MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil) |
|
E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
26)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Desidério foi afinal
convencido por Evelina.
Que fator concorreu para
que isso se desse?
Foi a oração que Evelina
pronunciou, tendo as
mãos pousadas na cabeça
de seu pai. Quando ela
concluiu a prece, as
lágrimas que perolavam
sua face precipitaram-se
sobre o desventurado
amigo,
transfigurando-lhe o
coração. Então, tangido
por energias recônditas,
Desidério desferiu
doloroso gemido e
largou, de imediato, a
mão da falecida. Ato
contínuo, abraçando os
pés da filha, bradou com
veemência: "Ah! Evelina,
Evelina!... Minha filha,
minha filha, leve-me
para onde quiser!...
Confio em você!...
Apague a fogueira de meu
espírito que tem sabido
tão somente odiar!...
Socorro, meu Deus!...
Socorro, meu Deus!..."
(E a Vida Continua, cap.
24, pp. 209 a 211.)
B. Como Caio Serpa se
comportou durante o
sepultamento de Elisa?
Caio parecia distrair-se
em quadra próxima àquela
em que o corpo de Elisa
seria sepultado. Ele não
queria ver a inumação.
Colhido em cheio pela
influência de Evelina,
que ele, dois anos
antes, levara ao
sepulcro, pensava nela
e, sem querer, via-lhe
mentalmente o semblante
na tela da memória. Ele
rememorou, então, a
partida da esposa e os
incidentes havidos. Era
crepúsculo, qual ocorria
ali, e as mesmas
indagações lhe vinham à
cabeça. Terminaria a
vida em montões de pedra
e cinza? para onde se
transfeririam os mortos,
caso continuassem a
existir? onde estariam
seus pais? em que região
andaria Evelina?
(Obra citada, cap. 25,
pp. 212 a 214.)
C. Aproveitando aquele
momento, que sugestões
Evelina transmitiu
mentalmente ao
ex-esposo?
Foram várias as
reflexões que Evelina
suscitou aos ouvidos do
ex-esposo. Entre outras
coisas, Evelina
lembrou-lhe os
compromissos que ele
assumira com Vera, a
quem prometera casar-se.
Lendo-lhe os pensamentos
e as restrições morais
que ele fazia à
namorada, Evelina
perguntou-lhe: "Caio,
quem é você para
julgar?" A indagação
percutiu-lhe na alma em
forma de ideia
fulgurante que o
assustou. E qual se
pensasse em voz alta, a
falar espiritualmente
para si próprio, recebia
novas exortações,
semelhando impactos da
verdade a lhe atingirem
o ádito do próprio ser:
"Caio, quem é você para
julgar? não és
igualmente de ti mesmo
alguém onerado com
débitos escabrosos
perante a Lei? a que
título, condenar
sumariamente uma jovem,
prejudicada pelos
enganos da sua condição
de menina moralmente
desamparada?!..." E as
advertências
prosseguiram: "Seria
justo abusar dela agora
que se via praticamente
só no mundo? se a
desprezasse, para onde
iria?..."(Obra
citada, cap. 25, pp. 214
e 215.)
Texto para leitura
101. A
força da prece vence
Desidério
– Viu-se, então, o ponto
mais alto e mais
enternecedor do
reencontro, porque, de
mãos pousadas na cabeça
do genitor, Evelina
lançou os olhos para o
Alto e orou
fervorosamente: "Oh!
Deus de Bondade!... meu
pai e eu somos dois
remanescentes ainda
unidos de grande família
espiritual,
presentemente
dispersa!... Concede, ó
Todo-Misericordioso, se
é da tua vontade, que
perseveremos em
sintonia, no mesmo
anseio de redenção!..."
A voz, porém, esmorecera
em sua garganta,
asfixiada de dor, e, ao
inclinar-se para a
fronte paterna, as
lágrimas que perolavam
sua face, quais gotas de
bálsamo divino,
precipitaram-se sobre o
desventurado amigo,
transfigurando-lhe o
coração. Tangido por
energias recônditas,
Desidério desferiu
doloroso gemido e
largou, de imediato, a
mão da falecida. Ato
contínuo, abraçando os
pés da filha, bradou com
veemência: "Ah! Evelina,
Evelina!... Minha filha,
minha filha, leve-me
para onde quiser!...
Confio em você!...
Apague a fogueira de meu
espírito que tem sabido
tão somente odiar!...
Socorro, meu Deus!...
