MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
23)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. O fracasso de Ernesto
Fantini como pai é algo
comum no mundo em que
vivemos? Qual fora sua
falha?
Sim; trata-se de algo
comum em nossa
sociedade. Fantini agira
como pai da mesma forma
que Ribas havia agido.
Segundo palavras do
próprio Ribas, o
instrutor fora na Terra
o chamado
esposo-legenda, isto é,
casou-se e abraçou
compromissos de família,
acreditando que suas
responsabilidades se
limitassem a ostentar a
chefia da casa e a pagar
as contas de fim de mês.
"A rigor – disse Ribas
–, jamais compartilhei
as inquietações da
companheira, na educação
íntima dos filhos e, que
eu me lembre, nunca me
sentei, junto de
qualquer deles, para
sondar-lhes as
dificuldades e os
sonhos, conquanto lhes
exigisse conduta que me
honrasse o nome."
Fantini, assinalando a
delicada objurgação,
viu-se mais uma vez
espicaçado pela própria
consciência, porque
também não fora o esposo
e o pai que deveria ter
sido e somente ali,
depois da morte do corpo
físico, percebia, nas
duras refregas da
autocorrigenda, que o
dinheiro não faz o
serviço do coração.
(E a Vida Continua, cap.
23, pp. 188 e 189.)
B. Na agressão praticada
por Elisa contra seu
genro Caio ocorreu
alguma influência de
natureza espiritual?
Sim. Elisa se revoltara
com as palavras que
ouviu de Caio e se
aprestou para a reação,
exclamando: "Infame!..."
Surgida a indignação,
Desidério senhoreou-lhe
a mente, de forma
espetacular, e a crise
se desencadeou
dominadora, terrível.
Possessa, Elisa investiu
sobre o genro, buscando
asfixiá-lo, em meio a
impropérios que lhe
jorravam da boca. Caio
recuou, espantado, dando
lugar à paciente
enfermeira que
imobilizou a viúva,
enquanto que, de outro
lado, Fantini tentava
impedir os movimentos
desordenados do
companheiro.
(Obra citada, cap. 23,
pp. 192 e 193.)
C. Inútil protestar
contra as leis da vida.
Por que essa frase foi
dita por Fantini ao
ex-amigo Desidério?
Ernesto Fantini a
pronunciou quando
Desidério, avisado da
próxima desencarnação de
Elisa, bradou: "Elisa
não partirá de meus
braços, não me
abandonará!... Não a
deixarei!..." Ao ouvir
isso, Fantini
lembrou-lhe que eram
inúteis quaisquer
protestos contra as
forças da vida, porque
as leis de Deus, quer
gostemos ou não, se
cumprirão sempre.
(Obra citada, cap. 23,
pp. 194 e 195.)
Texto para leitura
89. O dinheiro não
faz o serviço do coração
- A obra de assistência
espiritual realizada por
Fantini e Evelina
avançava com segurança
junto a Túlio e
Desidério, que não se
desvinculava de Elisa,
relegada então às
próprias reflexões no
sanatório a que fora
conduzida.
Evidentemente, o
trabalho de Ernesto se
fazia cada vez mais
difícil, porquanto o
adversário não perdia
ocasião de arrancar-se
contra ele, através de
acusações e achincalhes,
e Elisa piorava a cada
dia, redundando quase
nulos os seus esforços
no sentido de abeirar-se
dela. Preocupado com a
situação, Ernesto
recorreu a Ribas,
inquirindo por que
motivo um Espírito
sofredor e enrijecido
nas ideias de vingança
adquirira tamanho poder
de penetração, a ponto
de apontar-lhe as
mínimas falhas de
caráter. O mentor
informou-o, então, de
que nossos irmãos
atrelados ao desespero e
à revolta encontram
razões para
censurar-nos, sempre que
preferimos desempenhar
na Terra a função de
personalidades-legendas.
Trocando em miúdos,
aclarou: "Muita vez,
somos no mundo titulares
desses ou daqueles
encargos, sem que
venhamos a executá-los
de modo efetivo.
Costumamos ser
maridos-legendas,
pais-legendas,
filhos-legendas,
administradores-legendas...
Usamos rótulos, sem
atender às obrigações
que eles nos indicam.
Entendeu?" Ele mesmo,
Ribas, fora na Terra
esposo-legenda, isto é,
casou-se e abraçou
compromissos de
família, acreditando que
suas responsabilidades
se limitassem a ostentar
a chefia da casa e a
pagar as contas de fim
de mês. "A rigor –
informou Ribas –, jamais
compartilhei as
inquietações da
companheira, na educação
íntima dos filhos e, que
eu me lembre, nunca me
sentei, junto de
qualquer deles, para
sondar-lhes as
dificuldades e os
sonhos, conquanto lhes
exigisse conduta que me
honrasse o nome."
