Servir para vir a ser
Assim, resplandeça a
vossa luz diante dos
homens, para que vejam
as
vossas boas obras e
glorifiquem a vosso pai
que está nos céus.
Jesus (Mateus, 5: 16)
Você já pensou na
composição silábica da
palavra "servir"? Ela é
formada por dois verbos:
"ser" e "vir". Se
mudadas as posições das
sílabas e feita a
ligação com a preposição
"a" teremos "vir (a)
ser". É o devenir,
devir (fr.) ou
vir a ser: transformação
incessante e permanente,
segundo o Dicionário
Aurélio da Língua
Portuguesa,
consequência natural de
nossa predisposição de
evoluir.
Podemos concluir, do
dito acima, que é
preciso servir ao bem,
de modo incondicional,
em nosso eterno vir a
ser. Não deve ter
subordinação a uma
possibilidade futura do
“Ah, se eu vier a
ser nomeado chefe
de minha seção, vou
melhorar”; “Ah,
quando eu vier a ser
aposentado, vou ser mais
atuante no Centro
Espírita que frequento
há quarenta anos”; “Ah,
se eu vier a ser
premiado, vou ser rico e
ajudarei a acabar com a
miséria em minha
cidade”. “Ah, se...”.
Nada disso, o “vir a
ser” é nossa
transformação
permanente. Resulta da
lei de ação e reação,
sempre benfazeja quando
provinda de nosso
esforço em servir a Deus
e a nosso próximo.
Decorre do exposto que o
ser sempre ocupado na
caridade serve não
somente quando pensa e
fala, mas quando age em
favor do próximo, como
nos recomenda Jesus.
Serve incondicionalmente
em seu incessante vir a
ser melhor hoje que
ontem, amanhã melhor que
hoje, seguindo os passos
de Nosso Senhor, que
caminha adiante em nossa
condução ao “EU SOU”,
Supremo Criador de todos
nós, nosso Pai,
Inteligência Suprema que
nos legou uma só coisa
para nossa felicidade:
servir ao bem.
O apóstolo João reproduz
as seguintes palavras de
Cristo, no cap. 8, vers.
12: “Eu sou a luz do
mundo; quem me segue não
andará em trevas, mas
terá a luz da vida”. Ou
seja, Jesus já é “a luz
do mundo”. Segui-lo é a
prática dos seus
ensinamentos, é o
esforço diuturno para
nos melhorarmos, é nosso
empenho em servir, na
medida de nossas forças
e sem desânimo, nesse
eterno “vir a ser” ou
“devir” que nos
impulsiona, pelas nossas
boas obras,
inexoravelmente, à
perfeição.
É por isso que, também
em Mateus, 5: 14, o
Senhor nos afirma: “Vós
sois a luz do mundo”.
Ser a “luz do mundo”,
conforme afirmou-nos
Jesus, é possuir a
iluminação máxima em
nosso orbe. Segui-lo é
estar na luz da
sabedoria. Segui-lo é,
enfim, trabalhar
intensamente nas
fileiras do bem sem
desânimo e cheios de fé
e de esperança. É não
alimentar qualquer tipo
de reconhecimento
humano, não ter como
objetivo senão o
autoconhecimento para
melhor servir nas suas
hostes do bem.
Na belíssima mensagem nº
105, da obra Fonte
Viva, podemos ler a
seguinte exortação do
Espírito Emmanuel, pela
psicografia de Chico
Xavier:
Quando o Cristo designou
os seus discípulos, como
sendo a luz do mundo,
assinalou-lhes tremenda
responsabilidade na
Terra.
A missão da luz é
clarear caminhos, varrer
sombras e salvar vidas,
missão essa que se
desenvolve,
invariavelmente, à custa
do combustível que lhe
serve de base (...).
Se nos compenetramos,
pois, da lição do
Cristo, interessados em
acompanhá-lo, é
indispensável a nossa
disposição de doar as
nossas forças na
atividade incessante do
bem, para que a Boa Nova
brilhe na senda de
redenção para todos.
Cristão sem espírito de
sacrifício é lâmpada
morta no santuário do
Evangelho. Busquemos o
Senhor, oferecendo aos
outros o melhor de nós
mesmos. Sigamo-lo,
auxiliando
indistintamente. Não nos
detenhamos em conflitos
ou perquirições sem
proveito. “Vós sois a
luz do mundo” —
exortou-nos o Mestre —,
e a luz não argumenta,
mas sim esclarece e
socorre, ajuda e
ilumina.
É desse modo que se
aprende a servir para
vir a ser. Quando
entendermos isso, não
somente cultuando
palavras bonitas para
sermos aplaudidos no
mundo, mas para as
aplicarmos, antes de
tudo, às nossas ações
positivas,
demonstraremos a
perfeita compreensão dos
benefícios do bem em
nossas vidas e na do
nosso próximo.
Sendo um com o Pai, em
suas próprias palavras
(João, 10:30), Jesus
Cristo já transcendeu,
em relação a nós, o “vir
a ser”, e alcançou o “Eu
sou”, meta de todos nós,
na Terra, quando
alcançarmos a
purificação de nossos
Espíritos. Entretanto,
mesmo esse “ser” ainda
equivale a um eterno
devir, em relação ao SER
MAIOR, que é Deus.
Resulta desse nosso
estado de espírito
superior alcançar a
felicidade cada vez
maior.
Ainda são de Jesus as
seguintes palavras: “Eu
sou a porta das ovelhas”
(João, 10: 7); “Eu sou o
bom Pastor: o bom Pastor
dá a sua vida pelas
ovelhas” (João, 10: 11);
“Eu sou a ressurreição e
a vida, quem crê em mim,
ainda que esteja morto,
viverá” (João, 11: 25).
E, por fim, após
confirmar ser Mestre e
Senhor de todos nós
(João, 13: 13), em
seguida à atitude
humilde de lavar os pés
de seus apóstolos, ainda
complementa: “Eu sou o
caminho, a verdade e a
vida. Ninguém vem ao Pai
senão por mim”.
É, portanto, necessário
aprender com o Cristo de
Deus, “Para que todos
sejam um, como tu, ó
Pai, o és em mim, e eu
em ti; que também eles
sejam um em nós, para
que o mundo creia que tu
me enviaste” (João, 17:
21).
Quando aprendermos o
verdadeiro significado
de servir, sem qualquer
intenção, mesmo oculta,
de retribuição ao
benefício que façamos,
mas por amor ao próprio
bem, como o Senhor nos
ensinou, estaremos
modificando nosso
Espírito sempre para
melhor, nesse eterno vir
a ser. E nossa alma
resplandecerá na luz,
não pelo que de bom
falamos, mas, sobretudo,
pelo que de bom fazemos,
porque, como diz o poeta
Fernando Pessoa, “(...)
Tudo vale a pena/ Se a
alma não é pequena”.
Em Êxodo, cap.
3, v. 14, Deus é
representado
pela expressão
“EU SOU”, ou
seja, somente
Ele desfruta
desse eterno
Ser, ao
contrário de
nós, que estamos
num
eterno “vir a
ser” resultante
de nossas ações.