Socorro, meu Deus!..." A
jovem, suplementada de
força pelos
companheiros que
oravam, reergueu-o
facilmente, como se
tomasse de encontro ao
peito uma criança
abatida. Enfermeiros
desencarnados acudiram,
para desentranhar Elisa
do corpo inerte, e
Plotino entrou em ação,
acomodando Desidério,
semi-inconsciente, na
ambulância que o
transportaria para o
novo domicílio
espiritual. Toda a cena
fora acompanhada
discretamente pelo
mentor Ribas, que viera,
de surpresa, ao lar de
Vila Mariana, a fim de
encorajar sua pupila no
testemunho inesquecível.
Logo que a viu, ajudando
a carregar o pai, em
sublime metamorfose, o
venerado orientador
afastou-se em silêncio,
com os olhos marejados
de pranto que não
chegava a se desprender
das pálpebras molhadas.
(Cap. 24, pp. 209 a 211)
102. "Caio, que
fazes da vida?"
– Após internarem Elisa
e Desidério em
organização hospitalar,
sob assistência
afetuosa, Evelina e
Ernesto retornaram a
São Paulo, na tarde do
mesmo dia, a fim de
consultar a posição
íntima de Vera Celina,
ante a nova situação. A
jovem, marcada pelas
lágrimas, apoiava-se em
parentes e amigos. Caio,
taciturno, orientava as
providências do
sepultamento. Durante o
cortejo fúnebre, os dois
visitantes
desencarnados, além de
outros amigos da
Espiritualidade Maior,
instalaram-se no carro
familiar, junto de Vera.
Já no campo santo,
Ernesto escorou a
filha, enquanto Evelina
seguiu o ex-esposo, que
parecia distrair-se em
quadra próxima àquela em
que o corpo de Elisa
descansaria. Caio
fugia,
intencionalmente. Não
queria ver a inumação.
Colhido em cheio pela
influência de Evelina,
que ele, havia pouco
mais de dois anos,
levara ao sepulcro,
pensava nela e, sem
querer, via-lhe
mentalmente o semblante
na tela da memória. Ele
rememorou, então, a
partida da esposa e os
incidentes havidos...
Era crepúsculo, qual
ocorria ali, em Vila
Mariana, e as mesmas
indagações lhe vinham à
cabeça. Terminaria a
vida em montões de pedra
e cinza? para onde se
transfeririam os mortos,
caso continuassem a
existir? onde estariam
seus pais? em que região
andaria Evelina?
Recordando-a, sentiu-se
ligado a outra penosa
reminiscência: Túlio
Mancini! O delito
aflorou-lhe à memória
com todas as minudências
e passou a perguntar a
si mesmo por que motivo
fizera a loucura de
assassinar
estupidamente o colega.
Embora quisesse expulsar
tais pensamentos, Caio
sentia-se
incompreensivelmente
fisgado ao passado. O
moço jamais poderia
perceber que Evelina,
em espírito, ali estava,
rente a ele,
diligenciando acordá-lo
para a verdade. "Caio,
que fazes da vida?",
perguntou-lhe a moça,
docemente. O advogado
não registou a indagação
com os tímpanos
corpóreos, mas ouviu-a
na acústica da alma e
julgou monologar: "Caio,
que fazes da vida?!"
(Cap. 25, pp. 212 a
214)
103. "Caio, quem é
você para julgar?"
– Repetindo,
inconscientemente, as
palavras da companheira
desencarnada, no ádito
da própria consciência,
Caio passou a considerar
que o tempo fugia sem
que se desse conta de si
mesmo. Em que valores
permutara o patrimônio
das horas? em que
recursos convertia a
saúde e o dinheiro? que
bênçãos já teria
espalhado com o título
acadêmico que ostentava?
Na condição de amigo,
exterminara um
companheiro, na posição
de esposo, não tivera
coragem de ser bom para
a esposa sitiada pela
doença! Em seguida,
lembrou-se de Elisa e
inquiriu, de si mesmo, o
que teria representado
para a falecida,
realinhando na
imaginação a impaciência
e a dureza com que
sempre a tratara. Nesse
ponto, quando ele, mesmo
de longe, olhou para
Vera, Evelina
assoprou-lhe aos ouvidos
da alma: "Caio, pense
nos seus compromissos...
É tempo de legalizar a
situação da jovem que se
entregou a você sem
qualquer restrição..."
