Por que se lamentar?
Deus criou o homem
ativo, inteligente e
livre,
E o fez artífice de seu
próprio destino.
Abriu diante dele dois
caminhos que pode
seguir:
Um vai para o mal e o
outro para o bem.
O primeiro dos dois é
doce em aparência;
Para segui-lo não é
preciso nenhum penoso
esforço:
Sem estudo nem cuidados,
viver na indolência,
Aos seus instintos
brutais deixar um livre
voo,
Eis tudo o que é
preciso. O segundo, ao
contrário,
Quer constantes
esforços, um trabalho
nobre,
E os cuidados
vigilantes, e a procura
austera,
A razão liberta e o
instinto contido.
O homem, livre em sua
escolha, pode tomar o
primeiro,
Corromper-se na
ignorância e na
imoralidade;
Preferir ao dever a
paixão grosseira,
À razão, o instinto e a
brutalidade.
Ou então pode, ouvindo
com interesse dócil
A voz que lhe diz:
”Fostes feito para
crescer,
Para progredir e não
para ficar imóvel".
No segundo, entrar cheio
de um nobre desejo.
Segundo o que decide ver
seu destino
Sombrio se desenrolar
sob seu olhar
desvairado,
Ou então lhe sorrindo
como a noiva
Sorri ao homem feliz a
quem o seu coração é
devido.
Mas se fazeis o mal,
podereis neste mundo
A riqueza adquirir, os
títulos, as honras;
Mas a calma da alma, e
essa alegria profunda
Que nasce dos santos
desejos e alegra os
corações
Desaparecerão para
sempre; e do remorso
pungente,
Vos perseguirá a voz no
meio dos festins,
Misturando para
perturbá-los sua nota
discordante
Aos vossos cantos de
triunfo, aos vossos
alegres estribilhos.
Depois, quando tiver
soado para vós a hora
fatal,
Quando o Espírito se
livra do corpo que o
enclausurava,
Entrará de novo na
esfera moral
Onde a verdade brilha e
o erro desaparece,
Onde o sofisma impuro, a
frouxa hipocrisia
Não acham nunca acesso,
onde tudo é luminoso,
Fantasma acusador, vosso
culposo caminho
Surgirá diante de vós
para vos seguir em todos
os lugares.
Vossos crimes
tornar-se-ão vossos
carrascos, e vós, rico,
Sentir-vos-eis nu;
poderoso, abandonado;
Fugireis espantados,
tremendo como a corça
Foge diante do caçador
em sua perda obstinado.
Talvez que ébrio, então,
de orgulho e de
sofrimento,
A Deus soltareis um
grito blasfemador,
Acusando-o de vossos
males; mas vossa
consciência Poderosa
elevará este outro grito
vingador:
"Cessa de blasfemar,
homem, em tua demência.
Quando Deus te criou
livre, ativo,
inteligente,
Só para ti no mundo
limitou seu poder,
E de tua própria sorte
te fez o artífice.
Tua vontade basta para
transformar em alegria
O mal que sentes.
Contempla, radioso,
Aquele que do dever
segue o santo caminho,
Que luta, que vence, e
que conquista os céus.
Por preço do mesmo
esforço, a mesma
recompensa
Te espera. - Por que te
lamentares então?
Reconsidera-te.
Desse Deus justo e bom
imploras a assistência;
Trabalha, luta, ora, e o
céu está em ti".
Nota do articulista:
Transcrição na íntegra
extraída da Revista
Espírita (edição
IDE, tradução Salvador
Gentille), de Allan
Kardec, edição de março
de 1863, assinada por Um
Espírito Protetor e
recebida no Grupo
Espírita de Paulo,
médium Sr. T...)