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Clássicos do Espiritismo
Ano 7 - N° 344 - 5 de Janeiro de 2014
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

No Invisível

Léon Denis

(Parte 19)

Continuamos o estudo metódico e sequencial do clássico "No Invisível", de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Questões preliminares 

A. Podemos dizer que a emancipação da alma é a causa dos sonhos?

Sim. A alma se desprende do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais ou menos elevado do Universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos próprios, os seres e as coisas desse plano. Nesse fato é que se encontra a origem dos sonhos. (No Invisível - O Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios - Clarividência – Pressentimentos.)

B. Que devemos entender por sonhos profundos, ou etéreos?

Sonhos profundos, ou etéreos, são aqueles em que o Espírito se subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade, onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias espirituais. Vai, não raro, ao encontro das almas humanas, como ele desprendidas da carne durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de pensamentos e desígnios. Dessas práticas conserva o Espírito impressões que raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Essas impressões se gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os vestígios, sob a forma de intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que se poderia supor, na direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e resoluções. Daí o provérbio: “A noite é boa conselheira.” (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios - Clarividência – Pressentimentos.)

C. Pode haver fenômenos de premonição associados aos sonhos?

Sim. Com frequência, nos sonhos costumam ser registrados fenômenos de premonição, isto é, comprova-se a faculdade que possuem certos sensitivos de perceber, durante o sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos e Léon Denis menciona vários casos nesta obra. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XIII - Sonhos premonitórios - Clarividência – Pressentimentos.)

Texto para leitura

531. XIII - Sonhos premonitórios - Clarividência – Pressentimentos – Os sonhos, em suas variadas formas, têm uma causa única: a emancipação da alma. Esta se desprende do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais ou menos elevado do Universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos próprios, os seres e as coisas desse plano.

532. Podem dividir-se os sonhos em três categorias principais: Primeiramente, o sonho ordinário, puramente cerebral, simples repercussão de nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais. É também o reflexo das impressões e imagens arquivadas no cérebro durante a vigília; na ausência de qualquer direção consciente, de toda intervenção da vontade, elas se desenvolvem automaticamente ou se traduzem em cenas indecisas, destituídas de coordenação e de sentido, mas que permanecem gravadas na memória. O sofrimento em geral e, particularmente, certas enfermidades, facilitando o desprendimento do Espírito, aumentam ainda mais a incoerência e intensidade dos sonhos. O Espírito, obstado em seu surto, empuxado a cada instante para o corpo, não se pode elevar. Daí o conflito entre a matéria e o princípio espiritual, que reciprocamente se influenciam. As impressões e imagens se chocam e confundem.

533. No primeiro grau de desprendimento, o Espírito flutua na atmosfera, sem se afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer, no oceano de pensamentos e imagens, que de todos os lados rolam pelo espaço, deles se impregna e aí colhe impressões confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos; a isso se mesclam às vezes reminiscências de vidas anteriores, tanto mais vivazes quanto mais completo é o desprendimento, que assim permite entrarem em vibração as camadas profundas da memória. Esses sonhos, de infinita diversidade, conforme o grau de emancipação da alma, afetam sobretudo o cérebro material, e é por isso que deles conservamos a lembrança, ao despertar.

534. Por último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos. O Espírito se subtrai à vida física, desprende-se da matéria, percorre a superfície da Terra e a imensidade, onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias espirituais. Vai, não raro, ao encontro das almas humanas, como ele desprendidas da carne durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de pensamentos e desígnios. Dessas práticas conserva o Espírito impressões que raramente afetam o cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Essas impressões se gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os vestígios, sob a forma de intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que se poderia supor, na direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e resoluções. Daí o provérbio: “A noite é boa conselheira.”

535. Na “Revue Spirite” de 1866, pág. 172, Allan Kardec fala do desprendimento do Espírito de uma jovem de Lião, durante o sono, e de sua vinda a Paris, em meio de uma reunião espírita em que se achava sua mãe: O médium, em estado de transe, vai a Lião, a pedido de uma senhora presente, ao aposento de sua filha, que descreve fielmente. A moça está adormecida; seu Espírito, conduzido por um guia espiritual, se aproxima de sua mãe, a quem vê e ouve, para ela um sonho, diz o guia do médium, de que, ao despertar, não guardará lembrança clara; conservará apenas o pressentimento do bem que se pode auferir de uma crença firme e pura.

