MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
25)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. É correta a ideia de
que nossos irmãos
delinquentes são
enfermos?
Sim. Esse pensamento,
por sinal, foi
manifestado por Evelina
na resposta que ela deu
a seu pai (Desidério),
quando ele lhe disse que
não acreditava que ela
tivesse com relação a
Caio Serpa, seu carrasco
entre as paredes
domésticas, a mesma
benevolência que ela
pedia que ele tivesse
para com seus algozes.
Evelina disse-lhe então,
depois de explicar que o
compromisso assumido por
Caio para com Túlio
Mancini seria resgatado
em momento justo, que
todos eles – Caio e
Amâncio e todos os
nossos irmãos
delinquentes – não
passavam de enfermos, a
quem devemos ajudar. Por
que – perguntou Evelina
– não manifestar piedade
à frente das vítimas da
loucura, como fazemos
diante dos acidentados?
Serão os mutilados de
espírito diferentes dos
mutilados do corpo?
(E a Vida Continua, cap.
24, pp. 205 e 206.)
B. Deus nos permite
abraçar como filhos as
mesmas criaturas que não
soubemos amar em outras
posições afetivas?
Sim. As afeições
transviadas podem ser
corrigidas no santo
instituto da família,
através da reencarnação.
Deus nos permite
abraçar, como filhos,
aquelas mesmas criaturas
que não soubemos amar em
outras posições
sentimentais!
(Obra citada, cap. 24,
pp. 208 e 209.)
C. O apelo feito por
Evelina foi aceito por
Desidério?
Não. Mesmo com a
promessa da filha de que
ele reencontraria Elisa
e com ela poderia
preparar uma nova
existência juntos,
Desidério se manteve
inflexível: – "Não,
não!... – trovejou ele,
em crise violenta de
desespero – sou um
réprobo, não posso
fingir!..."
(Obra citada, cap. 24,
pp. 208 e 209.)
Texto para leitura
97. Todo dia é
ocasião de renovar o
destino - "Meu
pai – disse-lhe Evelina
–, decerto que Deus
abençoa esta hora de
reencontro, mas somos
nós mesmos, o senhor e
eu, os promotores, não
do impossível, mas de
nossa reaproximação, em
nome dele mesmo, nosso
Criador e Pai de
Misericórdia..." – "Que
quer você de mim?!...",
perguntou Desidério. –
"Venho convidá-lo a
estar comigo...
Admitiria o senhor que o
tempo desaparecesse sem
que eu sonhasse com este
momento? Atravessei a
infância e a juventude,
namorando seus retratos,
casei-me, um dia, na
Terra, rogando a sua
bênção nas minhas
orações e, quando os
Desígnios Divinos me
retiraram do corpo
físico, formei o ideal
de reecontrá-lo!..."
Desidério mostrou-lhe a
sua própria penúria,
atribuindo-a aos
criminosos que o
destruíram, mas Evelina
rogou-lhe: "Oh! meu pai,
não acuse!... O senhor
terá sofrido, mas a dor
é sempre bendita perante
Deus; o senhor terá
suportado provas
difíceis; no entanto,
aprendemos,
presentemente, que todo
dia é ocasião de renovar
e partir para destinos
mais altos!..."
Prosseguindo, ela disse
conhecer toda a verdade
a respeito do caso dele
e a responsabilidade do
padrasto em sua morte.
Amâncio Terra, embora
tenha cometido falta
grave, dedicara-lhe
afeição sincera e a
respeitara como sua
própria filha.
Desidério lembrou que
ele, contudo, a exilara
de casa, ainda em tenra
idade, mas Evelina não
pensava assim. Na
verdade, ao enviá-la
para a escola,
possibilitou-lhe
disciplinas que a
livraram de tentações em
que provavelmente teria
sucumbido, e nunca lhe
regateou assistência,
encorajando-a nos
estudos e premiando seus
esforços com brindes e
carinho. "É verdade –
afirmou Evelina – que
meu padrasto nunca
substituiu o senhor em
meu coração, meu pai,
mas sua filha não deve
ser ingrata a quem lhe
deu tanto!... Nunca lhe
vi o mínimo gesto de
desconsideração para com
minha mãe..." Ao ouvir
falar na ex-esposa,
Desidério não se
conteve: "Ah! não me
fale de Brígida, aquela
infame!...", ao que a
jovem replicou: "Oh! pai
de meu coração, por que
condenar aquela que nos
uniu? que conseguiria
fazer minha mãe ainda
tão moça, a carregar-me
nos braços, não fosse o
apoio de um companheiro?
