproximação de risco ou ameaça efetiva, por exemplo, seria não levar em conta a realidade (o que é similar a estar louco).

O medo ainda pode fazer com que as pessoas se tornem irracionais e aqui é onde ele se junta ao pânico, um estado psiquiátrico de conturbada agitação interior com sintomas fisiológicos: suor nas mãos, palpitações rápidas do coração e enjoos.  Alguns autores situam o pânico como uma patologia e por isso, por exemplo, numa lista de emoções consideradas irracionais estão incluídos o pânico e a fobia, os quais não dispõem de um suporte cognitivo. Infelizmente se sabe que muitos indivíduos  vivem subjugados por esse pânico, derivado do medo,  cujo termo, bem conhecido dos gregos, tem sua origem no estado de possessão do deus Pã, que podia semear o terror e a fuga em pânico – sim, porque o medo pode ser contagioso, especialmente virulento quando emana do coletivo.

Mas o sentir medo, para mim, é uma emoção essencial e básica. Assim podemos entender (para burilar) como o nosso existir pode estar entremeado por medos e uma lista seria interminável se considerarmos as pessoas e suas idiossincrasias.

E não é isso que pretendi destacar com este já longo escrito! Mas sim que existem medo e maneiras de se conceber uma relação “natural” com os medos, pois à medida que sentimos medo e o reconhecemos, o que está inconsciente se torna consciente e com isso somos mobilizados interna e externamente a dar conta de nossas pequenas (e grandes) tarefas, sem deixar de valorizar nosso viver e o mundo de relações em que nos movemos simplesmente porque passamos a agir com coragem, a virtude reclamada pelo medo.

De minha parte trato de aceitar a emoção universal de medo que Aristóteles se referiu como algo essencial em meu ser. 

E como um ser vivente a estagiar (de novo!!) em um mundo em transição, cuja paisagem confunde, por enquanto, o belo e o feio, o bem e o mal, ouso dizer que, seguindo as observações aristotélicas, apenas poderíamos ser insensíveis (apathei) àquilo que nos provoca(ria) medo de três maneiras – 1) ou não temos experiência do perigo (como no exemplo de quem nunca se aproximou de um edifício de trinta andares); 2) ou contamos com recursos para enfrentá-los; 3) ou temos certa cota de confiança em nós. 

Por último, cada vez mais é  afirmado que aquele que teima em examinar-se, melhorar-se e munir-se de saberes sobre si mesmo e sua circunstância, consegue lidar melhor com seus receios e temores cotidianos... Afinal, a coragem requer o medo como um obstáculo a ser superado, e disso já sabiam os gregos. 

Mas se a componente emocional da coragem (uma virtude) é uma soma de medo (uma emoção básica) e resolução diante do mesmo, não podemos ignorar que a componente final da coragem é a produção de um bem ou o evitamento do mal. Contudo, caro leitor, aquele pai que se atira à agua para salvar o filho de um afogamento, age, de um ponto de vista ético, não por coragem, mas sim por dever (e se não o fizesse, seria, é claro, um ato de covardia).

Logo, para elucidar a dúvida, aquele sujeito que movido por um sonho abandona a carreira bem-sucedida, contrariando seus próprios receios e as críticas alheias, à medida que põe em risco o certo pelo incerto,  e para lhe dar realidade, age com coragem...

Ah! Os virtuosos que, apesar do medo (cujo desmedo o assusta), transformam a Terra.

 

Referências:

Aristóteles, Retórica. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1998.

Homero, Ilíada. SP: Arx, 2003.

Izard, C.; Ackerman, B. Motivacional, Organization and Regulatory Functions of Discrete Emotions. In: Lewis, M.; Haviland-Jones, J. (Orgs.). Handbooks of Emotions. 2. ed. NY: Guilfor Press, 2000.
 



 


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