O homem e a dor
Augusto dos Anjos
O homem de concepções
indefinidas,
Que tateia nas trevas da
ignorância,
Nada registra além da
substância
Da carne estranha que
sufoca vidas.
Faminto nos celeiros da
abundância,
É o herdeiro da lágrima,
em feridas,
Sepultado em micróbios
homicidas,
Outro Job, pela chaga e
mendicância.
É esse homem que, cego à
luz divina,
Arma os canhões para a
carnificina,
Sonâmbulo sem luz, sem
paz, sem norte;
Mas a dor que lhe
assiste as derrocadas,
Modifica-lhe as míseras
estradas,
Nas expressões irônicas
da morte.
Soneto publicado no
livro Coletânea do
Além, obra
psicografada por
Francisco Cândido
Xavier, de autoria de
Espíritos diversos.
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