Aceitando a colaboração
de Amâncio, ela não
acolhia deliberadamente
o desditoso caçador que
lhe impusera a
desencarnação, mas sim o
amigo que o senhor
mesmo, um dia, levou
para a nossa casa,
segundo as confidências
de mãezinha, em suas
horas de saudade e
desolação..." (Cap. 24,
pp. 203 a 205)
98. Nossos irmãos
delinquentes são
enfermos - Ante
a compreensão superior
que a filha punha em
evidência, Desidério
chorava muito, em
manifestações de
autopiedade, dando a
impressão de que se
propunha buscar, de
qualquer modo, novas
razões para ser infeliz.
"Você talvez não
desconheça – disse
Desidério – que me acho
aqui, ao pé da família
de outro inimigo que não
posso exculpar, Ernesto
Fantini, o traidor que
intentou matar-me, dando
a seu padrasto o
figurino pelo qual me
aniquilou... Esta mulher
cadaverizada, mas viva
em minhas mãos, foi a
esposa dele, pela qual,
consumido de ciúmes,
pretendeu ele
assassinar-me, nada
fazendo com isso, senão
aproximar-me dela, já
que o comportamento de
Brígida me bania do
lar... Pense no doloroso
destino de seu pai!...
Expulso de minha casa,
depois da morte do
corpo, à face da
influência de um
perseguidor, tive de
asilar-me em casa de
outro, porque no
pensamento da
companheira, hoje morta
para o mundo, encontrava
o meu sustento!..." –
"Quem penetrará os
desígnios de Deus, meu
pai? – redarguiu Evelina
– não estaremos todos
numa rede de testemunhos
de amor, em vista de
faltas e compromissos
nas existências
passadas? Peço à
Providência Divina
abençoe nossa irmã Elisa
e a recompense pelo bem
que nos tem feito...
Quanto a Ernesto Fantini,
a quem o senhor se
refere, é forçoso lhe
diga que ele tem sido
para sua filha um
devotado amigo na Vida
Espiritual... Muito
antes de saber-me
vinculada ao seu
coração, rodeava-me de
cuidados, restaurando-me
as energias. Em todos os
lances da estrada nova,
vem sendo para mim um
apoio, um irmão..."
Desidério, entendendo
que Evelina tinha
adquirido a visão dos
anjos para enxergar
benfeitores naqueles
canalhas, afirmou-lhe
ser apenas um homem,
simplesmente um homem
infeliz, e não
acreditava que ela
tivesse a mesma
benevolência para Caio
Serpa, seu carrasco
entre as paredes
domésticas. Evelina
fez-se então mais
compassiva: "Caio foi
para mim um guia
generoso, auxiliando-me
a entender a vida com
mais segurança... Nos
dias da mocidade,
propiciou-me sonhos de
ventura que me ajudaram
a viver... Com ele
imaginei o paraíso na
Terra... E, se na
condição de esposo
esperou de mim a
felicidade que não lhe
pude dar, será isso
motivo para que venhamos
a condená-lo?" A jovem
lembrou-lhe que o
compromisso assumido por
Caio para com Túlio
Mancini seria resgatado
em momento justo e que
todos eles, os irmãos
delinquentes, não
passavam de enfermos, a
quem devemos ajudar. Por
que não manifestar
piedade à frente das
vítimas da loucura, como
fazemos diante dos
acidentados? Serão os
mutilados de espírito
diferentes dos mutilados
do corpo? (Cap. 24, pp.
205 e 206)
99. Deus nos criou
para o amor sem lindes
- Como seu pai dizia não
saber perdoar, nem podia
compreender como devemos
abraçar os que nos
espancam, Evelina
perguntou: "Não deseja
caminhar adiante? ser
livre e feliz?" – "Oh!
sim!..." – "Então,
olvide todo mal",
aconselhou a filha.