Fantini, assinalando a
delicada objurgação,
viu-se mais uma vez
espicaçado pela própria
consciência, porque não
fora o esposo e o pai
que deveria ter sido e
somente ali, depois da
morte do corpo físico,
percebia, nas duras
refregas da
autocorrigenda, que o
dinheiro não faz o
serviço do coração.
Percebendo seu
abatimento, Ribas
confortou-o: "Nada de
desânimo!... Ouçamos os
opositores nas críticas
que assaquem contra nós,
buscando aproveitá-las
com humildade no que
mostrem de verdadeiro e
de útil. Usemos essa
chave, Fantini – a
humildade –... Ela
funcionará com acerto na
solução dos maiores
enigmas. Sejamos
cristãos autênticos,
amando, servindo,
desculpando..." Fantini
seguiu o conselho do
mentor e passou a
tolerar, com resignação
heroica, as diatribes da
mulher e os baldões do
irmão infeliz, sempre
disposto ao espancamento
verbal. (Cap. 23, pp.
188 e 189)
90. Caio visita a
sogra enferma -
Depois de vinte e seis
dias de atendimento a
Elisa, Fantini
verificou, surpreso, que
Caio Serpa, pela
primeira vez, vinha ao
encontro da futura
sogra. A sós com o moço,
Elisa expôs, com
palavras serenas de mãe,
o desejo de abraçar a
filha, a fim de que ela
lhe testemunhasse a
sanidade mental e lhe
patrocinasse o regresso
para a casa,
sensibilizando tanto a
Fantini quanto a
Desidério, que
assistiram à
entrevista, pela atitude
humilde em que vazava as
súplicas de mulher
derrotada pelas
circunstâncias. Caio, no
entanto, contrariou-a,
inflexível:
"Absolutamente, a
senhora não terá alta,
assim como pretende,
pois os prognósticos a
seu respeito não
ajudam..." E ajuntou:
"As informações
relativas ao seu
comportamento não nos
autorizam a retirá-la",
acrescentando que ela
continuava chorando sem
propósito, conversando
sozinha, interpelando
sombras...
"Simplesmente, não sou
compreendida, o que
vejo, vejo...", replicou
Elisa, reiterando o
desejo de ver a filha,
fato com que Caio não
concordava, por entender
que Vera poderia ficar
traumatizada com as
suas fantasias. O
diálogo prosseguiu tenso
e muito áspero por parte
do genro, que deixou
claro: Elisa só veria a
filha quando,
normalizando-se,
pudesse recebê-la sem
causar-lhe impressões
negativas. Diante dessa
atitude, Elisa perguntou
por que ele lhe impunha
tal recusa, se sempre o
recebera em sua casa
como se fosse um filho.
"Mentira! a senhora me
detesta...", respondeu
Caio. "Não me expulsou,
porque Vera não
permitiu, porque sou o
homem que ela escolheu
para lhe dirigir o
futuro... E saiba que
tanto ela quanto eu
estamos fartos de saber
que a senhora já viveu
sua vida e que
precisamos viver a
nossa... Não será uma
sogra velha que
frustrará nossos
planos." (Cap. 23, pp.
190 a 192)
91. Elisa agride o
genro -
Inopinada revolta
anuviou o cérebro de
Elisa, que se aprestou
para a reação,
exclamando: "Infame!..."
Surgida a indignação,
Desidério senhoreou-lhe
a mente, de forma
espetacular, e a crise
se desencadeou
dominadora, terrível...
Possessa, Elisa investiu
sobre o genro, buscando
asfixiá-lo, em meio a
impropérios que lhe
jorravam da boca. Caio
recuou, espantado, dando
lugar à paciente
enfermeira que
imobilizou a viúva,
enquanto que, de outro
lado, Fantini impedia os
movimentos desordenados
do companheiro.
Restabelecida a ordem, a
enfermeira conduziu a
doente para o quarto, e
voltou para as escusas:
"Não se aflija, doutor.
Foi uma crise como
tantas... Isso passará".
"Compreendo", respondeu
Caio, gentil. "Dona
Elisa sempre me tratou
com carinhos de mãe.
Pobre amiga! tem os
nervos positivamente
destrambelhados."