Supondo desenvolver tão
somente um processo de
autocrítica, o rapaz
monologou sem palavras:
"legalizar a situação
com Vera? casar-me? por
quê?" Sim, prometera-lhe
matrimônio, mas não se
resignava a aceitar a
medida sem maior
observação. Já fora
homem preso a obrigações
de marido e não se
propunha a retomar
afeição recheada a
constrangimentos. Além
disso, dava-se por homem
robustecido na
experiência do mundo.
Escutara em sociedade
muitas referências
desprimorosas, ao redor
da filha de Elisa, que
não a recomendavam para
esposa. Por que entregar
seu nome a uma criatura
tida por inconstante?
Evelina, lendo-lhe os
pensamentos, perguntou:
"Caio, quem é você para
julgar?" A indagação
percutiu-lhe na alma em
forma de ideia
fulgurante que o
assustou. E qual se
pensasse em voz alta, a
falar espiritualmente
para si próprio, recebia
novas exortações,
semelhando impactos da
verdade a lhe atingirem
o ádito do próprio ser:
"Caio, quem é você para
julgar? não és
igualmente de ti mesmo
alguém onerado com
débitos escabrosos
perante a Lei? a que
título, condenar
sumariamente uma jovem,
prejudicada pelos
enganos da sua condição
de menina moralmente
desamparada?!..." E as
advertências
prosseguiram: "Seria
justo abusar dela agora
que se via praticamente
só no mundo? se a
desprezasse, para onde
iria? e ele, quem era,
senão um homem no rumo
da madureza, reclamando
a dedicação de alguém
para que o comboio da
vida não se
descarrilasse? que
lucrara com o abuso dos
prazeres físicos a que
se dedicara e com as
noitadas barulhentas
cheias de vozes e vazias
de sentido?" (Cap. 25,
pp. 214 e 215)
104. "Caio,
medita!..." – As
advertências íntimas
persistiram,
contundentes. Ele nunca
ajudara a ninguém. Só
sabia ser afável com os
outros até o ponto em
que não o
descontentassem. Bastava
um leve fato a
contrariá-lo, para que
se internasse nessa ou
naquela escapatória, no
claro intuito de não se
incomodar. Não teria
chegado o momento de
auxiliar, de agir a
favor de alguém? Vera
Celina se lhe havia
entregado de todo, e não
vacilara humilhar a
própria mãe, para
colocar-lhe nas mãos
todos os bens. Caio
registava todos os
argumentos de Evelina,
sem compreender de onde
lhe vinham tais
palavras. Mas opunha
contraditas:
"Consorciar-me?
prender-me? por quê? não
tenho toda a satisfação
do homem casado, sem as
peias do matrimônio?" A
voz de Evelina, contudo,
ressoou-lhe novamente ao
espírito: "Sim, és o
elemento-comando da
união; entretanto, como
não te garantires contra
as tentações do futuro,
como não te imunizares
contra as tuas próprias
inclinações para a
aventura, doando a ela –
o elemento-obediência –
a tranquilidade de que
carece para servir-te?"
"Acaso te julgas livre
das tendências à
leviandade que te
assinalam o campo
afetivo?" A jovem fê-lo
lembrar, então, a
própria mãe,
indagando-lhe o que ele
pensaria de seu pai,
caso este espancasse os
mais puros anseios do
coração dela,
desamparada, esquecida
por aquele mesmo a quem
se rendeu, confiante? Em
seguida, abandonando as
admoestações, Evelina
valeu-se de argumentos
otimistas: "Caio,
medita!... Vera não te
confiou parcos recursos
materiais à
administração! Dispões
de patrimônio apreciável
para organizar uma
família... Pondera
quanto às bênçãos do
futuro! Escuta! Creias
ou não em Deus e na
sobrevivência do
espírito, além da morte,
carregas contigo um
doloroso problema, até
agora inarredável da
mente: o remorso pelo
homicídio praticado, a
lembrança de Túlio
Mancini, abatido por
tuas mãos! Escapas, no
rumo de prazeres que não
te diminuem a mágoa, e
tentas, em vão, bloquear
reminiscências amargas
que te assediam
constantemente... Ser
pai, cuidar de filhos
queridos, não te será na
Terra a mais elevada
compensação?" "Um lar,
Caio!... Um lar, onde
possas descansar,
renovar-te, esquecer!
Filhos em que te revejas
e o convívio de Vera,
cuja presença te
lembrará o refúgio
maternal!" (Cap. 25, pp.
216 e 217)
(Continua na próxima
semana.)