536. Ela faz sentir a sua mãe que, se pudesse recordar-se tão bem de suas precedentes encarnações, no estado normal, como se lembra agora, não permaneceria muito tempo na situação estacionária em que se encontra. Porque vê claramente e sente-se capaz de progredir sem hesitação; ao passo que no estado de vigília nós temos uma venda sobre os olhos.

537. “Obrigada – diz ela aos assistentes – por vos terdes ocupado comigo.” Em seguida, abraça sua mãe. O médium acrescenta, ao terminar: “Ela sente-se feliz com esse sonho, de que se não há de lembrar, mas que nem por isso lhe deixará de produzir salutar impressão.”

538. Algumas vezes, quando suficientemente purificada, a alma, conduzida por Espíritos angélicos, chega em seus transportes a alcançar as esferas divinas, o mundo em que se geram as causas. Aí paira, sobranceira ao tempo, e vê desdobrarem-se o passado e o futuro. Se acaso comunica ao invólucro humano um reflexo das sensações colhidas, poderão estas constituir o que se denomina sonho profético.

539. Nos casos importantes, quando o cérebro vibra com demasiada lentidão para que possa registrar as impressões intensas ou sutis percebidas pelo Espírito, e este quer conservar, ao despertar, a lembrança das instruções que recebeu, cria então, pela ação da vontade, quadros, cenas figurativas das imagens fluídicas, adaptadas à capacidade vibratória do cérebro material, sobre o qual, por um efeito sugestivo, as projeta energicamente. E, conforme a necessidade, se é inábil para isso, recorrerá ao auxílio dos Espíritos mais adiantados, e assim revestirá o sonho uma forma alegórica.

540. Entre os sonhos desse gênero, há alguns célebres, como, por exemplo, o sonho do Faraó, interpretado por José.  Muitas pessoas têm sonhos alegóricos, os quais nem sempre traduzem as impressões recebidas diretamente pelo Espírito do indivíduo adormecido, mas, na maior parte das vezes, revelações provenientes das almas, que todos temos, prepostas a nossa guarda.

541. Achando-me gravemente enfermo e quase desenganado, obtive, sob significação figurada, o aviso de minha própria cura. No sonho, eu percorria com muita dificuldade um caminho coberto de escombros; à medida que me adiantava, os obstáculos se me acumulavam sob os pés. Súbito, um riacho largo e profundo surge à minha vista, e sou obrigado a interromper a marcha. Sento-me, cheio de angústia, à beira d'água; mas da outra margem mão invisível estende-me uma prancha, cuja extremidade se inclina a meus pés. Não tenho mais que me firmar nela e, por esse meio, consigo transpor o curso da água. Do lado oposto o caminho é livre e desembaraçado, e eu sigo com o passo mais firme, em meio de aprazível planície.

542. Eis aqui o sentido desse sonho: Informado, algum tempo depois, por uma mulher imersa em sono magnético, da causa de minha enfermidade, causa assaz vulgar, com que nenhum médico havia podido atinar, nem com os remédios aplicáveis, readquiri pouco a pouco a saúde e pude recomeçar os meus trabalhos.

543. Nos sonhos são, com frequência, registrados fenômenos de premonição, isto é, comprova-se a faculdade que possuem certos sensitivos de perceber, durante o sono, as coisas futuras.

544. São abundantes os exemplos históricos: Plutarco (“Vida de Júlio César”) faz menção do sonho premonitório de Calpúrnia, mulher de César. Ela presenciou durante a noite a conjuração de Brutus e Cassius e o assassínio de César, e fez todo o possível por impedir este de ir ao Senado. Pode-se também ver em Cícero o sonho de Simônides (“De Divinatione”, I, 27); em Valério Máximo, o sonho premonitório de Atério Rufo (VII, par. I, 8) e o do rei Creso (VII, par. I, 4), anunciando-lhe a morte de seu filho Athys.

545. Em seus “Comentários”, refere Montlue que assistiu, em sonho, na véspera do acontecimento, à morte do rei Henrique II, traspassado por um golpe de lança, que num torneio lhe vibrou Montgommery. Sully, em suas “Memórias” (VII, 383), afirma que Henrique IV tinha o pressentimento de que seria assassinado em uma carruagem.

