No dia 5 de dezembro de 1934
desencarna na cidade do Rio
de Janeiro o famoso escritor
Humberto de Campos. Pouco
mais de três meses após, em
27 de março de 1935 surgem
suas primeiras crônicas
através da mediunidade de
Chico.
Poucos meses depois, devido
a algumas celeumas criadas
sobre suas psicografias,
Humberto assina sua última
mensagem, despedindo-se sem
promessas de volta (“E agora
que os bisbilhoteiros o
procuram trago-lhe o meu
adeus, sem prometer voltar
em breve”).
Em meio à mensagem, falando
sobre a cruz de Chico
(“Fique, pois, com a sua
cruz, que é bem pesada, por
amor d’Aquele que acende o
lume das estrelas e o lume
da esperança nos corações”),
o escritor narra um caso
muito interessante. Escreve
ele:
Li aí, certa vez, num conto
delicado, que uma mulher em
meio de sofrimentos acerbos,
apelara para Deus, a fim de
que se modificasse a
volumosa cruz da sua
existência. Como a filha de
Cipião, vira nos filhos as
joias preciosas da sua
vaidade e do seu amor, mas,
como Níobe, vira-os
arrebatados no torvelinho da
morte, impelidos pela fúria
dos deuses. Tudo lhe falhara
nas fantasias do amor, do
lar e da ventura.
– Senhor, exclama ela, por
que me deste uma cruz tão
pesada? Arranca dos meus
ombros fracos esse
insuportável madeiro!
Mas, nas asas brandas do
sono, a sua alma de mulher
viúva e órfã foi conduzida a
um palácio resplandecente.
Um Anjo do Senhor recebeu-a
no pórtico, com sua bênção.
Uma sala luminosa e imensa
lhe foi designada. Toda ela
se enchia de cruzes. Cruzes
de todos os feitios.
– Aqui, – disse-lhe uma voz
suave, – guardam-se todas as
cruzes que as almas
encarnadas carregam na face
triste do mundo. Cada um
desses madeiros traz o nome
do seu possuidor. Atendendo,
porém, à tua súplica, ordena
Deus que escolhas aqui uma
cruz menos pesada que a tua.
A mulher escolheu
conscienciosamente aquela
cujo peso competia com as
suas possibilidades,
escolhendo-a entre todas.
Mas, apresentando ao
Mensageiro Divino a sua
preferência, verificou que,
na cruz escolhida, se
encontrava insculpido o seu
próprio nome, reconhecendo
a sua impertinência e
rebeldia.
– Vai – disse-lhe o Anjo –
com a tua cruz e não
descreias! Deus, na sua
misericordiosa justiça, não
poderia macerar os teus
ombros com um peso superior
às tuas forças.
Do livro “Notáveis
reportagens com Chico
Xavier”, produzidas pelo
jornal O Globo e editado
pelo Instituto de Difusão
Espírita – IDE, de Araras,
SP.
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