O homem de bem
Já lemos e ouvimos,
algumas vezes, a
afirmação de que o
segredo da felicidade é
contribuir com a
felicidade alheia, mas
infelizmente o interesse
próprio destrói as
intenções. Exemplos:
1) O casal de namorados
em que cada um espera
que o outro o faça feliz
e ambos se esquecem de
que a felicidade
consiste em cada um dar
o melhor de si em prol
do bem-estar alheio;
2) A falta de fidelidade
e lealdade tantas vezes
prometidas;
3) Os maus exemplos
presenciados pelos
filhos, desde bem
pequeninos: vícios,
mentirinhas, a todo
momento, críticas à vida
alheia, discussões e até
mesmo agressões entre o
casal são falhas de uma
educação que deveria
começar no lar;
4) Por vezes, essas
pessoas integram uma
comunidade religiosa,
onde beijam e abraçam
fraternalmente aqueles
mesmos confrades aos
quais difamam ou
caluniam.
Onde fica, então, a
manifestação do amor,
que tanto é confundido
com a paixão? Onde o
comportamento justo, a
caridade, que é o amor
em ação? Em geral, estão
mais na teoria e muito
pouco na prática.
Isso não significa que
muita gente não se
esforce em exercitar
essas virtudes, o que já
é um primeiro grande
passo. Para tal, é
preciso continuar
alimentando nossas almas
com mensagens
edificantes, com orações
em benefício de todos,
com vigilância dos maus
pensamentos, palavras e
atos, como nos recomenda
Jesus.
Como se pode constatar,
o cumprimento da lei do
amor, em “sua maior
pureza”, não é fácil.
Mas quando um único
Espírito se ilumina
arrasta consigo uma
multidão desejosa de
seguir-lhe os passos.
Um filósofo chegou à
seguinte conclusão: “Se
Deus não existe, tudo
nos é permitido”. Mas,
sem a certeza da
existência de Deus e da
imortalidade do
espírito, muitas pessoas
se autodestroem.
O Evangelho segundo o
Espiritismo, no cap.
XVII, item 3,
esclarece-nos que o
homem de bem “tem fé no
futuro, razão por que
coloca os bens
espirituais acima dos
bens temporais”. O
Espiritismo, como
Consolador enviado por
Jesus, proporciona-nos
essa fé.
Esse homem “sabe que
todas as vicissitudes da
vida, todas as dores,
todas as decepções são
provas ou expiações e as
aceita sem murmurar”.
Sem o conhecimento da
reencarnação, fica
difícil aceitar, sem
lamentos, todas as
aparentes injustiças da
vida física.
O homem de bem “possuído
do sentimento de
caridade e de amor ao
próximo faz o bem pelo
bem, sem esperar paga
alguma; retribui o mal
com o bem, toma a defesa
do fraco contra o forte
e sacrifica sempre seus
interesses à justiça”
(op. cit.). Essa é que é
a verdadeira caridade, a
que nos impulsiona para
o bem, movidos pelo amor
ao próximo. É ela que
nos dá a certeza de que
viver bem é viver para o
bem.
Vive para o bem quem
Encontra satisfação nos
benefícios que espalha,
nos serviços que presta,
no fazer ditosos os
outros, nas lágrimas que
enxuga, nas consolações
que prodigaliza aos
aflitos. Seu primeiro
impulso é para pensar
nos outros, antes de
pensar em si, é para
cuidar dos interesses
dos outros antes do seu
próprio interesse. O
egoísta, ao contrário,
calcula os proventos e
as perdas decorrentes de
toda ação generosa.
(KARDEC, 2008)
Vive para o bem quem se
esforça em exercitar a
mais desinteressada
caridade. Os Espíritos
afirmam-nos que o
desinteresse é a maior
demonstração de nossa
elevação moral (KARDEC,
2001, q. 893); ele é “a
sublimidade da virtude”.
Vive para o bem quem se
esforça em ser “bom,
humano e benevolente
para com todos, sem
distinção de raças, nem
de crenças, porque em
todos os homens vê
irmãos seus”.