546. Fatos mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatoriamente mencionados: Abraão Lincoln sonhou que se achava em uma calma silenciosa, como de morte, unicamente perturbada por soluços; levantou-se, percorreu várias salas e viu, finalmente, ao centro de uma delas, um catafalco em que jazia um corpo vestido de preto, guardado por soldados e rodeado de uma multidão em pranto. “Quem morreu na Casa Branca?” – perguntou Lincoln. “O presidente – respondeu um soldado – foi assassinado!” Nesse momento uma prolongada aclamação do povo o despertou. Pouco tempo depois morria ele assassinado.

547. Em seu livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”, Camille Flammarion cita 76 sonhos premonitórios, dois dos quais por sua mãe (cap. IX). Na maior parte eles revestem o caráter da mais absoluta autenticidade. Um dos mais notáveis é o caso do Sr. Berard, antigo magistrado e deputado (cap. IX). Obrigado, pelo cansaço, durante uma viagem, a pernoitar em péssima estalagem, situada entre montanhas selváticas, ele presenciou, em sonho, todos os detalhes de um assassínio que havia de ser cometido, três anos mais tarde, no quarto que ocupava, e de que foi vítima o advogado Vitor Arnaud. Graças à lembrança desse sonho é que o Sr. Berard fez descobrir os assassinos. Esse fato é igualmente referido pelo Sr. Goron, Chefe de Polícia, em suas “Memórias” (t. II, pág. 338).

548. Pode-se também citar:

a.) O sonho da mulher de um mineiro, que vê cortarem a corda do cesto que servia para descerem os operários aos poços de extração. Logo no dia seguinte o fato se verificou e muitos mineiros deveram a vida a esse sonho (cap. IX).

b.) Uma jovem irmã de caridade (Nièvre) viu em sonho o rapaz, para ela então desconhecido, com quem depois haveria de casar-se. Graças a esse sonho ela se tornou Mme. de la Bédollière (cap. IX).

c.) Conscritos veem em sonho os números que tiraram no dia seguinte ou dias depois (cap. IX).

d.) Muitas pessoas veem em sonho cidades, sítios, paisagens, que realmente visitaram mais tarde (cap. IX).

e.) O Sr. Henri Horet, professor de Música em Estrasburgo, viu certa noite, em sonho, saírem cinco féretros de sua casa. Pouco depois se deu aí um escapamento de gás e cinco pessoas morreram asfixiadas (cap. IX).

549. Aos sonhos etéreos pode-se juntar o fenômeno de êxtase ou arroubo. Considerado por certos sábios, pouco competentes em matéria de Psiquismo, como estado mórbido, o êxtase é em verdade um dos mais belos apanágios da alma afetuosa e crente, que, na exaltação de sua fé, reúne todas as suas energias, se desembaraça momentaneamente dos empecilhos carnais e se transporta às regiões em que o Belo se ostenta em suas infinitas manifestações.

550. No êxtase o corpo se torna insensível; a alma, libertada de sua prisão, tem concentradas toda a sua energia vital e toda a sua faculdade de visão em um ponto único. Ela não é mais deste mundo, mas participa já da vida celeste. A felicidade dos extáticos, o júbilo que experimentam, contemplando as magnificências do Além, seriam só por si suficientes para nos demonstrar a extensão dos gozos que nos reservam as esferas espirituais, se as nossas grosseiras concepções nos não impedissem muitíssimas vezes de os compreender e pressentir.

551. A clarividência ou adivinhação é essa faculdade, que possui a alma, de perceber no estado de vigília os acontecimentos passados e futuros, no mundo intelectual como no domínio físico. Esse dom se exerce através do tempo e da distância, independentemente de todas as causas humanas de informação.

552. A adivinhação foi praticada em todos os tempos. Seu papel na antiguidade era considerável e, qualquer que seja a parte de alucinação, de erro ou fraude que se lhe deva atribuir, já não é possível, depois das recentes comprovações da psicologia transcendental, rejeitar em massa os fatos dessa ordem atribuídos aos profetas, aos oráculos e às sibilas.

553. Essas estranhas manifestações reaparecem na Idade Média:

a.) João Huss anuncia, do alto da fogueira, a vinda de Lutero.

b.) Joana d'Arc havia predito, desde Domrémy, o livramento de Orleães e a sagração de Carlos VII. Anuncia também que será ferida defronte de Orleães.

c.) Uma carta escrita pelo encarregado de negócios de Brabant, a 22 de abril de 1429, quinze dias antes do acontecimento e conservada nos arquivos de Bruxelas, contém esta passagem: “Ela predisse que será ferida por uma seta durante o assalto, mas que não morrerá; que o rei será sagrado em Reims, no próximo verão”.

d.) Ela profetiza seu encarceramento e morte. Junto aos fossos de Melun, suas “vozes” a haviam advertido de que seria entregue aos ingleses antes do dia de São João.  Durante o processo, anuncia a completa expulsão dos ingleses, antes de sete anos. Sucedem-se depois, em toda essa vida maravilhosa, profecias de ordem secundária: em Chinon, a morte de um soldado que a escarnecia, o qual, na mesma noite, se afogou no riacho de Vienne; em Orleães, a morte do capitão Glasdale; o livramento de Compiègne antes de Saint-Martin-d'Hiver, etc.

554. Os casos de clarividência são numerosos em nossa época. Citaremos alguns deles. Os “Annales des Sciences Psychiques” (1896, página 205) refere que Lady A., tendo sido vítima de um roubo em Paris, conseguiu descobrir, por intermédio de uma vidente, o autor do delito, que ela estava longe de suspeitar, com todas as particularidades complicadíssimas do fato. O culpado não era outro senão Marchandon, um de seus criados, que, por suas boas maneiras, havia captado a inteira confiança de sua patroa e veio a ser mais tarde o assassino da Sra. Cornet.

555. O pressentimento é a vaga e confusa intuição do que vai acontecer. J. de Maistre fez notar que “o homem é informado naturalmente de todas as verdades úteis”. Soldados e oficiais têm, na manhã do dia em que se vai travar uma batalha, o nítido sentimento de sua morte próxima. Por uma averiguação procedida em tal sentido, ficou provado que uma religiosa de S. Vicente de Paulo, na véspera do incêndio do Bazar de Caridade, havia predito que aí morreria queimada.

556. Essa faculdade se encontra com frequência em certos países, como, por exemplo, nas regiões altas da Escócia, na Bretanha, na Alemanha, na Itália. Um pouco, porém, por toda a parte, em torno de nós, podemos coligir fatos de pressentimentos, baseados em testemunhos inequívocos. São tão numerosos que julgamos supérfluo insistir nisso.

557. Citemos apenas os três seguintes casos: “O Coronel Collet, no “Bulletin de la Société d'Etudes Psychiques de Nancy” (fevereiro de 1902, pág. 6), refere que seu sogro, o Sr. Vigneron, emérito caçador e pescador, saía quase todos os dias para se entregar a seus prazeres favoritos, sem que por esse motivo sua mulher de modo algum se inquietasse. Um dia, entretanto, ela o quis impedir de ir à pesca, tendo o pressentimento de que ele se afogaria. O marido, porém, não fez caso e, ao regressar à noite, pôs-se a gracejar da puerilidade dos seus temores. No dia seguinte confessava em particular a seu genro que, tendo o seu barco soçobrado, ele conseguira sair da água e do lodo, em que se ia afundando, graças a um ramo de salgueiro a que se agarrara a tempo. Havia posto as roupas a secar e as limpara antes de entrar em casa.”

558. O Dr. Max Simon, no “Monde des Rêves”, narra um fato da mesma natureza: “Um jovem doutor alemão, voltando de uma visita a seus pais, encontrou dois oficiais e com eles combinou tomarem um carro. No momento de subir ao veículo, sentiu-se tolhido por uma estranha influência, que o fez recusar-se terminantemente a partir, apesar das instâncias dos oficiais. Mal se haviam posto a caminho, a influência dissipou-se. O jovem doutor aproveitou então a primeira ocasião para continuar a viagem. Ao chegar às margens do Elba, notou um ajuntamento: – Os dois oficiais se haviam afogado no rio, onde tombara a carruagem.”  (Continua no próximo número.)



 


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