"Nunca refletiu no poder
do tempo? O tempo nos
auxilia a descobrir a
fonte do amor que nos
lava todas as culpas..."
Desidério informou que
para os Espíritos de sua
espécie o relógio é
máquina de enlouquecer,
porque seu padecimento
para defender três
ovelhas (Elisa, Evelina
e Vera) de três lobos
(Amâncio, Ernesto e
Caio) era contínuo. A
referência a Vera,
amante de Caio, ensejou
que Evelina lhe rogasse
piedade: "O senhor se
julga perfeitamente são
de espírito, quando, na
realidade, como acontece
ainda comigo, precisa de
assistência e reajuste.
Eu também, meu pai, de
princípio, admiti-me
espoliada pela vida!...
Aceitava mãezinha e meu
padrasto, em muitas
ocasiões, por
adversários que me
haviam desterrado
propositadamente de
casa, para que eu não
lhes estorvasse a
felicidade, mas na
estância de recuperação
a que me conduziram, por
misericórdia de Deus,
passei a abraçá-los por
nossos reais amigos, de
quem recebi todo o
amparo que me foi
possível assimilar..." A
jovem relatou-lhe também
as mágoas que sentiu ao
ver Caio encadeado a
Vera Celina,
acrescentando ter-se
reequilibrado, com
ajuda dos instrutores
espirituais, ao concluir
que Caio e Vera eram
seus irmãos da alma, tão
necessitados de carinho
como nós mesmos. "O
Todo-Misericordioso
semeou flores e bênçãos
em todos os sítios da
estrada a perlustrar...
Compreender é buscar a
frente, auxiliar os
outros será
garantir-nos!", aduziu
Evelina. "O amor não
falha e Deus nos criou
para o amor sem
lindes!..." (Cap. 24,
pp. 206 a 208)
100. Nossos
pensamentos de ternura
um dia serão puros
- Ante as palavras da
filha, Desidério
chorava, impossibilitado
de emitir qualquer
observação. Evelina
pediu-lhe, então,
tivesse compreensão
tanto para Ernesto como
para Vera Celina. "Por
que não deveremos, de
nosso lado, conferir a
Caio o direito de dar-se
a Vera, conquistando a
felicidade que lhe não
pude proporcionar, nem
mesmo quando me achava
no mundo físico?" O
genitor perguntou se
semelhante renúncia não
equivaleria a um
suicídio moral. "Não,
meu pai", respondeu a
filha, peremptória. "O
amor verdadeiro eleva-se
de nível... Hoje entendo
que as afeições
transviadas podem ser
corrigidas no santo
instituto da família,
através da
reencarnação... Deus nos
permite abraçar, como
filhos, aquelas mesmas
criaturas que não
soubemos amar em outras
posições
sentimentais!... Os
nossos pensamentos de
ternura, uns para os
outros, um dia serão
livres e puros, quais as
fontes cristalinas que
se irmanam no chão
empedrado do Planeta ou
como as irradiações dos
astros, que se enlaçam
sem perder grandeza e
originalidade, nas
imensas vias do Céu..."
Em seguida, após longa
pausa, Evelina apelou ao
coração magoado de seu
pai terreno: "Se nuvens
de mágoas lhe anuviam
ainda o coração,
lance-as fora e sigamos
para a frente, aspirando
à paz!... Por agora,
deixe que a nossa Elisa
se distancie de
quaisquer lembranças
desagradáveis! Liberte-a
e verá que a mulher
escolhida lhe
pertencerá com mais
força!... Ajude-a para a
ascensão a novos
caminhos e ela voltará
ao seu encontro!... Não
enclausure na masmorra
de carne putrescível
aquela que lhe merece a
mais sagrada dedicação!
Elisa ser-lhe-á grata e,
de nossa parte,
prometemos solenemente
ao senhor, perante a
Infinita Misericórdia de
Deus, que a reverá, em
nossa própria moradia,
onde se prepararão
ambos, com o nosso
carinho, para uma nova
existência juntos,
novamente juntos e mais
felizes!... Aceite meus
rogos, pai querido!..."
– "Não, não!... –
trovejou ele, em crise
violenta de desespero –
sou um réprobo, não
posso fingir!..." (Cap.
24, pp. 208 e 209)
(Continua na próxima
semana.)