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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 342 - 15 de Dezembro de 2013

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)

 
 


O homem de bem


Já lemos e ouvimos, algumas vezes, a afirmação de que o segredo da felicidade é contribuir com a felicidade alheia, mas infelizmente o interesse próprio destrói as intenções. Exemplos:

1) O casal de namorados em que cada um espera que o outro o faça feliz e ambos se esquecem de que a felicidade consiste em cada um dar o melhor de si em prol do bem-estar alheio;

2) A falta de fidelidade e lealdade tantas vezes prometidas;

3) Os maus exemplos presenciados pelos filhos, desde bem pequeninos: vícios, mentirinhas, a todo momento, críticas à vida alheia, discussões e até mesmo agressões entre o casal são falhas de uma educação que deveria começar no lar;

4) Por vezes, essas pessoas integram uma comunidade religiosa, onde beijam e abraçam fraternalmente aqueles mesmos confrades aos quais difamam ou caluniam.

Onde fica, então, a manifestação do amor, que tanto é confundido com a paixão? Onde o comportamento justo, a caridade, que é o amor em ação? Em geral, estão mais na teoria e muito pouco na prática.

Isso não significa que muita gente não se esforce em exercitar essas virtudes, o que já é um primeiro grande passo. Para tal, é preciso continuar alimentando nossas almas com mensagens edificantes, com orações em benefício de todos, com vigilância dos maus pensamentos, palavras e atos, como nos recomenda Jesus.

Como se pode constatar, o cumprimento da lei do amor, em “sua maior pureza”, não é fácil. Mas quando um único Espírito se ilumina arrasta consigo uma multidão desejosa de seguir-lhe os passos.

Um filósofo chegou à seguinte conclusão: “Se Deus não existe, tudo nos é permitido”. Mas, sem a certeza da existência de Deus e da imortalidade do espírito, muitas pessoas se autodestroem.

O Evangelho segundo o Espiritismo, no cap. XVII, item 3, esclarece-nos que o homem de bem “tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”. O Espiritismo, como Consolador enviado por Jesus, proporciona-nos essa fé.

Esse homem “sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar”. Sem o conhecimento da reencarnação, fica difícil aceitar, sem lamentos, todas as aparentes injustiças da vida física.

O homem de bem “possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre seus interesses à justiça” (op. cit.). Essa é que é a verdadeira caridade, a que nos impulsiona para o bem, movidos pelo amor ao próximo. É ela que nos dá a certeza de que viver bem é viver para o bem.

Vive para o bem quem
 

Encontra satisfação nos benefícios que espalha, nos serviços que presta, no fazer ditosos os outros, nas lágrimas que enxuga, nas consolações que prodigaliza aos aflitos. Seu primeiro impulso é para pensar nos outros, antes de pensar em si, é para cuidar dos interesses dos outros antes do seu próprio interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proventos e as perdas decorrentes de toda ação generosa. (KARDEC, 2008)  

Vive para o bem quem se esforça em exercitar a mais desinteressada caridade. Os Espíritos afirmam-nos que o desinteresse é a maior demonstração de nossa elevação moral (KARDEC, 2001, q. 893); ele é “a sublimidade da virtude”.

Vive para o bem quem se esforça em ser “bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus”.

Esse é o que, independentemente da religiosidade ou não do próximo, atenta para o convite de Jesus: “Um novo mandamento vos dou. Que vos ameis tanto quanto eu vos amo”. (João, 13: 34).

Vive para o bem quem
 

Em todas as circunstâncias, toma por guia a caridade, tendo como certo que aquele que prejudica a outrem com palavras malévolas, que fere com o seu orgulho e o seu desprezo a suscetibilidade de alguém, que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever de amar o próximo e não merece a clemência do Senhor.  

Aqui recordamos a máxima escrita por Kardec (2008, cap. 14) e confirmada pelo apóstolo Paulo, na mensagem final desse capítulo: “Fora da caridade não há salvação!”.

Vive para o bem quem
 

É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que também necessita de indulgência e tem presente esta sentença do Cristo: Atire-lhe a primeira pedra aquele que se achar sem pecado. Nunca se compraz em rebuscar os defeitos alheios, nem, ainda, em evidenciá-los. Se a isso se vê obrigado, procura sempre o bem que possa atenuar o mal. 

Essa é uma forma de exercitar a compaixão e a caridade moral.

Vive para o bem quem “estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera”. Aqui temos a aplicação do “conhece-te a ti mesmo” (KARDEC, 2001, q. 919).

Vive para o bem quem
 

Não procura dar valor ao seu espírito, nem aos seus talentos, a expensas de outrem; aproveita, ao revés, todas as ocasiões para fazer ressaltar o que seja proveitoso aos outros. Não se envaidece da sua riqueza, nem de suas vantagens pessoais, por saber que tudo o que lhe foi dado pode lhe ser tirado.

Isso se chama humildade.

Vive para o bem quem

 

Usa, mas não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito de que terá de prestar contas e que o mais prejudicial emprego que lhe pode dar é o de aplicá-lo à satisfação de suas paixões. Se a ordem social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para lhes levantar o moral e não para os esmagar com o seu orgulho. Evita tudo quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.  

O limite dos nossos direitos, dizem-nos os Espíritos superiores, termina exatamente onde ameaçamos os do nosso próximo.

“Não ficam assim enumeradas todas as qualidades que distinguem o homem de bem; mas aquele que se esforce por possuir as que acabamos de mencionar, no caminho se acha que a todas as demais conduz”. (KARDEC, 2008, cap. XVII, it. 3)

Por essas palavras finais, percebemos que ser homem de bem é um caminho longo a percorrer. Refletimos que, antes de mais nada, como verdadeiro espírita, não devemos nos angustiar por ainda não podermos, como o Cristo, possuir todas essas qualidades; porém, é necessário que nos esforcemos incessantemente em possuí-las, pois Jesus nos recomendou a busca incessante da perfeição. Como espíritas sinceros, verdadeiros, como diz Allan Kardec, somos reconhecidos “pela nossa transformação moral” e pelo combate diuturno às nossas tendências inferiores.

 

Referências:  

KARDEC, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

______. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 82. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

 

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita