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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 336 - 3 de Novembro de 2013

MARCUS DE MARIO  
marcusdemario@gmail.com

Rio de Janeiro, RJ (Brasil) 

 
 




O ensino espírita


Uma nova filosofia requer uma nova pedagogia que, por sua vez, requer uma nova educação e uma nova metodologia. Assim é com o Espiritismo, que é uma filosofia espiritualista racional, que apela à razão e tem uma nova visão do homem, do mundo e da vida. E mais: as consequências da filosofia espírita podem ser comprovadas através de experimentos observáveis em eventos externos, assim como podem ser sentidas e rememoradas intimamente, daí ser o Espiritismo também uma ciência.

Não se pode confundir o ensino espírita com o tradicional ensino religioso. Em Espiritismo não temos catequese, não temos imposição de ideias. Quando promovemos a educação espírita, temos que transcender o simples ensino de normas, preceitos e interpretações de textos. O ensino espírita deve fazer pensar e levar o educando ao encontro de uma nova visão de si mesmo e do significado da vida. Deve permitir o desenvolvimento do senso moral para que a criança e o jovem tenham o discernimento necessário para fazer face às diversas situações existenciais com que se deparam no cotidiano. 

Verbalismo e experiência prática

O ensino espírita solicita ao educador que não fique apenas com o compartilhamento verbal do conhecimento que possua. Ele deve permitir que o educando levante hipóteses, questione as informações e reflita sobre as conclusões. Para isso, a criação de novas estratégias e oportunidades de ampliação do conhecimento e da sensibilização dos sentimentos é imprescindível.

Não se deve fazer da aula um tempo para passar informações, e sim um tempo para abordagens críticas, para realizar questionamentos, para instigar descobertas, levando o educando a pensar sobre situações práticas, que são vividas no dia a dia.

Um bom referencial é a didática de Kardec ao elaborar O Livro dos Espíritos. Diálogos inquiridores com os Espíritos sobre os mais variados assuntos, sempre procurando a razão das coisas e as consequências práticas dos conhecimentos revelados.

O educador deve sempre fazer perguntas, levar os educandos a pensar sobre o que estão estudando, promovendo debates, pesquisas e a construção individual do conhecimento, tudo relacionando com a vida, ou seja, não permitindo que o conhecimento seja apenas teórico, pois as novas gerações necessitam fazer a descoberta da empatia, do saber se colocar no lugar do outro, com visão de futuro, ou seja, o que estamos construindo e o que vamos colher.

Levemos para a sala de aula os fatos do mundo, as descobertas científicas, as questões sociais para que os educandos compreendam que o ensino espírita é aplicável a tudo, revelando a universalidade das leis que regem a vida. Compreender e vivenciar, eis a fórmula do verdadeiro ensino espírita, fazendo com que o Espiritismo não fique distante, ou mesmo divorciado, da realidade em que estamos mergulhados, a qual a doutrina nos faz compreender e, portanto, melhor lidar. 

Esclarecimento espiritual

O Espiritismo não tem por objetivo a divulgação de uma visão religiosa, ou de uma determinada prática devocional. O ensino espírita visa realizar o esclarecimento espiritual do indivíduo. Para isso estabelece que esse esclarecimento deva:

1 - Partir da observação;

2 - Ter a experimentação individual e coletiva;

3 - Utilizar a reflexão;

4 - Provocar a interiorização de princípios;

5 - Levar à comprovação da veracidade dos ensinos;

6 - Respeitar o desenvolvimento intelectual e moral do educando.

Todos estamos reencarnados para dar continuidade ao progresso intelectual e moral, tanto individual quanto coletivo, devendo deixar aflorar em nós a condição espiritual de que somos essência, com a continuidade da vida após a morte, mas não porque assim o Espiritismo ensina, e sim porque vamos pensar sobre a alma, pesquisar os fatos e chegar à conclusão de que somos imortais, que isso consegue responder as mais variadas questões existenciais.

Com o esclarecimento espiritual teremos forças para mudar hábitos, para lutar contra o egoísmo e para ter um encontro com Jesus, quando seus ensinos e exemplos passam a ter sentido e serem aplicáveis em nós e na vida. 

Do que necessitamos para educar

Vamos agora abordar a questão do ensino espírita na família, o que os pais devem fazer para melhor cumprir sua missão de educadores do Espírito reencarnante.

Primeiro, necessitamos compreender que somos Espíritos imortais, que há em nós e, portanto, em cada ser humano, um componente a mais do que o corpo biológico, ou seja, a alma. Compreender a espiritualidade humana é fundamental para melhor educar.

Segundo, como decorrência do primeiro enunciado, compreenda que a criança – e também o adolescente e o jovem – é um espírito, ou uma alma. Ela não é um brinquedo, uma boneca e nem mesmo um adulto em miniatura. É gente como a gente, para utilizar a expressão do educador brasileiro Paulo Freire, portanto, deve ser respeitada na sua condição intelectual e moral.

Terceiro, para melhor educar é preciso amar esse ser que Deus confiou para nós. Não existe verdadeira educação fora do amor. Mas não esse amor que se dissipa um minuto depois, quando passamos a tratar nosso filho de "coisa" que atrapalha nossa vida. O amor, acima de tudo, compreende e renuncia.

Quarto enunciado: a melhor educação é aquela realizada através dos nossos próprios exemplos. Se você fuma, fala palavrão, grita, fofoca a vida alheia, é egoísta, age com violência, e tantas outras coisas que caracterizam vícios do caráter e maus hábitos, como pode querer que seu filho seja diferente?

E, finalmente, deixe seu filho ter suas próprias experiências. Não faça as coisas no lugar dele. Interaja com ele e delegue tarefas. Deixe ele compreender o que são limites, responsabilidades, deveres. Se você sempre limpar onde ele sujou, sempre guardar as roupas que ele espalhou, sempre desculpar os erros que ele cometeu, a deseducação estará instalada.

Lembre-se que a missão de educar significa formar o caráter, fazer com que o filho adquira o senso moral, saiba distinguir entre o bem e o mal, pois ele é um Espírito imortal, e a única bagagem trazida do mundo espiritual, quando do nascimento, e que será levada de volta ao mesmo mundo espiritual, quando da morte, é a bagagem das conquistas morais e intelectuais com a respectiva aplicação da mesma. Não importa para Deus o diploma universitário a ser apresentado, mas sim a caridade desenvolvida, o amor ao próximo praticado. O Espírito reencarnante necessita dos pais (ou dos responsáveis) para melhora do seu caráter, para bom encaminhamento das suas tendências inatas.
 

Marcus De Mario é educador, escritor, consultor educacional e empresarial. Atua no C.E. Humildade e Amor, da cidade do Rio de Janeiro.


 

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita