Todos conhecemos as
primeiras histórias das
manifestações mediúnicas de
Chico na sua infância,
contadas por muitos de seus
historiadores. Mas, bom
mesmo é ouvi-las contadas
pelo próprio médium. Ouçamos
seu relato, registrado no
livro “No Mundo de Chico
Xavier”, escrito por Elias
Barbosa e editado em 1968,
pela Edição Calvário, de São
Paulo:
– Em 1922, eu contava doze
anos de idade e frequentava
o quarto ano do Grupo
Escolar São José, em Pedro
Leopoldo. Era o ano de
muitas comemorações do
primeiro centenário da
independência de nosso País.
O Governo do Estado de Minas
Gerais instituiu prêmios
para os alunos de todas as
classes de quarto ano das
escolas primárias, que
apresentassem as melhores
páginas sobre a História do
Brasil. Era um concurso a
que todos nós, as crianças
de quarto ano, em Minas,
devíamos comparecer. Nossa
professora, D. Rosária
Laranjeira, abnegada
educadora mineira,
profundamente respeitada nos
círculos do magistério em
nosso Estado, desencarnada
há alguns anos em Belo
Horizonte, e que lecionava,
nesse tempo, em Pedro
Leopoldo, marcou data para a
referida prova. Abertos os
trabalhos no dia indicado,
quando começamos os
preparativos para a escrita,
vi um homem, ao meu lado,
ditando como eu deveria
escrever. Assustei-me porque
perguntei ao meu companheiro
de banco, Alencar Assis, se
ele estava vendo essa
pessoa. Ele me disse não ver
ninguém, e acrescentou que
eu estava com medo da prova
e que era preciso
sossegar-me. O homem,
contudo, me disse o primeiro
trecho que eu deveria
escrever. Tendo ouvido
claramente, pedi licença
para levantar-me e fui ao
estrado sobre o qual a
professora estava sentada.
Então, disse a ela, em voz
baixa: “Dona Rosária, perto
de mim, na carteira, eu vejo
um homem ditando o que devo
escrever”. Apesar de ser
ainda muito jovem, naquele
tempo, era ela uma criatura
de imensa bondade e de
profunda compreensão que
sempre me ouvia com
paciência. Depois de
escutar-me, perguntou
igualmente em voz baixa: “O
que é que esse homem está
mandando você escrever?” Eu
repeti o que ouvira do
espírito, explicando: “Ele
me disse que eu devo começar
a prova contando assim: “O
Brasil, descoberto por Pedro
Álvares Cabral, pode ser
comparado ao mais precioso
diamante do mundo que logo
passou a ser engastado na
Coroa Portuguesa...” Ela
mostrou admiração no
semblante, mas me falou, em
voz mais baixa ainda:
“Volte, meu filho, para a
sua carteira e escreva essa
prova. A sala está repleta
de pessoas que nos observam
e agora não é o momento de
você ver pessoas que ninguém
vê. Não acredite que esteja
escutando estranhos. Você
está ouvindo é você mesmo.
Dê atenção ao seu
pensamento. Cuide de sua
obrigação e não fale mais
nisso”. Voltei e escrevi o
que o espírito ditava,
porque ou eu escrevia ou
desobedeceria a ela, a quem
respeitava e amava muito.
Nossas provas foram reunidas
às outras de todo o Estado,
na Secretaria da Educação,
em Belo Horizonte. Passados
alguns dias, o nosso Grupo
em Pedro Leopoldo recebeu a
notícia de que as
autoridades na capital
mineira me haviam
distinguido entre os alunos
classificados com Menção
Honrosa, o que era demais
para mim.
(Na próxima semana
apresentaremos a continuação
dessa belíssima história.)
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