Esse é o que,
independentemente da
religiosidade ou não do
próximo, atenta para o
convite de Jesus: “Um
novo mandamento vos dou.
Que vos ameis tanto
quanto eu vos amo”.
(João, 13: 34).
Vive para o bem quem
Em todas as
circunstâncias, toma por
guia a caridade, tendo
como certo que aquele
que prejudica a outrem
com palavras malévolas,
que fere com o seu
orgulho e o seu desprezo
a suscetibilidade de
alguém, que não recua à
ideia de causar um
sofrimento, uma
contrariedade, ainda que
ligeira, quando a pode
evitar, falta ao dever
de amar o próximo e não
merece a clemência do
Senhor.
Aqui recordamos a máxima
escrita por Kardec
(2008, cap. 14) e
confirmada pelo apóstolo
Paulo, na mensagem final
desse capítulo: “Fora da
caridade não há
salvação!”.
Vive para o bem quem
É indulgente para as
fraquezas alheias,
porque sabe que também
necessita de indulgência
e tem presente esta
sentença do Cristo:
Atire-lhe a primeira
pedra aquele que se
achar sem pecado. Nunca
se compraz em rebuscar
os defeitos alheios,
nem, ainda, em
evidenciá-los. Se a isso
se vê obrigado, procura
sempre o bem que possa
atenuar o mal.
Essa é uma forma de
exercitar a compaixão e
a caridade moral.
Vive para o bem quem
“estuda suas próprias
imperfeições e trabalha
incessantemente em
combatê-las. Todos os
esforços emprega para
poder dizer, no dia
seguinte, que alguma
coisa traz em si de
melhor do que na
véspera”. Aqui temos a
aplicação do “conhece-te
a ti mesmo” (KARDEC,
2001, q. 919).
Vive para o bem quem
Não procura dar valor ao
seu espírito, nem aos
seus talentos, a
expensas de outrem;
aproveita, ao revés,
todas as ocasiões para
fazer ressaltar o que
seja proveitoso aos
outros. Não se envaidece
da sua riqueza, nem de
suas vantagens pessoais,
por saber que tudo o que
lhe foi dado pode lhe
ser tirado.
Isso se chama humildade.
Vive para o bem quem
Usa, mas não abusa dos
bens que lhe são
concedidos, porque sabe
que é um depósito de que
terá de prestar contas e
que o mais prejudicial
emprego que lhe pode dar
é o de aplicá-lo à
satisfação de suas
paixões. Se a ordem
social colocou sob o seu
mando outros homens,
trata-os com bondade e
benevolência, porque são
seus iguais perante
Deus; usa da sua
autoridade para lhes
levantar o moral e não
para os esmagar com o
seu orgulho. Evita tudo
quanto lhes possa tornar
mais penosa a posição
subalterna em que se
encontram.
O limite dos nossos
direitos, dizem-nos os
Espíritos superiores,
termina exatamente onde
ameaçamos os do nosso
próximo.
“Não ficam assim
enumeradas todas as
qualidades que
distinguem o homem de
bem; mas aquele que se
esforce por possuir as
que acabamos de
mencionar, no caminho se
acha que a todas as
demais conduz”. (KARDEC,
2008, cap. XVII, it. 3)
Por essas palavras
finais, percebemos que
ser homem de bem é um
caminho longo a
percorrer. Refletimos
que, antes de mais nada,
como verdadeiro
espírita, não devemos
nos angustiar por ainda
não podermos, como o
Cristo, possuir todas
essas qualidades; porém,
é necessário que nos
esforcemos
incessantemente em
possuí-las, pois Jesus
nos recomendou a busca
incessante da perfeição.
Como espíritas sinceros,
verdadeiros, como diz
Allan Kardec, somos
reconhecidos “pela nossa
transformação moral” e
pelo combate diuturno às
nossas tendências
inferiores.
Referências:
KARDEC, Allan, O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
Tradução de Evandro
Noleto Bezerra. Rio de
Janeiro: FEB, 2008.
______. O Livro dos
Espíritos. Tradução
de Guillon Ribeiro. 82.
ed. Rio de Janeiro: FEB,
2001.