Enquanto a conversa
prosseguia, Fantini
segurava Desidério,
amistosamente,
coadjuvado por outros
tarefeiros desencarnados
em atividade no
sanatório. Um deles
solicitava prisão para o
agressor, ao passo que
outros diziam ser
Desidério um prestativo
e pacato acompanhante da
enferma, que encontrava
nele um amparo e um
amigo. Temendo o
encarceramento do rival,
Ernesto valeu-se da
circunstância, no
intuito de sossegar as
sentinelas, para
apresentá-lo aos demais
como sendo para ele um
irmão caríssimo, a quem
procurava ajudar, a fim
de se desvencilhar de
quaisquer lembranças
destrutivas. Os guardas
então se dispersaram e
Ernesto convidou
Desidério a segui-lo,
sentando-se ambos em
espaçoso banco de
jardim. "Você viu que
crápula? – explodiu o
rival, encarando Fantini
com expressão menos
cruel – não sei por que
ainda não aniquilei esse
pulha de Serpa!...
Primeiro, assassinou um
colega, o advogado Túlio
Mancini, depois matou
minha filha aos poucos,
e agora quer arrasar
Elisa, após furtá-la,
descaradamente..."
Fantini fitou-o com
bondade e ajuntou: "Desidério,
perdoe-nos por todo o
mal que já lhe fizemos e
escute-me!... Acalme-se
por amor de Deus! Não
lhe peço isto por nós,
mas por Elisa, a quem
você ama tanto...
Presentemente, nada
mais disputo senão a paz
entre nós.
Tranquilize-se, para
arrostarmos a realidade,
posso informar a você
que a nossa enferma está
no fim da resistência
física!..." – "Tenho
alguma ideia disso –
replicou Desidério,
menos hostil –, mas
lutarei como um touro
para defendê-la. Darei a
ela as minhas forças,
minha vida. Minha alma é
a dela, assim como o
corpo em que ela respira
é o meu corpo...
Habitamos a mesma cela
de carne, pensamos pela
mesma cabeça!..." (Cap.
23, pp. 192 e 193)
92. Inútil
protestar contra as leis
da vida -
Fantini elogiou os
esforços de Desidério
e, demonstrando o
elevado grau de
despersonalização que ia
adquirindo, aditou:
"Desde que você me falou
com clareza fraterna, em
nosso primeiro
reencontro, reconheci
que Elisa descobriu em
você a sustentação de
que necessitava, e creia
que, se atualmente algo
aspiro em relação a ela,
anseio vê-la feliz ao
seu lado... Estou
convencido de que a
nossa doente não
perseverará mais por
muitos dias no corpo
terrestre e o choque de
hoje, com certeza,
pesará na balança..."
Era preciso, porém, ter
paciência e tolerância e
dar um basta à rebeldia
e ao ódio! "O leito das
lágrimas de Elisa –
perguntou Fantini – não
poderia ser o ponto
terminal de nossos
disparates? o santo
lugar de apaziguamento?
Elisa se libertará dos
suplícios corpóreos, e
nós, meu amigo? que será
de nós, se, largado o
corpo de matéria pesada,
continuamos de espírito
atormentado nas ideias
de culpa e condenação,
crime e castigo?"
Transtornado pelos
argumentos que
anunciavam a partida de
Elisa, Desidério bradou:
"Elisa não partirá de
meus braços, não me
abandonará!... Não a
deixarei!..." Fantini
lembrou-lhe que eram
inúteis quaisquer
protestos contra as
forças da vida, porque
as leis de Deus, quer
gostemos ou não, se
cumprirão sempre. "A
morte – acrescentou
Fantini – vai situá-la
em polo oposto ao seu...
Ela não tem a sua
estrutura mental, nem a
sua disposição para
demorar-se nestes
sítios... Ressentida
hoje contra o genro,
amanhã saberá absolvê-lo
e patrociná-lo,
acomodando-se com os
Mensageiros da Vida
Maior, através da
oração... Apesar do
temperamento irritadiço
que lhe conhecemos, não
odeia a ninguém e nunca
demonstrou vocação para
a vingança." Desidério
chorava muito, em meio a
grande desespero, mas,
respondendo a Fantini,
disse que nunca
perdoaria o que lhe fora
feito. "Sou eu quem
reconhece as injustiças
que perpetramos contra
você – disse Fantini –,
sou eu quem lhe observa
a nobreza de coração...
Releve-me e ouça!...
Agradeço o seu
devotamento à mulher que
eu não soube fazer feliz
e a ternura pela filha,
para a qual você se
transformou em abnegado
zelador... Por tudo
isso, peço-lhe ainda
para que estenda até
nós, os seus carrascos,
as vibrações de sua
piedade e de sua
simpatia..." Desidério,
lutando para não se
render à emoção,
redarguiu: "Ah! Fantini,
Fantini!... por que me
tenta assim a uma
conciliação impossível?
que razões para tanto
empenho em
modificar-me?" (Cap.
23, pp. 194 e 195)
(Continua na próxima
semana.)